segunda-feira, setembro 22, 2014

Calúnia à portuguesa


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Quem tiver mais de 40 anos e o saudável hábito de gostar de cinema poderá lembrar-se de um excelente filme do S. Pollack, Absence of Malice (A Calúnia), interpretado pelo Paul Newman e pela Sally Field, um filme de 1981, no qual se estripa toda a imoralidade e despudor com que determinados agentes da vida pública manipulam a imprensa. Um homem vê a sua vida destruída, por via de uma repórter ingénua e idealista que veicula notícias manipuladas por agentes interessados e chega até a haver um suicídio.

Aqui pela paróquia, a coisa hoje está diferente. Suicídios, verdadeiramente, já não há por causa dos jornais. Primeiro porque o escândalo banalizou-se e, demais, há um verdadeiro exército de gente, de jornalistas a comentadores de televisão, repórteres, politólogos, sociólogos, analistas, especialistas, jornalistas desportivos e outros que baralham muito as coisas. Não se calam, dão-lhes guarida a troco de interesses inconfessados e tudo isto é agravado por uma evidente incultura, falta de mundo, iliteracia, arrepiante desconhecimento da gramática e, no caso dos mais jovens, subprodutos de currículos de educação amestrada por aberrações ideológicas totalmente desadequadas à realidade contemporânea e civilizacional.

Para «cobrir o bolo» há ainda uma camada de especialistas em manipular os media à medida das conveniências dos seus mentores, coadjuvados pelos inevitáveis idiotas-úteis que surgem em todos os sectores da nossa sociedade.
Isto explica a procura incessante de «escândalos» que vão sendo cavados à medida dos interesses de cada qual, chegando a ser ridícula a permanente sabatina entre os homens das notícias, tendo como resultado a alternância de escândalos. Se um PS é condenado, aqui d’El Rei que há um PSD que fez uma malandrice qualquer e anda a ser investigado. E vice-versa, convenhamos.

O escândalo recente de Passos Coelho ter recebido €5.000 mensais em regime de exclusividade é um bom exemplo, seguido à condenação de Maria de Lurdes Rodrigues. A oposição salivou, os jornais venderam, a Judite de Sousa quase que sorriu, a Ana Lourenço põe a expressão nº 3 de cara laroca que sabe tudo sobre estes maraus e a Constança Cunha e Sá continua a ser acometida daquele nervoso habitual que a leva às raias da apoplexia e até lhe entrelaça as cordas vocais, não a deixando falar como deve ser e os jornais e televisões «de referência» espremeram-se a noticiar a coisa. Socorro-me do João Miranda mencionando este post no qual, por via do link, podemos observar o tipo de notícias dadas por esses órgãos de comunicação (e quais). Entretanto, parece que o homem não tinha exclusividade coisa nenhuma, percebendo os salários na maior das legalidades. E “prontes” não se fala mais nisso.

Assim como assim, vale mais rever A Calúnia. Pelo menos há uma história interessante, a jornalista é mais ingénua que imbecil e os vilões são vilões a sério. Nada desta actual infantilidade reinante.

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1 Comments:

At 7:04 da tarde, Blogger estouparaaquivirada disse...

Gostei!
xx

 

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