quinta-feira, junho 11, 2015

Não dá para entender


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Nós lemos este interrogatório a Sócrates e esfregamos os olhos. Nós ouvimos, com inusitada frequência, os insultos e impropérios que um advogado meio boçal lança a magistrados, juízes, MP e a tudo o que tenha a ver com a Justiça e estarrecemos com a impunidade com que estas afirmações se produzem, sobretudo quando nos lembramos da trapalhada que se gerou quando Sousa Tavares chamou palhaço a Cavaco Silva. Por fim, é de ficarmos atordoados com a procissão de especialistas nas TV´s que manejam os meandros e itinerários mais ou menos tortuosos da via processual dos tribunais para nos convencerem (e a eles próprios) da inocência de Sócrates e da forte possibilidade de uma articulada campanha para o castigar (não se sabe bem de quê, já que ele está inocente…) e, mais grave, manipular a campanha eleitoral em favor da coligação.

Esta situação fede e qualquer tribunal de qualquer país digno teria, de imediato, mandar calar Sócrates ao primeiro «pá» ou recambiado para uma cela por desrespeito. Tal como teria já demandado ao tal advogado rançoso (palavra de honra que não me ocorre o nome, acho que é Araújo) por claras ofensas ao juiz de instrução e ao ministério Público sobre o caso Marquês.

No que se refere aos comentaristas, jornalistas e paineleiros, talvez fosse de bom-tom lembrá-los do extenso rol de malfeitorias que indiciam Sócrates como um vulgar trapaceiro, com a agravante de ter trapaceado com dinheiros públicos. Basta ler o Cercado para nos atermos à longa lista de casos em que Sócrates é indiciado. E se quisermos que a justiça faça um trabalho limpo e adequado, pensemos no trabalho que aquela longa lista, mais os respectivos envolvimentos e promiscuidade, exige.

Por último, quando um juiz acha que pode ou deve atenuar a medida de coacção mais grave (prisão preventiva) para prisão domiciliária com pulseira electrónica e Sócrates não aceita e brande o caso com mais uma lunática forma de se vitimizar o que é que se espera que o juiz faça? Que o mande fazer piquenique para a Estufa-Fria? Como leigo na matéria, a minha primeira reacção é de que ele deveria ser de imediato punido por desobediência, ao rejeitar a pulseira. Mas parece que não é bem assim, parece que um arguido tem prerrogativas constitucionais que lhe permitem recusá-la. Ora, a ser assim, para onde deveriam mandar o 44 senão de volta para Évora?

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