quarta-feira, julho 11, 2007

Onde é que estavas no 25 de Abril?



[1879]

No DN de hoje, Baptista Bastos mostra-se preocupado com as nuvens de ameaça que pairam sobre a liberdade, pela acção centralista deste governo. E depois cita alguns casos recentes e mais ou menos do domínio público, leia-se os desmandos dos zelotas de serviço da paróquia mai-las broncas de uns quantos ministros que, obviamente, não têm a mais remota ideia do que andam ali a fazer, desde a má-criação de Jaime Silva aos jamés estridentes do ministro Lino, inscrito na Ordem. Acaba Baptista Bastos na referência a uma alegada normatividade que tende a relegar a liberdade de imprensa para a lista dos produtos supérfluos. E remata dizendo que “... o desatino é de tal monta que se chega ao ponto de pedir, encarecidamente, a um Presidente de República, cujo currículo não possui o mais módico vestígio de luta pela liberdade, cito BB, que vete o estatuto...”

Ora, é aqui que a porca torce o rabo. Eu estou farto desta gente que acha que lutar pela liberdade foi ter ido parar à prisão, ser torturado, vigiado ou prejudicado pela polícia política do Estado Novo. Isto é uma ideia falsa e ofensiva para aqueles que nunca foram presos ou, tendo-o sido, têm uma visão totalmente diferente da luta pela liberdade. Pela parte que me toca, por exemplo, não foi por ter andado ao estalo com um polícia semianalfabeto na Ferreira Borges, na Coimbra dos meus dezassete anos, que me sinto mais defensor das liberdades. Pelo contrário, acho que, nessa altura, muitas vezes fui um perfeito idiota e nem sabia bem o que queria, mas não importava, desde que partisse um par de montras e enriquecesse o meu currículo com umas bastonadas levadas de um chui.

Eu tenho alguma percepção de que quem tem de se agarrar a um período de participação activa na luta pela defesa ou implantação da liberdade, mesmo que isso tenha custado umas bastonadas ou sujeição a sevícias de uma polícia adequada ao sistema vigente, é porque lhe escasseia currículo que lhe baste como cidadão consciente da sua condição cívica, da prestação de uma carreira de trabalho, pautada pela seriedade e pelo noção do contributo para um país melhor. Ao contrário de muitos que conheci (e isto não tem nada a ver, em particular, com Baptista Bastos) que se fartaram de ser presos, levaram uns estalos e depois se meteram a tratar da vidinha, que é a aptidão mais vincada no português. E o tratar da vidinha é, por exemplo, fazer carreirismo político, à espera de um lugar vitalício que lhe possibilite uma reforma confortável.

Tenho para mim que defender a liberdade é ser sério, fazer do trabalho a sua ferramenta de subsistência e/ou de criação de riqueza, reger-se pelo primado da cidadania e das virtudes cívicas acima de qualquer acção que lese o interesse colectivo da sociedade e, sobretudo, guardar o respeito pela liberdade e direitos individuais do concidadão. Infelizmente, todos sabemos que esta não é a imagem corrente dos defensores da liberdade, daqueles que acham que foram imensamente heróis e que isso lhes basta como carta de recomendação em todas as ocasiões. Além do direito à prestação de um tributo por uma condição que, claramente, está esvaída no tempo e já romba nas arestas puídas por uma sociedade moderna, diferente e melhor.

Daí que já me canse estes lutadores pela liberdade. Primeiro porque, frequentemente, não fizeram mais nada que se visse, depois, pela forma abusiva e arrogante como puxam pelos galões dos heróis que acham que foram até ao 24 de Abril e que acabam por ofender aqueles que parametrizaram a sua vida por uma matriz orientada no respeito pela liberdade dos outros. Sobretudo aquelas centenas de milhar de pessoas que chegaram a Lisboa depois das independências das colónias, sem mais nada que não fosse a necessidade de refazer a sua vida e um grande sentido de responsabilidade pela sobrevivência própria e dos seus. E aqui está, sim, um bom exemplo de luta pela liberdade. Porque a luta pelo progresso pessoal desagua no progresso colectivo e esta é uma forma nobre de luta e preservação da liberdade.

Acho, assim, que esta forma de Baptista Bastos se ter referido a Cavaco Silva é, no mínimo, foleira, arrogante e míope.

Estou farto deles...

Nota: Continuo a não conseguir o mode “edit” que me permitiria fazer links, neste caso ao artigo do DN, o que lamento.


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6 Comments:

At 7:27 da manhã, Blogger António de Almeida disse...

-Baptista Bastos nutre um ódio de estimação, ou no mínimo uma forte antipatia para com Cavaco Silva desde os tempos em que este era primeiro ministro, quem não tiver memória curta, lembrar-se-á dos artigos constantes de Baptista Bastos, que nunca reconheu qualquer obra positiva nos governos do professor. Pelos vistos continua, mas pelo menos lá vem uma das vozes do passado criticar também o actual ambiente político, muitos outros há que permanecem calados.

 
At 8:36 da manhã, Blogger cristina disse...

Não te assustes! Não venho reclamar, nem discutir, nem sequer discordar. Até porque, assim de repente, e sem ter lido o artigo que referes, concordo contigo!

Venho apenas falar dos links:

#a href="endereço"& texto #\a&

onde #=< e &=>. Tu vais dizer [e eu não vou perceber!] que não é esse o teu problema, que é o blogger que não te deixa entrar no modo de não sei o quê... Mas a intenção é boa! :)

 
At 7:22 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

antónio de almeida
Eu por acaso não estava cá nessa latura, mas lembor-me dessa fase...

 
At 7:47 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

cristina
Vou explicar-te com se fosses muito... isso :)))
Quando eu abro o blogger para escrever um post, há dois "modes": - Edit e compose. O "compose" só dá para escrever e inserir fotos. Se queremos fazer um link, tenho de clicar onde diz "edit". Ora eu clico na Edite, que disparate, nem conheço a rapariga... no "edit" e não acontece nada. Rigorosamente nada. O "edit" é duma insensibilodade extrema, clico, clico, clico e não acontece nada, e o resultado é que não dá oara fazer links.
Fico com a impressão que já tinhas percebido esta ladaínha toda, mas apeteceu-me explicar, de qualquer "das maneiras" que é a forma "elegante" que todos nós temos de dizer "de qualquer maneira" ou "de qualquer fomra". "De qualquer das formas" também se usa nas não é tão incisivo.
E agora... tem pena de mim e faz uma mézinha (eu sei que não tem acento mas é para distinguir duma mesa pequenina) e arranja lá forma de eu poder fazer links...
:))))
Bom dia de trabalho

 
At 1:00 da tarde, Blogger cristina disse...

Isso! Assim mesmo como se eu fosse como a outra! :)

Vamos lá tentar...

Abres no modo "compose" e escreves o que queres escrever. Quando quiseres fazer um link, seleccionas a parte do texto que interessa e carregas no botãozinho de links da barra de formatação (entre a cor da letra e o alinhamento). Isso abre uma janela onde escreves o endereço da página que queres "linkar".

Alternativamente, podes seleccionar o texto e carregar Ctrl+shift+a e abre a mesma janela para escrever o endereço.

Não te esqueças de ao mesmo tempo dizer três vezes, a rodar ao pé coxinho: "abre janela senão vais para a panela"

Acho que deve dar! Mas não me responsabilizo se, em vez de criar um link, isto transformar o teu computador num rato... Às vezes confundo as "mézinhas"... :)))

 
At 7:08 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

cristina
afinal... carrego lá no tal botaozinho e linco loucamene. Farto-me de lincar. Se eu te contasse o que tinha de fazer e escrever antes de me ensinares como fazê-lo, até te arrepiavas. As coisas que tu sabes...
:)))

 

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