quinta-feira, janeiro 31, 2013

Eles lá sabem


[4845]

Nada como seguir os bons exemplos. Mesmo que o socialismo do Rato não ande tão científico como o da insigne figura da gravura, que se deve ter lembrado daquela entre uma cuba libre e um «puro». Vai daí o nosso paroquial PS achou que seguir o exemplo do Bloco é que estava a dar. Duas cabeças pensam melhor que uma, mesmo que nenhuma delas pense nada por aí além. Mas é de bom tom e usa-se. Só faltou a igualdade de género. Poderiam, quiçá, ter convidado a Ana Gomes, mas parece que ela andava ocupada num folclore politicamente correcto, abanando as ancas lá pelos corredores de Bruxelas,  numa jornada de luta contra a violência doméstica. Mas a bicefalia está lá. E aquela cinzenta figura que se quer a si própria simbolizar o «costismo» passará agora a ter voto na matéria.

Antes assim que pior. Olha se Sócrates paga o empréstimo e resolve voltar para a Braamcamp e os socialistas que por cá ficaram desatam a seguir-lhe os exemplos...
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quarta-feira, janeiro 30, 2013

A luta continua, a escola não é tua. O amianto mata, esta escola é muito chata



[4844]

A cartilha comunista não brinca em serviço. Foi feita numa base científica e sabe perfeitamente até que ponto levar o estrugido. E uma das linhas mestras da esquadria de formação do povo é a colectivização das manifestações públicas ou de cada qual. Só assim se entende a uniformização do traje em muitas sociedades comunistas, a extraordinária mecanização das paradas militares, as votações de braço no ar e que ai daquele que se atrase um segundo em levantar a mão ou, ainda, as conhecidas palmas organizadas. Um aplauso coordenado, uniformemente acelerado e que se estabiliza uns segundos depois numa cadência militarizada, em que toda a gente bate as palmas ao mesmo tempo, com os braços numa rigorosa manifestação estética e pelo tempo julgado necessário e espartilhado pelos líderes da função. É a colectivização em pleno. A «bovinização» (perdoe-se-me o termo) das massas, a manutenção da grei no redil e a formação una, indivisível, uniforme, milimétrica, da vontade dos homens, que deixou de ser vontade, foi esmagada e expulsa do individualismo da espécie, aquilo que de mais maravilhoso tem o homem e que decorre exactamente da suprema fruição da liberdade e do génio criativo de cada um.

Este arrazoado vem a propósito da influência repugnante que os comunistas conseguem manter na juventude escolar portuguesa, não hesitando em inculcar, logo à adolescência, o primado do colectivo, mesmo nas coisas mais comezinhas. A manifestação destes miúdos sobre uma coisa que muito provavelmente muitos não saberão sequer o que é, representa um claro exemplo do que digo. As rimas revolucionárias, a cantata idiota do socialismo, solidariedade e rejeição do «sistema», a linguagem corporal, tudo incorpora um posicionamento que não surge por acaso. É uma prática repugnante que nada fica a dever às crianças a cozer sapatos a partir dos 7 anos ou a plantar arroz desde os 10. Chega até a ser, na minha opinião, uma versão revisitada dos «pioneiros» uma forma decalcada da antiga «mocidade portuguesa».

Ver este miúdos a cantar desta forma e com esta linguagem corporal faz-me recear o pior. Por um lado a de que os comunistas não desarmam. Por outro, a formação de jovens com uma visão distorcida da vida, e a noção de que, ainda pequeninos, lhes começam a torcer os pepinos.

É um evidente sinal de uma sociedade atrasada. Esta. A nossa. E a que, ao que parece, os nossos intelectuais acham imensa graça.
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terça-feira, janeiro 29, 2013

Forgive me Lord, for I have sinned

[4843]

Ela agora aparece menos. Mas quando Manuela Ferreira Leite tinha mais visibilidade na televisão, dei comigo várias vezes pensando como devia ser complicado uma vida comum com aquela mulher. Mal disposta, respondona, catadura em rigoroso acordo com a de alguém a quem devemos dinheiro, discurso tartamudeante e de sintaxe ininteligível, teimosa e aquele olhar de falcão peregrino tipo quando chegarmos a casa levas a mais. No mínimo, no máximo, quando chegarmos a casa arranco-te um olho.

Dias Ferreira é irmão de Manuela. Vejo-o penosamente e com evidentes e preocupantes sinais de masoquismo, penitência forgive me Lord for I have sinned, naquele programa «Dia seguinte» da SIC Notícias. Curiosamente, tem todas as virtudes que elenquei no período anterior (esta do elencar está em uso corrente, também...), provavelmente com maior grau de ininteligibilidade ainda que a irmã, se é que isso é possível. Dias Ferreira não consegue dizer duas frases consecutivas com a obrigatória concordância de verbos, substantivos, adjectivos e deixa quase todas as frases inacabadas. Acresce que é de uma agressividade virulenta, parece querer bater em toda a gente e repete-se mil vezes que já tem idade para dizer o que quer. O que me leva a concluir que durante grande parte da vida dele, o seu discurso foi castrado, vá lá saber-se porquê. Ontem, então, quase batia no apresentador do programa e foi de uma grosseria arrepiante para o homem do Benfica. Curiosamente, é um cestinho de salamaleques, sempre que se dirige a Guilherme Aguiar ou se refere ao F.C. Porto.

Voltando a Manuela Ferreira Leite. Há, assim,  razões fortes para eu pensar que uma vida em comum com ela deveria ser muito complicado. A essas junto a inevitabilidade de passar a ter Dias Ferreira como cunhado. O que, para além do risco aparente de permanente gritaria ou, no extremo, apanhar uma tareia, um dia destes sentir-me tentado a mudar de clube. Para o simpático Belenenses, por exemplo. O que seria, pelo menos e tanto quanto eu saiba, caso único. Mas convenhamos que assistir semanalmemte ao discurso de Dias Ferreira (isto para não falar de Eduardo Barroso que mereceria um post em separado...) pode conduzir a isso mesmo.
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segunda-feira, janeiro 28, 2013

O clarinho da CGTP

[4842]

Não, não é Robin Williams e a sua super bouncy "flubber". É o professor Marcelo, mesmo. Porque acredito que só uma criatura distraída, com a formação e cultura de Marcelo, pode dizer sem um sorriso "vichyssoise" que se admirou muito com a «saída» de Arménio Carlos, ao considerar o etíope Selassie, do FMI, um rei mago escurinho. Uma saída deselegante e incrível, tanto mais vindo da esquerda, disse Marcelo.

Ainda não percebi bem porque é que a direita é racista e a esquerda é solidária, fraternal e internacionalista. Mas a política e o politicamente correcto lá devem saber porquê. Pela parte que me toca, o que sei, o que vi, o que aprendi é que a esquerda tem uma dificuldade patológica em lidar com sociedades multiétnicas. De resto, tal como com a homossexualidade. Só mesmo um distraído, como Marcelo, ou um ignorante, como muitos de nós, não sabe isto. Lembro-me bem dos conflitos tremendos, gravíssimos e dramáticos surgidos com  o envio de jovens moçambicanos (só para dar este exemplo dos moçambicanos, porque havia outros países com o mesmo drama) para a União Soviética e para a República Democrática Alemã, para estudar ou receber formação a vários níveis. As situações geradas pelo conflito étcnico eram tais que muitos dos moçambicanos acabavam repatriados ou fugidos dos paraísos comunistas, mesmo com as manhãs todas a cantar e os amigos todos a surgir em cada esquina, pela liminar razão de serem escorraçados, não tolerados, violentados e agredidos. Regressados a casa. ficavam ainda por receber subsídios a que tinham direito e que acabavam por não lhes ser pagos. Muitos deles organizavam-se e tentavam fazer valer os seus direitos mas de pouco isso lhes valia, de tal forma o regime moçambicano estava peado ao socialismo internacionalista.

Ainda hoje, as sociedades civis na Rússia e mesmo países da antiga Europa de Leste têm uma reputação clara de intolerância em relação aos escurinhos, como diz o pateta do Arménio Carlos. Felizmente para eles, os escurinhos, essas sociedades são pouco apelativas porque têm economias frágeis, saídas recentemente da asfixia soviética. E é daí que preferem emigrar para países como Portugal, Espanha, França, Bélgica, Reino Unido e Estados Unidos onde, apesar das sociedades serem formadas por fassistas e capitalistas, e mais estalo menos assalto, têm os seus direitos essenciais defendidos. Mesmo quando um imbecil como um Arménio qualquer se lembra de lhes chamar escurinhos. Faz lembrar Louçã e o exemplo do coelho e da coelha para podermos ter coelhinhos, num ponto duma discussão qualquer sobre homossexulaidade, que já nem me lembro bem.

Não há mesmo paciência para esta fauna. Esta, dos clarinhos de elevada moral, aprumado civismo, comovente solidariedade e pensamento como deve ser. Como o Arménio.
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Sticky, thicky, tricky, chilly, greasy and blurry (ish)


[4841]

Para quem está familiarizado com viagens aéreas frequentes, o nevoeiro ganha um conceito filosófico. Por vezes voamos confortavelmente a 35.000’, banhados de sol brilhante e radioso e iniciamos a descida para o destino. Com nevoeiro, há aquele período deprimente em que percebemos estar a atravessar uma densa cortina de nuvens e somos invadidos por um assinalável desconforto, mesmo sabendo que o avanço da técnica permitirá aos pilotos aterrar com visibilidade reduzida. Depois, é sair do avião e embrenharmo-nos na atmosfera pegajosa, difusa, espécie de fotografia tremida, fria e que nos penetra o corpo e a alma. Outras vezes, entramos num avião, seatbelts fasten, seats in upright position e aí vamos nós, céu acima, o pássaro metálico furando as quase microscópicas gotículas, furando, subindo, subindo e furando, o ambiente vai-se tornando mais claro, eis que pela janela vemos que estamos passar o «cucuruto» da massa de nevoeiro e o sol se nos oferece, quente e brilhante e nos reconcilia com o mundo.

A idade aumenta-nos a sabedoria e a sabedoria concede-nos um bem inestimável que dá pelo nome de pragmatismo. Se conseguirmos chegar à plenitude do pragmatismo, percebemos que nos dias de denso nevoeiro, o melhor é apanharmos um avião e içarmo-nos ao conforto dos 35.000’. Ou, por oposição, se já lá estamos em cima, o melhor é não aterrar. E deixarmo-nos estar. Não sei como a coisa acaba, porque há detalhes como autonomia de voo e outras esquisitices mas… lá está. O pragmatismo ajuda e vamos pensando que dá para ficarmos lá em cima. Se e quando acabar a gasolina, pois a solução pragmática permanece. É uma questão de aterrarmos. E quando sairmos do avião, enfrentar o cinzento e fingir que a vida é mesmo assim e o nevoeiro faz parte dela.
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quinta-feira, janeiro 17, 2013

Pronto... e é assim




[4840]

O semipresidencialismo português é uma verdadeira aberração. Consagrado, na forma actual, pela revisão constitucional de 82, ele constituiu, desde então, a primeira legalização do aborto – do aborto político, mais propriamente – em Portugal. Na sua versão primitiva saída da revolução, a Constituição consagrara um modelo de governo que fora decalcado da Carta Constitucional de 1826: um chefe de estado com um forte poder moderador, de quem, na prática, o governo e a sua actuação legislativa dependiam, tanto ou mais do que do parlamento. Com a revisão de 82 e o Conselho da Revolução regressado à caserna, o chefe de estado ficou uma espécie de ectoplasma fantasmagórico a quem são permitidas aparições esporádicas quando está em causa «o regular funcionamento das instituições». Ou seja, de monarca constitucional, o chefe de estado transformou-se numa versão eleita do Almirante Américo Thomaz. Após a morte de Salazar, claro. O semipresidencialismo português, desde então, aprisiona em Belém figuras decorativas que apenas podem ameaçar o governo de demissão, ameaça que habitualmente consumam no segundo mandato, para relaxar os nervos e digerir as humilhações que precisaram de engolir para conseguirem a reeleição. Com o único poder de que praticamente dispõe, o Presidente da República Portuguesa transforma-se, ao demitir o governo, num player político activo. porque esse acto envolve um juízo de máxima censura política sobre quem governa (pôr em perigo «o regular funcionamento das instituições»…), o que o coloca ao lado da oposição, a quem, na prática, entrega o poder e o país. Por isso, e só por isso, é que Cavaco Silva não dissolveu ainda a Assembleia da República, como aspira e profetiza o Professor Freitas do Amaral, o mais astrólogo e quiromante  da política portuguesa. Por isso, e só por isso, é que Jorge Sampaio engoliu Santana Lopes e esperou que o PS mudasse de liderança antes de provocar eleições antecipadas. E, por tudo isto, porque tanta perigosa inutilidade concentrada em Belém faz mal à saúde do regime, torna-se necessário que a CRP determine, de vez, qual a verdadeira matriz do nosso sistema de governo: ou presidencial ou parlamentar. Por mim, não duvido que apenas esta última nos servirá. Mas quem quiser um caudilho salvador da pátria, um Monti graduado em general de cinco estrelas, sempre poderá ficar com a primeira.

Rui A., aqui
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terça-feira, janeiro 15, 2013

África, terra bruta, que até à papaia lhe chamam de fruta... (Jan 13)


Maputo, esta manhã
Final da Julyus Nyerere, Praça do Destacamento Feminino

[4839]

Eu explico... primeiro faz um calor que dá para assar caju no terraço da casa. O sol é forte, mas começa a soprar um vento do Norte, carregado daqueles bafos quentes de Tete ou do Marromeu e sopra, e sopra, a caminho de uma coisa que os meteorologistas chamam de centro de baixa pressão, uma coisa que tem a mania de se fixar ali ao sul de Maputo, por cima da Ponta do Ouro. Depois, o barómetro do Naval baixa bruscamente (se o Covinhas fosse vivo começava a avisar o pessoal todo no mar através do rádio...) e o vento parece que pára. Mas não pára... ali perto, a cerca de uma centena de quilómetros, o vento baralha-se, porque vinha quente do Norte e soprando velozmente, depois esbarra na tal depressão, tropeça nos milibares e, desorientado, começa a vir, desbragado, para Norte, vindo de Sul. Mas agora vem frio, cortante, e começa a bater o mar que fica eriçado e branco de espuma. E depois, nem uma horita depois, começa a chover. Mas a chover... não são aqueles pinguinhos morrinhentos e carinhosos que nos borrifam em Lisboa e nos alagam as vias construídas em leitos de cheia com sarjetas que nos esquecemos de desentupir no Verão. Não, é chuva a sério, bagas macho, misturadas com o tal vento, agora frio, que ruge furiosamente acima dos 40 nós. E depois, o resultado é este, como se vê nas fotos. Um espectáculo bruto, mas belo, como só ele.


Em frente ao Scala. Ao fundo, o «33 andares»

As pessoas habituadas vão circulando, que os carros de agora já não isolam as velas nem têm platinados...(os avanços da técnica e da ciência), os pedestres abrigam-se por um tempo e as crianças riem, como sempre e de costume. Os lugares mais afectados são invariavelmente os mesmos. A Baixa, 25 de Setembro, Scala e Continental, a rampa para a Julius Nyerere, a marginal para o Naval. E depois há aquela sensação que o mundo vai acabar, mesmo para quem não conheça a futurologia dos Incas.

Depois a chuva pára, a água escorre para o mar, o Tembe, Umbelúzi e o Incomáti ficam turvos e é conveniente não tomar banho porque há um casalito ou outro de tubarão Zambezi que gosta de turbid waters... as ruas ficam juncadas de ramos de árvores, os contentores de lixo virados e a cidade fica um bocadinho destruída.



Av. 25 de Setembro. Frente aos Correios

Porque será que tenho saudade disto?
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domingo, janeiro 13, 2013

Vida difícil no Brasil, «a gentji vai assaltá e volta mais pobre...»



[4838] 

Mais do que o facto em si, o que fica desta história é a lógica incontornável do larápio (este rapaz só pode ter uma reminiscência do ADN lusitano…). Ainda assim, uma manifestação bem mais honesta que os florilégios recentes aqui pela sociedade lusa, com a grei escandalizada com a carteira Chanel da Pepá e do abate do Zico. Sabem quem é o Zico, não sabem? Pelo menos cinquenta mil pessoas sabem, o nome do bebé é que não me vem à lembrança… 

Quando ao larápio paulista, não sei bem o que lhe vai acontecer. Se fosse a ele, emigrava. Para aqui. Há sempre uma petição, um advogado progressista, um bastonário tonitroante que acha que o desemprego e o Passos Coelho é que têm a culpa e um punhado de activistas que iam achar que o farmacêutico não tinha nada que ter dinheiro na caixa. Com sorte, até um NIB se arranja para minimizar o prejuízo do moço.
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sábado, janeiro 12, 2013

Seguramente lixados


[4837]
Por mim, não acredito numa só palavra de Seguro referida neste artigo. Ainda quero pensar que ele tem a noção não só da trágica situação em que nos encontramos, como também da responsabilidade histórica do seu Partido em geral e de Guterres e Sócrates em particular.
Se Seguro, por uma vez, reconhecesse a necessidade de parar com os florilégios a propósito do chamado «programa do FMI» e adoptasse uma conduta responsável, cívica e com verdadeiro sentido de Estado e fosse ao Rato explicar à patética colecção de «neo-socialistas» (já agora, porque é que só há-de haver neo-liberais?) que não há outra forma de sairmos do atoleiro senão colaborando com o Governo, por muito impopular que isso seja e muitos votos que custe, daria a todo o país um sinal de que poderíamos contar com ele como primeiro-ministro se e quando o PS ganhar as eleições.
Mas Seguro não o faz. As vozes correntes dizem que ele tem medo dos soaristas, dos socratistas, da maçonaria, das correntes de ar e da comida com muito sal. E que tem de se esgueirar por entre eles procurando não se molhar. Mas ainda não percebeu que se por acaso não se molhar e conseguir, um dia, chegar ao poder pelo derrube deste governo, estará contribuindo decisivamente para um desfecho que não consigo sequer vislumbrar qual seja. Em vez disso, vai dizendo que o governo se meteu numa trapalhada, da qual quer sair com um apelo ao PS, que o governo se lembrou de cortar quatro mil milhões do orçamento e que não contem com ele para isso, que contem com ele apenas para a modernização do estado (acho esta delirante…), para dizer não ao desmantelamento do estado social e que sim, existe um caminho alternativo, porque «água mole em pedra dura, tanto dá até que fura».
E assim, com este verbo e este tipo de argumentação, Seguro continua a achar que «vai lá».

As coisas estão a tornar-se definitivamente negras. Os portugueses sabem que as medidas enunciadas pelo FMI de há muito se impunham, apesar da tagarelice em curso pelas televisões, rádios, jornais e blogues, e que decorrem de uma governação… ia a dizer criminosa como o Bloco diz na Assembleia, mas isso é dar-lhe demasiada importância…irresponsável, pela qual o Partido Socialista é objectivamente responsável. Ao menos que dêem tempo aos outros para a reparação de danos, antes de escaqueirarem tudo outra vez. Como de costume, aliás.
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sexta-feira, janeiro 11, 2013

A antiguidade é um posto?




[4836]

EU : - Boa tarde Dr. TC, deixe-me apresentar-lhe aqui o engenheiro PR...
TC: - Pois, muito prazer em conhecer.
Meu colega (PR): - Muito prazer Dr. TC.

O grupo senta-se para almoçar, a conversa generaliza-se e a dada altura...

MEU COLEGA: - Mas o Dr. TC está a ver a coisa... desculpe... posso tratá.lo por T... não posso?
TC: - Mas claro, pode e deve.
MEU COLEGA: - Então o T está a ver, a situação é clara e não deixa margem a dúvidas. Se o T quiser, poderei mandar-lhe depois umas gravuras etc., etc., etc., etc.,

Mais tarde, no carro, e já sem o TC:

MEU COLEGA: - Ó engenheiro, a coisa correu bem? O que acha?
EU: - Acho que sim, foi óptimo...
MEU COLEGA: - E o que acha de eu deixar de lhe chamar doutor? Embirro solenemente com esta coisa do engenheiro e do doutor, o que é que acha, engenheiro?
EU: - Acho óptimo, eu também embirro.
MEU COLEGA: - Ainda bem que o engenheiro concorda comigo

Nos 200 kms seguintes até Lisboa, procurei algumas razões para a deferência deste último diálogo do PR comigo. Encontrei algumas. Não gostei. Entre elas a de que a antiguidade é um posto. Treta. Ainda se ela não significasse sermos respeitavelmente remetidos para uma galeria de venerandas figuras a quem há que, aqui e ali, arear os amarelos com uma boa dose de solarine...
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sábado, janeiro 05, 2013

Os utentes, meu Deus, os utentes!


[4835]

Numa das frequentes tempestades tropicais que assolam o Índico, fui solicitado para ir com o meu barco salvar popuação presa nas copas de árvores e pontos mais elevados do leito do rio Maputo. Lá fui eu, juntamente com outros barcos e salvei um punhado de gente. 

Uns dias mais tarde, numa pequena mas simpática cerimónia no Clube Naval de Maputo, recebi um diploma de honra, um discurso de agradecimento do Secretário Nacional do Departamento das Calamidades Naturais e um prémio. O prémio tocou-me sensivelmente. Tratava-se de um cartão de cigarros Nilos, uma lata de cera, uma capulana e um saco de plástico com cerca de 3 kg de amendoim e dois pacotes de quilo de açúcar. Tudo coisas de produção local e, assim, carregadas de simbolismo.

Naturalmente, ao microfone, anunciei que oferecia o meu prémio às famílias necessitadas e vítimas da tempestade. Aqui começou o calvário. Era o tempo de Samora e daquela asfixiante burocracia do poder popular e isso significava que para ofertar o meu prémio eu tinha de seguir as vias legais. E essas eram dirigir-me ao grupo dinamizador do meu bairro (Sommershield), onde me informaram que tinha de ir primeiro à Comissão de Moradores. Aqui, percebi de imediato que não faziam a mínima ideia de como proceder, até me mandarem de novo ao Grupo Dinamizador que, entretanto, me aconselhou a dirigir-me à esquadra das embaixadas. Após meia dúzia de visitas a este tipo de invenções socialistas, desisti e dei as coisas ao Alexandre, meu empregado doméstico que apreciou imenso a dádiva.

Isto vem a propósito de quê? Vem a propósito que, de repente, me dei conta de que neste país existe também uma série de agremiações/ associações/comissões que eu nem sei bem para que servem ou quem suporta financeiramente. São as célebres comissões de utentes. Das autoestradas, dos hospitais, dos transportes e, quem sabe, dos urinóis públicos, se ainda existirem. Uma reminescência clara do tal grupo dinamizador onde eu quis deixar uma saco de amendoim, cera, cigarros e uma capulana, um escritório com gente lá dentro, secretárias e máquinas de escrever e onde ninguém me soube dizer o que fazer com os amendoins. Salvo sugerir que os deixasse lá, o que, de imediato, me fez suspeitar que jamais chegariam ao destino. Pois ontem descobri a cereja do bolo. Para além das comissões de utentes disto e daquilo, existe uma comissão de utentes. Tout court. Não sei se com competência tutelar sobre as comissões específicas ou se apenas uma comissão de utentes nem eles sabem bem de quê. Mas que servem, pelo menos, para ser entrevistados pela SIC Notícias, isso servem.
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A montante, devia ter sido a montante


[4834]

Já uma vez, numa daquelas decisões de passagem de ano, me tinha prometido que só veria ou ouviria esta personagem sob condição expressa de ter konpensan à mão de semear. Mas nem sempre isso é possível. Num país onde a oposição, por não ter quaisquer ideias ou a mínima noção do que se pode ou deve fazer para se governar, remete tudo à fórmula redutora de mandar dúvidas para o Tribunal Constitucional, o que acontece é que de cada vez que o primeiro ministro dá um pum, aqui d'el rei que é preciso verificar se o pum é constitucional. É uma tristeza, mas absolutamente factual.

Com a promulgação do OE, os constitucionalistas surgiram como as varejeiras quando a gente, no mato, vai ali «atrás de uma árvore». E há dias seguidos que ouço constitucionalizar profiquamente, em tom e substância monocórdicos, mas todos eles conduzindo ao desporto nacional do momento - zurzir o governo.

Mas a personagem da foto teve uma saída sábia, concludente, curta e indeformável. A consulta ao Tribunal Constitucional deveria ter sido feita a montante. Este a montante tem a força de um desde logo, um é assim, um repare, ou um em sede de. E fiquei, final e confortavelmente esclarecido. 

E.T. Os «rapazes» da minha idade e que conheçam minimamente Santarém, devem lembrar-se duma personagem castiça local. Dava pelo nome de Júlio Americano, nunca ninguém o via a não ser no primeiro dia de sol das Primaveras de cada ano. Com Jorge Miranda, é uma questão de substituir o sol da Primavera por qualquer coisa que cheire a constituição. A montante ou a juzante, ele aparece.       
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As diferenças



[4833]

Um jogador do Sporting (Insua) cuspiu fragorosamente na cara de um adversário. As televisões viram, a federação agiu, castigando-o.

Mais tarde, na conferência de imprensa de Vercauteren, treinador do Sporting, um jornalista perguntou o que é que ele (Vercauteren) pensava do castigo aplicado ao Insua (Os jornalistas desportivos têm normalmente perguntas idiotas para colocar, com a agravante de estarem convencidos que estão a descobrir a cana para o foguete…).

Vercauteren, um homem normalzinho da cabeça, parece ter até ficado admirado com a pergunta e respondeu o óbvio. Que toda a gente tinha visto o que se passara e que, naturalmente, as autoridades se limitaram a actuar, castigando o jogador. Os jornalistas e comentadores televisivos em geral ficaram muito admirados com a atitude bonita de Vercauteren. Aquilo que era ou deveria ser o reconhecimento normal de um erro de um dos seus jogadores tornou-se num foco de loas e cantatas ao treinador belga, ele próprio provavelmente muito surpreendido com o que se estava a passar.

É evidente que ser português e viver em Portugal tem as suas vantagens para perceber esta patetice. Porque o normal seria ouvir um José Guilherme Aguiar ou um Manuel Serrão, num daqueles pedagógicos programas de tagarelice desportiva da SIC-N e da TVI24 exprobar a Federação e perguntar: Então e quando o Luisão deu uma cotovelada a não sei quem? E quando o Xavi Garcia deu uma joelhada a não sei quem? E quando o Garaygdeu uma pontapé na cara de não sei quem? (Resta dizer que o não sei quem joga no Porto, naturalmente). Daí a chegar ao Calabote de há cinquenta anos atrás seria um passo e às tantas o que se exigiria era que a Federação pedisse desculpa ao FêQuêPê por o Insua ter cuspido na cara de não sei quem (sendo que o não sei quem aqui é do Rio Ave).

Toda uma diferença de comportamento, toda uma diferença de saber estar na vida. A tragédia é que esta forma de estar não é exclusiva do futebol. Basta ir à Assembleia da República, observar o que se passa na justiça e sentir o que vai pela comunicação social em geral, para perceber que por lá tudo se passa exactamente da mesma maneira

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Bom ano


[4832]

Já a minha avozinha dizia: «Vale mais ter mau hálito do que não ter há lito nenhum». Por isso mais vale desejar a todos os meus amigos um Novo Ano cheio de conforto, bem-estar, saúde, dinheiro para gastos e paciência (muita paciência) para aqueles que no-la fazem perder, do que ficar calado, depois de uns dias de mutismo indesejável, mas a que não pude furtar-me.

Bom Ano para todos. E que, por uma vez, acreditemos que este ano é que é!
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