sexta-feira, agosto 10, 2012

E um dia acontece


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Ontem tive um almoço agradável. Dois bons amigos, colegas, mocetões escovados e bem parecidos, um mais extrovertido, outro mais metido nos seus botões.

A conversa fluiu agradável e (vá lá saber-se porquê…) pairou um pouco e acabou por fixar-se em mulheres. As mulheres, aqui e sempre como peça fulcral do pensamento e comportamento do androceu. Umas vezes porque são coisa boa de recordar, fantasiar e desejar, outras como factor incontornável de medo. Medo de tudo quanto a vida de hoje, rápida e voraz, nos demonstra que a mulher pode trazer ou causar ao homem. Mas… como evitá-las? Esta a grande a questão de um dos meus interlocutores, pessoa dada a amores e desamores e que «não pára quieto», de cada vez que elas lhe tolhem o passo, frequentemente estugado por um estranho e irreprimível desejo de as ver e com elas interagir, seja na placidez de uma refeição suave e romântica, seja no epílogo frenético a que uma refeição plácida e romântica pode conduzir. Mas ele tem medo. Ele adora o sexo oposto. Ele vibra à ideia, mesmo fugaz, de um encontro de fim-de-semana, do fascínio da sedução e à suprema vibração de uma noite de amor. Mas tem medo. Ele não quer prender-se… ou quer, mas tem medo. Ele acha que, de repente, pode ver-se emaranhado na confusão de um novelo de afectos, «obrigações», peado no caos de várias linhas de pesca ensarilhadas e querer sair do novelo e não conseguir. E não conseguir sair pode, dramaticamente, significar a perda (a perca, por falar em peixes, e como diria uma grande parte dos nossos jovens da comunicação social) de um mundo de prerrogativas a que qualquer homem se julga inabalavelmente com direito.

O interessante da conversa foi eu verificar que estes temores se antagonizavam, o meu companheiro de refeição manifestava uma total subordinação à suprema virtude do individualismo ao mesmo tempo que, parecia-me, se entristecia porque, na defesa intransigente desse desiderato, ele sentia que, por vezes, alguma coisa lhe passava ao lado e lhe fazia falta.

Descansei-o. Disse-lhe que com toda a certeza, alguém, em alguma parte, em tempo incerto, lhe varreria completamente os receios de que ele ora se sente possuído. Porque, como num passe de magia que hoje ainda ninguém sabe explicar, um dia chega o momento em que o individualismo se torna relativo, a liberdade submete-se docilmente ao campo da subjectividade e tudo se torna simples, lógico (tipo, não poderia ser de outra maneira…) e surpreendentemente delicioso. Esse estádio inevitável a que o homem um dia chega chama-se paixão. Pena que algumas mulheres o percebam e exorbitem. Está-lhes nas tripas! Mas os homens mantêm uma vitalidade extraordinária que lhes permite flexibilizar e ajustar os estados de alma e apaixonarem-se… de vez em quando. Espero que «isto» sossegue um pouco um dos meus companheiros de almoço de ontem.
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