segunda-feira, julho 29, 2013

Começou a gritaria


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De repente anda tudo aos gritos. Quem, como eu, adormeceu com o televisor ligado e acorda com a SIC aos berros percebe que a crise está a ficar para trás e que as falinhas mansas de há dias, com aquela contenção das consciências pesadas e uma pretensa compostura com ares de sentido de estado deram lugar à rebaldaria do costume, aos gritos, ao nível baixo de quem a única maneira que conhece de fazer política (!!!!) é emitir os silvados de um comboio a frenar ou os guinchos de uma porca parideira. Dedo no ar, olhos faiscantes e profusa chuva de perdigotos, aí estão todos contra todos com razões, acusações, soluções e salvações à la carte, felizes por terem nascido, convencidos da sua indispensabilidade ao bem-estar e desenvolvimento nacionais, mais não fazendo que passar uma duvidosa carta de alforria à nossa proverbial estupidez.

Há exemplos para todos os gostos mas, como de costume, sobressai Jardim a chamar submarino a Portas e a dizer que a culpa dos males da Madeira é daquela gente lá em Portugal. Passos também aumentou os decibéis, na justa medida do aumento da sua auto-confiança, mas a miseranda actuação de Seguro ultrapassa os limites da condescendência, incomoda. Então desde que Soares disse que ele era fraco, ei-lo aos gritos, mas manifestamente sem jeito nenhum para aquilo e a suscitar a caridade e tolerância devidas aos pobres de espírito. E até Sócrates anda por aí à solta, com a vergonha no bolso.

Tudo junto e somado a sensação que fica é que ninguém sabe bem o que está para ali a gritar, nem porquê. O que ressalta é que de repente parece que não temos contas para pagar, que não atravessamos uma das mais humilhantes crises de identidade da nossa história, que a vida dos portugueses se desenrola na maior normalidade e há que actuar já em campanha. E por campanha entende-se a gritaria. Se alguma ideia ou afirmação interessantes surgem por entre os gritos será um mero acidente.
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