sábado, setembro 28, 2013

Vá, portemo-nos bem


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O Estado, diligente e extremoso, mandou-me reflectir. A sensação é semelhante à dos papás que mandam os filhos para a cama naquela hora certa, para dormirem as horas certas, como aprenderam no manual de instruções.

Esta lei razoavelmente idiota será até razoavelmente acatada, não fora algumas incómodas resultantes. Desta vez, por exemplo, desde que interromperam o desporto nacional de bater em Passos Coelho, as televisões vieram, em força, com o aquecimento global. E aí estão os especialistas, com aquele ar misto de sabedoria e consciencialização política e muitos deles de rosto hirsuto, como agora se usa imenso, explicando quantos graus a temperatura vai subir este século (às décimas), quantos metros o nível do mal vai subir (ao centímetro) e quantos quilómetros quadrados de gelo a calote polar vai perder (ao milímetro). E dizem tudo isto como se estivessem a dizê-lo pela primeira vez. Nem Ban Ki-Moon, aquela criatura estranha e mais ou menos inverosímil, faltou. Os separadores dos programas são, como seria de esperar, muitas chaminés de fábricas a deitar fumo para o ar, cidades atafulhadas de carros num exercício obsceno e continuado de flatulência dos escapes e outras coisas que os capitalistas e os poderosos inventaram.

Ao fim de cerca de vinte e quatro horas de aquecimento global, começo a sentir saudades dos algozes de serviço do Governo, Passos, Portas, Maria Luís, Crato e Rosalino.

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