quinta-feira, março 29, 2012

Shhhiiiuuuuuuu...

[4604]

Ontem ouvi Santana Lopes, Fernando Assis e Fernando Rosas na TVI24 e, pela conversa, acho que recentemente se tem instalado a ideia da necessidade absoluta de não se falar em Sócrates. De caminho, aproveita-se a deixa para tecer duras críticas ao PSD e ao Governo que não resistem, diz-se, a lançar farpas constantes ao anterior governo. Falar mal de Sócrates é prejudicial à imagem externa do nosso país, reflecte desunião, pode condicionar o BCE, o FMI, a Comissão Europeia, olhem o que está acontecer à Grécia de que só se fala nas próximas eleições, enfim, um rosário de observações carpidas, se falarmos na criatura só falta mesmo dizer que dá sarna, urticária ou herpes labial.

O Partido Socialista, particularmente, deveria ter um mínimo de pudor em integrar esta procissão e, mais, de se irar com a alegada contundência do governo e do PSD. Deveria o PS lembrar-se, um pouquinho só que fosse, da grosseira truculência de Sócrates em relação à oposição, da forma desabrida, ofensiva, com que referia os seus adversários políticos (e não só políticos, incluía no seu mau perder jornalistas, comentadores, manifestantes, organizações sindicais, tudo o que mexesse contra ele) e das sessões contínuas de comícios, congressos, discursos e entrevistas em que a criatura fugia claramente ao que se lhe perguntava e se entretinha a insultar toda a gente. Deveria ainda o Partido Socialista lembrar e introverter as circunstâncias factuais que indicam que Sócrates em pessoa e a sua entourage, atenta veneradora e obrigada, foram responsáveis pela precipitação deste país no caos e não apenas porque o deixou chegar a uma situação de pré insolvência (as pessoas esquecem-se que quando Sócrates caiu, parece que já não havia dinheiro para os salários do mês seguinte), mas também pela continuada acção do seu governo de amizades, compadrios, cumplicidades obscenas, maroscas, tramóias, envolvimentos suspeitos que desaguaram, inevitavelmente, na situação presente.

O Partido Socialista devia ter um pinguinho de vergonha e não se irritar tanto quando se fala do seu Grande Líder. Quanto ao PSD e ao Governo, podem deixar de bater no ceguinho, é verdade. Mas não é menos verdade que, às vezes, há que o recordar para que a memória não se esbata e se acabe por «lavar» um dos mais vergonhosos e perniciosos períodos de governação no pós 25 de Abril.
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