sexta-feira, abril 24, 2009

Mentira


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Foi óptima a forma como os responsáveis políticos do pós-25 de Abril conduziram o processo que, na década de 1970, culminou na independência das ex-colónias portuguesas”.

“A descolonização foi óptima, foi feita num tempo recorde que admirou muitos países que fizeram descolonizações, como os franceses”, disse Mário Soares, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa.

Mário Soares… “sustentou que a forma como Portugal entregou as suas colónias trouxe uma confraternização com os movimentos de libertação que criou as condições para que fosse possível criar a Comunidade de países de Língua Portuguesa (CPLP)”.

Diário de Noticias de 24 de Abril de 2009, sem link disponível.

“Isto” é uma enormidade. Patético. É o desrespeito total pela memória de milhares de mortos, portugueses e africanos vítimas da irresponsabilidade de Soares, ligeireza e ausência de sentido de Estado e pelo mérito de milhões de outros portugueses e africanos que se viram obrigados e conseguiram ressurgir da tragédia, forjando novas vidas em novos lugares. Soares não soube, não pôde ou não quis que as cerimónias de independência, que de cerimónias se deveria ter tratado, tivessem o brilho e solenidade de muitas outras independências, como as das ex-colónias inglesas, por exemplo. Nem cuidou de respeitar os interesses legítimos de uns e outros, antes optando pela versão hábil de que “quem vinha das colónias era, naturalmente, colono”. Tudo foi feito a trouxe-mouxe, a correr, ao sabor do improviso e da imponderabilidade da situação, sem agenda, sem respeito, por vezes autenticamente em retirada, como em Timor e, quase, quase, em Angola. Cerimónias que envergonharam portugueses e não dignificaram os novos líderes dos novos países. Pelo meio, uma escandalosa forma de apoio aos movimentos sacralizados pela ex-União Soviética, para o que contaram com preciosos elementos como o inenarrável Rosa Coutinho, mais tarde tornado num próspero homem de negócios em Angola.

Mas Soares não hesita em produzir afirmações de circunstância, verdadeiras mentiras soeses e sem vergonha que, pela própria delicadeza da matéria e pelo respeito devido àqueles que tiveram de fazer pela vida, sem muletas, sem Partidos, sem ideologias que não fossem a necessidade de manter a saúde e a dignidade das próprias famílias, deveriam ser cuidadosamente proferidas e no estrito respeito pela verdade.

As novas gerações têm de saber que “discursatas” do tipo destas que Soares usou no Instituto de Ciências Sociais são uma forma mórbida de distorcer convenientemente a verdade, mas sobretudo uma falta de respeito pelos portugueses e africanos. Porque são mentirosas, são parciais, são doentias por tudo o que contêm de perversas e de falsas. Soares devia contar até dez antes de falar desta maneira. E as pessoas têm de saber a verdade. Porque quando as mentiras são ditas muitas vezes e não são desmentidas acabam por parecer quase verdade.
Uma atitude verdadeiramente lastimável de Soares. Ele sabe que o que disse não é verdade…
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5 Comments:

At 7:51 da manhã, Blogger António Torres disse...

BRAVO!!!

 
At 6:56 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

É! O tempo vai puíndo esta imagem para dar lugar à descolonização "óptima" de Soares.
É o descaramento final...

 
At 3:38 da tarde, Anonymous Francisco Costa disse...

A revolução de 25/4/1974 foi importante para Portugal e obviamente para as ex-colónias.
Só quem não esteve em Portugal no tempo que se seguiu é que pode imaginar a possibilidade(ou capacidade) de fazer uma descolonização "exemplar" no PREC.
Vergonha mesmo era manter um regime colonial (em guerra) em 1974!!
Vergonha mesmo é o país não ter feito a descolonizaçâo "exemplar" nos anos 60 a par das outras potências europeias.
Vergonha deviam ter os que encaram a descolonizaçâo pelo impacto que teve nas suas vidas e não confessam que por eles ainda hoje se viveria melhor (e continuaria a viver) em regime colonial.
Também para isso é preciso muito descaramento...

 
At 8:05 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Francisco CostaComo seria bom que todos os que "estavam em Portugal" percebessem que nem todos "os que não estavam em Portugal" eram propriamente indigentes da realidade política.
E era tempo que aqueles que lêem ou ouvem dizer que a descolonização foi vergonhosa e trágica percebessem que quem o diz não advogava necessariamente a perpetuação de um regime que toda a gente percebia condenado e que sabia que a descolonização poderia e deveria ter sido feita por Salazar já nos anos sessenta
É uma questão de ler com mais atenção o que se escreve. E não confundir as coisas.
Finalmente, vergonha por vergonha e descaramento por descaramento é precisamente achar que quem estava fora de Portugal analisou a descolonização pelo impacto que ela teve nas suas vidas. É uma maneira de chamar estúpido às pessoas e confirmar a ideia de que essa gente, os que estavam fora, acabou por ser um grupo de empecilhos ao bom andamento "dos trabalhos".
É pena! Mas define bem a mentalidade estreita de muitos que nunca passaram da Trafaria e que se arvora em profundo conhecedor da realidade política e social.
E sim. A descolonização foi uma vergonha. Não na óptica dos que estavam fora mas na óptica de toda a gente que se der ao trabalho de se ilustrar melhor sobre tudo o que realmente aconteceu.

 
At 8:54 da manhã, Anonymous LUIS PARREIRA disse...

Caro Francisco Costa lamentavelmente você escreve apenas lugares comuns, transcreve a opinião publicada, contudo seria bom que não reescrevêssemos a história, porque é eticamente reprovável, Após o colapso das potências do Eixo, emergiam também na cena mundial, mas de forma simétrica, duas superpotências: os EUA, a liderar progressivamente todo o Ocidente parlamentar, e a URSS, marxista-leninista, a controlar, após Yalta , toda a Europa Oriental; criaram-se dois blocos com as respectivas zonas de influência, a anglo-saxónica e a soviética -, que vão disputar o controlo das áreas geopoliticamente importantes, bipolarizando-se o mundo. Ambos eram “anti-colonialistas”: os EUA, “(...) por tradição histórica e por motivos de ordem ideológica (...)”, de natureza económica e política; e a URSS por questões doutrinárias e de táctica política. No entanto, na Assembleia Geral, existiam mais grupos anti-colonialistas: os Escadinavos por razões económicas; os Afro-Asiáticos, que são, “(...) acima de tudo anti-ocidentais (...) (será um anti-colonialismo sentimental); os Latino-Americanos, porque ex-colonizados por Espanha e Portugal e pelo facto de a Europa ainda possuir alguns territórios coloniais na América Latina (por exemplo, as ilhas Falkland que, na década de oitenta, conduziram a um conflito armado entre a Argentina e a Inglaterra); outros ainda, como o Líbano e o Irão, por disciplina de blocos. No fundo, o anti-colonialismo surgiu por motivos rácicos, económicos ou ressentimentos com origem em submissões seculares, forjando-se, assim, a política anti-colonial nas Nações Unidas. Chegava-se ao fim do período dos povos colonizados pelos ocidentais que, entretanto, se independentizaram. Mas por que não se levantou nunca a questão da autodeterminação dos povos da Ásia Central, em regime de “telecomando” colonial da URSS, assim como não se levantaram contestações a que o Hawai e o Alasca fossem integrados nos EUA? (Atente-se na importância geo-estratégica dos territórios de ambas, nas referidas condições). Por um feixe de razões de ordem histórica, política, ideológica e estratégica, as superpotências foram as grandes vitoriosas de 1945. Todo o movimento das autodeterminações anti-coloniais do século foi função do interesse dominante destas. Convém ainda notar que a política de descolonização inscrita na Carta da ONU teve a definição que foi imposta por essas superpotências, mas não foi aplicada naquela parte do mundo que não pertencesse, “(...) de acordo com as intenções iniciais, à zona de exclusiva influência e expansão de cada uma delas (...)”. Após Bandung, o apoio das Nações Unidas às independências foi dado expressamente em 14 de Dezembro de 1960, quando a Assembleia Geral, através da Resolução A/1514 (XV), adoptou uma Declaração (Declaração anti-colonialista), inicialmente proposta pela Guiné-Conacry, apresentada pela Rússia e exponenciada pelos afro-asiáticos, segundo a qual a independência é um direito que deve ser obtido de imediato. Com esta Resolução, passou-se do princípio ao direito, ligando-se de forma definitiva a ideia de autodeterminação ao processo de descolonização. Para a Organização das Nações Unidas, todos os povos tinham o direito à livre determinação. Contudo, nunca conseguiu definir o que entende por “povo”. Não tendo em linha de conta referenciais objectivos, ignorou a preparação e o grau de maturidade (tendo por padrão a cultura ocidental) das populações abrangidas, nos territórios em causa, para a independência. Não reclamou qualquer consulta democrática às mesmas para ajuizar sobre as suas intenções. Desencadearam-se as independências atendendo apenas à opinião de uma elite ocidentalizada, e praticando-se a transferência do Poder directamente para um dos movimentos independentistas. Assim, é muito difícil sustentar outra conclusão que não seja a de que foram os territórios e não os povos que constituíram a preocupação motora do processo e que o objectivo não foi a livre determinação, mas sim expulsar as soberanias europeias.
Será que foi no espaço de nove anos, desde a assinatura da Carta das Nações Unidas à Conferência de Bandung, que os povos aprenderam a governar-se por si próprios, ou aprenderam de repente? Ou teria, assim, a colonização de um só país sido substituída por um colonialismo de organização?

 

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