sábado, julho 29, 2017

Tintero de plata



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Foi ontem. Procedendo a um arrumo de alguns papéis, tropecei neste “cuento” de autor que desconheço (perdoe-se-me a ignorância), mas que guardei carinhosa e premonitoriamente e que me tinha sido enviado por meu pai, numa altura em que pelos 15 anos eu já deambulava pela “metrópole” para estudar. E vamos ao cuento:

"Con propósitos severos,
en bien de la religión, 
hallábanse en reunión
diferentes caballeros.
Uno era subintendente, 
otro dueño de una tienda, 
otro ministro de Hacienda 
y así sucesivamente.

 — Hay que contener la cosa con toda severidad, 
por que cunde la impiedad 
de una manera espantosa. 
Esto dijo el más anciano que era sastre 

—Viva el clero!

— Viva!—repitió un casero

 — Viva! — gritó un escribano.

Y mientras la gente pía 
se emociona y se arrebata, 
falta el tintero de plata 
que estaba en la escribanía.

— Señores—dijo altanero 
uno de los más fogosos,
— todos sois muy religiosos, 
pero aquí falta un tintero. 

Y como á nadie convenga 
saber quien el caco fué, 
yo la luz apagaré 
y sáquelo quien lo tenga... 

Sopló, por la sacristía 
tendióse el negro capuz, 
y cuando encendió la luz... 
faltaba la escribanía!".

Coisa simples, de humor afinado e que parece ter feito escola ao longo de algumas décadas. Fazendo alguns ajustes necessários, tudo hoje se passa da mesma forma. Os mesmos “Vivas”, a o mesmo fervor de claque, agora em sistema de vasos comunicantes. Também o tintero de plata se transformou em negociatas de milhões. E também o “apaga a luz e acende” possibilita que de cada vez que é feito falte sempre qualquer coisa mais. De referir também que hoje pretende-se apagões, mas que permaneçam apagados para que "à nadie convenga saber quien el caco fué", como na CGD. Ou seja, há um claro aggiornamento da coisa. Sinal dos tempos e dos tinteiros que são, hoje,  muito mais valiosos.

Não sei se no “cuento” alguém foi preso. Se não foi, então acho que neste articular, nada mudou. Porque continua a ninguém ir preso. Um ou outro, para disfarçar e mesmos esses ainda estamos para ver o que sai dali.


Nota: Numa pesquiza não muito fácil consegui finalmente encontrar este “cuento” na hemeroteca municipal de Santa Cruz de Tenerife.


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