sábado, julho 24, 2010

No pasa nada


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Sócrates está em franco processo de recuperação. A voz está mais segura, mais colocada, ainda que insuportavelmente melíflua e sincopada. O fácies está mais sereno, cabelo mais cuidado e não fosse aquele narigão martelado, diria que quase bonito. Sócrates, de repente, não anda, desliza. Não grita, não gesticula, controla o frémito das narinas quando estas vibram com o ódio que frequentemente lhe rói as tripas. Até a roupa parece mais cuidada, leia-se mais vincada. Não consegue, mesmo assim, dissimular a expressão paternalista e provedora de quem se sente indispensável à lusa mole, mas pronto a derrotar os filisteus se for caso disso.

A verdade é que, eis senão quando, não há Freeport. Não há escrituras desaparecidas, nem diplomas domingueiros, casas na Guarda, rasuras no currículo, operações ilegais, desprezíveis e venais na tentativa de controle dos órgãos de comunicação social, não há mentiras e nem há, pasme-se sintomas de a populaça associar o seu nome e o seu desempenho a uma das mais tristes e embaraçosas épocas de governação desde o vinte e cinco de Abril. De repente tudo parece estar bem. A crise estanca, o desemprego faz «pause», os bancos resistem à pressão (eu juro que não sei se resisto à pressão de ser bombardeado com a notícia de que os bancos resistem à pressão…), o pessoal vai de férias e este país vive na paz do Senhor.

Sócrates pode regozijar-se. A memória dos portugueses é curta e, sobretudo, tendencialmente preguiçosa. Estamos aqui estamos a dizer às sondagens que Sócrates vai ultrapassar, de novo, Passos Coelho.

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