terça-feira, abril 08, 2008

Um país de utentes


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Há muito que os utentes se vulgarizaram no léxico nacional. Significam muito mais que aquilo que parecem, um utente não é só alguém que usa. Neste país um utente é alguém que usa algo a que tem direito por força das conquistas da revolução, qualquer coisa que aconteceu vai para 35 anos mas que serve para manter em pé uma série de coisas que dão muito jeito.

Por falar em manter em pé, ontem vi de raspão qualquer coisa que tinha a ver com preservativos. Uma mostra de preservativos, qualquer coisa no género, não vi bem, estava a chegar a casa e olhei para o telejornal enquanto me desembaraçava do casaco, da pasta e de outros empecilhos que trazemos sempre connosco e lá falava-se de preservativos, sida, cuidados, sexo seguro, tudo isto ataviado por uns quantos cidadãos que aparecem sempre nestas coisas, muito correctos e muito telegénicos. Pois, eis senão quando vejo um jovem em grande plano, com um preservativo na mão, a debitar verbo sobre o sexo seguro e, em rodapé, leio: Fulano de tal (não fixei) – Utente. Esfreguei os olhos mas a palavra lá estava – Utente. Utente de preservativos, só podia. É claro que esta condição lhe dá, com certeza, um estatuto diferente ao aplicar em si próprio um preservativo. Tenho a certeza que o sexo que pratica, além de mais seguro é muito mais correcto. Não fosse ele um utente que é uma coisa que, como se sabe, deve dar um gozo tremendo na cama.

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