quarta-feira, outubro 20, 2010

Os protestantes


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Uma vez andei na tropa. Descontadas algumas perplexidades da altura, consagrei a ideia que tinha que todos nós um dia juraríamos bandeira e defenderíamos a Pátria. Porque era assim. E porque era assim e porque sabíamos que aquele era um período específico, de esquadria bem definida, fiz o que muitos milhares de jovens como eu fizeram, obedeci aos meus superiores e fiz-me respeitar perante os meus subalternos. E na assunção lógica de que o exército não era uma democracia mas sim uma instituição que os cidadãos tinham o dever irrecusável de servir, cumpri o meu tempo, no fim do qual regressei à vida civil.


Os tempos mudaram, eu sei, mesmo na altura em que servi o exército já aparecia quem achasse que servir uma causa era mais nobre que servir o país, de resto os donos desses pensamentos palavras e obras acabam por ser emulados mais tarde. Mas hoje, confesso que quando vejo que existe uma Associação de praças (parece que também há de sargentos e de oficiais) cujo presidente, o senhor Luís Reis, acha que essa Associação deve marcar para o dia da greve geral, 24 de Novembro, um protesto contra a austeridade, cai-me o queixo. Poupo-me às considerações que me suscita haver uma associação de Praças que acham que devem protestar contra seja o que for, mas não consigo esconder a minha estupefacção por ver até onde consegue ir esta carga ideológica que parece ser uma imagem de marca do português contemporâneo. Fomos ensinados a brandir o estandarte dos nossos direitos, parece-me é que nunca ninguém se interessou em nos explicar os deveres e, muito menos, uma noção básica de cidadania, onde caiba a consciencialização de cada qual sobre o significado de servir e representar a instituição militar. Mesmo o facto de o serviço militar hoje ser feito em regime de voluntariado não deveria mudar uma vírgula ao conceito que subjaz à sua existência.

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1 Comments:

At 7:35 da tarde, Blogger estouparaaquivirada disse...

Mais uma vez:CONCORDO!

 

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