quarta-feira, novembro 30, 2005

Agenda do Dia



[651]

Hoje tenho de trabalhar, de ir ao médico, assistir a uma daquelas coisas chatas que acontecem nos hotéis, a gente paga 100 Euros, ouve umas patacoadas sobre as novas condições de um porto não sei aonde, uma zona franca que patatipatatá, polo de desenvolvimento não sei quê, almoça-se, conversa de ocasião e vai-se tudo embora, tudo na mesma. Mas se se não vai, telefonam-nos logo a saber se estamos doentes e telefonarem-me a saber se estou doente é coisa que me comove imenso e eu não quero... Por isso, vou.

Tenho ainda de saber se a minha santa mãezinha está melhor do joelho (não sei bem o que é, mas se não for o joelho deverá ser outra coisa qualquer, é preciso é perguntar-lhe por qualquer coisa se não ela amua, apesar de ser a mais saudável criatura ao cimo da terra), telefonar a uma irmã a saber a que horas é que ela arranca para o Algarve, não que isso contribua para a minha felicidade, mas se não telefono, "prontos", é porque não ligo à família. Isto para não falar de uma tia que fez ontem setenta e não sei quantos anos, fala muito alto e tem o saudável hábito de ler as legendas dos filmes em voz alta quando está acompanhada, ao mesmo tempo que vai fazendo uma descrição minuciosa do que se está a passar nos filmes ou nas séries (não vá a gente não reparar) do género, "olha, ele agora vai beijá-la"... e eu tenho mesmo de lhe ligar a dar os parabéns e desejar-lhe muitos, mesmo que isso represente muitos anos com ela a ler legendas para o pessoal de cada vez que faz uma visita. Não esquecer perguntar-lhe pela talassoterapia que é uma coisa que faz muito bem (diz ela) mas que para mim não deve fazer nem bem nem mal porque ela anda há 10 anos a fazer aquilo e continua a queixar-se amargamente da coluna.

Continuando, tenho de fazer uns quantos telefonemas para fora do país. Ver contas. Telefonar aos filhos para lhes poupar o trabalho de não me telefonarem. Também tenho de ir ao médico lá da empresa para ele me passar uma receita duns medicamentos que eu levantei lá na farmácia, colaram-me uma colecção de papelinhos cuidadosamente recortados com um chisato na factura e depois disseram-me que me reembolsam – sempre estou para ver, mas acho que estou a ser pessimista, a farmacêutica é simpática e tem cara de quem me não está a enganar.

Resumindo, tenho um milhão de coisas para fazer. E tenho uma que só sei se vou ter de fazer quando chegar ao escritório. É o suspense... saber só quando chegar ao escritório! Mas a vida é feita destas coisas, todos os dias, uns dias mais, outros menos mas todos os dias há sempre qualquer coisa de novo que acontece. Nem que seja o facto novo de a rotina nos dizer que a rotina se repete.

Ahhh e tenho de me lembrar de não comprar cigarros. Já ando há um mês a lembrar-me disso todos os dias. E ainda me dizem que os homens são uns esquecidos – eu, homem, que todos os dias me lembro de que não vou comprar cigarros.

Yellow Primrose



[650]

«O que esse seu poeta inglês queria dizer é que para o tal homem essa flor amarela era uma experiência vulgar, ou coisa conhecida. Ora isso é que não está bem. Toda a coisa que vemos, devemos vê-la sempre pela primeira vez, porque realmente é a primeira vez que a vemos. E então cada flor amarela é uma nova flor amarela, ainda que seja o que se chama a mesma de ontem. A gente não é já o mesmo nem a flor a mesma. O próprio amarelo não pode ser já o mesmo. É pena a gente não ter exactamente os olhos para saber isso, porque então éramos todos felizes.»

A primrose by the river's brim
A yellow primrose was to him,
And it was nothing more.

Notas de Álvaro de Campos sobre a recordação do seu mestre Alberto Caeiro. Hoje, que faz 70 anos que Fernando Pessoa morreu...

terça-feira, novembro 29, 2005

800 gr de neta



800gr de criancinha, so far...

[649]

Já tenho "8oo gr de neta". Disse-mo a minha filha mais velha hoje de manhã ao telefone, com aquele ar científico que herdou do pai e o ar desprendido que herdou da mãe e que a faz dizer que a criancinha já tem 800 gr, assim como quem diz que vai ali tomar uma meia de leite. Além disso... é como o pai, tem os olhos do pai, os fémures longos do pai, as mãos perfeitinhas do pai (mulher apaixonada é assim, perde o sentido das proporções) e, pasme-se... até já sorri.

A minha filha mais velha tem este sentido de rigor de que não abdica. A filha dela, a três meses ainda de ver a luz do dia, sorri. Atenção, não ri. Sorri. Presumo que pela educação britânica que a mãezinha teve e que, naturalmente se estendeu a ela, à criancinha, a tal que tem os fémures longos do pai, as mãos do pai, os olhos claros do pai, essa! Além disso é bonita, tem bons modos. Enfim... onde é que um filha como a minha terá ido buscar estes preciosismos e culto pelo pormenor?

Nota: A criancinha está prevista (isto parece a aterragem de um avião...) para Março, ou seja ETA March 06, at Private Hospital Nelspruit, weather will be fine and you better put the bloddy seats in the up-right position - filha bem (a dos fémures longos, das mãos bonitas e dos olhos cor de água como o pai), mãe com este sentido de rigor que mencionei e em total controle da situação e o pai deve andar apardalado com isto tudo, porque se ter uma filha daquelas, como eu tive, é obra, imagino o que é ser marido dela...

Com isto tudo, será mais uma "expat" na família. Ocorre-me ainda o meu saudoso pai há uns anos, quando nasceu o meu primeiro filho e primeiro neto dele a dizer, entre a satisfação e atordoamento, que não lhe fazia diferença nenhuma ser avô. Impressionava-o era ser marido de uma avó. No meu caso, empedernido divorciado militante com as quotas em dia, ocorre-me dizer que não me faz diferença nenhuma ser avô. Faz-me impressão é ter filhos que já são pais...

Bom dia a todos.

Happy Anniversary



[648]

Happy Birthday. Couldn’t help!

Juro que não digo mais que isto, pelo contrário, não fazes anos hoje, não faço a mínima ideia de quantos sejam, não faço links, tudo fica no limbo da incerteza. Apenas porque o pedes, claro.

Mas isso não quer dizer que aqui não deixe um voto sincero. Conta muitos e passa bem o dia. E não te atrevas a pôr aqui um comentário se não... toda a gente percebe que fazes anos e não fazes, quer dizer... fazes mas não queres que se saiba, ou seja, não fazes, é boato e o boato fere como uma lâmina, mas vistas bem as coisas, olha que não te dava... humm esses que fazes, ou que farias se me deixasses dizer que fazes.

Enough is enough. Não de anos, mas de non sense.

Beijinho muito amigo para ti.

domingo, novembro 27, 2005

Parabéns babados



Protea cynaroides

A Flor da tua terra, com um beijinho grande

[644]

Ela faz hoje 20 anos. É minha filha e permita-se-me que todos os dias 27 de Novembro sejam de festa para mim e me dê uma ataque de mariquice.

Muitos parabéns, filhota. Um grande beijo.

Há sempre Solução



Monet - Femme a ombrelle

[647]

O Torquato da Luz de vez em quando excede-se. A gente gosta dele, lê, volta a gostar, cria rotinas e eis que, de vez em quando, há um poema que acha que é mais que os outros e resolve evidenciar-se. Pronto. Não há nada a fazer. Ainda por cima é Domingo, sabe bem ler um poema destes e ficar com a sensação que é fácil escrever "aquilo". Vai-se a ver e não é nada fácil. É mesmo necessário ter a sensibilidade de poeta para se escrever assim.


Alegria

1.

Quando já não havia solução
e o futuro estava preso por um fio,
quando as respostas eram todas "não"
e era sempre de noite e sempre frio,
quando ao fim da escuridão
faltava a luz do desafio,

tu chegaste e fez-se dia
e foi-me devolvida a alegria.

2.

Quando já não houver mais solução
e o futuro estiver preso por um fio,
quando as respostas forem todas "não"
e for sempre de noite e sempre frio,
quando ao fim da escuridão
faltar a luz do desafio,

espero de ti outro dia
que me traga de volta a alegria.


Torquato da Luz in Ofício Diário

Afinal há pinguins para tudo...



[646]

Há pessoas que concordam, outras que discordam, outras gostam de carne e outras, ainda, gostam mais de peixe. Tudo junto e somado a multiplicidade de gostos e de opiniões até é boa para o mercado. A carne e o peixe vendem-se abundantemente e assim mesmo é que deve ser.

Outras pessoas há que são azedas. Rangem os dentes, zangam-me muito com os outros e com elas próprias, são ácidas e, naturalmente, corrosivas. Corroem-se elas próprias na verrina do seu descontentamento e convivem com fantasmas, receios e ódios de estimação. Só nunca percebi se estas pessoas são mesmo assim ou se foram operadas pouco antes da chamada maioridade.

Isto vem a propósito dos "choques e dos pavores" de Daniel Oliveira no Expresso de ontem. Não é que DO conseguiu descobrir um par de pinguins homossexuais no Zoo da conservadora NY e que leu no conhecido (?) colunista e blogger norte americano Andrew Sullivan que, afinal as fêmeas pinguins não suportam mais de uma hora de atraso dos machos que não vão logo dar uma facadinha no matrimónio com o primeiro pinguim que lhes apareça pela frente? Ou por trás - eu soube pelo conhecido colunista e blogger João Salsedas que as pinguins têm uma génese sodomita, coisa de que, aliás, já se desconfiava pela forma de andar. E desde que pulverizaram a opressão moralista e tabu imposta no Zoo de Nova Iorque têm refinado a postura zootécnica e o decúbito ventral. Tudo questões que DO poderá aprofundar para uma próxima crónica de pavor e de choque...

Fico muito mais descansado em saber que os pinguins (lá dizia Mário Soares ontem que os pinguins eram muito giros assim com as asinhas pequeninas parecidas com os braços dos humanos - SIC - ) acompanham a modernidade, chumbando desde já a pérfida campanha de "cristãos sortidos, conservadores americanos e activistas contra o casamento dos homossexuais que não se cansam de procurar na bicharada a resposta para as suas inquietações morais e que aproveitaram o documentário sobre os pinguins em exibição nas nossas salas".

Nota Importante: Segundo Daniel Oliveira, os pinguins gay de Nova Iorque adoptaram um ovo (não se riam , vem lá no Expresso e com a mesma convicção e seriedade como a que DO usa para descontar o cheque que o Expresso lhe paga...). Estes americanos são assim. Tão depressa são uns moralistas incorrigíveis como se permitem estes excessos e deixam dois pinguins macho adoptarem um ovo...

sábado, novembro 26, 2005

Novos Links



[645]

Aumentei a lista à direita dos blogues que leio. O
Blue Lounge (porque já o lia no Blasfémias), a Zazie, porque sim, a Miss Pearls porque a ouvi na Almedina, depois comecei a lê-la todos os dias, quando me lembrava de a lincar não estava no computador e quando estava no computador esquecia-me de a lincar. Hoje deu mesmo. A Carlota... hesitei, quem vive num Lote 5 - 1º Dtº não deveria ter graça nenhuma a escrever, mas aquilo do Lote deve ser tanga, que em Bruxelas nem Lotes há. Portanto, "Carlotemos". O Carlos Vaz Marques, tinha de ser... quem ouve as entrevistas dele na TSF tem de o lincar nos blogues. Tem ainda a vantagem de só fazer entrevistas, não faz foruns. Já o Old Man não me lembro bem, mas devo ter gostado senão não me aparecia na cábula dos links a fazer. A Graziela fala de Angola e eu gosto da forma como ela o faz. O Akiagato... é um case study, ele farta-se de discordar de mim mas gosto de o ler e já o devia ter lincado há mais tempo, até porque é meu leitor fiel, já deu para eu notar.

E pronto, fica o
Espumadamente mais rico.

sexta-feira, novembro 25, 2005

Um Doce para quem Adivinhar

[643]

Ribs, arroz branco, 22 graus, patatipatatá, chazinho e mantas, dvd’s e tagarelice. Pfff!….

É ver
aqui um plano B para o fim de semana! E há um doce para quem adivinhar o local.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Formiga Rabiga



[642]

A
Formiga é uma das minhas raras "personal acquaintances" (excedi-me com esta...) aqui pela Blogos. Antes de a conhecer, apenas sabia que tinha um blog e que gostava de Bolas de Berlim. De Berlim, quer dizer... do Guincho. Que esta formiga é de gosto refinado e não gosta assim de umas bolas (de Berlim) quaisquer. Só no Guincho, no Verão e daquelas todas cobertas de açúcar e que nos lambuzam até aos pés.

Habituei-me a ler a
Formiga. Cá para mim, ela é mais cigarra, depende, pois percebe-se à légua quando está virada para escrever ou para gazetar. Mas quando escreve, fá-lo com gosto, é assim como a Simone de Oliveira a fazer um filho – e sai coisa apurada. Frequentemente irónica, tem a elegância de uma luva de um Carnaval de Veneza e a verrina duma tia da Lapa a falar das homólogas de Cascais. Tudo junto e somado é bom ler a Rabiga e, de repente, passou um ano.

Os meus votos vão no sentido de que continue... mesmo quando faz aqueles posts chatos cheios de gadgets, de ipods, lap-tops, top nos laps, máquinas de sumos, comandos multimodais e máquinas de fazer pão, coisas de que ela fala como se toda a gente fosse obrigada a saber do que é que ela está para ali a falar e quem não souber o pai dele é gato.

E em sinal de reconhecimento pelos bons bocadinhos de leitura e convívio que me proporcionou este ano, aqui lhe deixo um formigal beijinho (pequenino para não dar formigueiro, mas muito amigo e sincero) de parabéns pelo primeiro aniversário do
Formiga Rabiga.



Tchin Tchin

Serviço Público



Arrufadas de Coimbra. Não sei o que é que as cerejas estão ali a fazer, mas é uma questão de nos concentrarmos nas Arrufadas.

[641]

Só conheço duas arrufadas. As que arrufam e as que se comem. Mas, ao que parece, a estimável arrufada de Coimbra tem sido claramente negligenciada na sua disseminação pelos canais do conhecimento geral, pelo que me apresso a deixar aqui a sua receita. E, claramente, a arrufada de Coimbra come-se. Não arrufa. Na foto, apenas noto a falta de um pouquinho de açúcar cristalizado polvilhado na arrufada em crú e, como é óbvio, caramelizado, quando a arrufada sai do forno.

Ingredientes:

2 kg de farinha de trigo
10 ovos inteiros
500 grs. de açúcar
50 grs. de fermento de padeiro
leite
200 grs. de manteiga


Confecção:

Amassa-se a farinha com os ovos inteiros (convém parti-los primeiro e deitar fora as cascas…), o açúcar e o fermento desfeito num pouco de água morna. Se for necessário, pode juntar-se leite morno para a massa ficar mais maleável (é sempre necessário, mas as receitas têm este péssimo hábito de conceder alguma arbitrariedade aos executantes). Junta-se então a manteiga derretida, continuando a amassar, até a massa se desprender das mãos e do alguidar (aqui já está tudo uma grande caldeirada, com a manteiga derretida e a massa entre os dedos e debaixo das unhas, mas convém não desistir, falta pouco). Tapa-se com um pano e deixa-se levedar, durante uma noite (a noite pode ser aproveitada, enquanto a massa leveda, de várias formas e segundo várias receitas, salvo em se tratando de excutantes eles próprios umas massas lêvedas sem remissão). No dia seguinte, tendem-se as arrufadas (primeiro toma-se duche, barba, etc., como se não houvesse arrufadas para fazer), em pequenas bolas com 4 cm de diâmetro que se deixa levedar de novo, até dobrarem de volume (isto não está bem explícito, quer dizer, corta-se as bolas e elas depois crescem de novo e em vez de 4 cm passam a ter 8. Isto parece um filme de terror, mas no fim bate tudo certo). Põe-se as arrufadas em tabuleiros, pinta-se com gema de ovo e vão ao forno a cozer (esta é a parte crucial da questão. Cá para mim, que até estudei em Coimbra e comi muita arrufada, sabe Deus a fominha depois de uma noite de farra, a arrufada tinha sempre açúcar, mas aqui diz-se que só se pincela com ovo…). Ovo seja, mas ponham lá o açúcar a ver se a coisa não melhora!

Receita de Felicia Sampaio (os apartes idiotas são, naturalmente, espumantes...), Editora Culinária do Roteiro Gastronómico de Portugal.

Vão ver se não sou bruxo...



[640]

Há assim umas coisas em que pareço, saudavelmente, um puto. Quais sejam as de estar em pulgas por que alguma coisa aconteça de entre alguns desejos secretos ou convicções firmes.

De entre essas coisas (e são algumas) há uma que me rói a paciência. É ver quando é que o DN publica a tal sondagem que inevitavelmente aparecerá e em que Mário Soares apresenta intenções de voto em empate técnico com Cavaco Silva.

A
coisa hoje melhorou um pouco – promete. A sondagem do Público já não tem nada a ver com a do DN. No DN, uma vitória de Cavaco (do Dr Cavaco, peço desculpa...) à primeira volta está fora de questão.

Mais umas semanitas e vão ver se não sou bruxo.

quarta-feira, novembro 23, 2005

Plágios


[639]

À falta de assunto, nada como um bom plágio. Aqui vai ele:

Confirma-se!
Não tenho rigorosamente nada para dizer. Niente. Zilch.

terça-feira, novembro 22, 2005

A Riqueza Democrática do Nosso Ensino



O senhor da pera é este...

[638]

No "Prós e Contras" de ontem gostei de ouvir a ministra da educação. Sóbria e objectiva, foi dizendo aquilo que parecia óbvio a toda a gente, sobre as questões do ensino e da educação, apesar dos esforços daquele senhor de pera e que me parece gerir os destinos da Fenprof desde que eu era jovem. Lucena, acho eu. E os esforços desse senhor de pera (palavra de honra que não estou a jogar com palavras, não me lembro mesmo do nome da criatura, acho que é Lucena, mas toda a gente o conhece pois é ele que fala na TSF e na TV e na RDP e em tudo o que tem a ver com o bilião de sindicatos de uma classe que, no meu modesto ponto de vista, poderia, deveria e ganharia em preocupar-se mais em atingir uma plataforma de eficácia no ensino e na formação dos nossos jovens do que se manter em permanente vigilãncia da "riqueza da democracia", pela "manutenção das liberdades" e outras preciosidades que o senhor de pera ia debitando empre que a ministra lhe explicava umas quantas medidas que se propôs, propõe e tenciona propôr. Explicando-lhe ainda que uma negociação é sempre um debate amplo, construtivo e conducente ao encontro de soluções alargadas tendo em vista o superior interesse dos nossos jovens e, naturalmente, a defesa dos interesses e direitos dos professores. E não uma forma de co-governação que parece ser o que os sindicatos exigem.

Mas estas explicações esbarravam sempre em sorrisos de benevolente sarcasmo por parte de alguns presentes na assistência que suponho serem de professores (quem se riria assim?) com expressão de "não percebes nada disto", o que configura, aliás, uma das nossas principais características. Nunca os que elejemos percebem seja lá do que for, o que frequentemnte até é verdade, Mas que apetece dizer aos "sorrindos" que vão lá eles tomar conta "daquilo", apetece…

Lucena perdeu-se em intermináveis minutos de retórica estéril em que a "riqueza democrática" foi citada mais um milhão de vezes, a Fatinha ia-se zangando um par de vezes, Justino disse umas banalidades, os professores na assistência riam e eu acabei o programa democraticamente mais rico (???) e com a forte convicção de que tudo ficou na mesma.

Mais: Sem saber realmente porque é que "aquilo" tudo começou...

segunda-feira, novembro 21, 2005

Monday Smile I



[637]

domingo, novembro 20, 2005

Bequinbisenesse...



Imagem daqui

[636]

Regressei do fim de semana. Uma viagem longa nos espaços e curta na geografia. São estes contrastes que, muitas vezes, salpicam a vida do melhor que a vida tem para nos dar.

sexta-feira, novembro 18, 2005

Moscas de manteiga



[635]

Vou ali. Já venho.
Bom fim de semana para todos.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Afinal, enganou-se...



[634]

Afinal, nem os oftalmologistas são cinquenta e nove, nem o hospital é o dos Capuchos. O Ministro já disse que se enganou.

Tá tudo doido, o desconchavo é total. O "pai" do Plano Tecnológico também se demitiu e Sócrates, numa intervenção de 45 segundos conseguiu dizer que o ministro ia nomear novo director (para aí ao segundo 15) e que o ministro já tinha nomeado novo director (segundo 40...).

Havia de ser um governo sem rosa ao peito e caía o Carmo, a Trindade, caía uma data de coisas...

Uma Questão de Diopterias



[633]

Correia de Campos disse-me ontem que havia 59 oftalmologistas só no Hospital dos Capuchos. Não sei se são muitos ou poucos, mas devem ser muitos porque o ministro disse que era uma vergonha nacional. Seja.

Mas, senhor ministro, palavra de honra que a culpa não foi minha. É que o senhor fala de uma forma que quase nos impele a pedir-lhe uma audiência só para lhe pedir desculpa pelo facto do Ministério ora gerido por V. Exa ter, aparentemente, decidido que o hospital dos Capuchos precisava de 59 oftalmologistas, o que me faz pensar estarmos perante um flagrante caso de excessivas diopterias por parte de quem gere os recursos humanos de um hospital. Por mim, pensava que os oftalmologistas eram escasssos, a avaliar por uma operação às cataratas a que a minha mãe teve de ser submetida. Quando ela iniciou a via sacra do médico de família tinha ela 81 anos. Quando o hospital lhe telefonou a marcar a consulta (mesmo assim para 4 meses depois…) já ela tinha 84 anos e a operação feita, esportulado € 8.000 (aquilo era só 4.000, mas imagine-se que rebentou um vaso, não sei quê, não poude pôr a lente logo, teve de reperir e "buiça" mais 4.000) e farta de ver televisão, ler livros e chamado nomes a António Guterres (ela é assim…).

Esta forma desabrida, esta imagem de marca do PS de ralhar com as pessoas sempre que "descobrem" erros e escândalos, a que eu chamaria síndrome Jorge Coelho, para os quais, frequentemente, o próprio Partido objectivamente colaborou tira-me do sério. Isto para não falar na questão da evasão fiscal. É que em dois dias (e isto só na Saúde) ficar a saber que o hospital de Santa Maria tem 1000 pessoas a mais e os Capuchos têm 59 oftalmologistas pode configurar uma situação em que fugir ao fisco não seja um acto de falta de civismo mas de pura sobrevivência perante uma colecção de ineptos esbanjadores sem qualquer respeito por quem, inapelavelmente, paga os seus impostos.

E, senhor Ministro, já agora ponha lá a arrogância e pose de mestre-escola de lado. Descubra as malfeitorias dos seus e as dos que o precederam mas pare lá de ralhar com a plebe. No fundo, nós limitamo-nos a pagar as asneiras e tramóias a que V. Exas nos habituaram. Não somos nós que abrimos concursos para oftalmologistas no Hospital dos Capuchos.

É a Vida...



Time for a good laugh

[632]

Four friends, who hadn't seen each other in 30 years, reunited at a party.

After several drinks, one of the men had to use the rest room. Those who
remained talked about their kids.

The first guy said:
- "My son is my pride and joy. He started working at a successful company at the bottom of the barrel. He studied Economics and Business Administration and soon began to climb the corporate ladder and now he's the president of the company. He became so rich that he gave his best friend a top of the line Mercedes for his birthday."

The second guy said:
- "Darn, that's terrific! My son is also my pride and joy. He started working for a big airline, then went to flight school to become a pilot. Eventually he became a partner in the company, where he owns the majority of its assets. He's so rich that he gave his best friend a brand new jet for his birthday."

The third man said:
- "Well, that's terrific! My son studied in the best universities and became an engineer. Then he started his own construction company and is now a multimillionaire. He also gave away something very nice and expensive to his best friend for his birthday: A 30,000 square foot mansion."

The three friends congratulated each other just as the fourth returned
from the restroom and asked:
- "What are all the congratulations for?"

One of the three said:
- "We were talking about the pride we feel for the successes of our sons. ..What about your son?"

The fourth man replied:
- "My son is gay and makes a living dancing as a stripper at a nightclub."

The three friends said:
- "What a shame...what a disappointment.

The fourth man replied:
- "No, I'm not ashamed. He's my son and I love him. And he hasn't done too bad either. His birthday was two weeks ago, and he received a beautiful 30,000 square foot mansion, a brand new jet and a top of the line Mercedes from his three boyfriends."

Recebida por e-mail

quarta-feira, novembro 16, 2005

Smoke anyone?



[631]

Apetece-me um cigarro. Lamber um cinzeiro. Beijar uma mulher fumadora com uma boca e chupar-lhe o cigarro com a outra! Sonho com um cigarro pousado num cinzeiro a libertar aquele conjunto de fumo branco-azulado num fio aveludado em ascendência vertical para, um pouco mais acima, se desfazer em argolinhas e emaranhados de plásticas inimitáveis e cheiro e calor impossíveis de reproduzir. Tenho visões onde a figura dominante é uma mesa de café, redonda e pequena, cheia de bicas, rodeada de gente em cavaqueira amena, todos com muitos cigarros, tudo com muito fumo e o aroma inconfundível da "nicotiniana t.", misturado com o buondi. Dou comigo a achar que tenho fome e que é óptimo porque, no fim do repasto, puxarei uma formidável passa num cigarro com 1 mg de nicotina, 1.2 mg de alcatrão e 4200 químicos cancerígeros que é o que dizem esses ortodoxos fundamentalistas da maximba que acham que fumar aperta as coronárias e nos transforma as paredes internas do pulmão em qualquer coisa semelhante a uma esponja acabada de ser usada na lavagem de um frigideira onde se fritou iscas com muito vinagre, banha e cebola. Até perceber que não – que não vou fumar coisa nenhuma, vou só comer e engordar mais meio kilo…

Completam-se hoje 15 – QUINZE – dias em que nem UM cigarro fumei. Unzinho, que fosse. Era tempo de eu achar que fumar faz mal, que o fumo do vizinho incomoda e que o Macário Correia tem razão em não gostar de lamber cinzeiros. Mas isso ainda não acontece. Continuo a olhar para os cigarros com um instinto guloso, acho os maços de uma estética formidável e até os dizeres FUMAR MATA vão muito bem com o Made In EU under authority of etc., etc., mais não digo que não me pagam para fazer publicidade. E até os cinzeiros me parecem irresistíveis.

Estou preparado para mais quinze dias. Para os medonhos quinze dias que se perfilam à minha frente, cheios de amigos que fumam com um ar de gozo que até parece que se riem de mim. Se os ultrapassar como fiz até aqui, começo a acreditar que é possível. Até lá… continuo sem saber o que fazer ás mãos quando estou a conversar, a varrer a secretárias com as mãos sempre que o telefone toca e a ter uma insuportável inveja daqueles que fumam…

terça-feira, novembro 15, 2005

Eurofonia

[630]

Eu sei que dizer cinquenta "Êurus" é a fonética correcta da coisa.. Mas "prontos", eu digo cinquenta "Eurôs". Soa-me muito melhor e apetece-me…

segunda-feira, novembro 14, 2005

Post plan



[629]

Alguém me explique como é que se faz para podermos fazer um post decente, sobretudo quando já não o fazemos desde sexta feira – claramente um exagero para quem gosta de dizer qualquer coisa todos os dias, mesmo quando não se tem nada para dizer.

É que tenho um milhão de coisas na cabeça, um milhão de coisas para fazer, um milhão de coisas para resolver e, de milhões, só não tenho mesmo o de Euros que era uma coisa que me daria muito jeito, mesmo que a ideia não vá lá muito bem com a esquerda elegante que neste últimos dias faz do debate e da génese poética o primado dos grandes objectivos políticos e vai daí, "pumba", vota em Manuel Alegre porque a opção B cheira a Mariani, a bolo rei e expressão facial de Halloween, Elm Street e assim e, queiramos ou não, continuamos a ser muito destas coisas. Os elegantes claro. De achar que entre um pescador de robalos e caçador de perdizes com jeito para fazer versos e de quem esvoaça o génio do pensamento salvífico das cruas questões que atormentam os portugueses e um provinciano filho de um gasolineiro, ainda por cima Cavaco de nome, emérito exemplar da vulgata algarvia, venha de lá o poeta. Cheira a Argel, a exílio, cheira a elevação de espírito, sonetos e só não cheira a Lisboa porque o homem é de Águeda. E aqui estaria um tema de post, mas não me apetece, e eu já tenho idade para fazer só o que me apetece.

Temos, assim, que não sei que post fazer. A
Vieira deu uma boa dica, maltratando o Flight Plan. Estive quase para discordar dela mas depois, vistas bem as coisas, ela tem um bocadinho de razão. Mas só um bocadinho, porque se ela se ativer à matriz do que o filme pretende ser - um thriller intenso e nada mais do que isso mesmo, sem pretensões "shyamalaineans" nem o génio (concordo com ela) do F. Whitaker, concluirá que o filme não é tão mau assim. E eu arriscaria mesmo em dizer que, do meu ponto de vista, foi a melhor interpretação da Jodie, a milhas de distãncia do Silêncio dos Inocentes e a anos luz do Contacto. Mas isto digo eu, que ainda não perdi o gosto de ver alguns filmes como um veículo de puro entretenimento, quando é caso disso. Com pipocas e tudo. E este Flight Plan é manifestamente uma popcornean reason para nos divertirmos e entretermos, apesar de lá para o fim do filme se sentir que tudo é explicado muito à pressa - que o filme já levava noventa minutos e era preciso acabar com aquilo.

Finalmente… o avião é notável. A Airbus saiu-se das tamanquinhas e deu uma banhada na Boeing. É uma máquina extraordinária e todos nós o ficamos a conhecer por dentro.

E olha… sem querer, lá saiu um post!


sexta-feira, novembro 11, 2005

Angola - 30 anos



[628]

Faz hoje trinta anos que Leonel Cardoso e um grupo de militares barbudos e mal ataviados procederam a uma cerimónia pífia, através da qual se arreou a bandeira nacional do mastro da fortaleza, após cerca de 500 anos de domínio português. Sem brilho nem glória (o brilho e glória poderiam ter sido também pedagógicos para a jovem nação angolana), começou a vida de um país de uma forma já inquinada pela cegueira de um punhado de torcionários portugueses que acharam e quiseram que apenas um dos movimentos teria legitimidade para governar. O resto é história conhecida.

Nessa altura muitos portugueses já se encontravam em Portugal, outros amontoavam-se no aeroporto à espera de um avião, outros ainda cruzavam o asfalto de Nova Lisboa, Caála, Catata, Caconda, Lubango, Serpa Pinto, Windhoek, para acabarem em Cullinam, à espera de um transporte para Portugal ou de um emprego na África do Sul do apartheid.

Para trás ficavam as magníficas florestas de Cabinda e os seus raros gorilas, as matas de café do Uíge e dos Dembos, os diamantes da Lunda, a Baixa de Cassanje onde os algodoeiros atingiam 2 metros de altura e produziam três toneladas de rama por hectare, os pastos do Negage e Camabatela, as quedas do Duque onde se dessedentava a palanca negra, única no Mundo, ali paredes meias com a rainha Jinga, os planaltos da Cela, da Quibala, Alto Hama, Chipipa, Huambo, Vila Nova, Bela Vista, Chinguar, a maior plantação contínua de eucaliptos do mundo, que passava por estes locais e continuava pelo Bié, Nova Sintra até ao Moxico das anharas, das madeiras e das malaquites, os ermos do Ruacaná sereno por ali abaixo até se despenhar fragorosamente na Namíbia, passando ao lado da "europeia" Huíla, do frio, das macieiras, pasteís de nata e queijo da Serra, Senhora do Monte, Tundavala e Txivinguiro, espreitando para mil e quinhentos metros mais abaixo, onde o deserto de Moçâmedes começava a sua imensa viagem até quase à Cape Province já na África do Sul, passando a Namibe e Karoo. E as welwitchias e as cabras de leque, as areias e as acácias de Benguela, os palmares de Amboim e a mais portuguesa das cidades africanas e lindíssima Cidade de S. Paulo de Assunção de Luanda, dos camundongos, das senzalas e das rebitas.

Faz hoje trinta anos que a nossa bandeira esfiapada foi arreada. Foi pena que o não tivesse sido mais cedo, por culpa de um asceta provinciano e manhoso que inventou aquele sketch dos portugueses de Minho a Timor e objectivamente responsável por parte da tragédia que atingiu portugueses e angolanos. A outra parte foi concluída a preceito por um bando de militares e políticos sem escrúpulos. Alguns deles ainda por aí andam. Um deles quer mesmo ser presidente da República outra vez...

Parabéns Angola, as tuas maravilhas ainda aí estão e pode ser que por um dia destes as cosas melhorem. Quem sabe?

quinta-feira, novembro 10, 2005

Parabéns a Maputo



Quem aterra em Maputo no sentido Sul/Norte da pista é "isto" que vê. Há coisa mais verde e bonita?

[627]

Se não fosse Cape Town eu atrever-me-ia a dizer que Maputo é a mais bela cidade africana. Mas já me atrevo a dizer que Maputo tem a graça e tem o tique não "do perfume de mulher" como dizia Tudela, mas de uma personalidade muito própria que lhe é conferida por uma geometria eficaz, bordejada por acácias que todos os anos a enchem de vermelho muito vivo.

Maputo faz hoje 118 anos (disse-me a
Madalena que, nestas coisas e quiçá em muitas outras, é insubstituível). Vivi nesta cidade um pedaço alargado da minha vida no período pós independêcia e a ela devo muito do que aprendi, através de experiências humanas riquíssimas que me ajudaram a entender melhor o mundo. A ela me entreguei também, que isto de experiências é um "give and take", e lá deixei, pelo menos, uma árvore (uma pequena acácia da altura da minha filha mais nova em frente á minha casa na Kim Il Sung e que hoje é uma magnífica árvore com cerca de cinco ou seis metros) e o resultado de um trabalho, bem remunerado e honestamente retribuido a uma comunidade que dele precisava. Sempre achei que era a melhor forma de colaborar e "ajudar" o país.

Tive esta reflexão pela primeira vez quando num "primeiro de Maio" vi um rancho de mulheres de várias nacionalidades, muito louras no cabelo e muito cinzentas nas meninges, a marcharem com uma bicicleta ao lado e empunhando cartazes a dizerem que a bicicleta era o transporte do povo e, ao chegarem ao fim do cortejo em frente ao Conselho Executivo da cidade, dispersarem, entregarem as bicicletas aos organizadores e meterem-se nos respectivos BMW e Volvos e irem para casa, até porque Samora Machel ia fazer um discurso, devia ser uma estucha e lá em casa os canapés iam perdendo o "crispy" e o consommé ia arrefecendo. Nesse dia, numa fase em que o socialismo já me cheirava a mofo e hipocrisia, percebi que eu e muitos como eu, que assumíamos o facto de trabalharmos para uma multinacional e que pagamento bom exije trabalho honesto e eficaz, ajudávamos mais o país que aqueles que faziam da retórica paternalista a sua missão e iam arrastar as sandálias para uma manifestação com bicicletas e depois se metiam nos respectivos carros para ir para casa.

Mas isto são histórias que não vêm agora para o caso. O que interessa mesmo é que Maputo faz 118 anos (diz a
Madalena) e sim - acho que Maputo é uma das mais belas cidades africanas e lá deixei uns anos de mim. Mas Maputo também me deixou um bom bocado dela que eu guardo com estima e saudade na minha arca de recordações das coisas boas.

Parabéns Maputo!

quarta-feira, novembro 09, 2005

A Irritação de um Democrata



[626]

Mais palavra menos coisa, Saramago disse que "se Cavaco for eleito ele terá vergonha do país", quiçá de si próprio por pertencer à negritude mental dos filhos de um deus menor que votarão o professsor de Boliqueime ou o comedor de bolo-rei, para usar a terminologia de Medeiros Ferreira. Disse ainda que jamais assistirá ou se fará representar em qualquer acto oficial da República, se tal desmando (a eleição de Cavaco) acontecer por parte do eleitorado português.

Por mim, Saramago poderá ficar por Lanzarote a cumprir aquilo que, aparentemente, é a sua conjugal obrigação de escrever dois livros por ano. Sempre evitava o esforço mental a que me obriga de o mandar morrer longe de cada vez que a sua democrática figura se lembra de nos passar um colectivo certificado de idiotas. Mesmo em sintaxe de Nobel…

Coldsback



Sala de espera de um consultório médico de portugueses proverbialmente friorentos, agora que a temperatura baixou dos 20 º para os 19...

[625]

Não. Não é uma marca de nenhuma cerveja que tenha sido lançada no mercado. Tem mesmo a ver com o frio que assomou por aí. E é um gritinho de alegria e de "warm (passe o trocadilho) welcome" para este ar fresquinho, cortante, carregado de saúde e de oxigénio que nos refrigera os pulmões, esmaecidos por meses seguidos de um caldo morno, viscoso e depauperante (quiça, até, "depauparante"…) que foi o ar que respirámos durante muitos meses seguidos.

Sei que os indefectíveis dos coqueiros e dos azuis dos trópicos das temperaturas lá para cima dos 30 graus Celsius, da roupa "fru-fru" e do bafo morno do entardecer me vão exprobrar o delírio, mas que me importa…se hoje está frio, viva o frio e, por um momento, sinto-me regressado ao primeiro mundo.

terça-feira, novembro 08, 2005

Quando a Esquerda é, apenas, pateta...



[624]

Ontem ouvi na TV esta pérola:

"Porque nós não queremos ver as imagens tão terríveis de Paris e de algumas cidades da França, temos que defender aquilo que é a capacidade de integração, de conviver com o outro, de termos as minorias que se possam exprimir da forma que queiram. Isso faz parte do nosso país, da nossa cultura."

A ostra era o meu Presidente da República que, com o ar compungido de quem acabou de ver o pai a bater na avó, se referia à trapalhada que vai por Paris.

Perante este tipo de afirmações e neste contexto a única coisa que me vem à cabeça é isto mesmo – o título do post.

Vale a pena ler
este post no Insurgente

segunda-feira, novembro 07, 2005

Uma mulher a fumar? Ou um cigarro a ser fumado?



[623]

Uma das sequelas da minha revisão e estação de serviço da semana passada foi a recomendação de um médico mais ou menos nestes termos:

- Se deixares de fumar… está tudo bem. Se voltares a fumar, dentro de quatro ou cinco anos estás "aqui" outra vez.

Considerando que o "aqui" não me suscita grandes entusiasmos, deixei mesmo de fumar. De repente cheiro melhor (cheiro no sentido de acção, não falo de odor corporal), saboreio melhor e até o ar me parece mais limpo. Já lá vai uma semana e já não sei sequer como se acende um cigarro.

Mas deixar de fumar tem aspectos perversos. Preocupantes mesmo. Lembro-me que antigamente (por antigamente entenda-se há uma semana atrás), a visão de uma mulher bonita a fumar um cigarro era isso mesmo. Uma mulher bonita em que eu reparava com a atenção que as coisas bonitas merecem, com um cigarro pendurado nos dedos ou nos lábios… fosse qual fosse o suporte, dedos ou lábios, a coisa era bonita de se ver (ela, a mulher) e o cigarro era mero figurante. De repente, eis que uma mulher bonita se tornou na visão embriagante de um cigarro a arder, a evoluir no fumo a volúpia de uma formidável passa, daquelas que nos enchem os pulmões do prazer nicotiano que só um fumador entende. E esta, sim, é a imagem que passa. Que passa e que fica. O cigarro. Que, por acaso, tem uma mulher pendurada, por bonita que seja, mas pendurada e remetida para a vileza dos segundos planos. Pendurada pelos lábios ou pelos dedos, tanto faz.

Preocupante, né?

domingo, novembro 06, 2005

Quando a paleta é de oiro...



Le Passion - C. Monet

[622]

... até o cinzento é bonito. É uma questão de receita. Uma questão de vontade. É o abandono à alquimia dos cinzentos que nos empardecem a alma e crispam o corpo. Porque a paleta nunca é de oiro. So o é se quisermos. E quando queremos, não há cinzento que resista, sendo ele mesmo a mais feia das cores. Pelo menos a mais triste. Mas sem cinzento não poderíamos valorizar o contraste. É por haver cinzentos que glorificamos o azul, nos rendemos à candura do branco, fervilhamos com o vermelho e nos deixamos arrastar na doce esperança do verde.

Há dias assim. Dias em que acordamos no meio de paletas, paletas usadas, nossas velhas conhecidas, pincéis velhos e telas gastas e, de repente, no meio da velharia cinzenta, lá está uma paleta de oiro com um brilhozinho envergonhado mas que nos faz saltar com vontade de pintar as cores todas do mundo. Combiná-las. Harmonizá-las. Ou não. Deixá-las ser como são. E, todas juntas, deixá-las transformarem-se numa paisagem suave ou na riqueza cromática de um ramo de flores.

Talvez porque é Domingo. Talvez porque as paletas de oiro existem por aí. Nós é que nem sempre damos por elas.

Bom domingo para todos.


Brumes et pluies

Ô fins d'automne, hivers, printemps trempés de boue,
Endormeuses saisons ! je vous aime et vous loue
D'envelopper ainsi mon coeur et mon cerveau
D'un linceul vaporeux et d'un vague tombeau.

Dans cette grande plaine où l'autan froid se joue,
Où par les longues nuits la girouette s'enroue,
Mon âme mieux qu'au temps du tiède renouveau
Ouvrira largement ses ailes de corbeau.

Rien n'est plus doux au coeur plein de choses funèbres,
Et sur qui dès longtemps descendent les frimas,
Ô blafardes saisons, reines de nos climats,

Que l'aspect permanent de vos pâles ténèbres,
- Si ce n'est, par un soir sans lune, deux à deux,
D'endormir la douleur sur un lit hasardeux.


(Baudelaire)

Um Post "food-i-do"



[621]

Este
Altino é food-i-do.

Afinal ele tem a chave para os graves problemas da imigração na Europa e perde-se aqui pela Blogoesfera a espirrar contra o status que permite as enormidades que andam a ser praticadas lá pela Gália. Pois, basta ler o
Altino, que o problema é tão simples como:

1 – Ir aos respectivos bancos centrais, "levantar umas massas", construir umas habitações de tipologia... não sei bem qual pois uma grande parte dos blocos residenciais construídos para este efeito já têm a mesma tipologia da casa do próprio
Altino, a avaliar por uma foto que vi do prédio dele.

2 – Depois, é uma questão de se ver o agregado familiar e pagar-lhes um salário decente. Coisa que os nativos, na maioria dos casos não têm, mas "prontos", esses também não foram escravos, segregados nem explorados, ainda por cima são brancos e vão á missa e não têm nada que se pôr com mariquices;

3 – Segue-se um eficiente sistema de assistência média, reforma aos 60 anos, 30 horas de trabalho semanais, ensino superior gratuito, crédito generalizado e um dia de compras subsidiadas nos grandes centros comerciais de Lisboa e Porto (há desmesurados lucros que têm de ser balanceados...);

4 – Finalmente, seria obrigatório um "ofício" assim a fugir para o religioso e de preferência aos Domingos, onde todos os cidadãos deveriam ter uma presença "obrigatoriamente voluntária" e em que se procedesse assim a uma espécie de homilia, sem ser homilia, em que os nativos deveriam pedir desculpa aos imigrantes por tudo o que os seus tataravós lhes fizeram, desde os navios negreiros ao chicote, passando pelos terrenos roubados (incluir aqui o sol a chuva, o vento e o "Cruzeiro do Sul").

O Altino acha que
... Agora Paris, é mata-los, aos pretos e aos árabes, esses muçulmanos filhos da puta. Morte aos mouros sarracenos. Os que caminham mais de ano atravessando África, rumo a esta Europa do sonho que nem ousem entrar. Morram os gajos. Vamos lá construir muralhas, como a da China. Uma muralha enorme a contornar esta Europa velha e caduca, impotente, desalmada. Esta Europa das autoridades morais. Dos pedófilos de Mercedes Benz. Esta Europa das multinacionais. Viva a bela Europa. Para o inferno com os infiéis... e isto é, admitamo-lo intolerável. O Altino acha que Amanhã, nas eucaristias dominicais a homilia versará o tema, estou quase certo. Juventude, terrorismo urbano, africanos, magrebinos, pobres, essencialmente. E é aqui que está o problema. Os ricos querem continuar a enriquecer e a explorar os pobres, sem piedade, e esperam que estes se sujeitem à sua condição de casta inferior do mundo capitalista. Que se encolham perante o enxovalho, que se resignem perante a discriminação, que morram electrocutados porque são miseráveis. Os ricos fazem a guerra para enriquecerem, nada mais simples e cru. Os pobres destroem os símbolos dos ricos para se defenderem, nada mais justo. Pois o império capitalista vai em direcção a isto: à revolução, à revolta. Não esperemos outra coisa, cobardes que somos, cínicos, amantes das nossas coisinhas. O mundo capitalista caminha para o caos.

Por isso aqui deixo a sugestão de, em quatro simples alíneas, resolvermos de vez este tremendo problema da imigração, afinal tão fácil de resolver. E o
Altino terá uma oportunidade única de fazer a alquimia dos seus ódios, promovendo uma sociedade justa, saudável e com um sol a brilhar para todos e um amigo em cada esquina.

Entretanto, enquanto a coisa vai e não vai, o
Altino poderia aproveitar para viajar um bocado. Ler, possivelmente. Conhecer gentes e sítios. De preferência acompanhado pela mulher. Beber um copo com ela em Mogadiscio ou Ryad. Sugerir à mulher que vista umas jeans em Teerão ou partir umas cadeiras do estádio da Machava ou dos Coqueiros, após um jogo de futebol em que a selecção portuguesa perdesse. Poderia ainda esboçar um protesto pacífico (como Daniel Oliveira diz que os imigrantes não podem fazer em Paris, o que é mentira, mas Daniel Oliveira mente todos os dias, pelo que já nem se nota...) em Harare sobre a reforma agrária, em Kartum sobre a liberdade religiosa ou em Bissau sobre a excisão do clítoris.

E depois de uma lista muito extensa que não vale a pena estender aqui mas para a qual poderei contribuir se o Altino estiver mesmo interessado em arejar um bocadinho o mofo das suas convicções, resta-me deixar aqui um recado ao Altino. Um recado de uma pessoa que acha que os imigrantes são, frequentemente, explorados e vivem, por razões intrínsecas à sua condição e ao facto de milagres só na Bíblia, em condições sub-humanas. Ainda assim, incomparavelmente superiores às de que dispunham nos seus países de origem. E porque a Europa, apesar de muitos problemas que têm de ser resolvidos lhes continua a oferecer a liberdade e a dignidade que não têm nos seus próprios países ou noutros que não os deles e que se apregoam de modelos de virtudes, é que continua a ser o seu destino de eleição, tal como os Estados Unidos. Não sei de fluxos migratórios para Cuba, Coreia do Norte ou China. E para a Venezuela a coisa anda um bocado parada desde que nasceu por lá outra estrela salvífica e brilhante...

Esta atitude, linda de morrer (e este "linda de morrer" poderá ter aqui um sentido literal), de achar que a Europa tem culpa de tudo o que de mau vai pelo mundo, é um atentado ao bom senso e à racionalidade que deveria constituir matriz do orgulho que todos os europeus deveriam sentir pelo seu contributo inestimável ao mundo – a liberdade, a dignidade e o bem estar dos povos. Pelo menos dos seus. E quem quiser ser assim terá de se integrar na sociedade que almejam, exactamente com os mesmos direitos e deveres. Deixando, por exemplo, de andar a queimar escolas, autocarros, fábricas e pontapear idosos até à morte. E se os europeus quiserem sobreviver poderão e deverão ir ao funeral de dois delinquentes jovens, da mesma forma que não deveriam deixar de ir ao funeral de um idoso pontapeado até à morte por um punhado de energúmenos que, lá por serem imigrantes, não deixam de ser isso mesmo – energúmenos.

sábado, novembro 05, 2005

A Escumalha



[620]

Daniel Oliveira acha que há uma escumalha política objectivamente responsável pelos problemas causados pelos imigrantes em Paris (Expresso, 5/11/05).

Segundo Oliveira, a escumalha estende-se a dois polícias franceses que resolveram perseguir duas crianças de 15 e 17 anos, franceses e de origem muçulmana, inocentes e sem cadastro. Estes, com as suas razões (presume-se que conhecem bem a escumalha de Daniel Oliveira e não quiseram facilitar) ficaram cheios de medo da policia, esconderam-se numa caixa de alta tensão (presumivelmente ali colocada pela escumalha que já sabia que um dia duas crianças de origem muçulmana ali se esconderiam) e morreriam electrocutados. Presume-se que a escumalha policial deve ter feito o sinal da cruz e agradecido a Deus terem-se visto livres de mais dois descendentes de muçulmanos que resolveram esconder-se numa caixa de alta tensão.

A seguir vem a via sacra do costume, segundo os Daniéis de Oliveira do nosso descontentamento. Há mentiras difusas, a aceitação "sem pestanejar" (esta do sem pestanejar é "escumálhica" mesmo...) da versão da polícia por parte do ministro do Interior que nesse dia terá acordado a pensar quantos descendentes de muçulmanos é que havia de electrocutar e a história desenvolve-se por si. Muitas centenas de jovens descendentes de imigrantes, já com subsarianos à mistura resolveram encher Clichy-sous-Bois- de violência porque a república nunca lhes deu grandes oportunidades para exercer o protesto pacífico, imagine-se. Mais grave ainda. Quando os incidentes pareciam sob controle não é que a polícia decidiu mandar uma bomba de gás lacrimogénio para dentro de uma mesquita de fiéis? Numa altura em que tudo já estava mais ou menos sanado e até já havia dois electrocutados?

A história prosseguiu nestes moldes com as malfeitorias da escumalha (da genuína, entenda-se da francesa que não é descendente de imigrantes muçulmanos) a subirem no tom e no número e os Daniéis de Oliveira rejubilaram e desataram a escrever por aí.

Não sei se o Oliveira alguma vez passou da Trafaria, nem me interessa. Mas, se passou, a coisa é ainda mais grave. A desfaçatez e desonestidade com que esta gente traça o surrealismo destes quadros provindos de um dos mais delicados problemas da Europa (a imigração e sua integração, desejável e urgente) faz-nos perceber de que lado está a verdadeira escumalha. Se daqueles que perseguem crianças inocentes e sem cadastro se daqueles que, como Daniel Oliveira, sem um pingo de vergonha na cara escrevem enormidades destas.. E ainda lhes pagam por cima. É a escumalha remunerada!

sexta-feira, novembro 04, 2005

Becagueine...



[619]

Cá estou de volta, após uma revisão e estação de serviço (!…)

A todos os que manifestaram interesse pelo meu estado de saúde (e foram bastantes), quer no post anterior, quer nos inúmeros mails, sms e telefonemas (via filha) que recebi, deixo aqui a expressão sincera do meu reconhecimento.

Para todos um grande abraço e um beijo muito, mas muito sinceros.