sábado, agosto 01, 2009

A praga de «ilecópteros»


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Portugal é assolado todos os anos por uma praga de «ilecópteros». Vêm com os fogos, tal como a formiga branca de asa (térmitas) anuncia a chuva tropical. O «ilecóptero» é assim uma espécie de avião. Voa como os aviões mas não tem asas. Isto é, para os mais esclarecidos, tem uma asa, porque o rotor principal é, tecnicamente, uma asa, mas não me apetece escarafunchar as leis da física e muito menos a terminologia «aviónica».

O «ilecóptero» escreve-se helicóptero mas por qualquer razão que me escapa, a grande maioria dos radialistas e … «têvêistas» da paróquia pronunciam ilecóptero, apesar de, naturalmente, todos eles saberem ler. Mas aquilo deve ser uma coisa assim parecida com o pugrama, toda a gente na televisão sabe escrever «programa» mas depois, lá está, dizem pugrama. Há ainda o telefone pronunciado tfone e mais uns quantos exemplos avulso que seria fastidioso enumerar. Como se percebe, não é uma questão de sotaque, sotaque é dizer-se banho (numa situação qualquer deixada à imaginação de cada qual) à mulher e a mulher dizer sim, vai lá ao banho que estás com odor corporal, quando afinal o homem estava a enunciar o verbo vir e ele não tem culpa nenhuma que a mulher seja estúpida e não o entenda como debe de ser.

Mas, dizia eu, a praga dos «ilecópteros» está aí. Como todos os anos. Por cada fogo, nacional ou estrangeiro, há uma verdadeira praga de «ilecópteros». Soletrados helicópteros mas ditos ilecópteros e não há um director de televisão, «unzinho» que seja, que chame o pessoal e os obrigue a falar português escorreito.

N.B. Um pouco a propósito, hilariante foi ver um jovem repórter (certamente desconhecendo que o Rei de Espanha fala português fluente por ter vivido muitos anos no Estoril, mas que diabo, também não se pode exigir à rapaziada da comunicação social que saiba estas ninharias todas), ao serviço da TVI, a fazer perguntas a Sua Majestade em espanhol macarrónico, Sua Majestade em palpos de aranha para perceber o repórter e a responder-lhe em português escorreito e o repórter insistia, insistia, mas ai que insistia exaustivamente num castelhano levedado e enxertado em corno de cabra, não se apercebendo dos esforços do monarca em lhe fazer compreender que falava português como ele.

Ao alto, pairava um «ilecóptero», certamente a fazer a reportagem da visita da realeza espanhola à Madeira, enquanto Jardim anunciava, cheio de «córagem», que os espanhóis iam investir na ilha. O quadro estava completo e o «pugrama» cumprido.
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8 Comments:

At 9:58 da tarde, Blogger Dulce Braga disse...

Agora sim...eu mais JoãoG podemos marcar um pugrama! E não é para ver salalé voar quando da chegada das chuvas, nem ilecópteros apagando os fogaréus, nem cabeça coroada passando apurado com repórter...é para entrar neste tal de blog do Nelson e rolar de rir...

 
At 11:24 da tarde, Anonymous IL disse...

Cheguei de férias. Tu já "fostes"?
Ainda te andas a irritar com os ilicópteros? :D
beijos

 
At 2:07 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Se calhar o jornalista tem mais cultura geral do que se pensa. Mas como está na moda bater no ceguinho, tudo bem. Mas não acha que é uma questão de etiqueta falar com o rei na sua própria língua?

 
At 7:23 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Dulce Braga

Salalé... muchein!
Bitacaia... mataquenha
Maca... milando
Muceque... caniço

Comparação entre alguns termos angolanos e moçambicanos. Em Moçambique há ainda aspectos curiosos na linguagem, por força da influência inglesa. Por exemplo, os moçambicanos dizem sempre, referindo-se ao tempo, «duas horas de tempo», não dizem apenas «duas horas». Isto deve-se, naturalmente ao «two hours time», literalmente traduzido pela simplicidade xangane :)))
Boa semana de trabalho aí pelo Brasil onde, ao que parece, neva imenso lá pelo sul
:)

 
At 7:24 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

IL

Ainda não fui, não sei quando vou, não sei sequer se vou. Logo se vê :)) Beijos

 
At 10:40 da manhã, Blogger Dulce Braga disse...

Maboque...Massala.

Sobre a influencia inglesa, um dos mais pitorescos casos que temos por aqui é o do sobrenome do nosso ex presidente (e para ti que gostas do tema, atual hiper corrupto presidente do senado) José Sarney. Sarney, vem de "Sir Ney" que todo o mundo dizia "Sarney",como era chamado o inglês dono da tecelagem onde o pai de José trabalhava:)
Sabes que no Norte e Nordeste brasileiro tb se diz "duas horas de relógio" e eu nunca havia pensado que pode ter a mesma raiz Moçambicana?!?
Bjs

 
At 4:17 da tarde, Blogger LurdesMartins disse...

O que eu já me ri com este texto!!!
E não tendo nada mais pra dizer, retiro-me (foi mesmo só pra deixar o meu 'rezisto'). Ahahahahah!!!! ;)

Beijinhos

 
At 7:56 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Lurdes

Que bom ver-te... rir outra vez :)))
beijinho

 

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