quinta-feira, abril 26, 2007

Provincianismos


Ora aqui está um tema de interesse nacional


[1706]

CAA deambula pela endémica centralização portuguesa e na falácia inconsciente dos lisboetas, tornando os problemas da minha rua em temas de interesse nacional. A isso chama-lhe CAA provincianismo e eu concordo com ele. Inteiramente. Tal como com a generalidade do conteúdo do seu post.

Mas CAA dá, ele próprio, uma imagem de provincianismo (fenómeno em que ele, aliás, é recorrente, sobretudo em se tratando de futebol em geral e do FCP em particular) ao assacar a responsabiblidade de episódios “provincianos” como o de ontem na inauguração do túnel do Marquês. Certo é que não me faltariam exemplos de provincianismo genuino da invicta cidade do Porto, desde as peripécias do Metro, às paginas de jornais sobre qual será o melhor fogo de artifício de S. João, se o de Gaia se o do Porto. CAA chamar-lhe-á, provavelmente, bairrismo, eu chamar-lhe-ia provincianismo em estado puro, sobretudo o desconforto permanente em que os portuenses se colocam em relação aos lisboetas, sem que se perceba bem porquê, porque poucos ou nenhuns são os lisboetas que se sentem desconfortáveis em relação aos portuenses... usando o inglês técnico do nosso “primeiro”, they couldn’t care less!

De resto esta é uma pecha velha. Até um túnel “mixuruca” com pouco mais de 2.000 metros espoletou um post bairrista do CAA. É verdade que lá foram cerca de 12.000 pessoas à inauguração. Curiosamente, pelo menos a avaliar pelo sotaque das que falaram para a reportagem da televisão, nenhuma delas me pareceu de Lisboa. Muitas, das Beiras e a maioria, do Porto ou arredores. Até os responsáveis pelos Corpos de Bombeiros (conhece-se a tradicional vocação do Norte para a pirotecnia...). Mas foi coincidência, com certeza, estou certo que lá estariam alguns lisboetas.


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10 Comments:

At 3:04 da tarde, Blogger 125_azul disse...

É por essas e por outras que não me importava quando me chamavam retornada ou imigrante... beijinhos

 
At 4:55 da tarde, Blogger Teófilo M. disse...

Olá! desta vez é com o Porto e eu calado é que não fico.

Com que então o nosso provincianismo é maior que o da bela Olissipo?!

Então os patuscos que foram ver o túnel, mais os jornalistas que por lá andaram seriam na sua maioria portuenses de gema!!! ou de pronúncia!!?

Sobre as peripécias do metro cá de riba, ainda falta gastar um pouco até esgotar o que se passou no subsolo do Terreiro do Paço e que não deu tanto pano para mangas nos noticiários; quanto aos fogachos de S. João são guerras entre presidentes muito sérios da área do laranjal que passam a vida a mimosear-se com piropos, quanto ao FCP temos falado, continua à frente enquanto os restantes, sendo melhores conforme nos é dado saber pelos media continuam atrás a cheirar-lhes os calcantes.

Por outro lado, como é que os lisboetas se poderiam sentir desconfortáveis em relação aos portuenses (não confundir com portistas), se foram para Lisboa as Sedes de todos os Bancos que por cá existiam, assim como as respectivas sedes das Companhias de Seguros, se ganha em média menos 20% para o mesmo cargo desempenhado, existe uma maior taxa de desemprego, não temos gás de cidade ao preço da uva mijona, pagamos mais por bilhete de metro, não temos equipamentos de lazer equivalentes (aquários, oceanários, parques de diversões, marinas, museus, teatros, etc,), em que o poder de compra é inferior em mais de 25 %, onde o investimento público esteve paralizado durante largos anos e só agora começa a aparecer...

A realidade é como o Sol não se esconde com uma peneira.

Continuo cá por cima à espera de um Centro Materno-Infantil há mais de 33 anos há quanto tempo estão os lisboetas à espera de qualquer coisa idêntica?

Xis cá da parvónia ;-)

 
At 6:19 da tarde, Blogger Sinapse disse...

... é que foram anos e anos disto:
Por outro lado, como é que os lisboetas se poderiam sentir desconfortáveis em relação aos portuenses (não confundir com portistas), se foram para Lisboa as Sedes de todos os Bancos que por cá existiam, assim como as respectivas sedes das Companhias de Seguros, se ganha em média menos 20% para o mesmo cargo desempenhado, existe uma maior taxa de desemprego, não temos gás de cidade ao preço da uva mijona, pagamos mais por bilhete de metro, não temos equipamentos de lazer equivalentes (aquários, oceanários, parques de diversões, marinas, museus, teatros, etc,), em que o poder de compra é inferior em mais de 25 %, onde o investimento público esteve paralizado durante largos anos e só agora começa a aparecer...

 
At 11:13 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

azulinha
Entendo-te bem
:)

 
At 11:16 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

teófilo m,
Li e reli o seu comentário. Confesso a minha inabiliade em lhe responder. É uma retórica poída, um discurso redondo e penso que não chegaríamos a lado nenhum. Saudações lisboetas

 
At 11:17 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

sinapsde
Vale-me uma portuense bonita e inteligente como tu para se perceber que não alimento quaisquer preconceitos geográficos.
Beijinhos mouros
:)

 
At 9:38 da manhã, Blogger cristina disse...

Ora bem... Costuma dizer-se: quem não se sente não é filho de boa gente... E eu senti... :)

Ponto primeiro (com os cumprimentos da Priberam):
provinciano - da província;
província - qualquer parte de um país, abstraindo da capital.
Portanto, somos provincianos, pois somos, e depois?! Valha-nos alguma coisa que a gente tenha direito e vocês não... Ainda que etimologicamente :)

Ponto segundo:
Não conheço a escrita de CAA, por isso não vou discutir esse teu odiozinho de estimação. :)

Ponto terceiro e principal:

Apesar de poder não parecer :) eu percebo o que dizes e, se parar um bocadinho, até sou capaz de concordar... Não sei é se me apetece...

Voltando à etimologia, um bom bairrista - que defende a sua terra - acaba por ser inevitavelmente provinciano relativamente às terras que lhe fazem frente (neste caso a capital). Dir-me-ás que Lisboa não "faz frente" ao Porto nem ao resto do país... - deixo em aberto...

Mas falando estereotipicamente - que é disso que aqui se fala, certo? - há uma diferença entre o bairrismo de Lisboa e o bairrismo do Porto. Lisboa acha-se mais e melhor e assume isso como postulado universal, não tem de dar provas a ninguém, apenas se limita a exibir-se. O Porto também se acha mais e melhor, mas, tendo em conta, a pseudo-universalidade do axioma lisboeta, tem de prestar provas que sustentem a sua teoria. [Acho que já estou a filosofar demasiado...]

Em resumo: O bairrismo dominante (neste caso, o da capital) não se justifica, assume-se - «they couldn’t care less!» -, enquanto que o bairrismo provinciano procura combativamente justificar-se, dar provas, impor-se - «desconforto permanente». Ora, os axiomas não se discutem: aceitam-se ou não! Portanto é muito mais visível o bairrismo provinciano e muito mais apelativo discutir os seus (pseudo-)argumentos...

 
At 9:54 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

cristina
Dá gosto ter comentários como os teus no meu blog. Mesmo que... axiomáticos :))) (esta dos axiomáticos foi uma brincadeirinha).
Concordo com tudo o que dizes. E acho até que uma dose de bairrismo é saudável. Mas a dicotomia Porto/Lisboa vai muito para além disso. Nota-se na política, nas artes, na economia e em muitos outros sectores do nosso tecido social. Do meu ponto de vista, com largos prejuízos em geral. Só para dar um exemplo e independentemente de eu concordar ou não com ela, eu acho que a regionalização é uma excrescência pura e simples de um bairrismo exacerbado e provincianismo puro. Não entendo como é que 90.000 km2 terão de ser divididos por regiões a não ser pelo facto de constarem das prioridades e designios pessoais de um punhado de regionalistas, porque substancialmente não vejo razão para isso, a não ser para a criação de uma nova classe política e um aumento brutal de burocracia (ao contrário do que parece)e caciquismo.
Mas voltando ao teu comentario, dizia eu que sim, concordo com o que dizes. Só me insurjo é com a permanente intriga sobre a matéria, que remete para uma angústia permanente do portuense relativamente a Lisboa. Sem razão de ser, afinal. Comparar o número de agencias bancárias, postos de saude ou extensao do "metro" entre Porto e Lisboa não lembra ao careca e, todavia, é mais ou menos nesse registo que se discute a coisa. Aliás a sinapse, uma jovem desempoeirada, culta e portuense dos sete costados e que vive actualmente nos USA faz, antes de ti, um comentário interessante, dizendo que foram anos a ouvir isto, sendo que isto foi o disco riscado do teófilo m. que, legitimamente, ama a sua terra, mas usa exactamente os argumentos que atrás referi.
Obrigado pelo teu comentário. Gostei bastante, sério.
Beijinho e bom fds aí por... Coimbra, não é?
:)

NOTA Já agora. O CAA não é meu odiozinho de estimação. Nem o conheço pessoalmente. Só de o ver na televisão e do que escreve no Blasfémias

 
At 8:20 da manhã, Blogger cristina disse...

espumante:
Assim fico sem jeito...

Só uns pequenos remates:

- Da regionalização... Sendo eu pequenina da primeira vez, e vindo isso ao de cima agora, novamente, ainda vão ter de me explicar muito bem, muita coisa... ;)

- Não conhecendo eu a «jovem desempoeirada, culta e portuense», não tinha lido o comentário dela como tu. Li-o como um reforço do «disco riscado do teófilo» (ignorando-lhe o sobrancerismo...)

- Nã, não é Coimbra, é mesmo Puoooorto - Gaia, para sermos mais precisos. Daí o teu post me ter tocado particularmente ;)

- Também não supus que conhecesses o CCA pessoalmente, mas tenho a ideia de só "dizeres mal", de cada vez que sobre ele falas... Ideia errada? Pode ser...

 
At 8:52 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

cristina
Está rematado :)
Quanto a dizer só mal do CAA não é correcto. Leio diariamente o Blasfémias e aprecio muito a maioria dos que lá escrevem, sobretudo o JCD e o João Miranda. O CAA causa-me aguma irritação apenas pelas razões que aduzi, mas daí a odiar o homem vai uma distância enorme. Aliás não odeio ninguem :))
beijinho e bom feriado

 

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