sábado, abril 07, 2012

Os meus carros (7) Renault 16 TS

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Os homens são assim. Pelo menos alguns que eu conheço e onde me considero razoavelmente enquadrado. A ebulição intensa das emoções pode passar à acalmia, quando razões extrínsecas nos convencem que sim, que temos família, olhar por ela, uma carreira, lutar por ela. A juntar a isto, nada como uma mudança de habitat para ajudar à festa. De repente a vida leva-me para a capital angolana, aquela cidade que Marcelo Caetano um dia idealizou ser a capital do império.

Esta mudança fez-me crescer. Uma cidade nova, um caldo social de todo diferente ao da snob Nova Lisboa e, sobretudo, um trabalho que, de resto, deveria marcar o meu futuro. Porque finalmente descortinava um ramo do meu curso onde me sentir minimamente atraído (até aí sempre achara que meterem-me a estudar agricultura, agronomia, agrologia, culturas arvenses ou as mil e uma maneiras de se proceder à vinificação terá sido um enorme erro de casting). E, na verdade, para o resto da vida fiquei agregado a um palavrão que em inglês é sonante (crop protection) mas em português dá mais a ideia de fiel de estufas de tomate ou morangos na região do Oeste (protecção de plantas).

A minha vida passou a ser diferente. Desacelerou e ganhou contornos até aí mais ou menos exógenos à minha condição de jovem exuberante, fogoso e capaz de carregar o mundo às costas. Mais estabilidade, menos correrias e a descoberta do mar como fonte inesgotável de prazer contribuíram para que comprasse um cómodo, confortável, preguiçoso e espaçoso Renault 16. Talvez porque residia em mim ainda uma minorca centelha desportiva, adornei a compra com um ts. Não que o Renault 16 ts andasse mais que o Renault 16 sem ts nenhum, mas sempre tinha algum equipamento extra, incluindo um conta-rotações, e o ts na traseira metia algum respeito.

Este carro provou ser uma boa aquisição. Para quem tinha dois bebés surgidos quase de rajada, como eu, e precisava de espaço, conforto e segurança, o carro revelou-se bem apetrechado. Embirrava solenemente com aquela alavanca de mudanças à coluna da direcção, mas não se podia ter tudo. O carro acompanhou-me até abandonar Angola. Numa altura em que as pessoas se vinham embora e deitavam os carros fora, eu consegui vender o R16 à Shell. Por 30 contos. Mas nesta altura já nada importava naquela terra. Vender um carro por 30 contos ou mandá-lo ribanceira abaixo ou, ainda, abandoná-lo no estacionamento do aeroporto, era indiferente (de resto, o que fiz com um buggy novinho, com motor VW e cor de vinho metalizado e a que chamarei carro de carro 7-A. Não lhe chamo carro 8 porque o tive por um período curto demais para que lhe chamasse meu). Havia muito mais em que pensar.
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3 Comments:

At 9:27 da tarde, Anonymous Mricardo disse...

ola sou de V.N.gaia e solu fascinado pelo R 16 TS uma vez que foi o 1º carro novo que eu vi e que andei em 1971 e por obra do destino esse carro vai ser meu pois nao valorizam este modelo e entre ir para um sucateiro fiquei com ele por valor simbolico.

 
At 9:32 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Se precisarem de peças tenho um para vender .
Mail :mextreme 30@hotmail.com

 
At 10:42 da tarde, Blogger Bernardino Balula disse...

apenas e tão somente para corrigir o Sr. que diz que Marcelo Caetano, quis mudar a capital de Portugal para Angola, não é correto, quem realmente ventilou essa ideia, foi o General, Norton de Matos

 

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