segunda-feira, fevereiro 11, 2013

É exactamente isto. Será que é preciso fazer um «croquis»?

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A Câmara de Cascais, por acaso PSD, ofereceu um jantar de 13 mil euros aos 250 participantes de um encontro da Internacional Socialista (IS), por acaso socialistas. Este gesto de generosidade e ecumenismo foi mal visto pela típica mesquinhez pátria e deu origem às indignações do costume, aflitíssimas com um repasto de 52 euros por estômago e convencidas de que a esquerda, só porque é esquerda, se alimenta a bifanas.

O curioso é que quase ninguém pareceu indignar-se com o encontro da IS propriamente dito. Arriscando acusações de parcialidade, acho esquisito que os principais obreiros da crise europeia passeiem nos países onde a crise é mais flagrante a fim de debatê-la e, não se riam, resolvê-la. Não seria muito diferente se um bando de pirómanos regressasse ao local do incêndio para discutir protecção florestal. Aliás, salvo a provável comparência da polícia no segundo caso e a incompreensível ausência da política no primeiro caso, não é nada diferente.

Mas o cúmulo do descaramento passou pela destacada presença do presidente da IS, Georgios Papandreou de sua graça. O seu papel na desgraça grega, que contemplou e, a bem da “agenda” pessoal, agravou enquanto primeiro-ministro chegaria, num mundo justo, para manter a criatura na prisão durante longos e pedagógicos anos. No mundo que temos, a criatura ciranda por aí a oferecer palpites e alertas. Os nossos media, que deram ao sr. Papandreou a antena que não dariam à comparativamente credível Leopoldina dos hipermercados, divulgaram-lhe as declarações na abertura do convívio cascalense: “A crise não acabou. Ainda hoje, se a Europa não tomar mais medidas, os sacrifícios dos portugueses, gregos, espanhóis e italianos poderão perder-se e mais nos será exigido.”

Nem uma admissão de culpas, nem um pio sobre responsabilidade: o importante, note-se, é a Europa “tomar medidas”. Não importa que os socialistas tomem juízo ou vergonha na cara. No máximo, tomaram café após o jantar pago pelo contribuinte, uma despesa minúscula face à factura que essa gente já nos legou.

Da crónica de Alberto Gonçalves, ontem no DN
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