terça-feira, fevereiro 28, 2006

Ra mora hoje em Bruxelas


[826]

Hoje há sol em Bruxelas. Imperial, divino, mitológico enfim. Apesar da neve que hoje cai na capital da Europa, que ele seja suficientemente quente para celebrar o
Cinzento no seu primeiro ano de vida. E, pelo menos, tão brilhante, como muitos dos posts que enformaram este blog ao longo deste último ano.

Parabéns.

Tchin Tchin


segunda-feira, fevereiro 27, 2006

O Insurgente


[825]

Passa hoje o primeiro aniversário do
Insurgente, blog que leio desde a primeira hora. Com renovado interesse.

Para todos os que lá escrevem, segue daqui uma saudação amiga de parabéns e os votos sinceros de que continuem a enriquecer a Blogoesfera da mesma forma que o têm feito até aqui.

Tchin Tchin

domingo, fevereiro 26, 2006

Bandeirada


[824]

Este gajo
chamou-me taxista e bichocare-
ta
. Pronto, ficamos assim…

Mas o que realmente me irrita neste tipo de coisas, e já aqui tenho disso deixado registo, é que há pessoas que passam a vida a ser idiotas todos os dias e ainda lhes pagam por cima!


Via E-jetamos

Unanimidade total


[823]

Depois da vitória do Benfica sobre o FCP por 1-0, o repórter de serviço da SportTV informou-me que tinha havido unanimidade total nas opiniões dos técnicos das equipas, Ambos acharam que o Benfica mereceu. Ambos os dois, acrescentaria eu.

Claro que fiquei muito mais descansado, que esta coisa das unanimidades ou é total ou não há nada para ninguém, prontes, portantos.

Ser do Benfica só um bocadinho e em part-time...


[822]

Isto está grave. Há dias dei comigo a festejar um golo do Luisão e a comentar que o Koeman (é assim que se escreve?) já devia substituir o Beto, que não estava a jogar nenhum. Hoje sou do Benfica outra vez. O Benfica vai ganhar, golos do Karagounis e daquele francês que foram desencantar não sei aonde.

A sintomatologia é, como se pode ver, grave… mas lá terá que ser.

Entretanto o Sporting ganhou folgadamente (!... hummmm) ontem, depois de a Académica ter atacado quase em full time, mas isso agora não interessa nada, ganhou, prontes, portantos e o resto é conversa. Por isso, logo vou ver o jogo repimpado e a gozar o stress de um benfiquista que acha que o meu televisor é melhor que o dele.

E viva o Sporting.

Ontem reparei melhor...



[821]

Ontem tive um jantar. Jacket and tie, ambien-
te selecto, gente im -
portante, atmosfera "fru-fru" e conversa deliciosa, daquela que não obriga a pensar. Felizmente em número de pessoas que permitia jantar sentado.

Repasto esmerado, conversa fluida e agradável e, razão deste post, uma anfitriã que de há tanto tempo eu conhecer e a ela e à família me ligarem laços tão fortes de amizade, me esqueço de como é bonita e de como mantém intacta uma arte que não é de todos nem para todos. A arte de receber bem, de saber temperar a conversa e o convívio com graça e muita, muita elegância.

Um grande beijinho para ti, que eu sei que há muito lês o Espumadamente, mesmo que só de vez em quando, e pode ser que leias este pequeno apontamento.

E se voltas a mandar pôr natas no consommé nunca mais te mando um beijo pela blogoesfera. Outra coisa… em vez do ananás, não iria melhor umas castanhas com o lombo de porco? E não havia aviões de Londres a chegar mais cedo
?

sábado, fevereiro 25, 2006

Humor politicamente incorrecto num Sábado chuvoso


[820]

Legenda:

Yes, the boys saw that "Brokeback Mountain" movie and they're playing "cowboys"!


Roubado, com a devida vénia do De Vagares.

Poema de Estio em Sábado de Inverno


[819]

De tarde

Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas.


Cesário Verde

1/2 dúzia de reflexões num Sábado chuvoso


[818]

Estou a tornar-me implicativo ou a idiotia, nos homens, cresce na razão directa da grossura dos nós de gravata?

Porque é que um idiota, se desconhecido, é um idiota e o Fernando Rosas só porque é do Bloco de Esquerda e diz umas patacoadas na televisão, é o “extraordinário Fernando Rosas”?

Se Daniel Oliveira acha que os símbolos religiosos xiitas são atacados pelos sunitas porque os israelitas roubam nos impostos da Palestina, que os sunitas estão fartos de ser humilhados pelos xiitas e os xiitas estão fartos de ser humilhados pelos sunitas há mais de 1000 anos, a culpa é dos americanos que têm pouco mais de 200, se os americanos são ainda os culpados de fundamentalistas libaneses governarem o mais laico dos países árabes, se no Afeganistão os traficantes sucederam a comunistas, os loucos aos traficantes e, dizendo isto tudo, ainda lhe pagam por cima, Daniel Oliveira é o “extraordinário Oliveira” ou é simplesmente ladino?

Se uma mulher gosta de um homem mas não sabe se gosta, ou se não gosta mas não tem a certeza que não goste, ou acha que não mas talvez seja melhor pensar que sim ou, talvez sim, mas é melhor não, ou talvez não e o melhor é deixar a porta aberta ou fecha a porta mas arrepende-se e chora e vai a correr abri-la mas depois arrepende-se e chora e corre a fechá-la outra vez e acha que tem culpa de ter fechado mas que foi uma estupidez abri-la, que o melhor é fechar os sentimentos para obras durante um tempo mas talvez não e o melhor é gozar mesmo o que se leva desta vida e depois logo se vê e acha que é feia , mas se calhar é bonita, vendo bem as coisas até é bonita mas será que o mundo é injusto e a acham feia, será gorda, skinny ou simplesmente mal feita? Demasiado alta? Too shorty? Comerá muito? Maquilha-se demais ou não seria melhor passar a usar um pouco mais ainda de maquilhagem na cara que lhe parece, curiosamente, horrível, deslavada e até, horror, com um par de rugas? Se uma mulher passa por tudo isto ela anda nervosa ou está a ser, na simplicidade do caos reinante, apenas e deliciosamente mulher?

Porque é que quando chove como hoje não dá jeito nenhum andar de bicicleta?

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

É óbvio


[817]

A propósito do crime praticado por um bando de miúdos sobre um indivíduo de quarenta e cinco anos, espancado e abandonado num poço duma obra, o ministro do trabalho aconselhou-nos a esperar pelas investigações e pelos resultados que “obvierem” (ouvi o termo várias vezes na TV antes de me referir ao caso) dessas investigações. É óbvio que esperarei pelo que se “obvier” por aí, não vou ser apressado…

Já agora: o aproveitamento deste caso nos chamados "crimes de ódio" pelos grupos gay (a vítima era, aparentemente, travesti, homossexual e prostituto) tem sido absolutamente vergonhoso e revela bem o nível (e o ódio) com que algumas minorias se acham qualificadas para beneficiarem de novas alíneas ou mesmo novos artigos do código penal. Para um leigo nas matérias de direito, como é o meu caso, não escapa mesmo assim, a evidência de, uma vez mais, se estar a fazer puzzles com peças de homofobia, direitos e diferenças, mudanças de mentalidades, poder político, lóbis e ademanes avulsos para se estabelecer diferenças entre o assassínio de gays e heterossexuais.

Pensei que seria totamente desnecessário questionar o facto de que um homicídio é um homicídio, independentemente de a vítima ser gay ou não. Afinal não se quer que seja.

Um dia destes acordo e dou comigo a verificar que se alguém me matar poderá eventualmente ter atenuantes (ou, pelo menos, não ter agravantes) pelo facto, hediondo e idiota e mesmo surpreendente, de eu ser “hetero”.

Vale a pena ir ao
Renas e Veados e ler um pouco sobre esta matéria. E, já agora, ao Insurgente.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Estar com os azeites


[816]

A inextricabilidade da expressão «estar com os azeites» só é comparável ao «tempo da Maria Cachucha». Mas a Maria Cachucha, enfim, deve ser alguém de provecta idade, já que ser «do tempo da Maria Cachucha» nos remete de imediato para matérias antigas ou, no mínimo, desactualizadas. De qualquer maneira, não consta dos meus conhecimentos nem creio que conste da letra de qualquer canção, enredo de novela ou lenda regional nenhuma Maria Cachucha. Não sabemos se a Maria Cachucha era peixeira (venderia cachuchos?), se era daquelas pessoas que andam de casa em casa a vender joalharia mais cara que nas joalharias e às quais os compradores ainda ficam atentos veneradores e obrigados (a vender anéis/cachuchos, portanto) ou se era apenas uma moçoila rupestre e estouvada tipo «Maria vai com as outras» ou, mais apropriadamente, Maria vai com os «outros», num qualquer dia da espiga de verão ou mesmo em dias sem espiga nenhuma. Há, porém, um certo fio de jogo, alguma identidade de histórias e personagens quando se usa o termo Maria Cachucha.

Agora o termo «estar com os azeites» é que não dá com nada. Em princípio, estar com os azeites é estar zangado, neura ou irritado. Pergunto eu: - Porquê azeites? Um líquido balsâmico, suave ao tacto, cheio de virtudes químicas, físicas e organolépticas, operador de milagres na saúde humana, dieta eleita (porque rica em aminoácidos e polinsaturados), combustível, comburente, de fino paladar e tecnologia fácil e barata, porque terá um líquido assim de estar associado a um período de mal estar? Porque não, «estar com os vinagres», «estar com os óleos alimentares», estar com maionese de supermercado», estar com qualquer coisa realmente desagradável, em vez de estar com os azeites?

Este arrazoado vem a propósito de duas amigas minhas que cirandam aqui pela blogoesfera estarem com os azeites… Pelo menos assim o dizem. Que eu não linco em obediência ao mais estrito sentido de reserva de privacidade. E se uma mulher bonita em estando com os azeites até feia consegue ser, imaginem o que é uma mulher com graça no que posta ou comenta estar com os azeites. Não tem graça. E a única virtude que terá é, mesmo, dar-me o mote para fazer um post.

Mesmo andando com os azeites, como ando...

Português de aviário


[815]

Senhores doutores, médicos, veterinários, jornalistas, comentadores, técnicos em geral, ouvintes e comentadores do Forum da TSF, façam-me o favor de perceber que a expressão «gripe aviária» tem um significado totalmente distinto de «gripe avícola» ou gripe das aves. Não é preciso uma licenciatura em filologia para entender isto, é só uma questão de rigor e atenção ao que se passa, tanto mais que ainda não aconteceu nenhum caso em nenhum aviário. Todos os casos têm sido detectados em aves selvagens. Por isso a gripe deve ser designada por gripe das aves e não gripe de aviário.

Já agora, e por aves selvagens, reparo que a maior parte dos casos, na Europa civilizada, tem ocorrido com os elegantes e sofisticados cisnes. Receio bem que em Portugal o primeiro caso venha a dar-se com uma galinha pedrês, uma galinha cocó ou uma codorniz, esta sim de aviário…

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Sismo em Moçambique

[814]

Há cerca de meia hora atrás terá havido um tremor de terra em Moçambique, tendo-se registado algum alarme nas cidades de Maputo e do Chimoio.

Aparentemente o abalo sentiu-se com mais intensidade em Maputo, onde não há tradição destes fenómenos naturais. Parece, igualmente, não haver vítimas nem danos. Centenas de pessoas vieram para as ruas da capital, algumas delas em pânico.

Notícia telefónica via
Passada

O Diário Digital já noticiou o facto, nestes termos.

A Constança falou...

Post peristáltico


[812]

Li o
cabeçalho da notícia e retive a respiração. A Fátima Lopes dá puns. Foi assim mesmo, com esta ligeireza de verbo que a coisa me ocorreu. Fátima Lopes dando livre curso ao inalienável direito de todos nós, cidadãos livres, independentes, licenciosos e blasfemos, ao nobre exercício do flato mas, que diabo, fica sempre a ideia de que há figuras públicas que estão, por assim dizer, isentas de funções biológicas menores, como seja a libertação de odores fétidos ou sons embaraçosos. Ninguém, por exemplo, imagina o padre Melícias na sanita ou Jorge Sampaio a tirar um macaco do nariz. E, todavia, são estas nada mais que acções perfeitamente naturais no homem e, se dúvidas houvesse, bastaria parar num qualquer semáforo de Lisboa. Isto quanto ao escarafuchanço do nariz. Já quanto ao padre Melícias, a coisa fia mais fino, mas só podemos imaginar que a criatura come, aproveita o que tem a aproveitar e expele as celuloses e outros desperdícios. Logo, portanto…

Voltando a Fátima Lopes, a gente olha para aquela cara laroca e a primeira coisa que nos salta ao espírito é que as apresentadoras de televisão em geral e a Fátima Lopes em particular não libertam gases. Poderemos, quando muito, admitir pequenas e raras excepções, por exemplo a Fatinha Campos Ferreira, sei lá, numa atitude mais exaltada perante um "paineleiro" dos programas dela, dar um passo mais decidido e… pumba, soalho a ranger e ambiente a feder. Mas a Fátima Lopes, não. Aquela carinha não é cara de corpo que encerre odores pútridos nem ruídos peristálticos vulgares. Impossível. Ela tem de cheirar a limão e o seu trânsito intestinal (dela) realizar-se sob o mais polido silêncio, até porque eu sei que a SIC é muito exigente nestas coisas. Mas
a notícia lá estava. Tive que a ler toda e, com alívio, verifiquei que os gases eram outros. Quais, não sei. Só sei que eram gases e que o programa teve de ser adiado. Mas gases, gases daqueles… pois… não eram. Nem outra coisa eu esperaria da Fátima Lopes.

Ufff
!

Postais


[811]

Leitura obrigatória e não esquecer seguir o link.
Aqui, na Miss Pearls.

Comido até à Páscoa


[810]

Cheguei a casa com um punhado de boas intenções e energias renovadas. Sobraçando uma caixa de camarão gigante (é o que dá ter uma filha nos trópicos), atirei-me à cozinha como se não houvesse amanhã (acho que é assim que se diz, esta coisa do não haver amanhã), abri os camarões, salguei-os, limão espremido, uma lata de cerveja em cima, uns toques de margarina e forno com eles.

Até aqui tudo bem, não fora um saco de plástico cheio (mas cheio, mesmo) de castanha de caju, daquela assada na fogueira, vendida nas ruas de Nampula e a saberem a maçanicas, a Serra da Mesa e a macua e que não tem nada a ver com a castanha industrial.

O que aconteceu é que enquanto fui procedendo à tarefa de preparar os camarões fui trincando castanha…e trincando e trincando, e a gente trinca e trinca e trinca e come e come e come e o raça dos camarões nunca mais estão prontos e mais castanha e mais castanha e eis que finalmente os camarões estão prontos. Avermelhados, tostados, cheirosos, apetitosos de morrer.

Camarões fora do forno e eis que o desastre acontece. É quando reparo que não só não tenho fome como experimento uma clara sensação de acabar de ter ingerido uma lata de cinco litros de óleo queimado. Ou duas botijas de lubrificante para camiões pesados e absolutamente incapaz de comer fosse o que fosse nas quarenta e oito horas seguintes.

Meti os camarões no frigorífico e pode ser que não se estraguem, mas desconfio que estou comido (salvo seja…) até à Páscoa.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Energias


[809]

José Rodrigues dos Santos explicou-me hoje, ao Telejornal, que o presidente Bush fez um discurso, no qual avisou os americanos que deveriam estar preparados para procurar alternativas ao petróleo como fonte de energia. Isto por que os EUA dependiam, cito, energicamente de países inamistosos ou com fundamentais diferenças dos Estados Unidos.

Foi giro de ver o ar energético com que Rodrigues dos Santos noticiou a coisa.

Telejornal: Uma equipa energética

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Incontroversa qualidade


[808]

Pronto, agora é isto… ainda outro dia fez anos e já faz anos outra vez! E não é que eu continuo a lê-la? Mesmo quando escreve menos ou parece estar sem paciência? A razão é simples, a
Vieira é um dos nossos melhores bloggers – e digo "um", porque dizendo um estou a ser abrangente. Dos melhores, entre homens e mulheres e como eu não sigo a corrente actual dos "portugueses e portuguesas", digo um e acho que digo muito bem.

Um beijinho de parabéns pelo segundo aniversário e espero que continuemos por aqui quando do teu terceiro.


Tchin Tchin

Publicidade à TV-Cabo

[807]

E quando eu pensava que o tema estava esgotado, eis que a RTP anunciou já, e em grande estilo, uma grande reportagem sobre a casa da irmã Lúcia.

Como aperitivo, já mostraram a cama.

Espero que a TVI e a SIC não se deixem ultrapassar.

Ahhh, a reportagem da casa da irma Lúcia é patrocinada em exclusivo pela "Carnalentejana". Sério...

Probleminha do dia


[806]

Apetecer-me fazer uma correcção da tradução de uma expressão corrente para a língua inglesa e achar que não, não devo, não posso fazê-la. Mas que me apetece, apetece.

domingo, fevereiro 19, 2006

O Mal do Eixo


[805]

Fazia algum tempo já que eu não via o "Eixo do Mal". Aliás, estando os três canais abertos apostados num pretenso Eixo do Bem, transmitindo ao vivo e a cores a transladação da irmã Lúcia para Fátima, faria algum sentido que eu procurasse um pouco de mal onde ele pudesse existir.

Repito que já não via esta versão revista e actualizada e em estilo up-grade da “noite da má língua” há bastante tempo, mas reparei no batôm da Clara Ferreira Alves e por ela me deixei ficar, salvo seja e não desfazendo no escanhoadíssimo Daniel de Oliveira.

Atacados os temas do costume, leia-se Bush, Irão, o filme Syriana, o tiro de Chenney, as sevícias dos ingleses a iraquianos e os etecaeteras do costume, o que de mais marcante me ficou do programa foi a ar chocarreiro de todos os intervenientes, sem excepção, com que os assuntos eram tratados. Há uma evidente superioridade mental no tratamento que só poderia relevar de mentes superiores como as de Clara Ferreira Alves e Daniel Oliveira, sobretudo este último que mantém aquela risadinha sacana de quem acabou de torcer o pescoço ao canário. Por outras palavras, “fosse eu a tratar destes assuntos e a paz reinava na Terra, os iraquianos andavam todos aos beijinhos, os talibã estariam a reconstruir os budas nas montanhas e Dick Chenney teria a pontaria afinada”. Muito menos a Exxon e a Royal Dutch Shell (holandesa mas sediada no Reino Unido, é preciso marcar bem estes pormenores, que esta gente sabe bem do que se fala) teria lucros de milhares de milhões e andávamos todos a pagar a gasolina a pataco.

Pois é. O grande azar do planeta é não se dar aos portugueses em geral e ao Daniel Oliveira em particular a prerrogativa de gerir o mundo. Aliás as abundantes provas dadas cá pela paróquia deveriam ser suficientes para que isso aconteça. Voltando ao painel residente do programa, repito que o que realmente fica, depois de tudo espremido, é aquela superioridade incontornável de se comentar os grandes problemas mundiais. Pudéssemos nós mandar daqui da paróquia colocar nos areópagos internacionais meia dúzia de autarcas, administradores de metros do Porto, regionalistas, representantes de comissões de pais, sindicalistas, ecologistas, empresários, dirigentes de futebol e assessores de casas de música e a música era outra…

Foto:Gestão Barnabé, precisa-se

Uma passa, por favor


[804]

Em tempos de crise e de condicionalismos, nada como uma boa ideia. Esta foi roubada indecentemente de um
blog que eu não conhecia e onde atraquei em escala técnica, via IO.

Fica aqui, assim, a minha contribuição para fumadores em regime de compressão de despesas, antes de ir pedalar mais uns quilómetros - que ainda não arranjei dinheiro para contratar um mordomo para pedalar enquanto eu gemo no selim (ou um personal trainer, sei lá)…

sábado, fevereiro 18, 2006

Fim de semana sereno


[803]

The fountains mingle with the river
And the rivers with the ocean,
The winds of Heaven mix for ever
With a sweet emotion;
Nothing in the world is single,
All things by a law divine
In one spirit meet and mingle -
Why not I with thine?

See the mountains kiss high Heaven
And the waves clasp one another;
No sister-flower would be forgiven
If it disdained its brother;
And the sunlight clasps the earth,
And the moonbeams kiss the sea -
What are all these kissings worth
If thou kiss not me?


Percy B Shelley – Love’s Philosophy
Picasso – Mulher a ler

A Cristina voltou


[802]

E eis que chego a casa e a
Cristina está de volta. Olhei para ela e acho-a mais gorda, sobretudo descubro nela um certo ar de família que ela hesitava em assumir.

O que mais me intriga é onde é que ela se enfiará durante tanto tempo. É uma “ela” só pode. Tão depressa se passeia pela sala cuidando de que nenhum mosquito se atreva a perturbar a assepsia doméstica como justifica o conceito e incontrovérsia da impermanência das coisas, pessoas e, já agora, das osgas.

Já conheço a Cristina. Vai dar por aí umas voltas, olha-me sobranceira de três metros de pé direito e um dia destes desaparece outra vez. Welcome back my dear, já sei do que a casa gasta!

E agora vou deitar-me e entrar em fase zen para amanhã ir pedalar outros vinte quilómetros em profunda concentração. Antes de ir repor as calorias num cozido à portuguesa ali à Malveira da Serra, as coisas têm de dar umas para as outras, já dizia a minha avozinha.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Amanhã há touros bravos


[801]

Há uma razão forte para eu embirrar com a bonita cidade de Santarém – os escalabitanos, pelo menos alguns deles.

Por causa deles, uma vez vi-me envolvido numa cena de soco e pontapé só porque eu não sabia que D. Nuno Álvares Pereira era de Santarém (é??). Outra vez, um fulano gordo com pelos nos braços e testoesterona na língua entrou numa pastelaria chamada Bijou (que eu penso ainda existir…), puxou de uma faca e disse que ia matar-me porque eu andava a f… a irmã dele (ipsis verbis). Uma outra vez, uma senhora bonita e que se benzia imenso chamou-me maricas, entre duas chávenas de chá, porque eu tive a ousadia de dizer que achava a festa de touros algo bárbara. Não exagerei muito… disse que respeitava as tradições e assim, mas que aquilo de andar a espetar ferros num touro em público me parecia algo primitivo, mas foi o suficiente para a senhora se benzer outra vez e me chamar maricas, m-a-r-i-c-a-s com todas as letras.

Finalmente, recordo-me de ter acedido a ir a uma Feira do Ribatejo, ter entrado num restaurante chamado "burladero" e ter recebido um tremendo soco entre os olhos, assim de repente e sem eu esperar - foi passar a porta e apanhar o murro, que me deixou semi insconsciente durante uns minutos, estendido no chão, enquanto um grupo de valentões me pedia desculpa, porque me confundiram com um fulano qualquer que andava a "montar" (foi mesmo assim que disseram) a irmã de um deles (as irmãs são muito disputadas, pelo que percebo…) e que ele (o montador) merecia um atesto de porrada, que julgavam que era eu (eu, euzinho, que tinha chegado duas horas antes de Lisboa…) e que não me podia ir embora, pediam-me desculpa e que tinha , t-i-n-h-a de ir beber umas amêndoas amargas com eles, que tínhamos de ficar amigos, e mais umas jeropigas e uns "traçados" e tal e etc..

Eu penso que esta é matéria já mais que suficiente para que compreendam o meu receio em ir a Santarém. O tema recorrente é um bocado assim para o touro, para a cueca, para os copos, para o murro e pontapé e para os gajos que "montam" umas gajas (irmãs, sempre elas…) que é para isso que as gajas se fizeram, para ser montadas e depois haver uns estimáveis motivos para se andar ao estalo.

Isto vem a propósito de amanhã se iniciar o dia (ou a semana… do touro bravo, TSF dixit). Estão mesmo a ver onde é que eu NÃO vou este fim de semana. É que além de touros bravos aquilo anda cheio de gajos que não gostam que montem as irmãs, dão murros e facadas e ainda acham que eu sou obrigado a conhecer a terra natal do D. Nuno Álvares Pereira. Além de que, touro por touro, eu é mais mansos. Embora sem a nobreza a afficcion dos primeiros, são muito mais pacíficos…
Bom fim de semana para todos

NOTA: Qualquer semelhança deste post com factos reais NÃO é coincidência. Mas, tirando estes pormenores, adoro Santarém e o facto de lá haver um Museu dos Cacos não significa que tenha andado tudo à chapada, quando o fizeram.

Martelar na cabeça


[800]

Naquela história clássica do maluquinho, em que o mesmo vai martelando a cabeça e, interpelado sobre as razões do que está a fazer, responde que sim, dói muito, mas quando deixa de martelar é um alívio fantástico, nessa história, dizia eu, há que descontar o facto não despiciendo de que o maluco é maluco, coitado mas, mesmo assim, revela algum “fio de jogo”, isto é, aquilo dói, mas deixando de martelar… alivia.

Quando não somos malucos, pelo contrário, temos tudo em “su sítio” e achamos que uma atitude de autoflagelaçao dói muito e que nos intervalos do exercício ainda dói mais, coisa diferente da história do maluco em que sempre havia o tal alívio, então a coisa torna-se mais complicada, diria mesmo a roçar o inextricável.

Se eu conhecesse alguém nestas condições, era capaz de lhe dizer isto mesmo, com sentido de entreajuda e cumplicidade. Como, assim de repente, não me ocorre, esta história deve ser qualquer coisa com que acordei a sonhar, que sei eu, mas que isto me atravessa o espírito de vez em quando, atravessa.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Formas de expressão


[799]

A diferença entre um anónimo como eu e pessoas com uma certa respon
sabi-
lidade advinda da sua exposição mediática, maior gabarito intelectual e assim, como sejam José Pacheco Pereira e Lobo Xavier é que eles dizem que gostam muito de Freitas do Amaral como pessoa, que o estimam e que é muito agradável de se conversar, mas que não deixa de ser um idiota pela forma como tratou o assunto das caricaturas (In Quadratura do Círculo, não consegui link). Eu só digo que ele é um idiota, period.

Resumindo: Todos achamos que ele é um idiota, mas eu sou, como dizer... mais licencioso!

The Importance of Being Earnest


[798]

Ontem fui visitado por Oscar Wilde. Sem aviso prévio, entra-me pela sala dentro.
Claro que fiquei calado e deixei-o fazer sozinho a despesa da conversa. No fim da visita, ele foi-se embora e vi que não era ele. Isto é, era, mas não era, era Rupert Everett, o Colin Firth (eterno namorado da Bridget Jones…), a Judi Dench e outra gente de gabarito que me fez pensar que a RTP, aqui e ali, sai-se das tamanquinhas.



- Jack. Why on earth do you say that?
- Algernon. Well, in the first place girls never marry the men they flirt with. Girls don’t think it right.
- Jack. Oh, that is nonsense!
- Algernon. It isn’t. It is a great truth. It accounts for the extraordinary number of bachelors that one sees all over the place. In the second place, I don’t give my consent.
- Jack. Your consent!
- Algernon. My dear fellow, Gwendolen is my first cousin. And before I allow you to marry her, you will have to clear up the whole question of Cecily. [Rings bell.]
- Jack. Cecily! What on earth do you mean? What do you mean, Algy, by Cecily! I don’t know any one of the name of Cecily.
[Enter Lane.]
- Algernon. Bring me that cigarette case Mr. Worthing left in the smoking-room the last time he dined here.
- Lane. Yes, sir. [Lane goes out.]

Moral da história: A nossa sala é um teatro, sempre que um homem quiser. Ou, nem tudo tem que ser mau de manhã à noite. Ou, ainda... ser um génio é bué da fixe!

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Mais um...


[797]

O Fumaças acabou. Pena...

O crime (em Portugal) compensa


[796]

A juntar ao que está descrito
aqui e aqui, gostava apenas de acrescentar que os "gatilheiros" (os que puxavam o gatilho, mesmo) se encontravam à época em Maputo, ensinando os agricultores a plantar ananases e a organizá-los em cooperativas, animados do mais puro espírito internacionalista e a ganhar umas emulações socialistas, que eram uma coisa assim parecida com as medalhas que Jorge Sampaio anda por aí distribuír e que os regimes socialistas usavam imenso, ainda que em menor profusão.

Ainda hoje me envergonha este episódio das FP 25, por ter sido possível esta gente ter sido oficialmente indultada - um dos principais mentores do indulto foi um recente candidato a Presidente da República, Mário Soares, outro, implicado, julgado e condenado e, presumo, indultado, ainda recentemente dizia umas graçolas no programa "Prós e Contras" da RTP, frequentemente apoiado por aplausos alarves de uma assistência idiota.

São pormenores destes que me fazem pensar. Reflectindo bem, este tipo de atitudes, muito nossas, muito tugas, estão em estrita concordância com a recente tomada de posição de Freitas do Amaral sobre as caricaturas de Maomet.

Há uma fronteira muito ténue entre um e o outro caso. Ora vejam lá se não há…

Post actualizado: Mais referências ao aniversário do assassínio de Castelo Branco no Mar Salgado e no Mão Invisível.

A esquerda gosta...


Buy Danish - LEGO


[794]

Esta é a minha modesta e simbólica manifestação. De re -
dio pela insuportável vilania e opressão do politicamente correcto e da defesa incondi -
cional do primado da liberdade. Liberdade não negociável, em circunstância alguma. A manifestação de um cidadão cujo MNE diz que os agressores somos nós e que tudo se resolve com um jogo de futebol tipo solteiros contra casados e cujo país alberga um embaixador que diz que os nazis não teriam tido tempo sequer para assar seis milhões de judeus, pelo que a história estaria mal contada.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Soltar um beijo, ao fim do dia


[793]

Um “grande beijinho” é uma missão impossível. Alguém me explique como é que se pode dar um “graaande” beijinho… um beijinho é um beijinho, não é grande, é pequeno, é beijinho, é fofinho, dado com carinho, respeitinho, tudo “inho”. Já o beijão é glutão. Sem jeitão, abrutalhado, trapalhão e lambuzado. O beijo tem de ser beijo. Beijo mesmo, nem beijinho, nem beijão, nem beijoca. Quando muito e por graçola, poderá ser até uma beijola. É coisa de amigo, mas coisa estarola. O beijo é beijo. Um beijo diz-se, um beijo dá-se, cheira a beijo e sabe a beijo. O beijo é amor, é amizade, o beijo é carinho e é cumplicidade. O beijo é o que se espera de uma mulher apaixonada, de uma mulher que gosta de beijos, de dar e receber beijos, de “fazer” beijos, que os beijos também se fazem, sem plano nem projecto. Os beijos adquirem formas e cores e cheiros e sabores que nenhum beijinho nem beijoca pode conseguir. O beijo não precisa de ser grande nem pequeno, é beijo. É bom. É gostar, é prazer. É amor e pode ser saudade, também. Pode ainda ter força e ter encanto para voar. Pairar. E pousar no sítio exacto onde sabe ser desejado. O beijo é, também, sábio e o melhor mesmo é soltá-lo e deixá-lo partir para onde ele pensar e sentir que deve ir…
Imagem: Auguste Rodin

Namorar II


[792]

Namorar é soltar o beijo sem querer, ou por querer, mas sem nada fazer por isso, livre, expon-
tâneo, meigo e, depois, apaixonado. Mas é, também, gostar de estar com. De estar com a pessoa que se gosta. Eu sei que hoje há “temas fracturantes” (e eu juro que não acredito que disse isto…) que enevoam o espírito do amor, há coisas que as mulheres levam muito a peito e acham que devem disso fazer ponto de honra nos momentos mais desapropriados. Por exemplo, os lábios aproximam-se voluptuosamente e quando estão a milímetros, ela diz: - Eu acho que sim, que devia haver quotas para mulheres. Ou, na inversa e compensatoriamente, para não dizerem que sou machista: - Eu acho que o Fernando Alonso não é gajo para a Renault.

Quando desencontros deste tipo resultam numa saudável gargalhada, selada pelo beijo iniciado momentos antes da tal discussão das quotas ou das capacidades do Fernando Alonso, acho que sim, que a coisa está madura (honni soit, esta da coisa madura, é metafórico, mesmo) e que se pode avançar com um processo amoroso de comum acordo e sem necessidade de testemunhas abonatórias. Mas se a discussão leva mais de cinco minutos e passa das quotas para a partilha de tarefas domésticas e da Fórmula 1 para as virtudes ou defeitos do Mourinho à frente do Chelsea… então, sim, acho que é tempo de fazer um intervalo, ir ao futebol e ver um GP primeiro (eles), fazer um retiro introspectivo (elas) e, depois, começar tudo de novo. Pode ser até que com os mesmo intervenientes.

Quando, repito, se gosta mesmo assim, ou apesar de, a coisa tem toda a sintomatologia de síndrome grave e deve ser tratada com o ourelo e delicadeza que o caso suscita. Um beijo (outro) pode ser a terapia apropriada.

Namorar


[791]

A mais antiga idiossincrasia humana. Fazer a corte e namorar. Ontem, de moca e cabelos arrepanhados, hoje com alguma sofistica-
ção de métodos, mas a essência permanece. A corte, o beijo, o namoro.

Hoje é o dia disto tudo, a Madalena, provavelmente, explicará as notas pessoais sobre a origem do patrono do dia de hoje, que ela é especialista, eu limito-me a pôr uma foto a condizer.

Fica aqui um beijinho para todas as namoradas do mundo e para eles... Jorge Amado disse uma dia que era impossível namorar as mulheres todas do mundo, mas que devíamos, denodamente, tentar!

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Mind the shelves... hemm...shelf your minds... hummm....pois!

[790]

Se
esta mulher fosse casada com o Laurodérmio, teríamos direito às mais hilariantes cenas de discussão conjugal, so to speak ou, como diria o Laurodérmio, "assim para o falatório". Mas como não é, a sorte é do m-shelf e ainda bem. Porque ela é rigorosa nas traduções mas tem um lado humano muito apreciável que, aliás, lhe vai bem com o bacalhau com natas!

O
Mindshelves faz um aninho. E ninguém se acusou… o que estranho bastante, já que é um blog fresquíssmo, full of the dot (cheio da pinta), e que frequentemente makes me laugh like unscrewed flags (faz-me rir a bandeiras despregadas). E a dona do blog é uma amiga boa, full of grace (cheia de graça) e que me habituei a ler e a gostar.

Um grande beijinho para ti, hope in fire (espero ardentemente) que continues a corrigir os smart asses das traduções (tradutores burros a comer smarties) e que a criancinha chegue depressa e te deixe um pouquinho de tempo para que continuemos a ler-te with the pleasance of the costume (com o agrado do costume).

Beijinho, Ti e daqui a um ano gostaria de estar aqui a felicitar-te pelo segundo ano de blogoesfera.

Tchin tchin


Aprender com os outros...

[789]

Amanhã é o último dia de trabalho do senhor M aqui na Empresa. Durante 45 anos fez de tudo. Homem de poucas letras, foi sempre o segundo homem, o auxiliar, "o que ajuda" e cuja única esfera de poder era o equipamento de que cuidava e carinhosamente transportava a muitos senhores engenheiros que conheceu. A muitos deles terá até, quiçá, passado muita da sabedoria acumulada ao longo de anos de prática de manuseio de agroquímicos, com o sorriso que sempre o acompanhava e uma expressão que remetia para uma evidente bonomia e paciência em repetir, até à exaustão, muitas missões de trabalho no campo, em que nada mudava a não ser os senhores engenheiros que lhe passaram pelas mãos.

Num passado recente fixou-se como estafeta, que é uma designação idiota para as pessoas que tratam de mil coisas. No caso do senhor M, com eficácia, dedicação e boa vontade, ainda por cima. Porque desde o correio diário, às compras ligeiras, tarefas de recolha e regularização de documentos, de tudo ele tratava a sorrir.

Hoje juntámo-nos cerca de cinquenta pessoas à volta dele. Almoçámos e demos-lhe uma prenda. E ali estava ele, ao lado da mulher de sempre, dos senhores doutores e dos senhores engenheiros com a modéstia de sempre e uma lágrima irrequieta que acabou por lhe cair na cábula de umas quadras que ele preparou para nos ler e oferecer.

No fim do almoço regressei a pé ao escritório pensando como é que um homem trabalha cerca de quarenta e cinco anos em troco de um salário de subsistência, recebe uma prenda e um almoço dos colegas e vai para casa amanhar um pedaço de terra. De caminho, ainda consegue ser feliz…

domingo, fevereiro 12, 2006

África, terra bruta



[788]

Maputo, anteontem.

Esta é a Av. 25 de Setembro, na Baixa e, ao fundo, para quem conhece Maputo só do “antigamente” é o edifício de um banco, construído de raíz. À esquerda, o Continental; à direita o Scala e escondido naquele tufo de árvores do lado direito é o edifício dos Correios.

Esta é uma imagem recorrente de anos chuvosos em Maputo e deve-se à coincidência de grandes bátegas de água numa altura de maré cheia e maré viva (a amplitude das marés em Maputo pode chegar aos 4 metros).

Na segunda foto, a fachada principal do edifício dos correios

Fotos roubadas do
Nkhululeco, que eu não conhecia e onde fui parar via Ma-schamba.

Tá lindo, está...


[787]

A questão das caricaturas teve um lado positivo. Se nada me acrescentou relativamente a um bando de fanáticos assassinos com quem não é possível negociar (e, negociar o quê?), por outro lado ajudou-me a perceber melhor o tipo de gente que me rodeia, muita dela senhora de um poderoso instrumento de manipulação de massas (media) e outra que detém, efectivamente, o poder. E isso, sim. Preocupa-me. Acho até que ganhei uma dimensão bem mais real do problema de fundo. E estou a referir-me concretamente à Europa em geral e ao meu país em particular.

Há mesmo quem tenha muito mais traquejo político e conhecimento dos problemas internacionais do que eu e ache que
isto está lindo…

Na foto. O senhor Vitalino a achar que os caricaturistas e os radicais estão bem uns para os outros.

Complexidades


[786]

Encontrei um poema para aqui deixar, nes-
te domingo de sol e de brilho pri-
maveris. Um verso tão bonito e tão simples que parece até coisa de criança. Apesar de falar de amor, ou talvez, sobretudo, por isso, porque o amor existe simples em nós crianças e desenvolve estranhas complexidades à medida que crescemos.

Pensei melhor e não deixo o poema. Vou mesmo fazer os tais 20 km que já é tardíssimo.


Quadro daqui

Dioptrias epifenomenais

[786]

Já tardava, estava a ver que nunca mais se lembravam. Seria uma tremenda injustiça deixar o odioso da coisa a um grupelho xenófobo, de estrema direita e dinamarquês ainda por cima.

Realmente, as dioptrias já não são o que eram e a esquerda deve andar com a visão baça ou com as sinapses gripadas. Mas eis que Ana Sá Lopes salva a honra do convento e com uma tirada de mestre repõe a verdade da coisa (a coisa hoje está muito citada, é o odioso é a verdade…)

...O epifenómeno dos cartoons revela como George Bush conseguiu impor o "ou nós ou eles" aos mais improváveis cidadãos...

Já não há, mesmo, pachorra, por mais epifenomenal que esta gente se apresente.

Lamiré a partir do
Insurgente

Boa gente, bons momentos


[785]

Em dois dias seguidos, Sexta e ontem, fui positivamente raptado, sequestrado, abducted, violentado, arrastado, preso, instado e coercivamente desviado por duas mulheres determinadas e sem direito a recusa ou contraditório.. Um indefeso e pacato cidadão como eu que tudo o que almejava era passar um sereno fim de semana caseiro.

Porque já não valho grande coisa ou porque são reais os evidentes sinais de crise, ninguém se dignou a pagar um resgate, um resgatinho que fosse, pelo que me libertaram, altas horas da madrugada e me deixaram regressar a casa. Ileso. O resultado foi uma cavaqueira gira, umas boas gargalhadas, música, tudo salpicado por algumas iguarias daquelas que não se comem todos os dias, um par de sítios aprazíveis, sendo que um deles servirá os maiores lagostins da paróquia, bom ambiente e o convencimento daquilo que eu já sabia. Quando a gente é boa, bons são os momentos e penoso é o momento da despedida.

Um grande beijinho para duas amigas (irresistíveis, apareçam sempre, mas, como já disse, não exagerem, porque há futebol e a fórmula 1 está aí à porta) e obrigado pela vossa companhia (repito: a Fórmula 1 está aí à porta…).

E agora vou pedalar 20 km , que já são 11 horas e o dever espera-me.

sábado, fevereiro 11, 2006

Uma má notícia


[784]

Que a Joana não postava desde o dia 2 eu já tinha reparado, porque a lia todos os dias. Que
ela tinha falecido abruptamente, só ontem soube através do Arcádia.

Quero testemunhar o elevado apreço em que tinha o
Semiramis e o superlativo gozo que eu tinha em ler a Joana.

Não a conhecendo pessoalmente, não quero deixar de prestar aqui este público testemunho e apresentar à família as minhas sentidas condolências.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Com a vontade mais forte

[783]

Jorge Sampaio, em fim de mandato, achou, ao fim de dez anos, que agora há mais dramatismo e que a vontade dos portugueses
é hoje mais forte do que em 1998 quando se realizou o referendo nacional que deu a vitória ao "não". Ele lá saberá porquê. Gostava era que mo explicasse.

Uma coisa eu sei. A regionalização vai dar-me mais um punhado de Valentins Loureiros a mandar, a berrar e a apitar leis de um jogo que só mesmo eles é que sabem jogar…

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Matar o Ocidente III


[782]

Afinal as caricaturas já tinham sido publicadas por um jornal egípcio em Outubro de 2005. Vou repetir: Egipto, Outubro 2005.

Diogo Freitas do Amaral é que não soube na altura, senão... tinha chamado o embaixador egípcio às Necessidades!

Notícia colhida no Insurgente, com a devida vénia.

Matar o Ocidente II

[781]

Simplesmente notável.

No
Abrupto.

Matar o Ocidente?


[780]

Há dias em que Ana Gomes não devia ler só o Público. Devia ler, também, o DN. Para ler isto:

Independentemente das consequências últimas que venha a ter o caso dos cartoons de Maomé, dele restará mais uma pequena morte do chamado Ocidente. Haverá poucas coisas que melhor o definam do que a liberdade de expressão e a separação entre a opinião pública e o Estado. Quando quadrilhas de radicais islamitas, orquestradas por Estados autocráticos, fizeram um chinfrim disparatado a propósito dos cartoons, era de esperar que o Ocidente se unisse na afirmação daqueles princípios. Que asseverasse a sua especificidade cultural, dizendo claramente se vos ofende a representação gráfica do profeta, a nós ofende-nos a limitação da liberdade de o fazer. Ofende-nos que um governo tenha de pedir desculpa pelas opiniões expressas por um cidadão privado num jornal. A reacção inicial do primeiro-ministro da Dinamarca foi a correcta e bastava que o dito Ocidente a secundasse com naturalidade para pôr ponto final na conversa. Quando governos de países muçulmanos lhe pediram que o Governo dinamarquês se retractasse pelos cartoons, Andreas Fogh Rasmussen explicou que não era responsável pela opinião de um jornalista. Todos nós, ocidentais, passamos o tempo a cruzar-nos com mensagens que consideramos ofensivas, mas aceitamo-las, em nome de algo que consideramos superior a liberdade de outrem emiti-las. Até porque é ela que nos permite fazer o mesmo, ainda que seja de forma involuntária.Os cristãos ocidentais têm de suportar quotidianamente insultos extraordinários Cristo como homossexual, Maria como prostituta ou ornada de bosta de elefante, para dar apenas alguns exemplos gratuitos. Se manifestam a sua repulsa, logo são tomados por uma franja social lunática ou atacados com uma bateria de argumentos sobre o carácter inegociável da liberdade de expressão. Agora, muitos dos mesmos que tanto se deleitam a insultar o cristianismo à sombra da liberdade de expressão, descobriram a "sensibilidade cultural" do islamismo. Nada disto é novo, mas desta vez assumiu proporções (literalmente) de caricatura. Seguidores de Maomé destroem as torres gémeas de Nova Iorque e uma ala do Pentágono, matando mais de três mil pessoas, enquanto nas ruas de Ramallah se celebra dançando; destroem a Embaixada americana em Nairobi, matando 250 pessoas; destroem uma composição ferroviária em Madrid, matando 200 pessoas; destroem umas quantas carruagens de metro em Londres, matando 50 pessoas; destroem uma rua turística de Bali, matando 200 pessoas; o Presidente do Irão promete riscar Israel do mapa e afirma que o Holocausto não passa de uma "fantasia judaica". Tudo isto acontece e repetem-se as vozes dizendo-nos que é preciso "compreendê-los" e às suas "razões de queixa" pela "arrogância" ocidental. Agora já nem sequer se pode publicar um cartoon em Copenhaga sem que o "mundo islâmico" se indigne e uma multidão de ocidentais se penitencie, com diversos governos (inclusivamente de países onde os cartoons não foram publicados, como a Grã-Bretanha) desmultiplicando-se em desculpas pelo comportamento de cidadãos privados de outros países. Claro que, quanto mais este penoso espectáculo continua, mais os radicais islâmicos se permitem reivindicar uma razão que os próprios ocidentais lhe conferem e passar à violência despropositada. A pretexto dos cartoons destruíram-se embaixadas inteiras, ou seja, países foram fisicamente atacados, mas muita gente continua a assegurar-nos que é preciso "compreendê-los". E quando, exactamente, é que o Islão terá de nos "compreender" a nós?A triste conclusão é que, provavelmente, o Islão não tem nada que nos "compreender" a nós porque a cada dia que passa nós vamos existindo um pouco menos. Quem vê as torres gémeas cair e os comboios de Madrid a arder e continua a pregar a "compreensão" do outro não é, obviamente, merecedor de qualquer respeito. O ódio de tantos ocidentais à civilização a que pertencem é um dos fenómenos mais fascinantes e deprimentes do mundo de hoje. São esses os ocidentais que passam o tempo a recensear horrores no Ocidente, ao mesmo tempo que "compreendem" os horrores alheios, em nome da sua "especificidade" cultural. São eles que nunca encontram nenhuma razão para o Ocidente se defender de insultos e ataques. São eles que consideram Bush e os EUA os equivalentes actuais do nazismo (sem exagero basta lembrar o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros, as bandeiras americanas com as cruzes gamadas ou Bush com o respectivo bigodinho alusivo), mas parecem achar normais as regurgitações iranianas sobre o Holocausto. São eles que consideram Guantánamo a maior vergonha da humanidade (o "novo gulag", na imortal definição da Amnistia Internacional), mas encolhem os ombros aos 300 mil mortos do regime de Saddam.O mais interessante disto tudo é que são mesmo capazes de ter razão. Se uma civilização não gera os instintos necessários para sobreviver, é porque não merece sobreviver. Se são eles que preferem não se defender a si próprios, porque razão haverá alguém de os defender a eles?

O que esta mulher escreve não remete para uma mera formalidade opinativa. É difícil acreditar que esta mulher escreva o que escreve sem estar roída por uma complexa rede de questões que serão dela e com os quais eu nada tenho a ver. Esta mulher é complicada, esta mulher é obstinada, esta mulher, em última análise, simboliza bem o que Luciano Amaral diz no seu artigo. E, repito, não é uma questão de divergência de opiniões. Há nela uma evidente verrina e mal estar quando escreve assim. Ela lá saberá porquê e eu não tenho nada com isso, mas já tenho a ver com a forma e a substância do que Luciano Amaral diz no artigo do DN, acima transcrito e lincado. E, aí, não há ressabiamento nenhum de Ana Gomes alguma que possa parar a dinâmica que, infelizmente e para desgraça de todos, parece conduzir-nos a curto trecho.

A menos que, entretanto, se entregue a negociação deste tipo de problemas a Mário Soares, agora que ele anda meio desocupado…

Nota: Luciano Amaral também escreve no Insurgente e este artigo vem igualmente publicado naquele blog.

Retirar...

[779]

Alertado pelo
Cinzento de Bruxelas e depois de uma breve investigação, decidi eliminar o meu post 777.

Agradeço à
Pitucha a chamada de atenção.

Produto nacional


[778]

…e para não ir amargo para o trabalho, aqui fica o registo de uma conversa com um amigo inglês ontem à noite, que me disse achar que as mulheres portuguesas são das mulheres mais bonitas que conhece. Apaixonou-se por uma, anda numa correria de Brighton para Lisboa "…but it’s
worthwhile for she’s the most beautiful, hot, smart and funny piece of human kind he ever met…”

Quem sou eu para o desmentir? Sobretudo porque com algumas (ínfimas) reservas, eu concordo absolutamente com ele.

Cheers para as mulheres portuguesas em geral e para as que fazem o favor de ser minhas amigas, em particular. Sobretudo estas porque são, todas elas, bonitas de morrer, smart, etc., etc., etc..

Pertgal é muito boa


[776]

Afinal
a minha empregada vai casar-se porque, entre outras certamente estimáveis razoes, está grávida.

O pai é ucraniano como ela, mas o filho vai ser “pertgês perque Pertgal é muito boa, clima muito boa, segurança muito boa e Lisboa muito bonito e eles querer ficar aqui”.

Eu que nem sou muito destas coisas, que corri "Seca e Meca" e sempre achei que a nossa terra é aquela onde nos sentimos bem e felizes, senti uma indisfarçável "qualquer coisa" que, por comodidade ou absoluta falta de imaginação chamaria orgulho nacional (estou aqui estou como o Manuel Alegre a cantar o hino e a dar beijinhos nas estátuas da Avenida da Liberdade). Porque acho óptimo que gente boa venha para Portugal, cá constitua família e se integre verdadeiramente na nossa sociedade.

Afinal tudo é fácil. Desde que se dance ao som da música da casa do anfitrião (eu, foi o que sempre fiz quando fui hóspede), tudo corre bem.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

A licenciosidade de Dante


[775]

"Il tristo sacco
Che merda fa di quel che si trangugia
"

Usando as palavras de Vasco Graça Moura, "o florentino (Dante) chega a ver as tripas de Maomet numa metáfora de sórdida abjecção fecal".

Lendo
o artigo todo na edição de hoje do DN, espantamo-nos mais ainda (se possível) com as declarações de Freitas do Amaral. A diplomacia obriga, frequentemente, a jogos de cintura que são até facilmente perceptíveis pelo comum dos mortais (leia-se a vulgata dos não diplomatas). Mas Freitas não foi diplomata. Revelou uma mistura perigosa de salazarismo e de uma requentada esquerda de esferovite para justificar a sua (dele) posição sobre as caricaturas de Maomet. Pode parecer heréctica, esta associação de Salazar a uma esquerda que vai vegetando na sua própria obsolescência, mas quem tiver mais de 50 anos perceberá melhor o que estou a dizer.

Em nenhum caso é tolerável que se afirme que "as caricaturas incitam a uma inaceitável guerra de religiões e ofende as crenças ou sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos. Que a liberdade sem limites é licenciosidade e que a liberdade de expressão deve respeitar a religião. Que no caso dos muçulmanos é a figura de Maomet assim como para os católicos são as figuras de Cristo e da sua Mãe, a Virgem Maria".

De duas uma: Ou Freitas do Amaral vive na maior confusão e mistura tudo (o que não acredito, porque é um homem experiente e de sólidos conhecimentos e cultura), ou mistura diplomacia com uma forma barroca de marcar internacionalmemte a (saloia) posição portuguesa, pensando que está a fazer uma linda figura, ao mesmo tempo que uma vez mais nos passa um atestado de imbecilidade.

Mais um para o molho

[774]

O que é que os blogues têm que os jornais não têm?

Ou...

É preciso
tanta explicação para abrir um blogue?

'Inda agora o dia começou...


[773]

Acordei com dor de cabeça, tenho uma filha que acordou com 37,8, dor de garganta e tem exame de semestre hoje ao meio dia, o micro-ondas fez puffff, o meu ministro de negócios estrangeiros avisou-me que temos de ter cuidado com a licenciosidade, pontapés na gramática ainda agora são oito horas e já ouvi dois (Pitucha, o “opor” não foi o único, Belmiro de Azevedo por duas ou três vezes “disse de que” e “achou de que”…), a empregada disse que hoje tem de ir tratar dos papeis para casar (esqueci-me de lhe perguntar se é com o namorado, mas a verdade é que não tenho nada com isso…) e já recebi duas chamadas idiotas de paragens de diferentes meridianos e de gente que acha que eu já devo estar a almoçar…

Assim, vou tomar dois paracetamol, dar mais dois à filha, mais logo compro um micro-ondas e preparar-me para logo chegar a casa com todos os sinais de que é cuidada (a casa) por uma mulher que achou que casar é que é bom. Leia-se, a puxar para o desarrumado e sujote. Todos os problemas resolvidos, portanto. Só os pontapés na gramática e a licenciosidade de Freitas do Amaral é que vão ficar em banho-maria (já usei hífen duas vezes neste post e não estou certo que o tenha feito de forma apropriada, de qualquer forma tenho a certeza que, pelo menos não digo como uma tia que Deus tem que dizia que usava muitas vezes o “hímen” nas palavras compostas, palavras-virgens, portanto), mas também não podemos ser exigentes e resolver tudo no mesmo dia.

Vou trabalhar. Contrariado, mas vou!

terça-feira, fevereiro 07, 2006

A beleza dos dias


[772]

Estamos banhados em dias belíssimos, claros, frios, luminosos. Não há detalhe que não se destaque, e uma espécie de prematura primavera percorre as árvores, as grandes percursoras. Já olharam lá para fora, lá para cima, lá para o lado, onde tudo é recorrente, menos o tempo que nos faz a nós?


Dias belíssimos, claros, frios, luminosos…

Quem diz que não é possível dizer poesia não sendo poeta?
JPP tem razão. Os dias têm sido demasiado belos e luminosos para que nos demos ao luxo de lhes passar ao lado.

Bom dia para todos os que gostam de luz, para todos os que têm a suprema sensibilidade de reparar na beleza, frui-la. E quanto ao frio, nada que nos impeça de, querendo e acreditando, aquecer a alma.

Felizes daqueles, que neste turbilhão cinzento da vida, conseguem dedicar um minutinho do seu tempo a coisas tão belas e importantes como um dia
belíssimo, claro, frio e luminoso.

Bom dia de trabalho para todos. E não se esqueçam de reparar no brilho dos dias de vez em quando!