segunda-feira, julho 27, 2015

José Alberto Carvalhice


É «isto» o que espera os nossos emigrantes em Amsterdam. Como é que eles não hão-de querer voltar para os braços das mães deles?

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O anti-passismo, passe o neologismo mais ou menos pateta, não tem limites. Ainda há dia algumas pessoas (não muitas) se insurgiam contra a criteriosa escolha de «perguntadores» ao primeiro-ministro. Deram nas vistas alguns deles, sendo que houve um a quem foi dada a prerrogativa de fazer um comício antes da pergunta. Sendo que a pergunta era qualquer coisa como  porque é que ele nasceu do lado errado, ao contrário do primeiro-ministro que terá nascido no lado certo.

Claro que o episódio foi razoavelmente burlesco para ser levado a sério por gente de bem mas, ainda assim, não deixou de merecer reparos e José Alberto Carvalho não escapou a merecidas críticas. Mas houve um pormenor em que poucos parecem ter reparado. No fim das perguntas, José Alberto Carvalho afivelou o sorriso do repórter expedito e pediu a Passos Coelho um comentário a uma canção «muito em voga» (SIC). E a canção veio. Por acaso eu até já me tinha referido a ela há algum tempo atrás. Mas quando se goza Passos Coelho por nos ter chamado piegas (o que, de resto, não é verdade, ele não chamou piegas a ninguém, mas foi o que ficou) e se põe a rodar uma canção tenebrosa do não menos tenebroso Pedro Abrunhosa, onde se diz que a Alemanha é cinzenta, a saudade é tamanha, e o Verão que nunca mais chega e o Abrunhosa quer ir para casa, pisar a terra em brasa (o quentinho dos portugueses) e voltar para os braços da mãezinha. Para além de que o homem emigrou mas levou um pouco de terra a cheirar a pinheiro e a serra e a imagem de pombas a voar no beiral…e depois, em Amsterdam, não é que aquilo está cheio de putas, compra-se amor pelo jornal, logo ele que até tem diploma que leva na mala mas deixou o amor para trás. E em Paris? O frio que faz? Ná… ele quer é voltar para os braços da mãe. Problema é que o Passos Coelho não deixa, mandou os jovens emigrar e anda a roubar nas pensões dos pais.

Se há dúvidas na pequenez, mesquinhice e mariquice da canção e na grandeza da chico-espertice de Abrunhosa e Carvalho é ler a letra toda aqui. E quando me lembro da crítica das letras das «cançonetas» e do «nacional-cancenotismo» do Estado Novo, não posso deixar de reflectir que não só comemos daquilo que gostamos como estamos, sem dúvida, a refinar os nossos méritos. José Alberto Carvalho, a sério ou em provocação, escolheu a canção certa para pedir a opinião de Passos Coelho.

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