domingo, novembro 04, 2012

País estranho

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Adormeci tarde e acordei tarde. Mas às sete percebi que a sessão pornográfica e burlesca que dá pelo nome do «Eixo do Mal» me martelava impiedosamente. O timbre da Clara Ferreira Alves é algo só semelhante à tortura chinesa, pelo que procurei desesperadamente o comando para lhe cortar o verbo, mas ela calou-se, entrou uma voz mais edível… e adormeci de novo, como um menino que acabou de ter um pesadelo. Mais tarde voltei a acordar, aí pela dez… e uma apresentadora simpática fazia perguntas naquele estilo que a SIC Notícias adoptou agora como exemplo claro de uma de duas possibilidades: idiotia ou esquizofrenia. Tratava-se de perguntar a um senhor chamado Rui Atalaia (juro que fui ao Google tentar saber quem era, mas o mais aproximado que encontrei foi um Rui que estudou no Fundão, nasceu em Mafra e vive em Sintra e, pela foto, parecia ele…e peço desculpa ao Rui que estudou no Fundão, vive em Sintra e nasceu em Mafra se estou enganado) e que parece ser actor de teatro, uma série de questões do momento, todas elas convergentes na desgraça em que vivemos por causa do Passos Coelho e Vítor Gaspar, tal como aliás, dizem, o constitucionalista Jorge Miranda, a Manuela Ferreira Leite (não se cala esta mulher…) que diz que vai acabar a democracia e João Salgueiro que diz que o memorando precisa de retoques. Já meio acordado pude fixar o pensamento linear dito num ar tipo mas como é que ninguém repara nisso?... nas deixas do Rui Atalaia que debitou o verbo seguinte que cito de cor:

- Vivemos numa sociedade em que procuramos fingir que o novo é o que está a acontecer. Mas não nos podemos desligar do passado.

- As pessoas quando pensam que Portugal está miserável pensam em emigrar, quebrando laços de amizade e pertença o que como se sabe, é óptimo para os grandes grupos económicos.

- Para fazermos um espectáculo diferente (Rui Atalaia está num espectáculo em Setúbal, o «Auto de Purificação») precisamos de processos diferentes. No «Auto de Purificação» fomos buscar adegas e uvas e a receptividade das pessoas é boa. Este Governo, como se sabe, escolhendo os métodos antigos só pode chegar aos mesmos resultados.

Perceberam? Eu também não. Depois destas sábias reflexões e salganhada de ideias tentei dormir de novo. Mas já estava desperto e pronto para mais um dia neste país estranho, cada vez mais estranho e irremediavelmente condenado aos desígnios deste tipo de gente com este tipo de pensamento e à vontade do tipo de gente que comanda a televisão que temos.
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1 Comments:

At 8:37 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Quem fala assim do Eixo do Mal e da Clara Ferreira Alves... quero acreditar que só poder ser boa pessoa! Apenas falta não ser de esquerda ;-) - com devido respeito. Gostei. Passarei por cá mais vezes.
Aquele abraço,
O Autor
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