sábado, janeiro 05, 2013

As diferenças



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Um jogador do Sporting (Insua) cuspiu fragorosamente na cara de um adversário. As televisões viram, a federação agiu, castigando-o.

Mais tarde, na conferência de imprensa de Vercauteren, treinador do Sporting, um jornalista perguntou o que é que ele (Vercauteren) pensava do castigo aplicado ao Insua (Os jornalistas desportivos têm normalmente perguntas idiotas para colocar, com a agravante de estarem convencidos que estão a descobrir a cana para o foguete…).

Vercauteren, um homem normalzinho da cabeça, parece ter até ficado admirado com a pergunta e respondeu o óbvio. Que toda a gente tinha visto o que se passara e que, naturalmente, as autoridades se limitaram a actuar, castigando o jogador. Os jornalistas e comentadores televisivos em geral ficaram muito admirados com a atitude bonita de Vercauteren. Aquilo que era ou deveria ser o reconhecimento normal de um erro de um dos seus jogadores tornou-se num foco de loas e cantatas ao treinador belga, ele próprio provavelmente muito surpreendido com o que se estava a passar.

É evidente que ser português e viver em Portugal tem as suas vantagens para perceber esta patetice. Porque o normal seria ouvir um José Guilherme Aguiar ou um Manuel Serrão, num daqueles pedagógicos programas de tagarelice desportiva da SIC-N e da TVI24 exprobar a Federação e perguntar: Então e quando o Luisão deu uma cotovelada a não sei quem? E quando o Xavi Garcia deu uma joelhada a não sei quem? E quando o Garaygdeu uma pontapé na cara de não sei quem? (Resta dizer que o não sei quem joga no Porto, naturalmente). Daí a chegar ao Calabote de há cinquenta anos atrás seria um passo e às tantas o que se exigiria era que a Federação pedisse desculpa ao FêQuêPê por o Insua ter cuspido na cara de não sei quem (sendo que o não sei quem aqui é do Rio Ave).

Toda uma diferença de comportamento, toda uma diferença de saber estar na vida. A tragédia é que esta forma de estar não é exclusiva do futebol. Basta ir à Assembleia da República, observar o que se passa na justiça e sentir o que vai pela comunicação social em geral, para perceber que por lá tudo se passa exactamente da mesma maneira

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