terça-feira, setembro 16, 2014

Não fosse a taxa e seríamos um país de gebos mentais


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Ao contrário do Rui A., uma pessoa com quem quase sempre estou de acordo, não acho que a magna questão debatida ontem no Prós e Contras tenha sido a angariação de mais uns cobres, sob o manto da legalidade. Ao contrário, tenho para mim que esta gente (entenda-se por esta gente muitos dos artistas presentes que acham que o povo lhes deve vassalagem pela nobre missão que eles têm de nos educar e cultivar) acredita piamente de que o povo lhes é devedor e que não faz mais que a sua obrigação. 

Expressões como «há artistas a passar fome» ficaram algo fora do contexto, já que há mais gente que passa fome em muitas latitudes. Uns porque tiveram a desdita de nascer em países pobres, outros (dois ou três, ainda) porque são regidos por regimes déspotas.

Num país civilizado, quando um artista passa fome, uma de duas coisas contribui para isso. Ou o artista é declaradamente medíocre e deve procurar outra ocupação ou esse país vive ainda sob uma fantasiosa ideologia que lhes castra a realidade e a verdadeira noção de entretenimento, doseado em formas de humor, ciência, casos humanos, problemas sociais ou simples aventura, tudo coisas que, afinal, são a epítome doutrinal (não acredito que me veio esta expressão à cabeça…) da cultura. E que constituem o mercado, aquilo que em última análise faz um artista rico ou o deixa passando fome). Ao invés, os artistas portugueses (não todos, como é evidente) congregam-se em lóbis e corporações e instalam-se no «mainstream» confortável de que ao povo é devida a cultura que só eles nos podem dar, mas com o povo pagando, como é evidente. Cantando, representando, escrevendo livros, desenhando e passando a mão pelo lombo de um secretário de Estado de Cultura ou mesmo por um presidente de uma associação de autores (este chegou a lançar um poderoso sound bite sobre a necessidade do povo comer cultura também, logo seguido de palmas vigorosas). Mais uns decibéis e lembrava Jorge Sampaio a dizer que há vida para além do défice.

Mas, pessoa cordata que sou, acabo por alinhar com o Rui A.. Uns cobres também sabem bem. Perguntem ao Marinho e Pinto, que não é artista mas tem uma arte inigualável de se pagar. Moral e materialmente, enquanto vai insultando toda a gente.

Nota: Um aceno de simpatia pelo nível e substância de dois bloggers (A. A. Alves e Maria João Nogueira) e os votos para que o David Ferreira tome uns calmantes, numa próxima vez, se houver uma próxima.

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