sexta-feira, julho 30, 2010

Formas «estrambóticas»

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Quando um blog com as responsabilidades do Causa Nossa não encontra melhor meio de noticiar a definitiva ilibação de Sócrates do caso Freeport do que um estrambótico post a perguntar o que é feito da imprensa de referência em Portugal é caso para perguntar o que é feito da blogosfera de referência em Portugal…
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A Rititi, de novo


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Ela está aí de novo. Bendita é ela, entre as mulheres e bendito é o fruto do dentro dela – humor! Aí vem ela, armada de mais um Rititi-Boy, aparentemente mais destreinada em tratar de mamilos doridos ou de tirar a merda do umbigo. Nada que um up-dating não resolva.

Aí está ela de novo. Que bom!

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A nobreza e a fidalguia (touro e toureiro) a merecerem uma acção de graças


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Impossível passar ao lado desta excelente sequência fotográfica do Jansenista.

A morte como espectáculo e o escrúpulo do horror mimetizados numa autêntica barbárie cultural ataviada com um fundo pretensamente tradicional e a liturgia dos bons costumes das boas famílias. Vela acesa, oração de preito à carnificina e, depois, uma acção de graças pelo regresso em segurança do artista e pela nobreza do bicho compõem o ramalhete de uma tradição que tem mais a ver com as nossas idiossincrasias do que à primeira vista possa parecer.

E.T. Infelizmente a abolição das touradas está a veicular uma dinâmica política, uma «arma de arremesso» como se diz agora em «politiquês» e que pouco tem a ver com a genuína repulsa pelo espectáculo grotesco de ver uma multidão aplaudir a «nobreza» de se matar um animal aos bocadinhos.

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quinta-feira, julho 29, 2010

Uffffffff!


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Recuso-me a pensar. Recuso-me, sequer, a ser. Há avaria grossa no comando do cérebro ao músculo, ao nervo, à vontade e a qualquer registo sensorial. Isto não é clima de gente. É clima de animais poiquilotérmicos, lagartos, serpentes, lagartixas, osgas, gala-galas, peixes, insectos, salamandras e demais metazoários. E eu não sou metazoário. Fui programado para os 36,5º Celsius, não que me tivessem perguntado mas porque assim quis Deus Nosso Senhor (o Outro, o divino…) e não estou, assim, preparado para ser escaldado em vida, «estrelado» ou em risco de ser estufado, se perto de uma porção de unto, alho e cebola. Não tenho vocação para estrugido, suflê ou vol-au-vent. Se oiço uma vez mais que seja uma das nossas simpáticas apresentadoras de rádio anunciar que o calor está para continuar, no tom e na forma de quem acabou de lhe sair o euromilhões ou de ter arranjado namorado novo, juro que me dá três coisas e faço um abaixo-assinado, uma petição e assim, como agora se usa. Não é aceitável que esta visão orgástica do calor continue a fazer escola entre os meus conterrâneos. E não é aceitável por que o calor esmaece, o calor depaupera, adormece as meninges e anestesia as sinapses. Tudo coisas que, ao que parece, seduzem a maioria dos meus conterrâneos para que continuem a glosar esta vaga tórrida vinda de África (where else from?) e instalada sobre a Ibéria e aí mantida por obra e graça do famoso anti-ciclone que nos protege do frio como a Senhora de Fátima nos protegeu da guerra. É isso, somos um povo protegido. Como os meninos e os borrachos. Deus põe-nos a mão por baixo por tudo e por nada. Às vezes exagera e o resultado é este. Não consigo trabalhar, não consigo pensar, não consigo querer, não consigo, period. Só consigo em ambiente de ar condicionado mas isso só é possível em ambiente de uso exclusivo. Sempre que em ambiente partilhado, «há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não». Por mor do ar seco que potencia as alergias, por força dos ácaros. Das correntes de ar. Das pontadas. E pedem invariavelmente para desligar o dito cujo. Em casos benignos, para o reduzir.

Lá fora, o meu carro ferve mesmo à sombra do arvoredo e preserva cerca de 40 graus de temperatura da cabine, para me deliciar durante aquele dez minutos que demora até o ar condicionado actuar. Com os ácaros todos, secura do ar, pontadas traiçoeiras, armadilhas para as artroses, mas pronto a fazer-me feliz durante os 40 minutos que me separam de casa. Disse.
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quarta-feira, julho 28, 2010

Embaraço, vergonha


[3835]

Tenho alguma dificuldade em manter a impavidez costumeira dos portugueses perante o desfecho do caso Freeport (parece que afinal não havia caso…) e a soberba de gente como o inenarrável Vítor Ramalho na SIC –N ( e outros na RTP-N) , no «pós coiso». Sobretudo quando estes últimos insistem na tecla da cabala e da campanha negra e contornam factos, incontornáveis, que polvilharam o caso, como as declarações de familiares de Sócrates em que eram evidentes uma série de manobras pouco recomendáveis, alguns vídeos mostrados pela pivô de televisão despedida por acção directa dos boys de Sócrates, factos indesmentíveis sobre como os terrenos passaram de área protegida a área a rentabilizar, pronúncia de arguidos que parece irem ser acusados, entre outras coisas, de corrupção activa ficando por saber onde mora a corrupção passiva e muitas outras coisas, onde não é despiciendo o castigo a um magistrado comprovadamente envolvido em pressão exercida sobre outros magistrados e, por isso mesmo, punido. Se mais não houvesse, bastaria este facto para perguntar para que é que se faz pressão sobre pessoas quando o caso não é caso e apenas uma campanha soez dos adversários políticos…

A magistrada Cândida também não fica bem na fotografia com as suas contínuas explicações e protagonismo e todo o rasto de suspeição que deixa sobre a protecção ao primeiro-ministro.

A pesporrência de Sócrates ontem, na TV, foi insuportável. E, repito o que tenho dito muitas vezes, embaraçoso. Este homem embaraça. É urgente que saia. Que abandone. Que alguém lhe explique que este país não é uma fachada de casa beirã. Que, apesar de tudo, lhe resta um módico de dignidade que não pode ser deixada à mercê e ao vilipêndio de um qualquer licenciado em trajo domingueiro.

E.T. Ler também o José Manuel Fernandes, o Fernando Martins (aqui e aqui), o Carlos Botelho, a Luísa Correia, o Rodrigo Moita de Deus, a Joana Carvalho Dias e o João Condeixa.

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Lembrei-me agora (2)


[3834]

As estradas portuguesas não têm só curvas e botecos à face. Ou bermas descuidadas e sinais a despropósito. Aqui e ali, no pino do Verão, também é possível encontrar cerejas à venda. Doces, carnudas e com o sabor incomparável que lhes confere o nosso microclima. São cerejas bonitas, rosadas, sumarentas, daquelas que pegamos à mão e se comem com pó e tudo e têm o sabor e a magia das coisas que não se esquecem. O nosso país tem destas coisas. Por isso tanta gente gosta tanto dele…

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The necessity of liberty – Value pluralism and liberty in contemporary political philosophy

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Parabéns ao Bruno pela excelência do seu mestrado. Parabéns à mãe babada e parabéns ao pai que deve estar inchado de orgulho como se fosse uma baleia. Um grande abraço ao Bruno.

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terça-feira, julho 27, 2010

Lembrei-me agora...


Vista panorâmica fotografada da Pousada de Santa Luzia

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Viana do Castelo. Uma cidade linda raramente referida e que, por vezes, adquire o ar do sol nascente, mesmo que seja já meio-dia!

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Febre


[3831]

O país está com febre. Não consigo descortinar um local com a temperatura abaixo dos 36,5. Talvez explique muitos delírios que por aí se vê. Banhos frios e mesmo saquinhos de gelo nos membros poderiam ajudar. Aprendi isso na tropa sempre que um soldado nos aparecia com sezões. Mas cuidado, depois da noite cair. As temperaturas baixam para uns perigosos 24-25º e há correntes de ar. O que vale é que as rádios nos avisam com alacridade que na manhã seguinte o calor continua e, assim sendo, que não nos esqueçamos de o aproveitar bem.

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Às armas...


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O poeta Alegre quer uma força militar para a CPLP. Isto não me impressiona verdadeiramente, Alegre é uma daquelas pessoas que têm o privilégio de estar sempre do lado correcto das coisas, tanto exprobram as acções militares naquilo que acham ser um atentado às liberdades como as emulam se forem aproveitadas na opressão daqueles que têm a veleidade de pensar ou agir diferente dele, nada de muito novo, afinal. O que me preocupa é que 26% dos eleitores do meu país, a números de hoje, ainda acham que os assuntos sérios deste planeta podem estar à mercê da sensibilidade discricionária e poética de quem parece perceber tanto de assuntos internacionais como eu percebo de órgãos de igreja e que não passam de bardos (ou bonzos, para usar um termo recentemente muito em voga na blogosfera) do regime. E que julgam que o mundo se resolve com umas quantas trovas glosadas pela musa inspiradora que vai vogando por aí com o vento que passa, bafejando os iluminados.

Alegre acha que a CPLP deveria ter uma foça para “resolver problemas” onde a democracia e estabilidade possam estar repetidamente postas em causa pela intervenção excessiva dos militares. Em bom português, sempre que mijarem fora do penico, perdoe-se-me a vulgaridade da expressão. Razão mais do que suficiente para chamar mais militares, os bons, claro, para pôr os maus na ordem.

Que pena Alegre não ter tido esta epifania quando lhe puseram uma farda em cima, aqui há uns anos atrás…

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segunda-feira, julho 26, 2010

41º hoje para Lisboa


[3829]

Muitas mães e avós dirão hoje, ainda e mesmo assim, aos seus filhos e netos para levarem um casaquinho, que logo à noite arrefece. Ou podem apanhar uma corrente de ar. E para terem cuidado no restaurante e não ficarem com ar condicionado em cima. Enquanto isso pode ser que por estes dias as filas de trânsito adquiram este cenário. Por mim, ainda prefiro o ar condicionado do carro, enquanto oiço as rádios avisarem para dar água aos velhinhos e às criancinhas, mas tenho de admitir que a marginal se tornaria menos repetitiva.

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domingo, julho 25, 2010

Deus Nosso Senhor me perdoe…


[3828]

… e me poupe à provação de um dia, quando chegar à idade deste senhor, Se Deus Nosso Senhor o permitir e na graça Dele continuar a ter saúde, venha a dizer disparates, Deus Nosso Senhor me perdoe, como estes. Queira Deus que eu mantenha o discernimento suficiente para jamais proferir este tipo de enormidades e Deus queira que eu me mantenha assim «sãozinho» da cabeça, eu acho que mantenho, se Deus quiser. Tenho esperança. E tenho fé. E que, na graça de Deus Nosso Senhor eu possa perdoar a quantos O têm ofendido e usado o Seu santo nome em vão, sobretudo para dizer que Sócrates é como Ele, que está em todo lado como Ele e que tem grande clarividência política e que, tal como Ele, está em toda a parte. Este detalhe faz-me lembrar uma reunião a que assisti num lugarejo longínquo do Bié, Chicava de seu nome, onde um padre falava aos fiéis bienos, camponeses, e lhes dizia metaforicamente que Deus estava em toda a parte. Ele estava ali, mas também estava como os irmãos de Luanda e, ao mesmo tempo, estava com os irmãos de Malange, os irmãos do Huambo e dos irmãos de Benguela. Até que um camponês, mais curioso, se levantou e disse convicto: Pôxa, xô padri… essê Déus… é pior que o jipe. Juro que é verdade. Só que este camponês analfabeto da Chicava teve esta exclamação genuína, sem rodriguinhos. Almeida Santos é advogado, foi colono (ataviado, mas foi…), foi Presidente da Assembleia da República e clama a sua laicidade, republicanismo e socialismo. Tudo coisas complicadas para o camponês da Chicava. Mas Almeida Santos não se deteve e ainda afirmou que Sócrates gosta muito dele e que ele gosta muito de Sócrates. Nada contra, mas gostava de saber em que é que isso contribui para a minha felicidade terrena. Também diz que Sócrates já foi acusado de quatro coisas (quatro, não três, nem cinco - quatro) mas que nunca se provou nada. Não disse uma data de outras coisas em que Sócrates está consabidamente envolvido, deve ter deixado isso para a justiça divina onde Sócrates certamente terá tratamento especial, já que as coisas se passarão entre iguais. Entre outras coisas cansativas de referir, Almeida Santos disse ainda que Sócrates cansa um exército e mesmo assim quando vai em viagem ainda lhe fica tempo para correr. Imagine-se. Ah! E que tem uma grande capacidade de inovação.

Almeida Santos dixit. Meu Deus, tende piedade de nós que temos de ouvir e da criatura que já não sabe o que diz.

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Um povo "básico"

[3827]


"O basismo". Um post notável do João Gonçalves.


«Pouca gente se lembra - a maior parte da blogosfera é alimentada por miudagem física ou mental - dos idos de 1976. Só no mesmo mês, Julho, tomou posse o primeiro Chefe de Estado eleito por sufrágio universal, directo e secreto, o General Ramalho Eanes, e o 1º governo constitucional chefiado por Soares. Nas eleições presidenciais apareceu o Major Otelo apoiado por uma coisa chamada GDUP - grupos dinamizadores de unidade popular. Teve mais de oitocentos mil votos. O "basismo" é algo que a nossa constituição tagarela (na feliz expressão de Rui Ramos) ainda hoje alimenta. A versão "moderna" dos gdups encontra-se agora em coisas como as "comissões de utentes". As scuts estão cheias delas. Os serviços públicos também têm uma "controlada" por uma conhecida militante do PC. Uma ponte fechada para obras em Constância tem outra. A dos da ex-ponte Salazar ainda hoje são famosos e produziram um proto candidato a Belém que ameaçava despir-se como forma de protesto. Etc. Etc. Utentes somos todos nós. Só que existem por aí uns mais utentes do que os outros e que, invariavelmente, esperam que os segundos paguem os seus "direitos". O "basismo", por mais buzineiro que seja, é uma falácia que anima as "massas". Em 76 ainda rendeu uns votos e uma humilhação ao PC. Vamos ver o que rende nos próximos tempos.»

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sábado, julho 24, 2010

O raio que os parta


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Ou de como a tralha de alguns jornalistas engajados está bem para a tralha socretina e socialista. Vale a pena ler este post do Paulo Guinote.

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Não há pachorra

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Chávez está mortinho para comprar uma guerrinha com a Colômbia. Mortinho. Que pena que a guerra não rebente mesmo e lhe faça a vontade. E faça dele um herói venezuelano, com estátua e tudo, numa qualquer rotunda de Caracas. O mundo seria poupado pelo menos a um exemplar desta gente que nos mina a paciência. Uns, aos berros e procurando umas guerras. Outros, aqui pela Europa, sem berros e sem guerra que se lhes abeire, mas nem por isso deixando de nos minar a paciência também…

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No pasa nada


[3824]

Sócrates está em franco processo de recuperação. A voz está mais segura, mais colocada, ainda que insuportavelmente melíflua e sincopada. O fácies está mais sereno, cabelo mais cuidado e não fosse aquele narigão martelado, diria que quase bonito. Sócrates, de repente, não anda, desliza. Não grita, não gesticula, controla o frémito das narinas quando estas vibram com o ódio que frequentemente lhe rói as tripas. Até a roupa parece mais cuidada, leia-se mais vincada. Não consegue, mesmo assim, dissimular a expressão paternalista e provedora de quem se sente indispensável à lusa mole, mas pronto a derrotar os filisteus se for caso disso.

A verdade é que, eis senão quando, não há Freeport. Não há escrituras desaparecidas, nem diplomas domingueiros, casas na Guarda, rasuras no currículo, operações ilegais, desprezíveis e venais na tentativa de controle dos órgãos de comunicação social, não há mentiras e nem há, pasme-se sintomas de a populaça associar o seu nome e o seu desempenho a uma das mais tristes e embaraçosas épocas de governação desde o vinte e cinco de Abril. De repente tudo parece estar bem. A crise estanca, o desemprego faz «pause», os bancos resistem à pressão (eu juro que não sei se resisto à pressão de ser bombardeado com a notícia de que os bancos resistem à pressão…), o pessoal vai de férias e este país vive na paz do Senhor.

Sócrates pode regozijar-se. A memória dos portugueses é curta e, sobretudo, tendencialmente preguiçosa. Estamos aqui estamos a dizer às sondagens que Sócrates vai ultrapassar, de novo, Passos Coelho.

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Eu vi…


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… a pantomina de Lula, quando se deixou vencer pela emoção e chorou em directo perante a jornalista meio embaraçada. Lula, entrevistado já não sei bem a propósito de quê, foi «atrás de choro» que nem o meu filho quando tinha um ano e meio. E tapou a cara e fungou e numa altura em que reparou que tinha recuperado porventura depressa demais, chorou outra vez. Chorou porque estava emocionado porque apesar de lhe terem dito que não vai dar nada, não vai plantar, percebeu depois que a planta brota, cresce e ele está colhendo. Que vai entregar um país com menos gente pobre e disse ainda qualquer coisa sobre as pessoas que nunca entraram no palácio e ele, Lula, entrou.

Esta performance, não afivelemos o sorriso complacente e primeiro-mundista europeu, não está longe da hipocrisia de alguns dos nossos líderes. Se chorar em directo pode parecer excessivo (ressalve-se as solidárias lágrimas sampaístas), já muitas das atitudes e acções dos alegados socialistas europeus se ajustam um pouco melhor à postura bovina da grei europeia, mas em caso algum se afastam demasiado daquilo que me parece ser a mola real desta rapaziada socialista e que se resume fundamentalmente a uma premissa muito simples - fazer de nós parvos.

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quinta-feira, julho 22, 2010

Alguma coisa a revisão da Constituição deve ter de bom

[3822]

Por muito que nos esquivemos, acabamos por inevitavelmente mergulhar na intriga política, depois de um período em que a televisão me interessava apenas retirar a informação sobre o trânsito e a meteorologia. E do que vou lendo, ressalta o frenesi que campeia pela rapaziada socialista acerca do ante-projecto de revisão da Constituição. Como já li por aí algures, tenho de concluir que essa revisão deve ter mesmo alguma coisa de bom, em face do aval que a esquerda vai dando ao que ela tem de mau. Mesmo pela rama, uma coisa me merece aplauso e que só peca por atraso. Uma Constituição que ainda hoje diz que a sociedade portuguesa deve caminhar na construção de uma sociedade socialista não pode ser uma Constituição boa. De resto, já ouvi isso várias vezes e pensei que, de um modo geral toda a gente estava de acordo, salvo a rapaziada que ainda não percebeu, porque não quer ou porque não a deixam perceber. Afinal, não é bem assim, Verifico que figuras improváveis se soerguem contra a revisão, sendo que o argumento mais usado é o de que não é oportuno e vai desviar as atenções do governo e do povo do que é essencial – a crise. Como eu acho que os termos da nossa Constituição são objectivamente responsáveis pelo caldo que entornamos todos os dias, não consigo perceber porque é que não é oportuno. Uma revisão profunda da lei laboral, por exemplo, poderia até trazer mais desemprego no imediato. Mas como é possível não perceber que a médio prazo essa revisão conduziria inevitavelmente a uma descida do desemprego, com os empresários mais soltos e descomprometidos a empregar gente?

Eu sei que este tipo de análises de bloggers amadores e que, no entender das doutas cabecinhas que nos governam, provocam-lhes assim como que uma espécie de orgasmos aos bocadinhos, são teorias de aprendizes de feiticeiros e denotam certamente o desconhecimento de questões importantes que condicionam uma eventual alteração da nossa Constituição. Mas então alguém que explique porque é que mexer nela é uma coisa assim tão… esquisita. E que diga que não entendeu que a visão anquilosada que mantemos ainda sobre o nosso futuro, enfeitada pelo romantismo da rapaziada do PREC é responsável primeira pelo atraso em que nos encontramos e, pior, pela série de obstáculos que se nos deparam para que acertemos o passo com os nossos parceiros europeus.

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quarta-feira, julho 21, 2010

Portugal profundo?


[3821]

Conheço bem as nossas ex-colónias. Em momentos determinados espantava-me com uma como que espécie de lógica muito própria dos africanos no tratamento de assuntos da mais variada natureza. Levou algum tempo, mas acabei por desistir de entender essa lógica, levei-a à conta das idiossincrasias das gentes, da sua cultura.

Agora em Portugal vou conseguindo relacionar essa “lógica” com uma herança que considero pesada, que isto de ser africano nem sempre é fácil. Ter herdado alguns dos nossos tiques, muitos deles verdadeiramente inexplicáveis para qualquer cidadão para além do rectângulo, agrava a situação. Vejam, este pequeno exemplo em dias recentes, passado comigo:

Porto I

Visita à magnífica Lello. Casa cheia, negócio a fluir e muita gente deslumbrada com a beleza do local. Um dos atendedores ao balcão, enquanto atendia os clientes dizia em voz alta para os visitantes da livraria:

- No fótós
- No pictxares
- Ei, proibido tirar fótós
- No fótós…

E a ladainha seguia, ininterrupta, por forma a que eu, cinco minutos mais tarde, me interrogasse mesmo como era possível uma pessoa trabalhar… “assim”, facturando, embrulhando, recebendo, dando trocos e impedindo as pessoas de tirar fotografias, ao ponto de eu não resistir e perguntar ao mal encarado empregado:

- Desculpe meter-me no assunto, mas … porque não colocam um pequeno letreiro à entrada dizendo que é proibido tirar fotografias?
- Não bale a pena carago, se calhar daqui a um mês (sic) já se pode, num bale a pena pôr agora a tabuleta e depois daqui a um mês já se pode e temos de tirar a tabuleta… no fótós… ó amigo… no fótós…

Retirei-me de mansinho e fui tomar um cimbalino na pastelaria mesmo ao lado.

Porto II

- Minha senhora, desculpe maçar… pode indicar-me onde fica o Majestic? Sei que é aqui perto, mas sou de Lisboa e…
-É fácil, o senhor… olhe, é já aqui, vira na primeira à direita… ali… ali já à esquina… e segue…. quer-se dizer… atravessa a rua, que o Majestic é no passeio de lá… e segue… e mais ou menos a meio… mas olhe… atravessa a rua, o Majestic é do outro lado da rua…
- Tudo bem, muito obrigado e…
- Mas atravesse a rua, senhor, que o café é do outro lado… é já aqui nesta esquina, depois é já a rua do Majestic… mas atrevesse a rua para o outro passeio…
- Sim senhor, muito obrigado…
- Mas atravesse a rua… o café é do outro lado da…
Fugi. Esgueirei-me e a mulher ficou ainda a falar, que eu ouvi, juro que ouvi, atrás de mim. Dobrei a esquina e NÃO atravessei a rua. Queria ter a certeza que do lado de cá da rua seria capaz de lobrigar o magnífico café. Fui. Lobriguei.

Régua

Circunstancialmente, já meia-noite a aconselhar a pernoita na Régua. Sem reserva e sem conhecer bem o local, recorri a um transeunte que me recomenda o «Régua Douro». Quando perguntei se o hotel era bom o transeunte respondeu-me:

- Bom? Claro, é do Senhor Vasconcelos. De qualquer maneira, não há mais nenhum… o senhor vai por aqui… olhe lá ao fundo, está a ver, aquela luz é do letreiro do hotel…

Vi o almejado letreiro. Agradeci e arranquei, pelo retrovisor pude ainda observar o prestável transeunte continuando a explicar que só havia um hotel, que era do senhor Vasconcelos e que só havia um hotel na Régua. Parei no semáforo, olho pelo retrovisor, ainda a tempo de ver o homem fazer sinal com as mãos para seguir, para seguir em frente… contive o impulso para sair do carro e ir dizer-lhe que o sinal estava vermelho… de resto, o sinal passou a verde e eu segui.

No hotel, já habituado à estranha fobia dos portugueses pelo ar condicionado, janelas abertas (por causa das correntes de ar, pontadas e «correspondência»…) e água gelada, dirigi-me de imediato ao comando do mesmo. Graduei a temperatura para os 20º, «on-off» no on, velocidade do ventilador verificada e…ON. Nada. Pasa nada! Repito a operação. Nada, pasa nada. Disse porra duas vezes. Repito: Nada, pasa nada. Repeti uma vez mais. Disse…. Isso, essa mesmo com “p” like in Philadelphia. Iracundo e já à beira da apoplexia (o hotel do senhor Vasconcelos sempre é um hotel de 4 estrelas, que diabo… e antevendo que o telefone levaria alguns minutos a ser atendido, desci à recepção:

- Boa noite, olhe sou do quarto tal… o ar condicionado não trabalha, agradecia que verificasse e, se for caso disso, arranje outro quarto.
- Outro quarto? Ó amigo o ar condicionado trabalha…
-Ei, ei, ei, ei… desculpe interrompê-lo…. Sei mexer razoavelmente em comandos de ar condicionado e aquele ar condicionado não trabalha, não arranca
-Mas o senhor mexeu na temperatura?
- Claro, ajustei para os 20 graus …
- Ah, claro! Não pode, é que aquilo só arranca nos 30º…
- Olhe, o senhor não percebeu, eu não quero aquecimento, eu quero ar con-di-cio-na-do. É verão, está calor, eu quero…
- Mas é que os aparelhos só arrancam na posição de 30 graus. Trinta.

Abanei a cabeça, esfreguei as mãos, semicerrei os olhos e revi mentalmente a matéria… ao mesmo tempo que ia pensando no que fazer… até ouvir:

- É que neste hotel só aos trinta graus é que o aparelho arranca, mas os trinta graus não quer dizer nada, estes aparelhos são assim, só arrancam nos trinta graus MAS fazem frio. O senhor é que mexeu naquilo…

Ponderei a situação de novo… ia ouvindo o discurso do recepcionista já de forma indistinta, mas ainda percebo:
- Olhe aqui… está frio, se for ver os aparelhos estão todos a trinta graus!

Enchi o peito, respirei três vezes e tossiquei (uma coisa que li por aí que se deve fazer para evitar enfartes…) e fui-me embora. Cheguei ao quarto, girei o comando para os trinta graus, não sem me sentir profundamente idiota e fiz on. O ar condicionado arrancou em todo o seu esplendor e o calor fez-se frio e eu dormi que nem um justo. Um justo idiota que não tinha nada que mexer no comando da temperatura e que, lá está, tinha a obrigação de saber que os aparelhos de ar condicionado do Régua Douro só arrancam aos 30 graus. Ou é aos 100? Não, aos 100 é a água e aos 90 o ângulo recto. Ninguém me manda ser assim tal quadrado!
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terça-feira, julho 20, 2010

Back to the crowd


[3820]

Way too short...

De volta a casa, medito sobre a vacuidade do dia a dia quando comparado com a plenitude de um grupo de dias apenas. É o primado da qualidade sobre a estéril quantidade de dias que descascamos sistematicamente, em nome e benefício dos ditames duma sociedade que nos obriga ao cumprimento bovino de rotinas instituídas, ainda por cima convencidos que andamos todos felizes por ter nascido. Para não contrariar a rotina instituída por este blogue, de cada vez que me ausento, aqui fica o meu regresso assinalado pelo habitual becagueine.
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terça-feira, julho 13, 2010

Touching thoughts


[3819]

One touch of nature makes the whole world kin.

(Shakespeare)

One touch of love makes the whole world better.

(Espumante)

Vou ali e já venho. Volto já.

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segunda-feira, julho 12, 2010

À la PS - Gente sem préstimo


[3818]

"O Ministério da Cultura manifesta a sua grande satisfação por esta decisão, que vem permitir finalmente que a Direcção Geral das Artes se liberte de constrangimentos vários que têm vindo a dificultar a sua ação", afirma o gabinete da ministra Gabriela Canavilhas, num comunicado divulgado hoje à tarde, anunciando que aceitou a demissão.

A tutela considera ainda que "os atrasos nos concursos, a barreira construída entre o Gabinete da Ministra e os agentes culturais e a ineficácia dos procedimentos são factores que se devem às dificuldades demonstradas pelo director geral para o exercício do cargo".

Foi assim que o Ministério da Cultura se manifestou, oficialmente, pela demissão de Jorge Barreto Xavier de director das artes. Eu nem sei bem o que é ser director das artes e não conheço Xavier. Não sei sequer se ele desempenhava com eficiência o seu mister ou, ainda, se sofria de odor corporal, tinha mau hálito, tiques nervosos ou depressões. O que sei (ou pensava saber…) é que os ministros têm sempre a prerrogativa (e o dever) de substituir um elemento da sua equipa se a sua acção for censurável ou danosa dos interesses gerais. Mas afinal, e à boa maneira PS, as coisas não são bem assim. Espera-se que a criatura se demita para depois se lançar sobre ela o enxovalho, o insulto e se manifeste o alívio que permitirá que daqui para a frente se poderá finalmente, trabalhar como deve ser.

Sempre achei o PS um partido infeliz com uma lista de episódios inenarráveis quanto à sua estatura ética e quadros de competências. Mas confesso que uma atitude destas até no PS me surpreende. Não tenho memória duma acção semelhante e este episódio revela bem a cepa de que esta gente é feita.

Li várias apreciações à atitude de Canavilhas pela Blogosfera. De todas a mais apropriada pareceu-me a de que esta gente não presta. Mas é que não presta mesmo. O drama é que se julgam de préstimos firmados e mais ou menos insubstituíveis.

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sexta-feira, julho 09, 2010

Os sacanas que nos querem destruir o Estado social


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Ontem ia ouvindo Pacheco Pereira e Lobo Xavier repondo algum equilíbrio no discurso idiota e lesivo dos interesses de todos os portugueses bem intencionados que Sócrates e os seus muchachos têm vindo a usar para impregnar a opinião pública sobre os perigos do neo-liberalismo e do perigo que representa a evidente pulsão social-democrata para se destruir o estado social.

Tornam-se evidentes duas premissas que PP e LX analisaram exaustivamente. Que Sócrates fala de neo-liberalismo como do alçado principal de uma casa na Guarda ou do modelo gráfico dos diplomas da Independente. Por um lado. Por outro, percebe-se que ele não hesita em deitar mão a qualquer meio para perpetuar um poder que lhe caiu no regaço e que, circunstancialmente, a todos parece convir que lá permaneça. E ele não se faz rogado. Daí a ter começado a disparar em «mode» ideológico contra as evidentes malfeitorias da direita que quer destruir o Estado providência foi um passo. Nos intervalos, continua ele, Sócrates, em pleno itinerário de uma política de privatizações para a qual não teria alternativa, cuidando de lançar o opróbrio sobre a oposição.

Um patusco este Sócrates. Mas um patusco que sai caro, embaraça o pudor nacional com as suas permanentes diatribes e trampolinices e, no plano internacional, não é sequer levado a sério. E que a história vai rapidamente, e felizmente, esquecer.

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As virtudes evangélicas da PlayBoy


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A reacção que se espera de alguns sectores mais conservadores da sociedade portuguesa à iniciativa da PlayBoy portuguesa em colocar Jesus Cristo no meio de umas quantas «peladas» e alusões avulso ao «Evangelho segundo Jesus Cristo» não pode passar como muleta à esquerda avançada para criticar o putativo (que bem calha aqui este adjectivo) conservadorismo português. Na verdade eu creio que o que menos choca nesta manobra da PlayBoy é ver Jesus Cristo em boa companhia. Aquilo que me parece realmente cretino é esta pulsão idiota de misturar alhos com bugalhos e a preocupação de alguns intelectualóides portugueses em não desperdiçar qualquer possibilidade que se lhes depare para agitarem o estandarte modernaço da esquerda que acha que pôr Cristo no seio (literalmente) de umas quantas «gajas boas» pode ajudar a uma visão mais progressista da obra e do carácter de Saramago.

Há, a meu ver, muito de esquizofrénico neste tipo de manobras. E de idiota também. Mas esta gente vive contente e feliz por ter nascido, continuando a fazer os possíveis e os impossíveis para que, de uma forma geral, continuem a considerar os portugueses um bando de idiotas agarrados à ortodoxia de uma esquerda que, na maioria dos países, algumas gerações já só conhecem de ouvir dizer.

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quinta-feira, julho 08, 2010

Ó João e será que eles vão?


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A gente começa a ler este post do João Gonçalves, começa no Vitalino Canas, passa por Macau e chega um resto de leitura assim de relance parar concordarmos e nos sentirmos reconfortados com o último desejo do João, no post. Acho, apenas, que ele peca por defeito em não fazer um post idêntico relativamente a Ferro Rodrigues. Esta rapaziada socialista tem os seus timings próprios e o de FR é este. Ou porque assim decidiu ou porque que lho disseram. Como de costume, ele não sabe bem, ou não faz ideia e acha que não é importante, o que diz. Dispara umas bojardas e tem a noção que o tempo é disso mesmo. Pôr a circular aquela retórica redonda em que o PS é especialista, através da qual se critica este, se diz mal daquele, mas em que a culpa é sempre dos outros. Ferro Rodrigues está a fazê-lo agora com Sócrates, o demo, ao mesmo tempo que acha que a culpa dos acontecimentos é do ultra-neo-liberalismo, da ortodoxia neo-liberal e outros palavrões que se vai pondo a circular para consumo dos já conhecidos idiotas úteis e daqueles que estão sempre de língua de fora esperando o biscoito.

Estou farto destes… gajos. É isso, o termo é este, destes gajos!

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quarta-feira, julho 07, 2010

6 anos!...




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Cai numa altura má… ando meio desgarrado, meio hibernado, meio ocupado e, má sina a minha, meio muita coisa, que na minha vida coisa inteira foi quase sempre coisa de pouca dura. Mas as meias coisas da minha vida tinham a particularidade de não serem meias numa coisa. Eram intensas, nada de meias, aliás, muito intensas que eu nestas coisas de intensidade não gosto de meias entregas. A entrega é total e se a meia não chega ao fim é porque deve estar escrito nos astros. Ou… meio escrito, que os astros, também eles, nem sempre estão por inteiro. A gente olha para o céu e como que vê meia abóbada celeste…

Caiu, numa altura má, repito. Sempre que o Espumadamente faz anos, gosto de fazer algumas referências a correligionários, aos amigos (fiz vários e bons na blogosfera) e a todos os que me deram o privilégio de irem lendo aquilo que em seis anos fui escrevendo em quase 4.000 posts que mereceram o registo de meio milhão de visitas… Seis anos, é isso. O Espumadamente faz hoje SEIS ANOS e não podia deixar este post a meio, que já tinha sido meio iniciado a meio da manhã. Aqui fica o «finalzinho», aqui fica o registo, aqui fica o meu imenso obrigado àqueles que tiveram a pachorra de me acompanhar. E a esses, nada de metades. Agradeço por inteiro. Porque é por inteiro que gosto deles.

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segunda-feira, julho 05, 2010

5th of July


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Cada um tem o dia de Julho que merece. Os americanos têm o 4º, eu tenho o 5º. Verdade seja dita que não fiz nada de especial por isso. Limitei-me a vir ao mundo, como Deus quis e Deus quis que fosse a 5 de Julho. O meu pai ainda tentou confundir um pouco as coisas, não que isso lhe trouxesse alguma vantagem mas porque lhe estava nas guelras. Um potencial anarquista, era o que ele era. E foi assim que só resolveu registar-me dois dias depois, ou seja a sete, mas insistindo que eu nascera a cinco. Só que estávamos ainda no tempo dos contínuos, dos vigilantes, das fardas, uma espécie de idade da farda já que, e para que conste junto dos mais jovens, até os motoristas da Carris, da CP, dos táxis e até os vendedores de sorvetes (eu seja ceguinho) usavam… farda. A farda era uma instituição nacional e era mesmo proibido agredir um fardado, eu que o diga que um dia bati num revisor, fardado naturalmente, entre Taveiro e Coimbra e fui imediatamente detido pela GNR em Coimbra B e ainda hoje me pergunto como é que a coisa funcionou, não havia telemóveis e assim, mas que fui preso, fui.

Isto a propósito de que até o funcionário da conservatória tinha farda, não que eu me lembrasse, que eu só tinha dois dias, mas porque o meu pai mo disse mais tarde e consta ter havido uma sonora altercação entre ele e o manga-de-alpaca. No fim, ganhou e fardado e eu nasci a cinco mas no papel nasci a sete. Aquilo, na altura, já era um bocadinho como o futebol de hoje, em que jogam onze de cada lado e no fim ganha a Alemanha. Ali era o género, balbuciava-se qualquer coisa mas no fim quem ganhava era o fardado, normalmente um ser alarve, iletrado e que pensava e agia a bem da Nação. No fundo, não muito diferente dos dias de hoje, mas hoje os alarves não usam farda e ostentam diplomas. Algumas vezes de aviário, mas diplomas.

Todos os anos procuro não fazer qualquer registo deste dia, Foi assim aqui, aqui, aqui e aqui. Porque vai ficando pouco para dizer nos aniversários, pelo menos nos próprios, dos outros, daqueles de quem se gosta ainda se vai dizendo qualquer coisa. Mas depois acaba por vencer esta mistura estranha de melancolia, satisfação e reconhecimento mais ou menos eivado de divino pelo facto de termos nascido - e acabamos por dizer qualquer coisa. Ou tagarelar qualquer coisa, como foi o caso deste post em que tagarelei e acabei por não dizer nada. Mesmo assim lá deu para se perceber que faz anos que “… nasceu um indivíduo do sexo masculino, filho de e de e a quem foi posto o nome de Nelson Manuel. Assento a páginas não sei quantas do livro número qualquer coisa da Conservatória do Registo Civil da Freguesia de, Concelho de e Distrito de…” Uma ladainha que não sei se está ainda em uso nesta repartição (já não nasço há uma data de anos e há 25 que não tenho filhos…), uma resenha onde todos temos assento. Ao nascer e ao morrer.

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Multidão ansiosa


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Depois do selo, Sócrates vê agora consagrada a sua acção à frente do governo com a erecção (salvo seja) de uma estátua que perpetuará a sua passagem pelo Executivo.


Na imagem, um plano de uma multidão ansiosa pela inauguração.


(Recebida por e-mail)

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quinta-feira, julho 01, 2010

O candidato que pregava pregos no nosso caixão


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Se eu me deitar a fazer comentários sobre a métrica das «trovas ao vento que passa» ou dissertar sobre os «rapazes que pregam pregos nas tábuas» posso fazer má figura que daí não vem mal ao mundo, afinal não sou purista de línguas, não sou poeta não sou crítico literário. Mas é razoavelmente aceitável emitir opiniões sobre temas que interfiram com a nossa sensibilidade e com o sentido estético que cada um de nós tem da vida, dos homens e da própria poesia.

Emitir verbo ideológico, que outro não me pareça poder ser, sobre a decisão do governo de exercer as suas prerrogativas numa operação financeira através de uma «golden share» na PT é que me parece pouco aceitável e denuncia uma assustadora irresponsabilidade. Um poeta é um poeta e não tem que perceber de operações de alta finança nem de estratégia económica. Por isso deveria ter mais cuidado e recato nas opiniões que emite, mesmo se for candidato à presidência da república. Assuntos de milhares de milhões de Euros não podem ser avaliados à luz bucólica de uma manhã de pesca na Foz do Arelho, muito menos enquadrados na visão poética de um rapaz a pregar pregos numa tábua ou no voluntarismo planfetário com que julgamos poder enquadrá-los nos alegados interesses nacionais. Por muito que isso nos doa. Ou então não estaremos a candidatar-nos a presidente de todos os portugueses, mas apenas dos republicanos, laicos e socialistas e dos superiormente iluminados pela centelha intelectual que nem todos tiveram a ventura de receber à nascença.

Os portugueses continuam a ser sensíveis a duas questões que incontornavelmente lhes circulam nas tripas. O quixotismo e o sebastianismo. Por isso eu acho que Manuel Alegre ainda é capaz de conseguir um número apreciável de votos. Basta-lhe ir produzindo este tipo de declarações, como as que produziu a propósito da interferência do Estado na venda da Vivo brasileira, mesmo quando lá fora já nos acusam de visão colonial obsoleta. Porque o povo profundo gosta da protecção dos guardiães do socialismo (léxico que ainda hoje «vai muito bem») e o povo intelectual gosta de se sentir acima da mediocridade generalizada onde só o «consumismo», a visão «economicista» e os «interesses» contam, sem respeito pelos superiores interesses duma sociedade moderna, correcta, solidária, providente e social, uma sociedade, enfim, «como deve ser».

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