segunda-feira, novembro 24, 2014

Gone south


[5194]

Volto já. É só um cadinho. Vou ali abaixo, onde o sol aquece mais, onde o céu é mais estrelado, as nuvens mais encasteladas e onde, seguramente, não ouvirei falar de medidas de coacção nem das marcas dos veículos da PJ. Mas já volto!

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domingo, novembro 23, 2014

É assim tão difícil entender isto?



[5193]

Com a devida vénia à Helena Matos no Observador:

Isto não tinha ser assim. Não tínhamos de ver um antigo primeiro-ministro a ser levado dentro de um carro pela polícia. Não tínhamos de ver o circo montado novamente à porta do DCIAP. Não tínhamos de assistir mais uma vez aos políticos a perderem a face perante a justiça. Mas os portugueses quiseram que fosse assim. E tanto quiseram que em 2009, indiferentes ao que já se sabia sobre a actuação de Sócrates no Freeport e muito particularmente nessa vergonha nacional que foi o processo de licenciamento e construção da central de tratamentos de lixos da Cova da Beira, 2 077 695 eleitores lhe deram o seu voto para que continuasse como primeiro-ministro. É certo que o PS perdeu então a maioria absoluta mas note-se que não se pode falar de desastre eleitoral: em 2005, ano da grande vitória de Sócrates, o PS tivera 2 588 312.  Que Sócrates continuasse a obter mais de dois milhões de votos depois do que sucedera entre 2005 e 2009 diz muito sobre a nossa alienação de valores.

Aos olhos e ouvidos dos eleitores portugueses, tudo aquilo que em 2009 já se sabia sobre Sócrates – e era muito – a par do fascínio crescente e perigoso que este manifestava por um Estado agente de negócios não foi suficiente para que não lhe dessem maioritariamente o seu voto. Eram os tempos em que a líder da oposição era ridicularizada como “a velha” pela milícia dos assessores socráticos devidamente corroborados pelo riso escarninho dos humoristas de serviço a quem, vá lá saber-se porquê, Sócrates nunca inspirou muitas críticas. Eram os tempos em que criticar Sócrates valia telefonemas aos gritos para os autores desses textos (e sei do que falo por experiência própria) logo apelidados na mais bonançosa das versões como tremendistas, derrotistas e bota-abaixistas. Eram os tempos em que nada parecia possível ser feito em Portugal contra a vontade de Sócrates. Em que, por exemplo, nenhuma editora, que por essa época tudo editavam, quis publicar a investigação  – e tratava-se de uma verdadeira investigação e não de palpites  – que um blogue, o Do Portugal Profundo, fizera sobre a licenciatura do então primeiro-ministro. E sobretudo eram os tempos em que se arreigou na sociedade portuguesa esse perverso princípio de que o direito penal substituíra a moral.
Sentados em estúdios de televisão, rádio, nos jornais, blogues… todos os dias dirigentes socialistas e seus compagnons de route repetiam que tendo sido encerrados os processos e investigações só por má-fé se poderia questionar a licenciatura domingueira de Sócrates, a novela das suas duas fichas na Assembleia da República, os projectos para as casas da Covilhã, a nomeação para o Eurojust do procurador sobre o qual recaíra a suspeita de ter transmitido informações processuais a Fátima Felgueiras, o Freeport, a Cova da Beira…Em Portugal passou então a vigorar o dogma de que não há diferença entre responsabilidade política e responsabilidade criminal. E exactamente os mesmos que tanto contribuíram para a impunidade de que gozou José Sócrates já começaram na velha técnica das cabalas: devia ser detido à noite? Porque não foi detido em casa? Que estranha coincidência, ser detido na véspera de António Costa ser reconhecido como secretário-geral do PS… Deixemo-nos de contorcionismos: não há dia ou hora adequados para prender um ex-primeiro ministro porque em todos os dias e a todas as horas a detenção de quem teve tais responsabilidades terá sempre consequências políticas. Por exemplo, o que vai António Costa, que entretanto divulgou uma primeira declaração equilibrada sobre este caso, fazer com o homem que escolheu para líder parlamentar, Ferro Rodrigues? Ferro Rodrigues continua sem perceber duas coisas essenciais: primeiro, um partido de bem não pode alimentar a nostalgia por um político com o perfil institucional de Sócrates, (sublinho que falo de pefil institucional e não de questões criminais). Segundo, Portugal é uma democracia onde não há partidos acima da lei e não um regime democrático tutelado pelo PS. Como em todos os processos que envolvem poder económico e político haverá quem aposte na confusão. Lembram-se do processo Casa Pia em que acabámos a não distinguir os pedófilos das vítimas, a justiça do abuso e a verdade da mentira? (Esperemos apenas que à actual PGR não esteja reservado o mesmo calvário que a Souto Moura).
Falam agora os políticos na possibilidade de uma república de juízes. Agora é tarde para o fazerem, “Inês é morta”. É de facto uma visão dantesca essa de uma república de juízes mas foram eles, os políticos, e neste caso particularmente os do PS, ao pôr de lado a moral e ao centrar tudo no avanço da justiça, ou mais precisamente na sua capacidade de fazer arquivar os processos, quem sentou um dos seus, Sócrates, no banco traseiro daquele carro utilitário que o levou do aeroporto até ao DCIAP. E foram os portugueses, enquanto eleitores, sancionando o comportamento de Sócrates, dando-lhe a vitória em 2009, quem depositou Portugal na mão das polícias e dos juízes.
Na vida nunca se volta atrás e na política muito menos. Por isso aqui estamos no beco a que nos conduzimos: se Sócrates provar a sua inocência ficamos com a justiça descredibilizada. Se Sócrates for culpado estamos perante um problema político. Mas deste dilema os únicos culpados somos nós. E não Sócrates.

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sexta-feira, novembro 14, 2014

Jornalismo à portuguesa curta


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Título: Miguel Macedo e Marques Mendes são sócios da dona de uma empresa…

Notícia: Miguel Macedo já não é sócio da dona da Golden Vista…

A notícia desenvolve-se e, por várias vezes, regista que Miguel Macedo JÁ NÃO É sócio DESDE 2011.

A isto eu chamo de exemplo acabado de nepotismo, militância suja, desonestidade e um (mórbido) diletantismo de quem anda por aqui. Não se trata de ter ou não uma posição ideológica, não se trata de expressão de opinião, trata-se apenas de uma forma rasteira de fazer jornalismo.

Resta dizer que este título do Público já arrastou os «distraídos» do costume pelos blogues e pelo FB onde se afirma, preto no branco, que Miguel Macedo É SÓCIO da empresa de Ana Luísa Figueiredo.

A coisa fede! E quando as coisas fedem a este ponto o mais certo é acabarmos todos fatal e definitivamente fedidos.

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quarta-feira, novembro 12, 2014

Insólito


[5191]

E o insólito aconteceu. Num programa anunciado como «Frente a Frente», a moderadora Ana Lourenço, Santana Lopes e António Vitorino acabaram na risada (Ana, então, em incontrolada gargalhada…) perguntando-se como era possível o Governo ter lançado tantos impostos e estar agora a criticar António Costa por ter lançado umas taxas. Ao menos Santana Lopes poderia ter retrucado com a aleivosia de o PS enformar a sua oposição quase exclusivamente na crítica ao governo pelo lançamento de impostos (porque, também, pouco ou nada mais sabe fazer) e acabar, por via de Costa, fazendo o mesmo.

Ainda não perdi a esperança de um dia vir a entender cabalmente esta fenomenologia indígena.

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terça-feira, novembro 11, 2014

De «taxa» arreganhada


[5190]

Depois da corrente orgástica que percorreu o país com a «charge» de Pires de Lima sobre as taxas e as taxinhas que aí vinham, António Costa tratou de dar um cunho de seriedade à coisa e deu à luz umas taxinhas que eu não sei bem como vão funcionar mas que geram mais uns milhõezitos para a autarquia.

Um tal vereador Medina tratou de nos explicar na RTP que, ao contrário do governo, a Câmara não aumenta impostos, mas sim redu-los, no exacto momento em que nos anunciava a criação das novas taxas. E prometeu que uma delas era inteiramente para custear bombeiros. A outra, a de €1 para desembarcados no aeroporto ou no porto de Lisboa é para aqueles que não são de Lisboa mas que resolveram com ela dormir. Para além desta espécie de prostituição da capital (queres dormir comigo, tens de pagar), não sei bem como esta última vai funcionar, imagino que deve estar alguém às chegadas a cobrar um euro junto aos balcões da imigração. E, provavelmente, para escapar ao pagamento, teremos de apresentar um certificado de residência, será?

No PS, este tipo de actuação está-lhes no ADN. Esmifrar o dinheiro dos outros, mas sempre com uma oração de sapiência sobre a bondade das suas medidas, como fez Medina. António Costa, ao lado, concedia-nos um sorriso paternal e condescendente. Ou seja, de «taxa arreganhada».

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domingo, novembro 09, 2014

Acreditar na liberdade e na «free will»


[5189]

Faz hoje vinte e cinco anos que me sentei a bordo de um avião da SAA para me deslocar a Joanesburgo, coisa que, de resto, eu fazia todos os meses uma ou duas vezes, quando vivia em Maputo.

Mal o avião descolou começou a circular a notícia da queda do muro de Berlim. São os mistérios da propagação das notícias, sobretudo se pensarmos que a net nessa altura era ainda um brinquedo de tempos livres, mas a verdade é que as notícias se propagam um pouco como a fé. Sem a gente perceber bem como.

Em Joanesburgo, tive acesso à confirmação da notícia, já com algum detalhe. Foi, sem receio de errar, um dos dias mais marcantes da minha vida. Para quem como eu, juntou ao que lera e estudara sobre os regimes comunistas as «aulas práticas» que a vivência em alguns países sob domínio da União Soviética me proporcionou, o derrube do muro constituiu um facto inesquecível e uma reconciliação com a espécie, no caso, a minha.

Com o derrube do muro instalou-se em mim, mais do que a noção de que passariam a existir novos rumos de economia e desenvolvimento, o respeito pelo primado do individualismo e da liberdade, coisa que os cidadãos desses países não tinham. Pior: liberdade, julgavam que tinham. Individualismo era, um fenómeno reservado aos cidadãos do mundo ocidental que não haviam tido a fortuna de ser doutrinados nas premissas básicas do homem novo, cheio de amigos a cada esquina e enformado no espírito universal e internacionalista.

Vinte e cinco anos depois, há ainda muita gente que sonha com o regresso do muro. Feliz e saudavelmente, os comunistas foram desaparecendo do horizonte político da Europa e mesmo do mundo. Mas em Portugal existe esta espécie de indomável aldeia gaulesa que continua a pugnar pelo retorno das liberdades e pela aniquilação do grande capital e dos poderosos (ou, para citar Mário Soares, dos magnatas do petróleo) – vale a pena ler o último Avante. Uma situação que contribui decisivamente para este limbo em que ainda nos encontramos e que é mesmo motivo de chacota na opinião das democracias europeias. E como se isso não bastasse existe mesmo, para usar um termo do futebol, uma vaga de «segundas bolas» manejada pelo chamado «socialismo democrático» que nos coloca periodicamente na penúria, na bancarrota e mantém um inqualificável regime de doutrinação junto dos mais desfavorecidos e da juventude, por via de sistemas que aprenderam e sublimaram no marxismo.

Mas hoje é dia de celebração de «muro abaixo». E isso devia ser motivo de imensa felicidade para todos os amantes da liberdade. A RTP devia fazer serviço público e, no mínimo, passar o filme Good Bye Lenine.

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sábado, novembro 08, 2014

Os suspeitos do costume


[5188]

E é isto. Para os socialistas, o voto é soberano. Desde que votem neles. Se assim não for, a porca torce o rabo. E todos sabemos do que é capaz de fazer um rabo socialista torcido, passe a ausência de um eufemismo. Solta-se-lhes a verve, têm imensos celulares para usarem as «redes sociais» e os sindicatos colaboram freneticamente.

Mais coisa menos coisa, o filme é este, mesmo. O socialismo ganha eleições, escangalha a economia ao mesmo tempo que canta as vacuidades do costume, depois vem a direita e lá vai remendando os estragos. Depois, o socialismo diz mais umas tretas, a direita perde-se em casos de corrupção e os fautores do homem novo e dos regimes impolutos voltam para escaqueirar a economia de novo, mesmo que se percam em actos de corrupção ainda maiores. E se a coisa aperta-se pede-se a um magistrado colocado na União que ralhe com os magistrados indígenas e, em casos mais mais primários e esquerdas mais jovens, expulsam-se juízes porque a justiça é cega e os juízes, às vezes, vêem demais. Mas são as corrupções boas e os eleitores têm que compreender que é assim. E se a coisa der demasiado para o torto, pede-se um resgate e «prontes». Portugal é mestre nisso.

Cada vez há menos regimes socialistas na União. Portugal (sempre nós) arrisca-se, em breve e possivelmente, a exibir um Sócrates qualquer ou um arrivista em estado de graça. Como os pobres nunca acabam (apesar de nunca antes terem vivido tão bem), é fácil fazer medrar a berraria do costume e colocar umas centenas de milhares de pessoas na rua. Depois passa tudo e vêm os do costume pôr as montras nas lojas, varrer as ruas e tratar os feridos. É o fado da direita.

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quinta-feira, novembro 06, 2014

Vale mais ser engraçado que não ter graça nenhuma



[5187]

A Helena Roseta está ali no «confronto» da Ana Lourenço, com Montenegro. Fala com ar de desprezo da piada de mau gosto do ministro de economia quando este falou de taxas e taxinhas… Verdade que também achei que o ministro não deve ter jeito nenhum para contar anedotas, mas ninguém é obrigado a ter graça e concordo que se percebemos que não temos graça, o melhor é não fazermos ou dizermos graça nenhuma. Mas por acaso convém não esquecer que o termo das taxas e taxinhas nasceu no Partido Socialista. À altura não vi Roseta com tal ar de enjoada. De resto, pergunto-me sobre o que é pior. Se dizer uma laracha sem graça ou sem jeito ou se é aparecer nestes «debates» com um ar de quem lhes deve dinheiro ou, pior, que o país está salpicado de grunhos que não percebem os elevados valores da conduta, boas práticas e matriz cultural dos socialistas. Para além de acharem que nos deveremos sentir lisonjeados com a disponibilidade condescendente destes comentaristas a recibo verde. E não é só Roseta. É a esquerda chique, de um modo geral. Gabo a paciência de quem os confronta nestes programas, porque conseguem manter um fino trato, verbo elegante e, sobretudo, respeito por quem os ouve.

Nota: A Bloga e o FB fervilham, como se esperava, de comentários alarves sobre Pires de Lima.

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quarta-feira, novembro 05, 2014

Ai Timor!




[5186]

Portugal costumava ser um país amorfo. Alguns dos seus nativos, poucos, libertavam-se desse amorfismo e projectavam o seu brilho. Depois veio o 25 de Abril e os portugueses sorriram. Muito rapidamente esse sorriso deu lugar ao medo e a um sentimento de confusão. Mas, de alguma forma, houve quem resistisse (alguns que souberam dizer não, não por causa de Manuel Alegre mas, provavelmente, contra ele…), houve mesmo quem soltasse um sonoro «bardamerda» e a coisa foi minimamente aos carris.

O tempo passou e os fazedores do homem novo foram então, subrepticiamente, minando o sistema e ocupando lugares estratégicos e com um oratória de papas e acções de bolos foram enganando um número crescente de tolos. Com os tolos ia-se formando uma franja de (eu sei que é um cliché, mas não vejo outra forma de o dizer…) idiotas úteis que se iam segmentando à medida das suas capacidades, ocupação ou atribuições. Todos eles, porém, deliciados com o protagonismo que as tais papas e os tais bolos lhes traziam. E o país passou a ser fértil em causas. As pessoas passaram a defensores de causas e qualquer coisa minimamente correcta e «como deve ser», do aborto à defesa do lince ibérico, passando pela neve que derretia no Kilimanjaro ou qualquer coisa que tivesse a ver com Passos Coelho ou a saúde da coligação foi promovida a causa e a suscitar pensamentos, palavras e obras apropriados.

Este rápido pensamento releva do recente enxovalho que sofremos em Timor-Leste. No fundo, a atitude dos timorenses não deslustra da ideia geral do que aquela rapaziada no poder pode fazer. O que realmente chateia é recordar os cordões humanos, a oratória inflamada de gente a berrar pela liberdade de Timor, mesmo que nas mãos de um reconhecido comunistóide, agora convertido à democracia, como Xanana,  e as semicolcheias do Luis Represas a cantar, embargado, o “Ai Timor” e concluir que, sim, somos um povo de causas, petições e abaixo assinados. A neve voltou ao Kilimanjaro, os linces aguentam a passada, as baleias ainda por aí andam, a calote polar ainda lá está… e Xanana teve a hombridade de esclarecer a grei lusitana que justiça é justiça, tudo bem, mas petróleo é petróleo e as coisas, neste particular, são diferentes. Porque, naturalmente há justiças mais justas que outras.

Acho que os portugueses deviam fazer já um cordão humano, vestir camisas brancas (eram brancas, não eram?) e percorrer as ruas de Lisboa a berrar por Timor e deveria compor-se mesmo uma nova canção onde o «Ai Timor» pudesse significar que, no fundo, a culpa do Xanana ter posto na rua os magistrados portugueses não é dele, puro, democrata e simpatizante do esselbê, a culpa é dos poderosos ou dos magnatas do petróleo, como diz o Mário Soares. E a Ana Gomes devia dizer qualquer coisa também, nos intervalos da alhada em que se meteu com os estaleiros de Viana…

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