segunda-feira, novembro 06, 2006

Matar porque posso


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A pena de morte e o aborto são talvez as inquietações mais frágeis das minhas opiniões. Por mais que busque a abstracção que me permitiria uma análise fria deste fenómeno social em que o colectivo dispõe da liberdade e direitos individuais, usando o poder discricionário de homens que estão tão sujeitos a errar como o condenado, e que em circunstância alguma me dão garantias da justeza e sabedoria das decisões. Sobretudo porque me habituei a desconfiar dos homens com poder. E é disso que se trata. De poder que, no caso da decisão sobre a vida ou a morte, é particularmente permeável a factores exógenos à apreciação da matéria em apreço – as razões que justificam retirar a vida a alguém.

Com a recente condenação de Saddam à pena capital, história que deve estar ainda longe do seu epílogo, começam a surgir vários posts de opinião. Todos eles, ao que li até agora, contrários à aplicação da pena de morte. Mas inevitavelmente ligando a opinião ao facto de não ser humanamente aceitável retirar-se a vida seja a quem for, seja pelas razões que forem. Eu também sou absolutamente contra a pena de morte. Porém, sou contra mais pelo facto de, para mim, bastar haver uma possibilidade de erro de um milhão, para liminarmente a rejeitar. Imagine-se um condenado ser executado por um crime de que está inocente. E não são tão raros assim, os casos em que a justiça se engana. Umas vezes a tempo de emendar a mão, outras, demasiado tarde.

Há ainda outro aspecto que me impressiona. É que a aceitar a pena capital como justa, o que não é manifestamente o meu caso, penso nas razões porque uns são executados e outros se passeiam impunes em gabinetes onde decidem sobre, por exemplo, a matança de mais uns quantos empecilhos. Os exemplos são demasiadamente numerosos para caberem num post. E isso também me arrepia.

10 Comments:

At 11:07 da manhã, Blogger 125_azul disse...

Nâo consigo decidir se sou contra, neste caso; sou contra de uma forma geral, mas ficamos a fazer o quê com a Saddam? Já lhe mataram os filhos, tiraram o poder, desmembraram a família... Só consigo decidir que estou 100% de acordo com o teu post de hoje

 
At 11:18 da manhã, Blogger 125_azul disse...

Ah, fui ver o Chico, sim! Fiquei na famosa fila da orquestra, vulgo gargarejo; até deu para contar todas as ruguinhas dele, que são muitas, muitas! E que magrinho ele está! Mas , apesar de ter tropeçado na letra de 2 músicas, continua fabuloso. Beijinhos, boa semana

 
At 7:24 da tarde, Blogger Filipa disse...

oi oi oi!
uma coisa sou EU a decidir sobre o meu próprio corpo e sobre o futuro da MINHA própria vida e outra sou eu a decidir sobre a vida de alguém que me é totalmente externo e que nao me diz respeito e a decidi-la para tentar fazer justiça sobre o mundo.
para mim nao é um facto de justiça ou de eventualidades de erro, a minha questao é anterior a essa: como pode um ser humano retirar a vida a um outro ser humano que lhe é estranho? que direito temos sobre isso?
quanto ao aborto (que já me tinha controlado muiiito para nao comentar no outro dia), a questao é outra e penso que é um tema de tal modo polémico que seria uma perca de tempo e de energia estar para aqui a debate-lo através de comentários. Além de que é um tema sobre o qual sou particularmente "irritável" e sinto que a lógica de todos os argumentos que eu possa encontrar irá sempre chocar contra a tua.
poderao dois pontos de vista ser igualmente válidos?
e como o fazer se sao contaditorios? enfim.

 
At 1:10 da manhã, Blogger Madalena disse...

Contra! A Humanidade tem o dever de ser coerente em questões como esta. Ninguém pode decidir se este assassino deve morrer e o outro deve viver. É a minha muito, muito humilde opinião. Mais do que opinião: o meu sentimento!
Um beijinho para ti!

 
At 8:44 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

125_azul
O post está meio...incoerente. Mas se concordas, tudo bem :)
Beijinho

 
At 8:52 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Miss Spring

Interpretaste-me mal ou eu expressei-me pior.
O paralelismo que estabeleci entre o aborto e a pena de morte foi apenas do ponto de vista de serem dois temas sobre os quais eu tenho alguma dificuldade em ter uma opinião firme, decidida. Quando penso no assunto, tenho sempre demasiados "mas", "por outro lado", "todavias", etc. Foi só nesse aspecto. Não pus tudo no mesmo saco.
Mas, pronto, levei o sermão do costume :)))))
Mesmo assim, atrevo-me a questionar uma incongruência que ressalta do teu comentário. É que a determinada altura, e pela forma como te expressas, há vida de um "ser que nos é estranho" donde, pela lógica, há vidas de seres quenão nos são estranhos. Sendo que esta distinção nos permite análises diferentes sobre a prerrogativa que nos assiste em tirar-lhes, ou não, a vida.
Ora lê lá o teu comentário e vê se não é isso que se depreende...
Beijinho
:))

 
At 8:53 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Madalena
Estou contigo. Sou absolutamente contra a pena de morte.
Beijinho

 
At 9:49 da tarde, Blogger Sinapse disse...

nem sou a favor nem contra - digamos que a pena de morte não me choca

 
At 10:02 da tarde, Blogger Sinapse disse...

ooops!, published the comment sem querer, carreguei pr'aqui numa tecla qualquer e lá foi o comment, inacabado ... aqui segue continuação:

mas o facto de não me chocar a pena de morte não quer dizer necessariamente que me rotule "a favor"
a morte é um tema muito sério para ser-se "a favor"

mas, por outro lado ... toda a corja de psicopatas, ou de pais que torturam os filhos e os matam, gente que pratica a crueldade pura e dura, sempre reincidente, recorrente, ... olha, que morram! ... por isso digo que não me choca a pena de morte ...
... é que criminosos dessa estirpe (e estou a falar dos crimes mais monstruosos, mais aberrantes, mais desalmados) passarem uma vida na prisão às custas do contribuinte ... é insultuoso!

 
At 10:04 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Sinapse
Já andava com saudade das tuas ipiniões. Não pares, amiga :)))
Beijinhos contentes

 

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