terça-feira, junho 09, 2009

Porque é que ninguém lhes explica?


milho democrático em Silves - 2008

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A RTP resolveu substituir ontem o Prós e Prós por uma amena reunião social com a anfitriã do costume e que não vi na totalidade. De resto, Fátima manteve o formato “de debate”, de um lado Santana Lopes e Bagão Félix e do outro, Santos Silva, Rui Tavares (uma estrela bloquista em ascensão – independente, eu sei, mas do Bloco) e Sérgio Azevedo, um senhor que eu não conhecia mas que rapidamente se denunciava como um comunista. De gema. Daqueles de comité central, emulações, braço no ar, muitas medalhas ao peito e palmas organizadas.

Basicamente, pareceu-me que o tema era questionado pela Fátima Campos Ferreira, que deve ter usado a palavra governabilidade uma centena de vezes e que soava mais como a "tragédia" decorrente da recente vitória do PSD do que propriamente por uma questão aritmética, em face do actual espectro eleitoral do país. Mas o que verdadeiramente retive foi a indignação de Rui Tavares (uma estrela em ascensão etc., etc.) quando Santos Silva ousou distinguir a esquerda democrática da outra. Rui Tavares encolerizou-se e debitou verbo condizente com a democracia da coisa, dizendo que não poderia deixar passar em claro tal aleivosia. Santos Silva ainda lhe explicou algumas diferenças mas pareceu-me que o essencial ficou por dizer. Ou seja que tanto o Bloco como o Partido Comunista são realmente democráticos na justa medida, e apenas, porque se submetem ao voto, ao escrutínio popular. Mas é importante que não nos esqueçamos que o fazem porque não têm escolha. Submetem-se ao voto porque é a única forma de se poderem sentar na Assembleia da República e ir aos programas da Fátima Campos Ferreira. Porque me parece que não restam dúvidas a ninguém que se conquistassem o poder (à cacetada, como o Partido Comunista já tentou, porque é nisso que são especialistas), essa minudência do voto secreto se tornaria num forma arcaica de fazer política.

São estas coisas que me fazem muita confusão. Até aceito que a importância e deferência concedidas à estrema esquerda, logo não democrática e concretamente o Partido Comunista e Bloco de Esquerda, decorram de um formato próprio de regimes democráticos. Mas o que não deveria ser esquecido é que a inversa nunca seria possível. E era isso que lhes deveria ser dito, sem rodriguinhos, de cada vez que a esquerda se indigna, ofendida, porque não a consideram democrática. E já agora. Para além de tanto o Partido Comunista e Bloco não serem, notoriamente, democratas, alguém se lembra de alguma vez perguntar ao Bloco (digo ao Bloco porque do PC, honra lhes seja feita, já sabemos tudo) que sistema político e económico preconizam eles para o nosso país, para além aquele modelo de virtudes éticas e justiceiras, não esquecendo o incitamento e treino intensivo de desobediência civil, que os seus próceres usam para passar a impoluta mensagem daquilo que querem parecer ser?

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7 Comments:

At 6:14 da tarde, Blogger António Chaves Ferrão disse...

Espumante
Um homem da tua cultura, ao tratar de assuntos políticos, não deveria colocar preconceitos acima dos factos: fica-te mal. Sugiro a leitura do Programa do PCP de 1965, nove anos antes do 25 de Abril. Depois tenta descobrir algum programa de qualquer outro partido escrito nessa data sobre a matéria. Pode ser que, depois disso, compreendas alguma coisa de aquilo de que estás a falar.
Vê se começas a resistir ao impulso dos processos de intenções, que não te dignificam nem à tua escrita.
Um abraço

 
At 9:17 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

António Chaves Ferrão

Como habitualmente, a tua aferição dos meus parâmetros de dignidade estão sempre sujeitos aos meus putativos impulsos de processos de intenções e à minha mania de colocar preconceitos acima dos factos, apesar da minha cultura. O que, segundo a tua opinião, me fica muito mal.
Eu (e repito o que já te tenho dito algumas vezes a este respeito) tenho alguma dificuldade em argumentar quando sou etiquetado desta forma. Sobretudo quando se oberva uma total inversão dos valores do debate, quais sejam, os factos que, incontornavelmente, me põem do lado da discussão livre e plural, que é o que acontece nos países democráticos e NUNCA aconteceu nem acontece em países de regimes totalitários, como o comunista.
Acresce que não vislumbro o que pretendes significar quando me remetes para o programa do Partido Comunista Português de 1965. As peças de retórica (que disso se trata) dos comunistas nunca contemplaram a liberdade de expressão e muito menos de acção do indivíduo, antes preconizaram sociedades manobradas por grupos de déspotas e que, por isso mesmo e outras razões, acabaram da forma como se sabe. Desmoronados. Todos os factos depois de 1965 provaram à saciedade o que estou a dizer, não ficou um regime para amostra, o povo não quer, o povo não gosta, o povo não se sujeita à mentira feita doutina que lhe impuseram e que sempre que foi questionada, era reprimida à bala ou em exílios. São factos velhos e indesmentíveis que nem vale a pena referir, para não cair em repetições. Sobraram Cuba e Coreia da Norte que vivem, sobretudo no caso da Coreia do Norte, de dinheiro enviado pelos chineses e americanos para co-me-rem.E quando o dinheiro falta lançam um míssilzito de chatagem barata para melhorar a ração.
Ainda agora a Europa deu uma resposta cabal aos vaticínios dos analistas políticos, sociólogos, politólogos que andaram a apregoar o fim da "economia de casino" e a "mudança de paradigma". Foram meses a ouvir esta lenga-lenga e até no teu blogue eu li comentários excitados do tipo "falta pouco, a luta continua, lá chegaremos (palavras minhas)". E o que acontece é qua vamos aqui e vemos como, tirando a Suécia, a Dinamarca e a Grécia, as pessoas aderiram massivamente à rejeição do socialismo. E estou a falar de socialismo democrático, a que eu chamaria, antes, de estatismo, que não tem nada a ver como a extrema esquerda. É um sinal claro, não que me surpreenda, mas porque seria natural que os resultados fossem algo diferentes, depois do rombo que o capitalismo sofreu, por força de grupos e lobis sem escrúpulos. Mas a liberdade e o indivíduo e, sobretudo, o regime de mercado livre como alavanca de desenvolvimento real prevaleceram sobre a utopia socalista. A tal. A democrática. Porque "a outra", já nem se fala sequer. Apesar de em Portugal estarmos com 21% de extrema esquerda (PC e Bloco) o que só pode ter explicação no habitual ciclo de atraso de 25 anos que levamos em relação aos outros países europeus. Mas isso é outra história!

 
At 9:22 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

António Chaves Ferrão

Estou com dificuldades nos comentários. Terás de passar o rato em cima do espaço em branco e aparece o texto.

 
At 8:06 da tarde, Blogger António Chaves Ferrão disse...

Caro Espumante
Estas tuas palavras são a clara assumpção dos processos de intenções. Não indicaste um único partido em Portugal que tenha efectivamente lutado como o PCP pela Assembleia Constituinte. Dizes que é retórica, mas parece que dos outros, nem sequer isso: ficaria também por explicar porque é retórica, quando dito pelo PCP e deixa de ser, caso contrário.
Ademais, dás mostras de não ter lido, pois lá também se fala de liberdade. A tua dificuldade em falares de Portugal é proverbial.
Sorry, isto não é argumentar.
Um abraço.

 
At 8:18 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

António Chaves Ferrão
Acho a tua afirmação de que o PCP foi o partido que lutou mais pela Assembleia Cosntituinte absolutamente extraordinária. De resto, fica por explicares o conceito que os partidos comunistas têm sobre assembleias constituintes. Absolutamente extraordinário o que afirmas! Quanto à palavra liberdade, creio que é a palavra que os comunistas mais usam no que escrevem. Exercitá-la é que é o diabo. Foi, é e será sempre uma liberdade à la carte em que as liberdades são criteriosamente seleccionadas pelo chef(e).
Francamente, às vezes fico com a sensação que estás mesmo a reinar comigo. Liberdade? Mas qual liberdade? Onde? Qual? Quando?
Um abraço
NR

 
At 12:39 da tarde, Blogger António Chaves Ferrão disse...

Espumante
Parece que estás com algumas dificuldades em descobrir o segundo partido que tenha lutado em Portugal pela Assembleia Constituinte. Acho que começas a descobrir que vives em Portugal.
Quando tiveres novidades, avisa. Sou todo ouvidos. Menos para ruído puro, onde não se vislumbram descrições de factos ou qualquer outro sinal significativo.
Um abraço

 
At 7:16 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Sabe Espumante, eu tenho mesmo pena de si.

 

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