terça-feira, março 08, 2011

Dedos


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Quase não damos por eles. Sabemos que eles lá estão e, subconscientemente, servem para alguma coisa. Nem eles são exactamente um prodígio de estética, pelo contrário, podem ser longos, curtos, gordos, ossudos, peludos ou carecas. Por isso não são adornos. Limitam-se a estar. A existir e a complementar uma infinitude de tarefas que o nosso corpo lhes ordena. E, todavia, cumprem a sua missão com desvelo e competência. Segurando um copo ou uma caneta, rodando uma chave, executando um milhão de tarefas que lhes são pedidas. Porque a vida exige do nosso corpo um milhão de tarefas que automaticamente transmitimos aos dedos, dos quais esperamos a competência desejável.

Também o espírito sabe que pode confiar neles. Todos os fluidos energéticos, sentimentos mais ou menos indefiníveis, sensações voluptuosas e caprichos de amor como o carinho, a carícia, o mimo e a magia do toque da pele são transmitidos aos dedos que, com sabedoria e comunhão de sentimentos, cumprem a sua nobre tarefa. É aqui que os dedos adquirem quiçá o maior grau de cumplicidade com o todo e se tornam dele parte integrante, em vez de serem marginalmente sectorizados de acordo com a missão que lhes é pedida. É neste particular, o particular do amor e dos sentidos que lhe são inerentes, que os dedos se tornam todo e não parte. E actuam com a harmonia de uma orquestra, acariciam com o veludo dos sentimentos mais nobres que guardamos para as ocasiões especiais e se movimentam à medida que as exigências vão surgindo, percorrendo os corpos e neles prescrutando relevos, vales ou protuberâncias ou descobrindo segredos erógenos muitas vezes escondidos ou mesmo esquecidos e sublimados pelo tempo e vicissitudes da vida.

É pena que nessas alturas não lhes demos o devido valor. Passa a magia do momento e os dedos voltam a ser usados para descascar uma laranja, calçar um sapato ou apontar uma direcção. Ou mesmo para matraquear um teclado de um laptop e dele extrair esta reflexão simples, mas nem por isso menos sentida, para que ela possa vencer distâncias e pousar bem longe, noutro lugar mas, mesmo assim, tão perto da recordação que os dedos, submissos e parte de nós, nos trazem e nos aquecem numa manhã invernosa e chuvisquenta como a de hoje.
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7 Comments:

At 4:16 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

1,2,3 exp

 
At 4:17 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

parece que agora dá...

 
At 4:36 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

:)*********************

 
At 4:38 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

...4,5,6..iupiiiiiiiiiiii!!!...deu!!!...:)))*

 
At 11:45 da tarde, Blogger Luísa A. disse...

Nelson, queria acrescentar o meu testemunho sobre o impacto do tacto no nosso estado de sossego ou desassossego, mas depois dos equívocos do mail e do vírus de há dias, sinto-me um bocadinho embaraçada… ;-)))

 
At 12:06 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Luísa

Não tem que recear qualquer embaraço, Luísa. Afinal eu li o conteúdo do mail mas escapei a qualquer episódio viral. E mesmo que não tivesse escapado, sou um cavalheiro e comportar-me-ia sempre com muito tacto. Vale esta resposta por dizer que as suas reflexões sobre o sossego ou desassossego táctil serão sempre bem acolhidas. Sem lugar a equívocos ou embaraços :)))

 
At 8:16 da manhã, Anonymous Anónimo disse...

Os dedos são a fronteira da alma :=)

 

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