terça-feira, janeiro 20, 2009

Gente iluminada

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Primeiro estive a ver os "marretas" (um das mais felizes expressões que encontrei no Contra Capa). No fim, não resisti e passei ao Prós e Prós que desta vez trazia a lume o magno problema da regionalização. Por acaso o zapping caiu numa reflexão muito boa de Miguel Relvas, mas depressa foi abafado pela assistência regionalista que enchia o auditório. Mas não é bem por aí que quero ir. O que assusta verdadeiramente é a existência de gente estranha que não hesita em fazer afirmações do género da que vou tentar exemplificar. Um senhor bem posto, cujo nome não fixei, fez uma longa dissertação sobre a bondade dos referendos. Todavia, disse ele e cito de cor, era preciso ter muito cuidado. Porque nem sempre os referendos são bons. Se por um lado eles trazem por via democrática uma participação efectiva das populações sobre os problemas das regiões, por outro podem ser perversas no tratamento dos grandes assuntos nacionais e supranacionais. E exemplificou, logo de seguida. Guantánamo, claro, e a institucionalização da tortura. Suponhamos que os Estados Unidos tinham referendado a existência de uma prisão destinada a suspeitos de terrorismo onde a tortura fosse permitida e que os cidadãos tinham aprovado a decisão por referendo. Aqui, o referendo estava mal. Assim, sem mais. A facilidade com que um fulano qualquer diz e está convencido que é preciso ter cuidado com os referendos porque se pode referendar bem e pode referendar mal como aliás já se tinha referendado mal para o aborto e para a regionalização.

Choca muito este tipo de mentalidade. Impressiona e faz pensar nas verdadeiras causas que poderão estar por detrás de situações deste género em que continua a haver gente que acha que só são boas as decisões que passarem pelo crivo de um superior escrutínio destas almas dotadas de uma espécie de intangível qualidade que lhes permite decidir não só o que é bom e o que é mau mas, sobretudo, quando, como e porquê os cidadãos deverão ser chamados a referendar. Mais. A reservarem-se o direito de acharem se o resultado do referendo foi bom ou foi mau.

Este episódio foi o suficiente para eu de imediato saltar para um filme. Não há mesmo pachorra para esta gente, Para além, como diz Pulido Valente, de percebermos que o mundo está efectivamente perigoso. Não há maluco pior do que aquele que acha que está no seu perfeito juízo. Ou borracho que tente fazer o quatro e diga que não está grosso.
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