sexta-feira, março 24, 2017

Um dia vou descobrir



[5509]

Estou em Luanda. Por três dias. Vim na TAAG por ser um voo diurno e eu gostar de chegar, “duchar”, dormir e no dia seguinte estar fresquinho e energizado para uma reunião importante hoje de manhã.

No avião fui surpreendido com uma indicação de “on flight wi-fi”. Mandei algumas mensagens que deram “erro”. Desisti. Liguei um filme… sem som. Não tinha legendas, Chamei uma assistente que me pediu desculpa mas aquele lote de auriculares tinha os “pins” colocados ao contrário. Perguntei porque é que os tinham então distribuído. Ela riu. Olhei para o filme, como não tinha som nem legendas, escolhi um que já tinha visto e que serviu para adormecer. Aterro em Luanda às 19:00 com 29 graus. Chego a um hotel de 4 estrelas. Entrego o voucher… não tinham reserva. Mas deram-me o quarto e que na manhã seguinte iam “esclarecer”. Agradeci e a menina diz-me: vou levá-lo ao quarto. Olhei a “piquena” de soslaio… e embatuquei um bocadinho. E gracejei… olhe, eu já estive neste hotel, sei onde é o quarto. Ela diz: - problema é que não temos cartão-chave, só amanhã, por isso eu tenho que ir contigo para usar o cartão-mestre. Lá vim com a moça e ainda pensei, querem ver que ainda se oferecem para me levar a bagagem? Não se ofereceram. Entrámos no quarto… ela acende a luz, mas a luz não veio. Não veio. Ela diz para eu desculpar e que esperasse um pouco, devia ser do quarto desta secção e que ia à recepção tratar do problema. Estirei-me na cama, com as costas a escorrer suor e eu a pensar por que carga de água é que ainda acho graça a estas coisas… Cerca de meia hora depois chega um homem e repõe a luz. Em 10 segundos. Mexeu não sei aonde e a luz veio. Encantado da vida, liguei o ar condicionado, desfiz a mala e fui jantar, não fosse a sala fechar. Volto ao quarto a antecipar o friozinho do ar condicionado do A/C e a listar umas quantas coisas que tinha de preparar para a reunião da manhã seguinte. Entro no quarto e vejo que a temperatura dava para cozer um pão-de-ló… Telefono à D. Estela e digo que tenho luz mas o ar condicionado estava totalmente “descondicionado” e soprava calor. A D. Estela faz uma pausa e diz: - o melhor é mudar de quarto. Isto tem um problema. Meia hora depois de ter reposto a roupa na maleta sigo para outro quarto. Pela trela da D. Estela porque os cartões – chaves só amanhã. Entro no quarto e corro para o controle do ar condicionado. Ligou e fez frio, A D. Estela diz-me: - está a ver, aquela luz verde é sinal que está a fazer frio, no outro quarto o ar condicionado não estava a fazer a luz verde. Olhei para ela… e não consegui dizer nada. A D. Estela foi embora. Desfiz a mala, fruí (enquanto pude) o ar gélido dos 16 g do quarto, que era a graduação que não mudava, por muito que martelássemos o controle, tomei um duche pecaminoso de prazer e estiquei-me na cama. Ligo a televisão. Nada. Carrego no botão do ON/OFF e… nada. Ligo o 9 para a recepção. D. Esteeeeela, a televisão não dá. E ela, acabada de rir com alguma colega diz: Ah! Olha, deve ser pilhas. E eu digo… mas eu não tenho pilhas. Pois é… já vou aí. Veio. Trouxe pilhas. Acende o televisor. Contentinho como uma criança a quem se dá um brinquedo, tentei mudar da estação local para outra. Nada. D. Esteeeeela, não vá embora, isto não muda de canal. Ela, que estava já à porta, volta para trás. Abana o controle bate com ele, com violência, na palma da mão e aquilo “salta” para a RTP Internacional. Eu digo: bata lá com o controle e procure a SIC Notícias ou a TVI 24. E a D. Estela foi dando bordoadas no controle, diz-me que a SIC estava proibida e ao fim de um verdadeiro “arraial de porrada” aparece a TVI24. D. Esteeeeeela. Alto, Fica aí. E ela ficou.

Digo à D. Estela que este é um hotel de quatro estrelas mas que estava a ficar muito mal. TRÊS, diz ela orgulhosamente. Era quatro mas fomos desqualificados, agora somos só três.

Atenção aos incautos que conhecem Luanda. O Hotel é o “Vila Alice”. A D. Estela é simpática, mas os percalços até tomarmos banho e dormirmos são muitos E as refeições são medíocres e não digo o preço por pudor.

Pela minha parte, estiquei-me finalmente na cama, com o ar frio e com TVI24 para o resto da noite (imagine-se a minha penitência, ter apanhado a D. Constança descobrir um defeito de PPC de cada vez que cri[gostava]ticava alguma medida da Gerinconça). Adormeci na paz do Senhor e não precisei mais da D. Estela. Até hoje de manhã, quando ela vai ter comigo à sala do pequeno-almoço e me diz que afinal não tinha reserva. Liguei para Lisboa, comuniquei à Agência com que normalmente trabalho (devo acrescentar que com permanente satisfação, competência, simpatia e contagiante energia...) e acho que a coisa está resolvida.

A grande questão. O que será preciso para eu começar a estar farto de Angola? Porque será que todos estes episódios se combinam num enredo que fazem com que eu venha a Angola sempre com esta estranha sensação de prazer e desfrute, ainda que mesclado com picos de irritação que ameaçam, aqui e ali, uma fatal apoplexia? Há-de haver uma razão, com certeza. Um dia vou descobrir.

Nota: Escrevi esta nota hoje de manhã. Porque a internet está com soluços desde que cheguei, só agora consegui postá-la.


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terça-feira, março 21, 2017

Gone I am

[5508]

On the road again
Like a band of gypsies I go down (up) the highway… 




e o Willie Nelson que me desculpe o plágio e o abastardamento deste bocadinho de letra.
Back soon. 


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quinta-feira, março 16, 2017

Adormecer com a TV ligada é o que dá...





[5507]


Acordei estremunhado com a TV ligada e uma salgalhada de notícias que metiam portugueses residentes na Holanda eufóricos com a derrota da extrema-direita e Santos Silva a anunciar que o populismo começou finalmente a estiolar.

É aquela sensação estranha de que há populismos de direita, maus, perigosos, horríveis e que é preciso combater a todo o custo e os populismos de esquerda, os bons, os moralmente superiores e, sobretudo, redentores. Que devemos, portanto, absorver, cultivar, introverter e exercer com o fim sublime de extirparmos o mal e preservarmos a espécie.

E essa sensação estranha traz-me ainda uma dúvida angustiante: - se os portugueses já nasceram assim ou se foram operados em pequeninos, assim como quem faz a circuncisão. Por alguma razão somos o ÚNICO país europeu (e quase mundial) onde o comunismo puro e duro ainda faz fé, onde o povo acha que os comunistas já "resolveram" uns pequenos desmandos com que se entretiveram até o muro cair (o muro bom, não o mau como o que Trump quer aumentar) e onde é possível que uma excrescência política semelhante a um quisto infectado como António Costa seja considerado um político hábil e suba nas sondagens do bem-aventurado povo português.


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sábado, março 11, 2017

Farto de me chamarem parvo





[5506]

Se eu trabalhar para uma empresa comercial privada e fiar aos amigos em regime de favor, sabendo que eles não me pagam, ao fim de um ano, o máximo dois, vou para a rua. Salvo se aparecer um Arménio qualquer a perorar sobre direitos adquiridos, mas o mais certo é ir para a rua, mesmo. Se eu trabalhar nessa mesma empresa e além de fiar aos amigos, lhes pedir uma parte do valor da venda como comissão, vou para a rua e, provavelmente, preso.

Não há grandes dissemelhanças entre este quadro e o que se passou na CGD: A diferença é que não estamos a falar de trocos, mas de milhares de milhões. Com a diferença que os prevaricadores não precisam de Arménios para nada, porque os Arménios é que precisam deles. Outra diferença é que o prejuízo que eu causei foi ao meu patrão da empresa comercial privada, que me andou a pagar salários, segurança social e outras regalias. Já na CGD, o prejuízo é partilhado por mim e mais uns milhões de papalvos que ainda por cima têm de ouvir gente fanática e perigosa a berrar no Parlamento e outras instituições que a culpa é do sistema financeiro privado, nos intervalos em que dizem que a Teodora Cardoso receber um salário é um milagre (imagine-se esta gentalha a mandar sozinha…). Ou de outra entidade qualquer, passando pelo facto amplamente conhecido que as facilidades passaram pelas mãos de um grupo de gente imoral, exemplos acabados de gatunagem engravatada que não só se abotoaram com milhões num período de tempo bem definido, como conseguem promover uma forma criminosa de propaganda (nada de novo para mim…) em virtude da qual ainda acabamos a pedir desculpa ao Altíssimo nas nossas orações da noite pelos males que cometemos em deixar os tubarões da banca privada à solta por aí.

Nota 1 : Marcelo fez uma triste figura tentando enaltecer as virtudes de, afinal, os prejuízos da CGD não terem sido tantos quantos se esperava.

Nota 2 : Ainda ontem, o José Gomes Ferreira explicava na SicN, tecnicamente, o prejuízo da CGD e tentava dizer que o mal podia ainda ter sido pior. E eu digo tentava, porque de cinco em cinco em segundos a menina moderadora o interrompia e perguntava «então é uma boa notícia para os portugueses, não é?» e Gomes Ferreira continuava, «não, não é uma boa notícia, digamos que é uma notícia não tão má como se…» e ela insistia «…mas os portugueses têm razão para estar satisfeitos, não têm?...».

Não me vou  repetir, porque a mocinha interrompeu Gomes Ferreira cinco vezes (vou repetir: cinco vezes), sugerindo que ele dissesse que o prejuízo da Caixa era uma boa notícia deste Governo. Falta dizer que a mocinha era bonitinha. Pena que tivesse tanto de bonitinha como de visceralmente estúpida. Não lhe vi as vísceras, até porque ela ostentava um decote generoso, apenas ouvi… e sempre que a ouvia fechava-se-lhe irremediavelmente o decote.


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sexta-feira, março 10, 2017

A macro paciência necessária



[5505]

Diz-se correntemente, “há dias em que não se deve sair de casa”. Ou porque escorregámos à saída, ou porque fomos à pastelaria da esquina tomar a bica e o parceiro do lado entornou a bica dele por cima de nós, sem querer, ou porque o telefone tocou e era um mail da Autoridade Tributária a dizer blá blá blá blá e no fim do mail aparece uma quantia qualquer que temos de pagar, ou porque a namorada nos mandou um sms a dizer que queria acabar com tudo ou, no extremo, somos atropelados. É provavelmente neste momento que, a caminho dum hospital qualquer, concluímos que há mesmo dias em que não devíamos sair de casa.

Peço licença para alterar um pouco o fio à meada e dizer: “Há dias em que DEVEMOS sair de casa”. Um vizinho resolveu fazer uma obra qualquer. Mas há obras e obras. Se algumas incluem umas marteladas, coisa chata mas suportável, há outras que não poderiam ser piores. Uma máquina de furar, partir, brocar, eu sei lá… qualquer coisa com um ruído semelhante ao de uma oficina de bate-chapas com 20 operários a fresar uma chapa qualquer e com uma real vibração das paredes, do ar que respiramos e, diria, do próprio cérebro. Nada há que fique por vibrar São minutos consecutivos de vibração cerebral, ressonância dos tímpanos, abalos verdadeiramente telúricos do “labirinto” e até a derme se eriça, pelos erectos, com intervalos tortuosos de dez a quinze segundos, durante os quais nos imobilizamos até o terramoto começar de novo.

Ao mesmo tempo, rigorosamente ao mesmo tempo, tenho dois homens no jardim público a cinco metros das janelas do meu escritório… podando umas árvores de ramos lindos e, antes que desatem a fazer folhas, cortam-lhe os ramos considerados supérfluos para que os principais dêem muitas folhas e fortes. São serras eléctricas, admito que a  estridência e os decibéis não atinjam o grau do perfurador de qualquer coisa que o vizinho resolveu usar… mas não deixa de ser uma serra eléctrica numa autêntica mutilação. Como o jardim é bonito, há muitas árvores e como as árvores têm muitos ramos… penso que isto é marmelada para o dia todo. E se eu já tinha os pelos erectos com o perfurador, espero que, com tanta marmelada, nada siga o exemplo dos pelos e eu possa sair do duche em “mode” decente.

Não acaba aqui. A televisão está, como habitualmente, ligada e eu já ouvi o Centeno ler (mal e imensas vezes) a expressão macro prudencial e micro prudencial. Não deve ter sido ele a escrever o discurso porque ele se engasga de cada vez que tem que ler a expressão. Digamos que é uma macro tragédia ouvir aquele homem a pronunciar micro prudencial. Quase tão mal como o inenarrável Costa a dizer conxucional.

Assim sendo (e o Centeno acabou comigo, arrasou a minha micro paciência) vou para o duche. Vou parar de trabalhar, vou para a rua ouvir os melódicos ruídos do trânsito a passar, ou mesmo  um avião a sobrevoar Cascais, ou o mavioso bruáá do pessoal a tomar um café na Sacolinha. Tudo é melhor que esta tortura por que estou a passar desde as 8:45 desta manhã.


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quarta-feira, março 08, 2017

A culpa é de A . Costa



[5504]

Nogueira Pinto, uma personagem ao largo de quaisquer exercícios especulativos, ia fazer uma conferência sobre Populismos, Brexit, Trump e Le Pen na FCSH (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Nova).

Um grupo de fedelhos idiotas, cerca de 30, armou o folclore do costume e, sem que eu conheça os detalhes, parece ter colocado em risco a segurança de diversas individualidades, incluindo o próprio Nogueira Pinto. A conferência foi cancelada.

As notícias enxamearam as redes sociais e os jornais e todos se atiravam ao exercício académico de saber de quem era a culpa. Por mim, a culpa é exclusivamente de António Costa. Não é do director da faculdade, não é de Nogueira Pinto, dos Partidos, da Polícia, nem sequer do Benfica. A culpa é de Costa, porque foi este traste soez e mal-educado (eu costumo chamar-lhe malcriado, mas hoje Montenegro foi mais polido) que conseguiu trair uma grande percentagem de socialistas que votaram nele sem fazerem a mínima ideia das intenções que lhe iam por detrás daquele sorriso cínico e conseguiu, depois, aliciar, o grupo de esganiçadas do Bloco e toda aquela arqueologia vestida de gente do vetusto e perigoso PC. Umas e outros rotulados agora de gente “diferente” e reciclada, condição que a Direita não consegue digerir, pensando que ainda andam a comer criancinhas ao pequeno-almoço.

Regressando a Costa. Ele é o culpado da loucura deste PREC em que lamentável e tristemente estamos a cair, sem que, ao que parece, ninguém dê um berro de gente a esta miudagem estúpida que saltita pelas universidades em “missão de combate” ou ao grupo de deputados que, de repente, se acomodam ao quentinho do “poder” e parecem gostar como um gatinho gosta de leite.

Não entendo o que é preciso para um director de uma faculdade chamar a Polícia e dizer que vai proceder a uma conferência científica e que um grupo de fedelhos (a caligrafia daquela gente confrange… e diz muito de todos nós) se prepara, ou preparava para armar um estribilho qualquer. Provavelmente ao nível de uma plantação de milho algarvio que destruíram, sob o beneplácito e a bênção de um fulano qualquer que a SicN gosta muito de entrevistar e que o ministro das finanças achou ser a pessoa indicada para ser consultado sobre assuntos de Estado.

Repito. A culpa é de Costa. Fosse ele um homem honesto e não teria enganado os portugueses que votaram nele e lhe permitiram geringonçar como geringonçou. E, muito menos, estaríamos a assistir a esta lenta, gradual mas firme escalada de regresso ao pico dos contentamentos e aos orgasmos mútiplos desta rapaziada. Por mim, sinto vergonha.


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