sexta-feira, julho 24, 2015

Está-nos nas tripas


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Onze horas de voo sem escalas trazem-me de regresso a Portugal. E por muito que eu tentasse abstrair-me do facto, não houve como consegui-lo. Uma tripulação masculina com aquela barba que se usa agora, uma barba de cinco dias que nem é barba nem é barba por fazer e que é a imagem de marca do homem (português) novo, avisou-me que estava de volta à paróquia. Ainda fiquei à espera que a tripulação feminina usasse, pelo menos, um buço apresentável, mas não aconteceu. Tirando a barba, tenho de registar a eficiência e simpatia dos barbudos e alguma «coqueterie» delas, sempre benvinda.

Onze horas sem escala passaram com normalidade e com o conforto de poder escolher entre cerca de quarenta filmes e uma refeição sofrível mas comível. Mas a achegada a Lisboa despertou-me de novo para as realidades de um país malcriado. Na fila e guichet para apresentação dos passaportes, para aí uns quinze, subdividida em passageiros da Europa e outros, estava UM ÚNICO oficial do SEF carimbando os ditos. Naturalmente que poucos minutos depois a bicha de europeus e não europeus era uma, una e indivisível apenas desfeita de cada vez que cada uma daquelas famílias, cheias de saris e de filhos, cumpria as formalidades.

Eis que aparece um segundo oficial do SEF a quem fiz ver a inadmissibilidade de haver apenas um funcionário para toda aquela gente (cerca de 250 pessoas). O SEF respondeu-me com aquela truculência em uso nesta repartição, dizendo que a culpa não era dele. Eu que me queixasse ao primeiro-ministro. Não me contive e com a polidez que o meu pai me inculcou de pequenino, disse-lhe que lamentava este cartão de visita. Dizer alto e bom som que a culpa era de Passos Coelho. E disse-lhe mais. Que ainda que o fosse, ele tinha a responsabilidade de apresentar desculpas e reclamar lá pelas «vias competentes» (se há coisa em que somos exímios é em vias competentes) sobre fosse o que fosse que fazia com que houvesse um funcionário para uma longa lista de guichets às moscas. Disse-lhe que estava a fazer um mau serviço, sem respeito por hierarquias, sem respeito pela instituição que serve, sem respeito por aqueles que lhe pagam o salário. E, ainda, por aqueles que pagaram um bilhete e passagem aérea para serem servidos com competência e eficiência. E, já agora, com educação.

O homem surpreendeu-me, ao começar a bater a bola baixo Talvez tenha pensado que eu era alguém da «nomenklatura». O que abona a minha opinião de que somos, em geral, cobardes, apenas picados pelo vírus da truculência e do desrespeito pelas instituições. Assim «à la mode» de Soares, criatura malcriada e com imenso espírito socialista quando berrou com o polícia que pedia documentos a um viatura onde ele se encontrava.

Portugal igual a si próprio.

Nota: Episódio a 20/7/15 cerca das 18:15


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1 Comments:

At 10:00 da manhã, Blogger jpt disse...

na mouche

 

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