quinta-feira, abril 03, 2008

Remorsos


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Hoje de manhã preguei um botão na camisa. Tudo isto porque concluí que as ucranianas também são vulneráveis aos vírus da gripe, ainda que de lusa estirpe. O resultado é que duas ausências seguidas por parte do anjo da guarda lá de casa me demonstraram que o número de camisas de homem tem de estar em rigoroso acordo com as contingências das faltas, mesmo tratando-se de uma santa empregada que nunca falta, nunca falha, nunca se engana e sabe onde estão as coisas todas.

Isto para explicar que vesti a camisa e quando vou fazer a gravata reparo que o botão... não estava lá. Após uma missão exploratória de mais de meia hora descobri uma agulha, cinco minutos depois descobri a linha, dois minutos depois (ia melhorando) descobri que todas as camisas têm dois botões sobresselentes para eventualidades. Não descobri a tesoura para arrancar o botão sobresselente, mas o alicate das unhas serviu a preceito.

Pois saiba-se que poucos minutos depois reparo que preguei um botão, sem me picar e com um aspecto óptimo, tudo muito agarradinho, muito certinho e não consegui evitar uma sensação de gozo, só comparável àquele que tive quando apanhei a primeira barracuda na minha vida. A verdade, crua, é que eu tinha acabado de pregar um botão e provara que tudo o que se diz da inabilidade dos homens para este tipo de coisas não passava de boatos da reacção.

Saboreando ainda as résteas do gozo descrito, aprestei-me a apertar o botão. E aí, a porca torceu o rabo. Mas torceu tanto que não sei se diga, não sei se conte. É que o botão lá pregado estava, mas depois de abotoado, o colarinho parecia da camisa de alguém que tinha acabado de ser agarrado pelo pescoço – de tão torto que estava. Inspeccionada a obra, concluí que o botão estava, naturalmente pregado a quilómetros do lugar certo, o que provocava o desalinho do colarinho.

Não deitei a camisa fora por decoro. Mas disse dois palavrões que eu mantenho guardados para estas ocasiões e telefonei à Larissa (a tal ucraniana gripada) e disse-lhe que tinha duas horas para matar os vírus todos, ligar a sirene e correr lá a casa porque havia uma emergência.

Acabei agora de receber um telefonema dela, lá de casa, dizendo que passou seis camisas e pregou o botão como deve ser.

Estou cheio de remorsos, mas já tenho camisas passadas. E acho que Bush está cheio de razão e a Ucrânia deve entrar para a Nato, sim senhor. Os russos é que são parvos. E aposto que nem pregar botões como as ucranianas eles sabem.

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6 Comments:

At 9:26 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Mas que maçada !...Enquanto lia o teu post fiquei mesmo muito entusiasmada com a ideia de que tinha acabado de encontrar alguém que me resolvesse o problema de umas quantas peças de roupa que ali tenho a precisar de uns botõezitos pregados, etc....coisa pouca!O pior é que quando cheguei ao fim fiquei desapontada....afinal...nada feito....!

jokinhas
Di

 
At 8:11 da manhã, Blogger Carlota disse...

Pois acredito que estejas forradinho de remorsos.
Coitada da moça! Acho que merece um bónus por ter ido trabalhar doente.

 
At 12:32 da tarde, Blogger RAF disse...

Eu aprendi a pregar botões na quarta classe. A nossa professora primária ensinou-nos várias tarefas de sobrevivência que ainda hoje são da maior utilidade.

 
At 2:19 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Di

Vou treinar. Também não quero que fiques para aí desapontada...
:)

 
At 2:20 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Carlota

Eu não mandei a moça... ela é que me entende bem e não hesitou. God bless...
:)))
Beijola

 
At 2:22 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

RAF

Eu sou duma geração diferente da tua. No meu tempo havia disciplina, não é como boje. Começa assim, dantes pregava-se botões, hoje leva-se telemóveis, vais ver qua ainda acaba tudo a jogar à lerpa :))

 

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