domingo, setembro 03, 2017

Os "tudólogos" a piar com alacridade e violentos fluxos hormonais



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Não sou obrigado a simpatizar pessoalmente com Cavaco para admitir, sem rebuço, que foi um homem sério, não me roubou (como aconteceu com inúmeros casos de socialistas), produziu obra válida (mau grado a corrente que o acusa das maiores malfeitorias relativamente às pescas e à agricultura) e demonstrou sempre um elevado sentido de Estado, ao mesmo tempo que era frequentemente acossado, como uma lebre perseguida por uma matilha de cães treinados e respectivos caçadores, tocando cornetas e montando cavalos ajaezados de hipocrisia e mau perder.

Cavaco fez um discurso na Universidade de Verão. Li, reli e tornei a reler. Não consegui encontrar qualquer mentira, num discurso meio pobre, num estilo conhecido (mas é o seu estilo) e sem ofensas, mas com evidentes referências a factos que todos nós conhecemos mas que todos nós parecemos perdoar ou, até, achar graça.

O Carmo caiu, a Trindade ruiu. O homem usou o termo “piar”, o homem não citou nomes e estabeleceu paralelismos com outros políticos, incluindo Macron (um presidente de quem ainda não se sabe o que sai dali, Daniel Oliveira dixit)), o homem foi grosseiro e, heresia provinciana, não guardou o respeito institucional devido à forma de referência a sucessores e a antecessores.

Em dois programas de ontem, o Governo Sombra e o Eixo do Mal, Cavaco foi atacado com ferocidade e, que me lembre, apenas Luís Pedro Nunes achou o discurso apropriado e isento dos pecados que os companheiros da alegria do Eixo apontaram com mesquinhez, maldade e evidente parvoíce. Pedro Marques Lopes, um homem que me faz questionar a minha secreta dose de masoquismo por conseguir, ainda, vê-lo ou ouvi-lo, esse então estava possesso e com o seu grau de fúria, se comparado a uma bebedeira, era de coma alcoólico. No Governo Sombra a coisa não foi tão mazinha, até porque razoavelmente disfarçada pelo toque de humor sempre presente, mas isso não amenizou a verrina do RAP, genuinamente embevecido por malhar em Cavaco.

Num país em que abundam a má criação, o mau perder, o vernáculo, a mesquinhez, a ameaça de uns murros, a fraude e a chocarrice idiota de um primeiro-ministro a que se convencionou chamar de hábil, acolitado por uma colecção de “kiss-asses” sem pudor, é estranho ver um grupo de personalidades de televisão explanar uma crítica tão virulenta e com sanha e rancor contra quem mais não fez que um comentário político, em que o pecado maior parece ter sido dizer que os revolucionários “piavam”.


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