segunda-feira, agosto 01, 2011

No. We can't!






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Apanhar com Sócrates outra vez é uma possibilidade tão real como ofensiva e uma autêntica agressão.

Nunca duvidei que um homem como Sócrates, especializado em criador de uma imagem para a papalvice reinante e genuinamente convencido ser senhor de competências mais ou menos insondáveis, mas que ele acha serem essenciais para o manejo e gestão deste país, não considerasse como uma indiscutível possibilidade regressar à ribalta, após um período de nojo a que a oposição rasteira e a impreparação dos portugueses e das portuguesas o obrigaram. Acresce que as suas múltiplas aptidões para um clima de promiscuidade entre as empresas, o Estado e pessoas avulso lhe conferem, ele julga, um imperecível currículo para, de novo, se sacrificar pela grei e retomar a senda do animal feroz com que os seus prosélitos o alcunharam e ele gostou.

Voltar a ter Sócrates no horizonte é uma agressão à inteligência das pessoas, é um atentado à tranquilidade política de todos nós, é uma desconstrução de tudo aquilo que deveríamos esperar na reedificação de algum prestígio internacional, desenvolvimento, progresso e justiça social. Voltar a ter Sócrates no horizonte é, ainda, a ratificação de um fenómeno político e social, consubstanciado na existência de uma clique raivosa que sente em perigo as prebendas alcançadas e que tudo fará para as manter. Essa clique está já a trabalhar a todo o vapor. Na lavagem de uma das mais sujas imagens da nossa realidade política desde o 25 de Abril e, gradual mas firmemente, na sua reintrodução no horizonte político.

Esta capa do último Expresso, bem reveladora da luminária actual que dá pelo nome de Ricardo Costa, justamente com o recrudescimento de comentaristas, politólogos e fazedores de opinião, é um exemplo vivo desta reflexão. O arranjo gráfico é patético (um Cavaco feio e velho e um Mário Soares fresco e simpático) e a própria entrevista chegam a ser obscenos (foi uma pena que Sócrates e Passos não se entendessem… diz Soares). Também me ocorre uma entrevista de Lídia Jorge onde, por entre uma série de vacuidades, como o futuro está nas mãos de países com a Rússia e a União Indiana (sic), Lídia diz que o grande problema em Portugal é a diferença entre os ricos e os pobres. No último governo de Sócrates, ele ainda tentou corrigir a situação, mas depois a coisa derrapou, disse ela. Assim mesmo… sem se rir, com esta simplicidade e esta desfaçatez.
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