segunda-feira, junho 20, 2016

O sol a morrer de frio



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Hoje começa o Verão. Logo à noite, às 23h34. Os portugueses têm uma costela infantil que vibra com tudo o que é quente: é a bica bem escaldada, a sopa fumegante quase em ebulição, o ar abafado de Agosto do restaurante onde uma mulher friorenta “interdita” o funcionamento de qualquer aparelho de ar condicionado, é a camisolinha ao fim do dia (mesmo em Agosto) por causa da “friagem”, a janela fechada para evitar a “correspondência”, a água natural porque o gelo faz muito mal à garganta e às gengivas… é, enfim, esta pedo-excitação (passe o palavrão) pela chegada do Verão. Que chega hoje às 23h34, dizem as TV’s, os jornais, as rádios e toda a gente que me rodeia e por quem passo. E dizem-no com deleite e olhos de reconhecimento aos céus.

Um dia, espero, perceberei a razão desta histeria estival. Ou não. Até lá, resta-me manter o a/c em modo de permanência e ser romano em Roma, ou seja, dizer só para dentro (e baixinho para ninguém ouvir) que está um calor do caraças e sorrir para aquela senhora lá ao fundo do restaurante que acabou de pedir ao empregado, com um arreganho de censura pelo atrevimento em se ligar uma coisa daquelas, para desligar o a/c por causa das crianças.


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