sexta-feira, março 24, 2017

Um dia vou descobrir



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Estou em Luanda. Por três dias. Vim na TAAG por ser um voo diurno e eu gostar de chegar, “duchar”, dormir e no dia seguinte estar fresquinho e energizado para uma reunião importante hoje de manhã.

No avião fui surpreendido com uma indicação de “on flight wi-fi”. Mandei algumas mensagens que deram “erro”. Desisti. Liguei um filme… sem som. Não tinha legendas, Chamei uma assistente que me pediu desculpa mas aquele lote de auriculares tinha os “pins” colocados ao contrário. Perguntei porque é que os tinham então distribuído. Ela riu. Olhei para o filme, como não tinha som nem legendas, escolhi um que já tinha visto e que serviu para adormecer. Aterro em Luanda às 19:00 com 29 graus. Chego a um hotel de 4 estrelas. Entrego o voucher… não tinham reserva. Mas deram-me o quarto e que na manhã seguinte iam “esclarecer”. Agradeci e a menina diz-me: vou levá-lo ao quarto. Olhei a “piquena” de soslaio… e embatuquei um bocadinho. E gracejei… olhe, eu já estive neste hotel, sei onde é o quarto. Ela diz: - problema é que não temos cartão-chave, só amanhã, por isso eu tenho que ir contigo para usar o cartão-mestre. Lá vim com a moça e ainda pensei, querem ver que ainda se oferecem para me levar a bagagem? Não se ofereceram. Entrámos no quarto… ela acende a luz, mas a luz não veio. Não veio. Ela diz para eu desculpar e que esperasse um pouco, devia ser do quarto desta secção e que ia à recepção tratar do problema. Estirei-me na cama, com as costas a escorrer suor e eu a pensar por que carga de água é que ainda acho graça a estas coisas… Cerca de meia hora depois chega um homem e repõe a luz. Em 10 segundos. Mexeu não sei aonde e a luz veio. Encantado da vida, liguei o ar condicionado, desfiz a mala e fui jantar, não fosse a sala fechar. Volto ao quarto a antecipar o friozinho do ar condicionado do A/C e a listar umas quantas coisas que tinha de preparar para a reunião da manhã seguinte. Entro no quarto e vejo que a temperatura dava para cozer um pão-de-ló… Telefono à D. Estela e digo que tenho luz mas o ar condicionado estava totalmente “descondicionado” e soprava calor. A D. Estela faz uma pausa e diz: - o melhor é mudar de quarto. Isto tem um problema. Meia hora depois de ter reposto a roupa na maleta sigo para outro quarto. Pela trela da D. Estela porque os cartões – chaves só amanhã. Entro no quarto e corro para o controle do ar condicionado. Ligou e fez frio, A D. Estela diz-me: - está a ver, aquela luz verde é sinal que está a fazer frio, no outro quarto o ar condicionado não estava a fazer a luz verde. Olhei para ela… e não consegui dizer nada. A D. Estela foi embora. Desfiz a mala, fruí (enquanto pude) o ar gélido dos 16 g do quarto, que era a graduação que não mudava, por muito que martelássemos o controle, tomei um duche pecaminoso de prazer e estiquei-me na cama. Ligo a televisão. Nada. Carrego no botão do ON/OFF e… nada. Ligo o 9 para a recepção. D. Esteeeeela, a televisão não dá. E ela, acabada de rir com alguma colega diz: Ah! Olha, deve ser pilhas. E eu digo… mas eu não tenho pilhas. Pois é… já vou aí. Veio. Trouxe pilhas. Acende o televisor. Contentinho como uma criança a quem se dá um brinquedo, tentei mudar da estação local para outra. Nada. D. Esteeeeela, não vá embora, isto não muda de canal. Ela, que estava já à porta, volta para trás. Abana o controle bate com ele, com violência, na palma da mão e aquilo “salta” para a RTP Internacional. Eu digo: bata lá com o controle e procure a SIC Notícias ou a TVI 24. E a D. Estela foi dando bordoadas no controle, diz-me que a SIC estava proibida e ao fim de um verdadeiro “arraial de porrada” aparece a TVI24. D. Esteeeeeela. Alto, Fica aí. E ela ficou.

Digo à D. Estela que este é um hotel de quatro estrelas mas que estava a ficar muito mal. TRÊS, diz ela orgulhosamente. Era quatro mas fomos desqualificados, agora somos só três.

Atenção aos incautos que conhecem Luanda. O Hotel é o “Vila Alice”. A D. Estela é simpática, mas os percalços até tomarmos banho e dormirmos são muitos E as refeições são medíocres e não digo o preço por pudor.

Pela minha parte, estiquei-me finalmente na cama, com o ar frio e com TVI24 para o resto da noite (imagine-se a minha penitência, ter apanhado a D. Constança descobrir um defeito de PPC de cada vez que cri[gostava]ticava alguma medida da Gerinconça). Adormeci na paz do Senhor e não precisei mais da D. Estela. Até hoje de manhã, quando ela vai ter comigo à sala do pequeno-almoço e me diz que afinal não tinha reserva. Liguei para Lisboa, comuniquei à Agência com que normalmente trabalho (devo acrescentar que com permanente satisfação, competência, simpatia e contagiante energia...) e acho que a coisa está resolvida.

A grande questão. O que será preciso para eu começar a estar farto de Angola? Porque será que todos estes episódios se combinam num enredo que fazem com que eu venha a Angola sempre com esta estranha sensação de prazer e desfrute, ainda que mesclado com picos de irritação que ameaçam, aqui e ali, uma fatal apoplexia? Há-de haver uma razão, com certeza. Um dia vou descobrir.

Nota: Escrevi esta nota hoje de manhã. Porque a internet está com soluços desde que cheguei, só agora consegui postá-la.


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