quinta-feira, novembro 30, 2006

I guess...


[1392]

Diz quem foi ver (coisa feia, a inveja...) que o novo 007 é uma verdadeira revolução: Bond tem dores, suja-se, apaixona-se, não vai a todas porque se apaixona, quer deixar o MI6 porque se apaixona, quer casar porque se apaixona e, supremo aggiornamento, é enganado pela rapariga.
Em suma, o último dinossáurio falocrático tornou-se politicamente correcto.
Querem apostar que no próximo filme será gay?


In O Cachimbo de Magritte

Ofício Diário




Tchin-Tchin

[1391]

Dois anos como oficial de poesia. Ofício bonito. E
diário, ainda por cima. Um grande abraço, para o Torquato da Luz.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Figura tutelar


[1390]

Ele não dá por isso, mas tem tanto de inteligente e de figura grada da cultura como uma manifesta tendência para se sentir indispensavelmente tutelar na blogosfera portuguesa.

Ele tem de perceber que nem todos são como ele, muitos gostamos de nos divertir e que “fishing for compliments” (já agora mude lá o “u”, que judeu errante que se preze deve saber línguas e evitar erros de ortografia) é uma manifestação humana. E no fundo é o que todos, felizmente, somos. Humanos.

Hummmm...

terça-feira, novembro 28, 2006

Os melhores de 2006


[1388]

Hesitei bastante sobre se votaria ou não na feliz iniciativa do
Geração Rasca. Acabo por votar, na certeza de que serão omitidos muitos blogues que aprecio, mas o regulamento só autoriza seis por categoria. Aqui estão as minhas escolhas, por ordem alfabética:

Melhor blogue individual masculino

-
Abrupto
-
Blue Lounge
-
Origem das Espécies
-
Portugal dos Pequeninos
-
The Old Man
-
25 cm de Neve

Melhor blogue individual feminino

-
Blogzira
-
Educação Sentimental
-
Lote 5 – 1º D
-
Miss Pearls
-
Rititi
- Voz em Fuga


Melhor blogue colectivo

-
Blasfémias
-
Blogamemucho
-
Insurgente
-
Mar Salgado
-
Quarta República
-
Tugir

Melhor blogue temático

-
Blog da Sabedoria
-
Na Senda das Beiras
-
Ofício Diário
-
Pura Economia
-
Chora que Logo Bebes
-
Um Amor Atrevido

Melhor Blogue

-
Abrupto
-
Blasfémias
-
Chora que Logo Bebes
-
Insurgente
-
Palavras de Ursa
-
Um Amor Atrevido

Melhor Blogger

-
André Azevedo Alves
-
Carlota
-
Catarina
-
Isabel Goulão
-
João Caetano Dias
-
Sofia

E que ganhem os melhores!

É mentira, carago


[1387]

Que o 24 Horas diga que a Elsa Raposo mudou de namorado e fez um piercing na língua e Elsa venha a terreiro desmentir, dizendo que não mudou de namorado, mudou de dois e o piercing foi no umbigo, não me aquece nem arrefece, como é evidente. Ou, ainda, que o Expresso diga que Paulo Portas jantou com Santana e Portas desmente, afirmando que, não senhora, jantou com Louçã. Tudo minudências não graves e que servem para entreter o estilo paroquial da grei.

Agora que o
Tribunal de Contas diga que o Governo foi descuidado, que os administradores executivos do Metro do Porto ganham este mundo e o outro e que Valentim Loureiro e Narciso Miranda ganham mais de €4500, cartão de crédito e carro só porque têm de ir a duas reuniões mensais e apenas porque são autarcas (!!!!) e que depois apareça um estridente Narciso Miranda na TV esta manhã a berrar “é mentira, é mentira” é que me faz franzir o sobrolho. Já nem é pelo que o homem ganha ou deixa de ganhar. Mas sim pelo facto de nem o Tribunal de contas é o 24 horas nem a Elsa Raposo custa dinheiro ao erário Público. E depois, a coisa é fácil. Ou o Tribunal de Contas está a mentir e Portugal virou a bagunça final, ou o jornalista mentiu e é fácil verificar ou Narciso está a mentir, o que também é fácil de ver. Mentira agravada com o facto de me acordar às 7 da manhã aos berros: è menteira, carago, é menteira!

Há casos em que sim, uma varridela a preceito e o lixo atirado para debaixo de um tapete surrado seria uma solução reconfortante.

segunda-feira, novembro 27, 2006

31 da armada



Pois venha daí esse fanatismo. E uma rabanada de ar fresco nunca fez mal a ninguém. Além de que há por lá nomes que já faziam falta. Votos de muito sucesso.

Orgasmão


[1385]

Ora aqui está uma
estimável iniciativa. Só espero que a hora escolhida leve em linha de conta os fusos horários, não vá estabelecerem o momento orgásmico numa altura em que eu esteja em alguma reunião, na bicha de pagamento de um Pingo Doce qualquer ou na Loja do Cidadão a tratar de alguma coisa urgente.

Já agora, o “ão” do título do post é sufixo mesmo, tal como buzinão, abanão, grandalhão e outras expressões superlativas. Não tem nada a ver com “mão”, i.e. orgasmo à mão, porque é um desperdício. E nesta coisa de globalização é de se levar tudo muito a sério, pelo que espero que no solestício que aí vem, e à hora indicada, estejamos todos no quarto, na casa de banho do escritório, com uma mesa de cozinha à mão no restaurante habitual, ou mesmo no elevador (em número par, já se vê).

“Orgasmemo-nos”, pois!

Ah, pois é...

[1384]

Alguém me explica a recente expressão oral “Ah, pois é!” que, de repente, toda a gente parece usar numa entoação da mais fina (?) ironia? Claro que isso só se pode ficar a dever ao facto de “nós” já sabermos o que ia acontecer e por isso dizemos, com ar de mestrado e doutoramento dos meandros traiçoeiros da vida “Ah, pois é”. Por outras palavras, eu não vos avisei?
Chiça!...

O Sr. Arlindo


[1383]

O senhor Arlindo (nome verdadeiro e sem voz distorcida) tem um café na Ribeira do Porto. Uma repórter de televisão entrevistou-o esta manhã sobre a subida das águas do Douro. E o senhor Arlindo que refilava, refilava e nunca mais dizia quais os prejuízos que tinha sofrido, apesar da insistência da repórter? E ela insistia “mas teve prejuízos, não teve?” e o homem continuava a dizer que chegou ao café e aquilo estava tudo inundado “derivado às subidas da água”, com aquela expressão única que os portugueses afivelam, como ninguém, de que a culpa é do governo, é do Estado, é “deles”, é da polícia, é, afinal, de toda a gente, menos dele que resolveu abrir um café num local que praticamente todos os anos se inunda, “derivado às subidas da água”.

Finalmente, o senhor Arlindo lá atinou com a pergunta da repórter e acabou por dizer que tinha muitos prejuízos, sim senhor, um fogão e a máquina das tostas. Não sei se o seguro paga mas isso agora também não interessa muito. A reportagem do dia está feita.

Correcção


[1382]

A estupenda Margarida V do
Palavras de Ursa votou no Espumadamente para a lista dos melhores Blogues de 2006 na categoria Blogue Colectivo. Por uma questão de rigor tenho aqui que declarar que o Espumadamente é um blogue singular, masculino.

Para a
MargaridaV um beijinho e para o Geração Rasca o esclarecimento que se impõe.

domingo, novembro 26, 2006

Tapioquices


[1381]

Cada povo tem o general Tapioca que merece. Ontem decorreu mais um aniversário do dia em que se pôs termo à golpada de um grupo de loucos perigosos. Se alguns já morreram, outros continuam por aí, glorificados e a expensas minhas e de mais uns milhões de cidadãos anónimos.

Diz-se que a história tudo lava, que o tempo tudo dilui. Pela parte que me toca, já me é realmente indiferente a existência desta gente. Só que de vez em quando há datas que me fazem lembrá-la. E, curiosamente, consolidar o meu sentimento de desprezo e profunda indiferença por ela. Por ela e pela versão moderna dos sempiternos generais Tapiocas de que este país não sabe (não pode?) ver-se livre e que continuam por aí a saltitar por blogues, jornais, televisões e, até, alguns ministérios. E são eles que consciente ou subconscientemente conseguem que mantenhamos os cerca de 30 anos de atraso em relação ao primeiro mundo.

Maravilh'Arte 21


[1380]

Ao princí -
pio estra -
nhei, como a Coca Cola! Mas à medida que o tem-
po e os posts da
Carlota se sucediam, acabei por me ir colando ao Maravilh’Arte 21 e hoje acho esta iniciativa interessantíssima e bem merecedora dos esforços da Carlota para condimentar o concurso com informação completa, variada e interessante sobre as maravilhas do nosso planeta.

Não sei se a iniciativa dela está a ter muito sucesso, mas espero bem que sim. Aliás, tudo aquilo em que a Carlota se mete sai bem. O toalhete de ponto cruz é que ainda não chegou a Portugal mas deve ser atraso dos correios com certeza. Belgas, só pode. O
Maravilh’Arte 21 é diferente, estou certo que vai ter reconfortante resposta ao esforço. Vale a pena ler o regulamento e os posts todos que lhe sucederam.

sábado, novembro 25, 2006

"Getting old is cool"



Ilustração da Lucy

[1379]

know why? cos I don’t have to be cool anymore.
(after I’ve been to the supermarket, made a large curry for dinner, eaten it and burped a lot, beaten the children soundly and put them to bed, I may elaborate on that. Been there, done that.)


Last sentence's in brackets because I don't know how to use those smart dashes on the words!

E o jeito que dá a
Lucy manter a boa forma a que nos habituou nos últimos anos, nestes dias de reconhecido défice de espuma criativa.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Me worry?


[1378]

O meu saudoso pai tinha por hábito o gesto carinhoso de me pôr a mão no ombro, quando caminhávamos lado a lado. Isto causava-me alguma irritação, sobretudo na fase sensível de transição da adolescência para a idade adulta. Aquele toque paternal comprometia a suprema sensação de autodeterminação que começa aí pelos quinze anos, atinge o pico pelos vinte e um e normalmente termina quando casamos, a partir do momento em que a mulher nos passa a pedir para passarmos pelo supermercado no regresso do emprego, ou nos telefona a dizer que no fim de semana temos de ir jantar aos sogros (aos nossos, claro).

Mas enfim, a um pai perdoa-se tudo. As causas são nobres e o ascendente hierárquico caldeado num código genético que garante que, poucos anos depois façamos o mesmo aos nossos próprios filhos, acaba por ser aceite sem dramas. Já o mesmo não se poderá dizer dos nossos políticos. Estes senhores baseando-se num pressuposto dúplice que oscila entre o convencimento de que todos nós sem excepção constituímos parte integrante de uma massa ignara e idiota que é preciso manter mais ou menos feliz para não atirarmos com a sopa ao chão e a noção de intervenção divina da luz do conhecimento de como se lidar com o rebanho. Sobretudo no que tem a ver com o que vulgarmente se chama de governar por opinião pública.

A última tirada do governo foi o estardalhaço feito à frente da nova lei de televisão, criada por Santos Silva. Os rufos da apresentação da lei não chegam para ofuscar a noção clara de que esta gente não só se sente iluminada para produzir legislação mais ou menos inócua, como revela estarmos em presença de gente que claramente se compraz em exercer o poder, mesmo que da forma mais pueril. E com o poder se entretêm, pelo menos enquanto a mulher não telefona a dizer para não se esquecerem de passar no supermercado e trazer líquido para a loiça.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Uma desgraça



Graça Machel


[1377]

Hoje não há post. Escrevi um e não gostei. Curto, sensaborão e com menos graça que a graça que muita gente não tem. Era assim mais para a desgraça. Desgraçadamente, a graça tem andado arredia e eu acho fundamental que a graça nos acompanhe no que fazemos e dizemos. Sob pena de cairmos em desgraça. E como escrevo de graça, convém que o faça com graça. Há mesmo a distinta possibilidade de a Graça, uma amiga minha que mora na Graça e que é uma mulher cheia de graça, tenha a desgraçada ideia de me apontar a falta de graça de que este blog tem enfermado neste últimos tempos. E eu não quero cair em desgraça da Graça. Por isso é melhor não escrever post nenhum hoje. E esperar que o Divino me conceda a graça de poder readquirir um pouquinho da graça que às vezes me parece que tenho. E agora que me seja concedida a graça de me ir embora na graça do Senhor até que a graça volte. E que a Graça não leia isto. Não tinha graça nenhuma. Como este post. Graças a Deus.

terça-feira, novembro 21, 2006

Alcabalas

[1376]

Cada vez que alguém é detido para prestar declarações em tribunal
a tese da cabala instala-se. Mas, aparentemente, há cabalas e cabalas. Há as cabalas menores, circunscritas a meios menores como o futebol e assim, e as cabalas maiores. As graves. As que envolvem políticos e outras personagens de impoluta linhagem.

No fundo somos um país de cabalas e não sabemos viver sem elas. Desde o conselho que damos à amiga sobre o marido que anda a atraiçoá-la, sobretudo porque não desdenharíamos de lhe ver a cor da cueca, até aos planos de sofisticada urdidura para deitarmos uma figura proeminente abaixo. A vítima da cabala tanto pode ter direito a um minuto de televisão como a reportagem filmada em locais tão nobres como uma escadaria da Assembleia da República. Depende do “pedigree”, da envolvência e danos colaterais. Mais tarde tudo cai no esquecimento.

A dúvida que me fica, até porque não sou jurista, é o que acontece ao dinheiro das cauções. Por exemplo, ao fim destes anos Pimenta Machado recebeu o milhão de Euros de volta? Ainda está desembolsado? "Aquilo" ainda não prescreveu? E quando prescrever recebe o dinheiro de volta? Ou não se devolve e o arguido leva o valor da caução a despesas extraordinárias?

segunda-feira, novembro 20, 2006

Absurdo...



[1375]

Ontem vi uma mulher de fio dental, com uma bunda onde se poderia facilmente construir o novo aeroporto da Ota, por cima de um homem de expressão idiota. A cena foi levada para um ecrã gigante e o apresentador (porque era de um programa de TV que se tratava) gritava, suava e atirava-se contra o ecrã enquanto pedia, sôfrego: Água, água, água, que eu não aguento mais.

À frente de uma plateia de meia idade, uma outra mulher chamava porca à primeira, a plateia guinchava com histeria, ria e insultava a mulher de fio dental. Enquanto isso em rodapé passava o seginte: Ela deixou o Manuel porque ele tinha uma pila pequena e não a satisfazia.

Juro que não fazia a mínima ideia que este programa existia e, mais grave, que há gente que vê…

domingo, novembro 19, 2006

New York state of mind




Clicar na foto para aumentar

[1374]

Este post é para
ti. Para te “desentolheres”. É que não me passa pela cabeça que te vais embora sem escreveres pelo menos mais um post de Bruxelas, daquelas “tipicamente belgas”, com direito a foto da Ribeira do Douro ou da praia da Foz. Está tudo cansado da tua abulia, andamos todos para aqui a escrever para ti e tu… nicles. Fica aqui um som bem novaiorquino, daqueles de ouvir com fumo nos olhos e Bloody Mary na glote, e uma letra à maneira. Que aliás publico também, que é para a trauteares quando estiveres no banho, eu sei que não dá jeito levares o lap-top para o banho mas “prontes”…tiras o top, levas o lap e logo se vê que música é que sai.

Bom, isto é mesmo só uma lembrançazinha e também para te ires habituando à terra onde vais andar de “elevator”, usar o “refrigerator”, subir o “escalator” e admirares as “colors” das folhas dos plátanos no Outono. E escreve lá qualquer coisa…

Some folks like to get away, take a holiday from the neighborhood
Hop a flight to miami beach or hollywood.
Im taking a greyhound on the hudson river line-
Im in a new york state of mind.

I seen all the movie stars in their fancy cars and their limousines,
Been high in the rockies under the evergreens,
But I know what Im needing and I dont want to waste more time-
Im in a new york state of mind.

It was so easy living day by day
Out of touch with the rhythm and the blues,
But now I need a little give and take,
The new york times, the daily news...

It comes down to reality-and its fine with me cause Ive let it slide,
Dont care if its chinatown or riverside,
I dont have any reasons, Ive left them all behind-
Im in a new york state of mind.

Im just taking a greyhound on the hudson river line-
cause Im in a new york state of mind

sexta-feira, novembro 17, 2006

La dame à la rose...



[1373]

Depois da "liberdade poética" do post anterior, resolvi amputar Ségolène de qualquer factor adventício e perturbador de uma tentativa séria de penetração (salvo seja) na senhora através dos seus olhos, para lograr antever o que é que ela poderá trazer de novo a esta Europa decadente de lauriers de la victoire, já sem gosto nem aroma. Em expressão inglesa, tried to focus on the strict intelectual inner coat of the candidate. To no avail! The smaller the eyes the naughtier the thoughts. Fico por aqui. Prometo rever e reciclar a minha opinião sobre les filles gauloises.

As tu bien pris tes comprimés?


[1372]

Ele há sorrisos e expressões que remetem para um plano de pura irrelevância a intenção programática dos respectivos donos. Ségolène a “présidente”, já.

Os malandros, não querem lá ver?

[1371]

Imagine-se que o Governo joga com pau de dois bicos. Vai mudar a legislação se o resultado do referendo for o sim. Mas, espantemo-nos, fica tudo na mesma se o resultado for o não. Tudo isto mesmo não sendo vinculativo.

(Jerónimo de Sousa a falar para correligionários ontem, algures neste país que não pára de me obrigar a espremer as meninges cada vez que me proponho tentar perceber alguma coisa. Assim como quem esfrega os olhos, pela manhã, estremunhado, para acordar)

quinta-feira, novembro 16, 2006

Mare nostrum



Barracuda, nome geral dado aos peixes perciformes da família dos Sphyraenidae, género Sphyraena. Na imagem, Great barracuda. Recorde moçambicano 48 kg. Em Maputo pode ser encontrada apenas fora da baía, no Baixo Danae, Baixo de Santa-Maria e num maciço pedregoso a 12 milhas da ponta norte da Inhaca, rumo 90º (E). No interior da baía apenas se apanha a barracuda comum, recorde moçambicano, 18 kg.


[1370]

Do mar, conheci-lhe as entranhas. A luz dos corais e a escuridão dos fundos, a policromia do peixe-papagaio e da corvina real e o cinzento ameaçador do tubarão. Os cardumes de milhões de sardinhas ou cavalas a servirem de pasto a atuns, kawa-kawas, bonitos e albacoras e os batalhões de barracudas a fazer ordem-unida em bancos de pedra. Conheci também a lagosta, o xaréu, o peixe-galo, a corvina e a queen-fish. O dourado, a garoupa gigante e o choco. Conheci ainda a magia dos raios de sol penetrando nas águas, vistos de baixo para cima e até uma tartaruga me deu boleia na carapaça.

Do mar, conheci a superfície imensa, o horizonte de 360º, as ondas de “sulada” sopradas por ventos de quarenta nós e a acalmia azul das águas cansadas do movimento da véspera. Conheci o sol a irromper do mar pelo céu acima em madrugadas frias e dele me despedi muitas vezes, mergulhando no horizonte, quando regressava a casa depois de uma pescaria ou com o barco cheio de filhos cansados do ski, do “chouriço”, da moto de água, do mergulho. Conheci a chuva copiosa que acalmava estranhamente a superfície e me batia na cara enquanto eu mantinha o rumo certo da bússola. Conheci e pratiquei a pesca de alto gabarito, ferrando marlins, veleiros, whahoos, dourados e barracudas que saltavam acrobacias inimagináveis, os atuns preguiçosos e os tubarões enormes, possantes e lentos.

Conheci, enfim, o mistério permanente do mar, mesmo quando pensamos conhecê-lo bem. Conheci a surpresa, os perigos e a novidade. Soube o que significava sair durante anos para o mar e nunca ter feito duas viagens iguais. Saboreei noites de vigília em ilhas desertas, onde o marulhar das ondas se misturava com o “chap chap” do barco. E muitas vezes apagava as luzes e ficava a olhar para o céu que tinha tantas estrelas e tão brilhantes que mesmo nos dias sem lua nunca era verdadeiramente escuro. Era sempe possível ver a muitas centenas de metros de distância.

O mar deu-me o gosto do corpo salgado ao sol, deu-me a cor da saúde e a alegria de estar vivo. O mar deu-me prazer, inspirou-me e enxotou-me a abulia episódica dos dias mais cinzentos, gerou paixões muito boas e ensinou-me, ainda, que o meu planeta é mesmo azul e é, de certeza, o melhor planeta do Universo. Sem ele, o mar, eu não teria vivido nem metade das coisas boas que vivi nem saberia um décimo das coisas que sei.

Amei tanto o mar que acho que foi ele que me ensinou a amar melhor.

Ouvi na rádio que hoje é dia do mar...


No more sailin' …
So long sailin' …
Bye, bye sailin'...
Move on out, captain …
So long, ensign …


Bobby Darin, Beyond the sea

Latas no rabo do gato


[1369]

Habituei-me desde cedo à figura do puto irritante que povoa os cenários da nossa meninice e que procurava sempre justificar as suas tropelias em função do facto de os outros também o fazerem.
- Nelinho, roubaste plasticina?
E o Nelinho respondia, debulhado em lágrimas:
- Ó setôra, o Zequinha também andou a escrever nas paredes.
- Nelinho, roubaste os doces à Aninhas?
E o Nelinho, debulhado em lágrimas cínicas e afogado em sintomas de sacanice cromossomática geneticamente não modificada ao longo das décadas:
- Ó Setôra, o Janeca também andou a desenrolar papel higiénico no recreio.

O Nelinho é uma forma mais ou menos estereotipada que não se confina especialmente à rigidez de fronteiras geográficas. No caso de Portugal, a diferença é que os Nelinhos crescem e refinam a qualidade de justificarem o mal que fazem (ou de outrem de que gostem, como o clube de futebol da sua simpatia) com o mal que os outros também fazem. Daí que não me admire especialmente quando Daniel Oliveira ache muito bem que a Al-Jazeera seja sensacionalista e use a linguagem que agrada ao seu público, perguntando se a CNN não faz o mesmo! É o menino Nelinho em força, usando argumentação malandreca e espertalhona que já usava na escola. No caso da Al-Jazeera, Daniel Oliveira esqueceu-se de referir que não me consta que a CNN seja uma célula mais ou menos dissimulada de qualquer grupo terrorista dos Estados Unidos. O que não é manifestamente o caso com a Al-Jazeera, que funciona praticamente “on behalf" da Al-Qaeda.

O que choca é que não estou a descobrir nada, toda a gente sabe. E toda a gente sabe porque opiniões insuspeitas o dizem.

Daniel Oliveira é assim. Um dia ainda o vou apanhar a roubar o giz do quadro preto ou a espreitar as saias da professora e a espetar alfinetes nos olhos do papagaio. Nada que seja de minha conta, apenas uma pequena irritação…

quarta-feira, novembro 15, 2006

Grrrrrrrrrr


[1368]

Afinal ocorreu-me qualquer coisa. E é sobre Santana Lopes. É que, de repente, atirou-se com
mais um naco de carne à matilha e a matilha resfolega de gozo, abocanhando a carne, rasgando-a e nem sequer a come. Cospe-a até que venha a “raiva com pernas” e lhe dê o destino final.

É preciso que eu diga que não tenho qualquer especial simpatia por Santana Lopes e também acho que o homem não seria um bom primeiro ministro, em nenhum caso. Uma opinião como outra qualquer. Agora, o que verdadeiramente me impressiona é esta psicose de massas. Toda a gente esquarteja a criatura, todos acham que ele se faz de vítima, dorme sestas, puxou umas passas, deve dinheiro e dormiu com umas quantas mulheres (neste particular não me consta que tenha violado alguma, julgo tudo ter sido em registo qca –“queca de comum acordo”, pelo que não descortino dolo, acho até mais saudável que aqueles encontros de Íbis, de fugida e à sorrelfa, mas cada um sabe de si). Acham-no ainda inculto, vaidoso e mesmo aqueles que acham que Chopin é uma imperial pequenina, se rebolaram a rir com a história dos violinos de Chopin, não sabendo bem, ainda hoje, do que realmente se trata.

Mas isto para dizer o quê? Para dizer que o livro está aí. E que os posts e artigos no jornal também. O DN foi ao ponto de anunciar o lançamento do livro na primeira página de ontem, lado a lado com uma notícia (certamente por mero acaso de paginação…) em que Santana parece estar tremido na fotografia. O que eu ainda não vi foi alguém dizer. “A páginas tantas do livro de Santana Lopes tudo o que ele diz é mentira. É invenção. Não foi nada assim, foi assado”.

Fico à espera de ver se acontece alguma coisa nesse sentido.

Blank

[1367]

As “brancas” aqui na Blogos deviam ser proibidas. Afinal abundam por aí coisas e pessoas de que dizer mal. E bem. E há chatices, alegrias, vontades e desilusões. A questão é que tão depressa achamos graça a uma vírgula como nos perdemos durante longos minutos em “mode” contemplativo perante carradas de assuntos que poderiam servir muito bem para escrever um post com algum interesse. E é nessa fase oscilante entre a contemplação e a estupidez que me encontro neste momento. Assim como quando estamos a sonhar e queremos bater em alguém. Atiramos um formidável soco capaz de pôr “knocked out” uma montanha de músculos e o punho vai perdendo ímpeto numa trajectória longa e acaba por atingir o nosso opositor como um afago de carinho.

Há pessoas que resolvem as brancas não postando. Mas se eu não fizer um post, por anódino que seja, o que é que eu faço depois de tomar o café e antes de ir para o chuveiro? Fica a faltar qualquer coisa. Daí que apesar do vazio das ideias e da mola pasmada das vontades, tenha passado por aqui para dizer isto mesmo. O que disse.

Também acontece ocorrer-me qualquer coisa que me impele a fazer um post. E é quando “aqui” chego e vejo que alguém já se me antecipou. E escreveu, por vezes, o que me apetecia escrever. Frequentemente, melhor. Por isso (e agora fui interrompido por um quadro enorme no monitor a dizer “No Vírus found” – é o que eu digo, não acontece nada!), remeto-me à minha condição de cepo castrado durante uns dias e vou deixando a banda passar.

terça-feira, novembro 14, 2006

Pressa


[1366]

Tenho saudades dos meus Invernos de miúdo. Do frio intenso, da chuva miúda e dos dias cinzentos. Eram Invernos que me faziam desejar o regresso rápido do Verão seguinte.

Agora temos sol, sol, muito sol e até a chuva cai aos bochechos para chatear os “patos bravos” do nosso descontentamento que nos continuam a “desordenar o território”, isto para usar uma linguagem mais ou menos de autarquia. E poeira. Há pó. E calor. Necessidade frequente de um segundo duche do dia, ao chegar a casa.

Não alinho muito no “mainstream” actual do aquecimento global e do papel central de George Bush na coisa, até porque sei que há milhões de anos não havia gelo nos pólos e os continentes tinham formas diferentes. Mas que há mutações demasiado rápidas há. Afinal os dinossáurios levaram milhares de anos a extinguir-se e nós estamos a assistir a mudanças substanciais em décadas, que são uma forma atomizada do átomo que uma década representa na idade da Terra.

NOTA: O interesse e valor deste post está na razão inversa da pressa com que estou de ir para o chuveiro e voar pela marginal a caminho de Lisboa, onde me espera uma série de coisas para fazer. Vistas bem, não muito diferentes das de ontem. Ou de anteontem. Porque será que todos os dias acordamos com a ideia que temos uma data de coisas para fazer diferentes, quando elas são rigorosamente as mesmas que fazemos durante anos, apesar de um pormenor aqui ou ali?

segunda-feira, novembro 13, 2006

Caçaram uma "floribella"


[1312]

Assistir ontem ao debate na Assembleia entre Sócrates e os
Gatos Fedorentos e ver uma “floribella” apanhada na ratoeira armada nos bastidores dos estúdios da RTP produziram momentos verdadeiramente hilariantes - e definitivamente remeteram Herman José para um estádio de amorfismo pretensamente enfeitado de asneirolas e sexo baratucho e pateta.

Investigue-se, já.


[1311]

Se houve fenómenos sociais no meu país que nunca me suscitaram realmente grandes inquietações, a nossa propensão inata para o policiamento das massas e a bondade e, diria mesmo, o regozijo, com que o mister de bufo era aceite e respeitado foram alguns deles. Durante algum tempo da minha juventude me interrogava sobre as verdadeiras razões da nossa manifesta competência para a delação e para a insuportável atitude de superioridade de algumas criaturas que se sentiam iluminadas, quiçá pelo divino, para gerir os nossos destinos.

Com alguma rapidez concluí que este desiderato era uma caldo de cultura perfeito para a ocorrência de ditaduras e de ditadores. Já porque é que éramos tão bons a ser bufos e delatores e achávamos que detínhamos o exclusivo das grandes decisões, me passava um pouco ao lado. Hoje entendo-o um pouco melhor, ainda que longe da plenitude de entendimento deste tipo de factores intrínsecos à “marca” lusitana”.

Apesar de tudo somos distraídos, estouvados e mal arrumados. Não fora a Universidade de Santiago de Compostela ter-se lembrado de retirar o doutoramento honoris causa ao caudilho espanhol e o facto de a Universidade de Coimbra ter feito o mesmo passaria despercebido no trânsito. Mas, lembrados pelos espanhóis, de imediato passámos à acção. E das várias acções indignadas que apareceram por ai, destaco o elevado debate entre Medeiros Ferreira e Vital Moreira sobre o assunto. É que um acha que a universidade de Coimbra deveria fazer o mesmo que a de Santiago de Compostela. Já o outro acha que isso é irrelevante. O que verdadeiramente conta é julgar a história e os prevaricadores. Afinal não foi assim há tantos anos e, com sorte, ainda se caça algum dos mentores da decisão do doutoramento, suficientemente vivo para que seja devida e exemplarmente punido.

Há estados de alma que não passam com a idade. Acho mesmo que se refinam!

sexta-feira, novembro 10, 2006

Be back on Monday


[1310]

Peço desculpa àquele
senhor simpático da Quercus, mas vai ter que ser de avião. Ainda hesitei, pensei, mas depois concluí que ainda que eu fosse de carro ou de comboio o avião partia sem mim, na mesma, pelo que gastaria a mesma gasolina e expeliria (como soa mal este expeliria…) exactamente a mesma quantidade de gases.

Vou ali e já volto (ando a trabalhar demais para o meu gosto…) e desejo a todos um bom fim-de-semana.
Cuidado com as correntes de ar, com a greve da função pública e com os engarrafamentos da segunda circular (e da VCI, também, senão os meus amigos do Porto dizem logo que só se fala em Lisboa e que no Porto também há engarrafamentos decentes). E na segunda-feira cá estamos todos outra vez.

Um excelente fim-de-semana para todos.
(
Laura, hoje enchi isto de hífens!)

Cachecol, já


[1309]

"Céu geralmente limpo em todo o país mas atenção que as temperaturas vão baixar. Temperatura prevista hoje para Lisboa 15-24".

(Ouvida esta manhã na RTP, na previsão do tempo para hoje)

quinta-feira, novembro 09, 2006

Já cansa...


[1308]

Hoje e amanhã não há funcionários públicos. Se não fosse a circunstância de estarmos condenados a ouvir na televisão para o resto do dia o blá blá blá blá de Carvalho da Silva e de um senhor chamado Betencourt Picanço eu diria até que a coisa não era mal “alembrada” e poderia ser “refreshing” para o espírito.

Também não há barcos. Nem metro. Mas vai haver pilhas de entrevistas de rua com cidadãos a dizer que compreendem as acções dos grevistas. Portanto, queixamo-nos de quê
?

quarta-feira, novembro 08, 2006

Copianços



[1307]

Estas coisas têm de ser denunciadas:

O
aspirinaB publicou este post. O post mereceu um comentário de um tal "mocho", sem link, que é uma cópia até à vírgula de um texto da Laura no seu Na Senda das Beiras.

O assunto é já de Abril mas só agora dele tive conhecimento.

Independentemente do facto de ler a Laura todos os dias, penso que o mínimo que posso fazer perante uma situação destas é denunciá-la, dar o seu a seu dono e saudar a Laura por esta pulhice de que foi vítima.

Life's a bitch


[1306]

Recebida por mail

A little longer...














[1305]

Com a devida vénia à
Carlota, não resisti a copiar-lhe estas fotos da nossa primeira dama.

Depois de as ver lembrei-me de uma tabuleta que vi uma vez numa loja de molduras em Londres e que dizia: "The impossible, we do it immediately. Miracles take a little longer". No caso vertente eu diria que it took a little longer but it was worth waiting
.

Post dedicado



[1304]

Querida amiga. Admitamos que depois de uns dias à la mode de chez nous o ressurgimento do sol, hoje, nos traz o brilho da vida. As folhas que restam do Outono estão mais verdes e ainda a pingar, o asfalto permanece molhado nas bermas, o céu ensina-nos que além do azul escuro e do azul bebé também há azul deslumbrante, o ar está lavado e a nitidez do cenário é tal que nos sentimos impelidos a sair aí pela cidade a fotografar tudo o que esteja a ser batido pelo sol.

O dia está tão bonito que prometi a mim próprio ir para o trabalho com uma pequena check list a cumprir, como seja:

1. Não ouvir o Fórum da TSF;
2. Ouvir o CD do Louis Armstrong a cantar It’s a wonderful world;
3. Não hesitar entre a marginal e a A5. E ir pela marginal, claro.
4. Dar tréguas ao número de pessoas que vou ouvir hoje a dizer que trouxeram um casaquinho de malha porque à noite arrefece.

A gaveta vai ficando cheia...


[1303]

A face desprezível, vil e sacana do nosso Partido Socialista está
aqui, neste notável artigo de Helena Matos.

A questão é que o Partido Socialista nunca poderia impor-se de outra forma que não
esta, por absoluta carência de gente capaz. Assim, resta-lhe o folclore da oposição e “guterrar” alegremente sempre que ganha o governo.

Desta vez a coisa está um pouco diferente. Ainda assim, e na minha opinião pessoal, o realismo das medidas que Sócrates tem vindo a tomar na actual legislatura tem mais a ver com um quadro circunstancial de tremendas dificuldades (geradas, aliás e em grande parte, pelo populismo e irresponsabilidade dos seus antecessores) do que por mérito próprio.

terça-feira, novembro 07, 2006

Sinergias


[1302]

E quem disser que a sinalética portuguesa é confusa ou pobrezinha, o pai dele é gato!

Minuto verde


[1301]

Hoje acordei com a voz melíflua de um “vigilante” da Quercus que no “minuto verde” que a TV oficial lhe atribui todos as manhãs me disse qualquer coisa como os aviões gastam muito gasolina, expelem muitos gases e, por conseguinte, contribuem para o aquecimento do planeta. Em conformidade, o zeloso conselheiro pede-me que eu viaje de avião só se for mesmo necessário.

Entre o estremunhado e o sentimento recalcado de atirar com o despertador ao televisor, acabei comigo a pensar como é que uma pessoa há-de gerir os seus equilíbrios emocionais quando está sujeito a este tipo de agressões, logo pela manhã, em pleno processo fisiológico de correr as cortinas à inteligência e começar mais um dia. É que eu visito um país africano, sei que há malária e previno-me. Agora contra este tipo de agressões, não há profilaxia que vingue. Poder-me-ão dizer: Não oiças as notícias. Mas… não é normal que uma pessoa tome o pequeno almoço na sala ouvindo as principais notícias e informações úteis, como o trânsito, a meteorologia? Ou terei de me condicionar apenas porque um senhor careca, de camisa azul (era o caso), expressão angelical e voz de prior de freguesia vítima dos gases de estufa e elevados consumos de combustíveis fósseis que a globalização nos trouxe me entra pela casa dentro e tira do sério pedindo para viajar de avião apenas se for absolutamente necessário? Logo hoje que tenho a tarde livre e estava a pensar em ir a Faro e voltar só para dar uma voltinha de avião…

segunda-feira, novembro 06, 2006

Matar porque posso


[1300]

A pena de morte e o aborto são talvez as inquietações mais frágeis das minhas opiniões. Por mais que busque a abstracção que me permitiria uma análise fria deste fenómeno social em que o colectivo dispõe da liberdade e direitos individuais, usando o poder discricionário de homens que estão tão sujeitos a errar como o condenado, e que em circunstância alguma me dão garantias da justeza e sabedoria das decisões. Sobretudo porque me habituei a desconfiar dos homens com poder. E é disso que se trata. De poder que, no caso da decisão sobre a vida ou a morte, é particularmente permeável a factores exógenos à apreciação da matéria em apreço – as razões que justificam retirar a vida a alguém.

Com a recente condenação de Saddam à pena capital, história que deve estar ainda longe do seu epílogo, começam a surgir vários posts de opinião. Todos eles, ao que li até agora, contrários à aplicação da pena de morte. Mas inevitavelmente ligando a opinião ao facto de não ser humanamente aceitável retirar-se a vida seja a quem for, seja pelas razões que forem. Eu também sou absolutamente contra a pena de morte. Porém, sou contra mais pelo facto de, para mim, bastar haver uma possibilidade de erro de um milhão, para liminarmente a rejeitar. Imagine-se um condenado ser executado por um crime de que está inocente. E não são tão raros assim, os casos em que a justiça se engana. Umas vezes a tempo de emendar a mão, outras, demasiado tarde.

Há ainda outro aspecto que me impressiona. É que a aceitar a pena capital como justa, o que não é manifestamente o meu caso, penso nas razões porque uns são executados e outros se passeiam impunes em gabinetes onde decidem sobre, por exemplo, a matança de mais uns quantos empecilhos. Os exemplos são demasiadamente numerosos para caberem num post. E isso também me arrepia.

domingo, novembro 05, 2006

Maus tempos



Maputo - Inundação do ano passado. Av 25 de setembro, cruzamento do Scala e do Continental. À esquerda a Casa Coimbra e à direita o BIM:


[1299]

Uma vez, em Maputo, não há muitos anos, rebentou uma depressão tropical em que o Índico, aliás, é fértil. Uma chuva torrencial durante cerca de doze horas seguidas e ventos ciclónicos a roçar os 200 km/hora, destruíram a cidade, arrancaram árvores, gente morreu nos subúrbios e a cidade ficou privada de energia e água durante uma semana.

Como tinha barco, ocorreu-me levar a família para o Hotel da Inhaca, já que ali haveria água e luz de gerador sem problemas e lá atravessei as cerca de vinte milhas náuticas da baía por entre destroços de palhotas arrastadas pelo Maputo, Tembe e Umbelúzi, animais domésticos e bravios mortos, cadáveres de moradores nas bacias dos rios, uma visão trágica, enfim, da força dos elementos da natureza. Nos dias seguintes à tempestade, incorporei-me num grupo de seis barcos e subimos o rio Maputo e para aqueles que conheçam a zona, posso dizer que passei de barco sobre a ponte de Salamanga, na estrada para a Ponta do Ouro, só para que se perceba o nível das águas. Salvámos um considerável número de pessoas que se manteve empoleirada em copas de árvores, alguns durante dois dias, e no fim de tudo tive uma sensação reconfortante de ter ajudado. Recebi até um prémio de muito significado para mim, um diploma de honra do governo da Frelimo e um prémio que consistia num volume de cigarros Nilos, uma lata de cera, um pacote de bolachas da Ceres, 5 kg de arroz, 5 kg de açúcar, 5 kg de amendoim e uma capulana. Foi uma cerimónia simples após a qual eu e os outros expatriados que havíamos ajudado ao rescaldo da tragédia doámos o prémio, como era natural. Fiquei apenas com a capulana, como recordação.

Tudo isto a propósito de quê? A propósito de achar que vivo num país que goza de um dos melhores climas do mundo, com frios amenos e calores episódicos, onde o sol brilha quase todo o ano, onde a chuva cai normalmente em regime de aguaceiros cuja continuidade não ultrapassa os cinco minutos. Mau grado a mariquice nacional do casaquinho de malha e da corrente de ar e das vezes que oiço está um frio horrível cada vez que o termómetro baixa dos vinte graus, penso ser consensual que o nosso clima é benigno. E, todavia, de cada vez que cai um aguaceiro mais intenso, é o caos. Em Lisboa, nem se fala. Cinco minutos de chuva são suficientes para as televisões noticiarem as centenas de chamadas de bombeiros. E um pouco por todo o país, como ainda agora aconteceu, as inundações sucedem-se, as estradas ficam cortadas, os comboios param, as casas desabam, as rotundas desaparecem (esta parte não faz assim grande diferença, podiam desaparecer umas quantas, de vez) e instala-se um clima de pânico. Mais. De revolta. Toda a gente vem para a televisão zangadíssima, não sei bem com quem, julgo que com o governo, as câmaras, com os políticos, instigados por repórteres que fazem as perguntas mais idiotas que é possível imaginar. A parte trágica da coisa é normalmente ilustrada por umas quantas mulheres a chorar e homens (muitos deles jovens com mais de 80 kg e um metro e oitenta) com as cabeças entre as mãos a dizer que a vida deles está desgraçada. Porque, na maior parte dos casos perderam o frigorífico, o micro-ondas e a mesinha de cabeceira.

Eu não percebo muito, nem muito nem pouco, de meteorologia mas parece-me que a facilidade com que estas inundações acontecem tem a ver, apenas, com a mais desregrada forma de vivermos. Não há ordenamento de território, há construção clandestina, as casas estão todas umas por cima das outras, as câmaras aprovam ou reprovam segundo critérios à nossa maneira, é a corrupção, é a nossa reconhecida falta de civismo, é a educação, é a cultura, é tudo, mas tudo a contribuir para que dez minutos de chuva causem tamanho caos.

Quedo-me a pensar que se um dia, por absurdo, tivermos um Katrina em Portugal, ou o tal Domoína que varreu Maputo, o que será deste país de muros, marquises, arranjos, acrescentos, desníveis, valetas entupidas, leitos de cheia com construção permanente, casas, casinha e casebres ao longo das estradas, misturadas com caixotes de apartamentos, esgotos que não há, asfaltagens que ficam para depois, obras, muitas obras, buracos, valas, bandeirinhas vermelhas e tabuletas a dizer “trabalhos” em qualquer parte do território nacional e sempre no nosso horizonte visual, se tivermos, dizia eu, uma tempestade a sério, o que será deste país? E a culpa é de quem?

sexta-feira, novembro 03, 2006

Parabéns


[1298]

Parabéns a mim. Que faço hoje um ano que deixei de fumar. Foi a 3 de Novembro de 2005 que eu disse “nem mais um cigarro para as colónias”, sendo que as colónias, no caso, eram uma massa esponjosa onde se fazem as trocas gasosas do sangue que me corre numas artérias finórias de nome e coronárias de apelido que, por acaso, estavam um bocadinho para o apertado. Feitios! Ele há artérias para tudo e quando menos esperamos lá aparece uma ou outra com um claro ideário suicida e, sem avisar, resolve rebentar só porque amuou por lhe termos andado a dar nicotina durante uns anos.

Dizer que hoje sou outro homem não chega. É preciso fumar e deixar de fumar para percebermos que é possível viver com novos cheiros, sabores e fazer exercício físico até partir a cantareira, que é uma maneira menina de dizer que é possível cansarmo-nos estupidamente sem arfarmos, tossirmos, cuspirmos e pigarrearmos. É tudo bom. Fica, eu sei e confesso, uma nostalgia muito grande do cigarro entre os dedos, que levamos à boca para uma formidável fumaça que nos inunda o corpo de prazer. Fica uma sensação “tartamudeante” e idiota de quem não sabe bem o que fazer no fim de certas tarefas, tais como comer, tomar um café, sentarmo-nos ao volante do carro ou atender o telefone. Fica ainda desfeita a mais famosa trilogia universal, as melhores três coisa do mundo que são, como se sabe, um wisky antes e um cigarro depois. Para mim já não há depois, tive de inventar posfacios que não têm nada a ver com um cigarro. Como há muito que não bebo, também já não tinha prefácio. Fica-me o “entretanto”, o “in between” que, espero, me não pareça despiciendo para quem dispensou o “antes” e o “depois”. Quando me faltar o “in between”, atirar-me-ei, provavelmente, duma ponte, não sem que, antes, acenda e aspire um formidável cigarro.

Visto isto e tudo somado, quero deixar um conselho amigo para todos os que fumam. Por muito que a vida nos pareça sem sentido, por muito que a bica nos puxe, que o atender do telefone nos empurre, que as outras duas melhores coisas do mundo nos tentem ao acender de um cigarro, quero aqui deixar bem expresso que abandonar o cigarro foi talvez a mais avisada decisão que tomei na minha vida. Não era muito difícil, eu sei, tão poucas foram as decisões avisadas que tomei, mas tenho de reconhecer que hoje sou outro homem. E não sabia que era possível tantas coisas serem tão boas. Pelo menos, andava esquecido.

Vão por mim. Parem o cigarro. Já. Sobretudo não recorram a adesivos, pastilhas nem posturas programáticas que tudo isso é um factor de stress acrescido. Deitem o cigarro fora, period. E daqui a um ano falem comigo.

PS. E agora vou para casa que hoje é fim de semana e trabalhei demais para o meu gosto. Bom fim de semana para todos.

Abobrinhas


[1297]

O Halloween e o Valentine’s ou, em versão lusa, o dia das bruxas e dos namorados são um bocadinho assim como o MacDonalds. Toda a gente usa, muitos gostam e uns quantos sentem-se preocupadíssimos com a influência anglo-saxónica na nossa sociedade.

Tendo vivido numa sociedade de extracção anglo-saxónica durante muito tempo aprendi a conviver com ambos e os meus filhos rapidamente absorveram o hábito e o gosto pelas abóboras e pelos cartões de namorados, sem que isso me perturbasse ou eles deixassem de ser portugueses.

Em Portugal há os puristas da coisa. Nada contra. Se somos portugueses não devemos sentir-nos compelidos a celebrar bruxas nem namorados, mesmo que mantenhamos incursões regulares a Vilar de Perdizes ou namoremos, como as pessoas. Intolerável é a inevitabilidade da consciência política daqueles que acham que, uma vez mais, estamos a ser
vítimas de uma estratégia globalizante e imperial dos Estados Unidos, mesmo quando o dizem entre dentes. Intolerável e insuportável. Porque se preferimos a patanisca ao hambúrguer, nada nos obriga a vacilar na escolha. Não podemos é passar a vida a espumar raivinhas contra os americanos enquanto trincamos um double-cheese burger e prometemos um vestido de aranhas à filha ao mesmo tempo que rabiscamos um postal para a namorada. É pífio e leva-nos tão longe quanto tentarmos instituir uma cadeia de feijoada transmontana nos Estados Unidos. Não porque os americanos receiem a gesta imperial dos lusitanos mas pura e simplesmente porque não gostam de feijoada. Nem sequer a entendem…

quinta-feira, novembro 02, 2006

À patada?


[1296]

Serve este post para dar publicidade ao comentário de Carla Castelo, uma Mãe da EB 1 (Linda a Pastora)
ao meu post 1288, onde eu me congratulava pela forma como as mães haviam protestado contra a falta de pessoal na referida Escola.

"...Infelizmente, até agora, o nosso protesto foi ineficaz. Nem a Ministra da Educação nem os responsáveis da DREL se envergonharam. Pelos vistos só se envergonham quando pais fecham escolas a cadeado. Não quisemos protestar contra uma ilegalidade(abrir uma escola sem o pessoal auxiliar suficiente para o seu normal funcionamento) com outra ilegalidade. Pensámos que um protesto cívico resolveria o problema. É triste constatar que não..."

É triste constatar que, realmente, em certas condições e com certa gente só a linguagem da patada funciona. Talvez eu recicle a minha opinião sobre o sistema dos cadeados...

"Tiques" que ficam


[1295]

John Kerry, cavalgando a onda do costume e dirigindo-se a estudantes na Califórnia terá dito:
"You know education, if you make the most of it, you study hard, you do your homework, and you make an effort to be smart, you can do well. If you don't, you get stuck in Iraq." Ou, diria eu, better find yourself a tomato sauce queen to wed.


Há tiques que nunca desaparecem e já na nossa guerra colonial era mais ou menos assim. Ou és inteligente, esclarecido e foges para Paris para trabalhar num museu e escrever panfletos, ou vais parar com os coutos a Angola. Pior do que isso. És um infeliz caso de obscuridade política e estás condenado às trevas do desconhecimento.

Almôndega Kid


In O insurgente, com a devida vénia

[1294]

E para aqueles meus amigos que não perceberem o cartoon, olhem lessem Eduardo Prado Coelho, que escreve no Público. É barato, não dá milhões, mas é um excelente tratamento ao fígado. Embora seja como o álcool, tem de ser em doses moderadas senão podemos desiquilibrar a coisa e diminuir os efeitos no colesterol bom e aumentar o mau. Da fita. O outro colesterol. O que dá enfartes.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Eu podia ser bruxo...

[1293]

Eu não disse?

É só esperar por mais uma limpeza étnica
lá no blogue que ele já conta. Para já parece vir emocionado, siderado, revoltado e atónito. É esperar um pouco mais!

Chuinga


[1292]

Mascamos uma “chuinga” e, ao fim de meia hora ela já não sabe a nada. Masca-se, masca-se e é o vácuo de sabores.

Mas
esta é diferente. Faz ontem dois anos que a andamos a mastigar e ela mantém vários gostos, tantas são as frutas de que ela é feita. Uma ou outra faz-me um bocadinho de azia, mas as outras corrigem-me o Ph e fazem com que a Chuinga seja uma das minhas pastilhas favoritas, por aqui. Cheia de bons sabores, cores apelativas e odores relaxantes.

Parabéns e vou continuar a mastigar-
te. E um grande beijinho

Tchin-Tchin