quarta-feira, maio 31, 2006

Calor, maminhas e leis laborais


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Do milhão de carnes diferentes servidas nos restaurantes de rodízio, devo comer duas ou três, sendo que uma são aqueles pedacinhos de peru (julgo) embrulhados em bacon. Mais uma colher de feijão e outra de arroz, está feita a festa. Rejeito o fiambre grelhado, as maminhas (nunca pensei… mas rejeito) e as batatas fritas. Do buffet de sobremesas vou buscar um pedacinho tremelicante de gelatina só para tirar o gosto à picanha e está a refeição feita.

É necessário referir que eu só vou a estes restaurantes quando tem de ser. E, às vezes, o "tem de ser" é forte, como ontem, despedida de uma colega da empresa que fez umas contas e achou que se for para o desemprego, mais a indemnização que estava a receber do último emprego, mais os anos que não sei quê e o tempo acumulado que não sei quantos juntamente com a reforma antecipada, mesmo descontando não sei quê porque ela ainda não tem idade, permite-lhe ir para casa uns tempos receber daqui e dali e ficar a perceber uma remuneração superior mais elevada do que a que ela percebe agora, trabalhando.

A senhora é óptima, nada contra, eu faria provavelmente o mesmo, mas dá-me que pensar este intrincado sistema nacional de leis de trabalho que tão depressa atiram com um desgraçado para a miséria com uns cobres de subsistência tipo se compro medicamentos não como, se como, fico à beira de um ACV, como, dentro da mais perfeita legalidade, proporcionam situações de uma inextricabilidade absoluta para quem não percebe nada destas "nuances" (o meu caso) mas que, na prática se traduzem numa remuneração elevada.

Segredos complexos das nossas leis de trabalho. Mas quando descobrimos que um carro produzido na Azambuja custa mais €500 que numa congénere situada noutros países da Europa, aqui d’El Rei que as deslocalizações não sei quê e a globalização não sei quantos.

Mas isto, na verdade, vinha era a propósito do restaurante. Duas ou três peças de carne (sem maminhas, repito…) e uma conta daquelas de fazer corar um banqueiro. Ainda não percebi o fascínio que este tipo de restaurantes exerce nos portugueses, sobretudo pelo que se come e pelo que se paga. No caso de ontem, a tragédia foi agravada porque havia doze (doze…) aparelhos de ar condicionado e, por isto ou por aquilo, não funcionavam. Ao fim de meia hora eu acho que tinha tanta gordura na testa como nas maminhas servidas, a atmosfera estava um pesadelo e, mistério insondável, ninguém parecia estar incomodado. O que me leva a pensar que o defeito é meu, só pode. Valeu a boa disposição, gente bem disposta, de maminhas no prato (toda a gente gosta…), e um par de anedotas temperadas pelo suor que me escorria da testa
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23 Comments:

At 9:38 da manhã, Blogger RAF disse...

Brilhante!

 
At 11:02 da manhã, Blogger PreDatado disse...

Umas maminhas gordinhas até que não é tão mau assim.

 
At 12:20 da tarde, Blogger Carlota disse...

Estás muito inspirado, hoje, sim senhor!
A saída da rotina proporciona-nos bons posts, está visto! E as maminhas também, ao que parece! :)
Partilho essa tua opinião sobre o fascínio que os rodízios exercem nos portugueses, bem como a aversão aos mesmos (aos rodízios, claro está!). Detesto que passem a vida a depositar-me carne no prato, quando ainda não acabei de comer a que tenho à frente. E tenho ataques de pânico quando me vêm com a frutinha (quem é que gosta de fruta misturada com salgados?!!). A verdade é que do que gosto mesmo são as batatas fritas e o feijão! :D
Beijola.

 
At 3:14 da tarde, Blogger Periférico disse...

Eu acho que esse tipo de restaurante só acaba por ter uma boa relação qualidade preço quando o cliente é do tipo de comer tudo o que tem direito. Para estômagos "elegantes" como o meu acaba por ser sempre um mau investimento... ;-)

Um abraço

 
At 4:32 da tarde, Blogger papoilasaltitante disse...

Há tantos casos desses...
Quanto aos restaurantes de Rodzio, estou como tu... só mesmo algumas carnes!!
Hehehe!

 
At 5:51 da tarde, Blogger 125_azul disse...

Ahhhhhh, lindo, lindo! Mesmo que ainda estivesse de mau humor, teria passado neste instante. Mas não sou moça para aguentar mais do que 12 minutos de neura por semana. Feitios! Isto posto, sobre maminhas, não te rales que há muito quem não goste. Eu não como carne, ir a um restaurante desses é um suplício. Também para o bolso, claro. E as leis laborais para mim são terreno tão aversivo como os restaurantes de rodízio...

 
At 6:25 da tarde, Blogger Sinapse disse...

... a mesma dificuldade em todos os restaurantes de fórmula 'coma o que quiser' ... por muito que eu coma, é sempre caro demais para a quantidade que consigo comer ... com a agravante de ficar logo 'enfartada' pela abundância da oferta e a rapidez com que tudo tem de ser processado ... e, logo, comer ainda menos ...

Agora ... ir a um Rubaiyat, sem ser em 'plano rodízio', e comer picanhazinha, maminha, ananás assado, chouricinha, baconzinho, baby beef, huuummmm ... já estou a salivar ...
Haverá coisa mais ternurenta no mundo-talho do que uma carne designada por baby beef?... Não sei se a expressão é marca registada do Rubaiyat, mas adoro, adoro! ... baby beef ...

Beijinhos, depois de ignorar totalmente o tema esquemas/reforma/salário/esquemas,
Sinapse

 
At 7:57 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Se fosse uma "grossa" diria que acabei de ler alguem profundamente obcecado em maminha(s)...valha-me a finura que transbordo que me permite agora dizer que o "tuga" têm mais olhos que barriga e por isso, tudo o que se lhes apresente à discrição cega-os fortemente levado-os muitas vezes a deslumbramentos carnais:)!
Espero que o "menino" tenha uma boa semana!

 
At 10:18 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

raf
Um abraço e obrigado pela simpatia

 
At 10:19 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

predatado
Tenho de confessar que não conhecia o seu blog. Em matéria de frutas estamos conversados e fiquei com uma vontade louca de lá ir roubar o poema dos morangos :)
Um abraço

 
At 10:21 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Carlota
Foi da tua chegada, minha amiga :)
E tens razão. A quebra de rotinas é benéfica para um apontamento "blogoesférico". A manutenção de rotinas mecaniza-nos um pouco.
Obrigado pelas tuas palavras sempre gentis.
beijolas

 
At 10:23 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Periférico
Concordo em absoluto. Sempre embirrei com estes restaurantes, Mas a escolha não era minha. Limitei-me a "ir" :)Um abraço

 
At 10:23 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

papoilasaltitante

Carnes da ministra da educação? Picanha? Maminha?
:)))
beijinho

 
At 10:24 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

125_azul
Folgo em ver-te recuperada da mosca :))
Beijinho

 
At 10:33 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Sinapse
Eu andava desconfiado que eras uma meat-eater. :)) Falando de baby beef, conheço um restaurante no Kenya (Kayhanyama, que eu não tenho a certeza mas julgo que quer dizer beef em swaili, que tem os melhores monkey gland, rump, fillet, sirloin, t-Bone, the whole lot steaks que são os melhores do mundo :)) Se um dia lá fores eu digo-te onde é. E em matéria de baby beef a coisa então torna-se obscena, mesmo assim, fico-me por um robalo selvagem aqui para as minhas bandas ou uma boa peixeirada em Olhão.
Beijinhos e mais uma vez chapeau pelo texto lindo que escreveste (aquele em que te deu um ataque de loura e julgavas que eu te estava a dar os parabéns pelos teus anos):)
Beijinhos mal passados

 
At 10:42 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

alexiia

A menina faça o favor de ser grossa à vontade - gostar de maminha poderá ser algo arrivista em matéria de gastronomia e era rigorosamente no plano gastronómico que eu me estava a referir a maminhas. Sem embargo de outros cenários e substância de igual etimologia em que, felizmente, não passo ao lado como a raposa pelas uvas. Ainda que renegue o epíteto de obcecado que é coisa que não sou, a não ser quando me apaixono, mas isso é coisa que me acontece apenas para aí uma vez por ano e sem muito graves efeitos colaterais
Clarificada esta questão, resta dizer que não tenho mais olhos que barriga, pela liminar razão que me vai crescendo o pneu o que poderá levar, a curto trecho, a ter mais barriga que olhos. Se perco em estética, poderei pelo menos e eventualmente ganhar em sabedoria quem como todos sabemos, não é factor despiciendo em se tratando de maminhas.
É o que se me oferece comentar a tão jocoso comentário da menina, ao mesmo tempo que reitero o meu agrado pelas suas visitas.
Cumprimentos carnais
:)

 
At 11:45 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

alexiaa
No comentário acima pus um "i" a mais à menina e retirei-lhe um "a".
peço desculpa pelo lapso

 
At 6:05 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Lapso menor tendo em conta os "palavrões" que estão a mais e as paixões que estão a menos:)))!
Cumprimentos...causticos!

 
At 10:46 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

alexiaa
Uma provocação destas obrigou-me a responder em local próprio, ou seja no blog da menina
:)

 
At 11:08 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

O "menino" confundiu constação com provocação...mas a "menina" esta profundamente tolerante porque foi brindada com a sua brilhante...visita!
Cumprimentos...nocturnos:)

 
At 10:45 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Alexiaa
Para sua informação, perdi quase uma hora consultando dicionários e enciclopédias, manuscritos de épocas distantes, testamentos antigos, vários tomos dos Boletins da República, actas de reuniões, sempre procurando, debalde, a palavra constação e não encontrei nada.
Para que conste...
:)
beijinhos tolerantes

 
At 11:30 da manhã, Anonymous Anónimo disse...

A hora tardia faz destas coisas. Quando reparei soube de imediato que previsivelmente o "menino" não faria nenhum esforço para polidamente evitar o reparo e originalmente surpreender-me com algo...original (acho que é uma redundância mas se não for já tens tema de conversa).
De qualquer maneira acho que o tempo que deambulou pelos poeirentos dicionários são sempre úteis para quem tanto uso faz dum vastíssimo léxico!:)

Beijinhos…previsíveis
:)

 
At 11:09 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

alexiaa
Fico desvanecido pela conta em que me tens. Essa do vastíssimo léxico...
Beijinhos reconhecidos
:)

 

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