domingo, dezembro 25, 2016



Daniel explica bem explicadinho um qualquer detalhe sobre a abstinência sexual de alguns colégios americanos, mas confesso que com o sono não cheguei lá...

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Com as paredes do estômago forradas por um vinho do Porto “produzido num ano declarado” (ora tomem, para aqueles que julgavam que eu não sabia o que era um vintage… quer-se dizer, por acaso não sabia, mas agora sei, depois de uma esmiuçada explicação que ontem me deram a preceito e que, doravante, me vai fazer parecer um daqueles tipos que percebem imenso de vinhos), acabei por me deitar docilmente, após uma ligeira hesitação entre tomar ou não outro duche. Mas, depois de umas filhós de abóbora e do tal vinho, achei que a coisa podia ficar pela higiene oral a preceito e eis-me a cair rapidamente no sono dos justos (é…pode-se pensar que não, mas sou justinho, como a minha mãe me prendou, depois de devidamente industriada pelo meu pai).

O pesadelo começa aqui. Acordei poucos minutos depois, porque a TV estava ligada. Não viria muito mal daí ao mundo se, de chofre e ainda envolto nos vapores do tal vinho “de ano declarado”, eu não estivesse a apanhar com o Daniel Oliveira (eram três da manhã, eu seja ceguinho…) empertigado com umas escolas nos EEUU que agora insistem em educar os alunos num regime de abstinência sexual mas, diz Oliveira, os putos estão cheios de hormonas, o sexo é bom e o resultado é que começa tudo a f...pelos cantos aumentando exponencialmente o HIV, as DST e sabe-se lá mais o quê, mas entre o sono ficou-me a ideia que ele se referia claramente a práticas sexuais "pouco abonatórias". Pior do que isso, só mesmo a Câncio, eriçada porque muita gente deseja Santo Natal uns aos outros o que, naturalmente, devia ser proibido porque somos um estado laico, juro.

Nesta fase, com uma versão ensonada e “portwined” de um grupo de adolescentes a fazerem sexo em grupo na carrinha dos “ice-cream”, procurei desesperadamente o comando. To no avail, já que estamos nos EEUU. A porcaria do comando escondia-se algures pelos lençóis e vinho do Porto com Daniel de Oliveira não jogam muito bem. Resignei-me mas… pois, há sempre um mas, aqui salta o Pedro Marques Lopes a dizer que a culpa dos atentados terroristas é da extrema-direita e aproveita para um extenso panegírico a Merkel, que de bruxa má passou de repente a tooth fairy. O PML macaqueava o tema por uns largos minutos e eu confesso que fervia já entre ouvir aquele rancho de patetas ou levantar-me para 1 – encontrar de vez o comando ou 2 – dar um pontapé no televisor que fizesse inveja ao CR7. Segue a Clarinha, acho que disse umas coisas acertadas mas eu já não ouvia bem. O Luis Pedro Nunes disse mais umas larachas, sem laracha, que ele só tem laracha a escrever, mesmo… a coisa voltou ao Daniel… falava-se da TSU… duma manif que o Daniel fez há dois anos… falava-se do salário mínimo... falava-se de outras maravilhas do género para uma noite de consoada. Uma nota estranha - jamais (salvo lapso de sono, entretanto) se falou de Passos Coelho. O que achei notável.

E assim vai o mundo. O português. Com uma acentuada consciência cívica e um sentido de oportunidade fantástico. Incluindo o meu, que me atirei para a cama sem fazer caso de que a TV estava ligada e, pior, sem saber, onde estava o comando.

Acordei benzinho. E agora, sim. Sai o duche nr 2 de ontem, que passou para o nr 1 de hoje e aí vou eu para mais uma sessão natalícia. Almoço com a filhota que nasceu ontem mas há dias já fez 31 anos - e só espero que não liguem o televisor ao almoço. Não ligam com certeza. E vou saborear o repasto e a companhia de família, gente querida que é o que se leva desta vida. Enquanto outros andam excitados com a extrema-direita alemã, a TSU e a abstinência dos adolescentes americanos. E zangam-se imenso a falar destas coisas. E pagam-lhes por cima. E nós, idiotas como eu, vamos ouvindo.


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