segunda-feira, outubro 05, 2015

Um reparo


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Escrever sobre derrotas e vitórias de ontem torna-se já extemporâneo, tal o caudal de comentários e crónicas que vai por aí. Claro que há reacções que merecem algum relevo (ocorre-me a estranha Canavilhas e a ainda mais estranha Roseta), mas pegar num campo tão rebuscado parece-me já desnecessário, senão mesmo estultícia.

Mas há um campo que me parece estar a passar mais ou menos incólume às críticas e que, no meu entendimento, é objectivamente merecedor da mais viva crítica e claro repúdio. Refiro-me, de forma clara, à maioria da comunicação social e à quase totalidade de comentadores que durante quatro porfiados anos tosaram o governo, sem dó nem piedade. Algumas vezes com razão, outras, na maioria, sem razão nenhuma, todavia sempre com aquele ar chocarreiro e insultuoso mais ou menos compreensível por se tratar, pretensamente, de gente de invulgar envergadura intelectual. 

E muita dessa gente deveria ser apontada a dedo, porque muita dela vai começar a virar a ponta ao prego, sem vergonha nem hesitação. O Eixo do Mal, por exemplo, já esta noite mostrou um ar cordato e razoavelmente deferente para com a coligação, com excepção do Daniel de Oliveira, honra lhe seja feita, que é assim uma espécie de versão revista e melhorada do PC que há quarenta anos que ganha sempre as eleições – no caso do Daniel Oliveira, ele pode perder, mas tem sempre razão. Como se viu com o «Livre». E até o intratável Pacheco Pereira ontem se mostrou surpreendentemente mais simpático. Mas aguardo, com alguma curiosidade, a atitude da vasta maioria de jornalistas e comentadores da SIC, da TVI e mesmo de alguns da RTP. Durante quatro anos adoptaram o diapasão do pisoteio e malquerença, com um refrão comum – a iminência da queda do governo que, imagine-se, não só não caiu como foi reeleito.

Não me esquecerei facilmente das diatribes de Ferreira Leite, de Constança, Marques Mendes, Pacheco Pereira, Bagão Félix e a habilidade camuflada de uma infinidade de gente da comunicação social que, por ser tanta, torna difícil, enumerá-la, mas que facilmente se sabe quem é. Esta gente prestou um mau serviço ao país. E não se confunda o que digo com qualquer ideia de pensamento único. Acho saudável, indispensável, mesmo, a pluralidade de opiniões. Mas isso não pressupõe desonestidade nem malabarismos. E foi a isso que se assistiu durante quatro anos, todos os dias, deturpando de forma soez aquilo que deveria ser a preocupação primeira perante o público. O respeito pela verdade e pelas pessoas a quem essa verdade é devida.

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1 Comments:

At 3:39 da tarde, Blogger mov disse...

caríssimo, que ideias mais disparatadas.
só lhe peço um favor: continue! :-)

 

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