quinta-feira, setembro 29, 2005

A ler...



[578]

O Príncipe Leopoldo

Faz hoje uma semana que, no Teatro S. Luiz, ocorreu um dos mais interessantes debates recentes sobre as relações da "direita" e da "esquerda" com a "cultura. Realizado no âmbito das Noites à Direita – Projecto Liberal, juntou à mesma mesa António Mega Ferreira (representante da esquerda), Pedro Mexia e Rui Ramos (pelo lado da direita), moderados por Manuel Falcão, e pecou apenas por terminar no ponto à volta do qual deveria ter girado a noite toda. Mas lá iremos.
O ponto de partida da conversa foi um fenómeno intrigante: por que razão a maior parte dos "agentes culturais" tem hoje tendência a ser de esquerda? Coube a Pedro Mexia dar o primeiro contributo para mostrar que nem sempre foi assim. Mexia não teve dificuldade em apresentar uma impressionante lista de inovadores artísticos do século XX, feita "à mesa do café" em poucos minutos, que ninguem hesitaria em considerar de "direita". Mas logo teve de alertar para algo que, na maior parte deles, não os recomendava: a sua antipatia pelo demo-liberalismo e correspondente simpatia fascista. Coube então a Rui Ramos dar o segundo contributo para a mesma ideia. Ramos notou que se poderia dizer o mesmo de uma lista equivalente para a esquerda: quase todos antipatizaram com o demo-libralismo e namoraram o comunismo.
A razão por que o intelectual de direita tem sempre de fazer estes avisos, enquanto o de esdquerda não, já nos conduz a explicar, pelo menos em parte, o mistério. Afinal, talvez devesse caber ao de esquerda o maior esforço: o fascismo foi um fenómeno europeu de curta duração (pelo menos de forma generalizada), o comunismo um fenómeno planetário, que ainda sobrevive e durante o qual se praticaram muitas mais barbaridades do que sob o fascismo. É provável que tudo isto tenha que ver com a forma como o fascismo desapareceu: o fascismo foi arrasado (depois de vertido muito sangue) por uma aliança entre o Ocidente de matriz liberal e o comunismo, o que transformou o antifascismo no grande consenso das sociedades democráticas contemporâneas.
A esquerda nunca sentiu, portanto, necessidade de expiar os seus fantasmas da mesma forma que a direita. É por isso que utiliza a autoridade de forma descomplexada. O que é verdade para tudo e, logo, também para o apoio à "criação". No que chegamos ao tal ponto essencial onde terminou o debate: as relações entre o poder político e os agentes culturais. Como o fantasma de Hamlet a apontar o crime, a questão pairou sobre toda a conversa, ms só no final foi falada a sério. Não existe ligação mais antiga do que a do poder político com os artistas ou os intelectuais – Aristóteles e Alexandre, Velásquez e os Habsburgos, Bach e o príncipe Leopoldo. Pela sua própria natureza, a actividade artística raramente dispensa o poder, e o poder adora autoglorificar-se através da arte. Quando Rui Ramos disse que o "Estado" quase nunca tivera, historicamente, responsabilidades face à arte, pois se trata de uma instituição recente, tendo a arte dependido de tantas outras formas de poder, estava a acertar e não estava. Ao perguntar-se: "O que tem Bach que ver com o Estado?", logo pareceu a Mega Ferreira que o tinha apanhado em falso: afinal, sem o príncipe Leopoldo, Bach nunca teria existido. Altura em que Mega Ferreira confessou ter passado a noite inteira com receio do momento em que lhe colocariam a questão do "príncipe". Isto é, a facilidade com que a esquerda adopta na cultura o "princípio do príncipe", quer dizer, a defesa do arbítrio e da discricionariedade do poder político na distribuição de meios para fins artísticos. Mega Ferreira estava, pois, a reconhecer que o mais difícil pelo lado da esquerda é explicar como é que o partido do "sonho" e dos "novos mundos" gosta tanto da autoridade estatal.
Eis, portanto, o ponto essencial. Que encolve um paradoxo: sem sentir necessidade de expiar os seus fantasmas, mantendo, portanto, mais ou menos intacta a boa consciência de quem se afirma guardião da "liberdade" contra o "autoritarismo" da direita, a esquerda não hesita em utilizar a mesma autoridade que (em teoria) tanto odeia para fomentar um ambiente cultural onde a sua mundividência surge como ponto de partida. Como é evidente, só há uma solução para a direita: perceber que não tem o monopólio do horror, não tendo, portanto, por que sentir-se complexada. A direita cultural deveria de uma vez por todas contribuir para desfazer o consenso antifascista que tende sempre a empurrá-la para a tentação negra do fascismo e que, desse modo, limita o pluralismo político e cultural das nossas sociedades. Não para desdramatizar o fascismo, mas para mostrar que ninguém aqui é virgem e que o fascismo não é o único horror. Isto obrigaria a esquerda a um exercício de humildade, que a faria perder a sua arrogância moral. Desta forma, talvez essa direita perceba que, no corrente contexto, o seu é que é o lado da "liberdade", e que a "autoridade" está do outro. Eis, precisamente, o que pode constituir a base de um programa muito apelativo para a tal "ruptura cultural" que Mega Ferreira tanto defendeu ser apanágio da esquerda.
Luciano Amaral in DN de 29/9/05

terça-feira, setembro 27, 2005

Engolir Sapos Vermelhos...



[577]

Lá traque ser... vim para casa mais cedo e tudo.

Trouxe uma travessa de sapos do escritório e vou-me atirar para o sofá a torcer pelos lampiões.

ESSSÉLEBÊÊÊÊÊ!.......


Ass: Sportinguista indulgente

O Homem Tem Próstata



[576]

Está explicado porque é que me anda a fornicar o juízo há, pelo menos, 30 anos e meio...


NOTA: Luz acesa pelo Faccioso

15 Contras, ontem...



[575]

Do debate de ontem, "ficou-se-me":

1 - Correia de Campos diz que não acha mal que os grandes grupos tenham lucros, mas diz que acha mal que os grandes grupos financeiros tenham lucros;

2 - Correia de Campos acha mal que a Associação Nacional de Farmácias tenha "centenas de procurações" de farmácias associadas da ANF para negociar com o Estado os pagamentos do dinheiro que lhes é devido;

3 - Correia de Campos está irritadíssimo que João Cordeiro tenha conseguido entrar no comércio de distribuição de medicamentos na Polónia e que, em face disso, os lucros das farmácias não devem ser assim tão pequenos e isso... pela forma como ele falou, deve ser mau, ter lucros;

4 - Fátima Campos Ferreira descobriu as "mais valias de lucro"...

5 - Que os medicamentos descem 6%, alguns sobem 10%, tudo junto e somado descem 4% (assim, a frio, parecia-me o contrário) que os economistas não gostam de monopólios (ninguém gosta, mas foi o Estado que os criou, neste caso particular), mas que tudo junto e somado, o "mexilhão" vai pagar mais nas farmácias pelos mesmos medicamentos;

6 - Que Correia de Campos tencionava retirar a gratuitidade da insulina aos diabéticos, mas que a Associação Nacional de Diabéticos "fez-lhe ver as coisas", o ministro recuou e a Associação "está-lhe muito agradecida";

7 - Correia de Campos era "Gonçalvista", mas evoluiu;

8 - Que João Cordeiro não gostou nada da autorização de venda de medicamentos não sujeitos a receita médica, mas evoluiu e vai vendê-los para a Polónia;

9 - Que a Fatinha não gosta que se tenha mais que uma farmácia e João Cordeiro tem muitas, porque a mãe, a mulher, três primas, uma irmã e a enteada de um sobrinho são licenciados em Farmácia;

10 - Que a Fatinha cada vez que falava em lobbies, fazia uma cara do tipo "Ah, apanhei-te". Ou atingia o orgasmo, fiquei na dúvida...

11 - Que a Fatinha continua a não deixar falar ninguém. Literalmente;

12 - Que as plateias batem palmas por tudo e por nada;

13 - Que o Bastonário da OM não estava ali a fazer nada;

14 - Que, de duas uma – ou a produção evita grandes planos da Fatinha ou ela faz, urgentemente, um lifting;

15 - Que isto é tudo uma merda!

Estrear pela primeira vez



[574]

Paulo Catarro, o mais simpático e expressivo (?!...) repórter desportivo da nossa televisão anda há dois dias seguidos a dizer-me, e a voltar a repetir, com aquele ar de quem lhe morreu o gato, abriu o correio e só tinha contas para pagar e vai ter a sogra para jantar, que o Benfica tem uma excelente oportunidade de ganhar ao Manchester, apesar de muitos dos seus jogadores se estrearem pela primeira vez na Champions League.

segunda-feira, setembro 26, 2005

Puro Entretenimento



[573]

Este fim de semana fui ver o "Fura Casamentos" (Wedding Crashers de David Dobkin).

Confesso que fui pelas figuras de Owen Wilson e do Vince Vaughn, hoje por hoje dois dos melhores jovens comediantes norte americanos, na minha pessoalíssima opinião. Mas também porque, cansado dos acontecimentos cinzentos e idiotas dos últimos dias me apetecia ver qualquer coisa descomprometida, qualquer coisa que cantasse a simplicidade e o humor como ingredientes indispensáveis ao nosso equilíbrio, num país onde cada vez nos rimos menos.

A historieta é simples e é isso mesmo. Dois amigos têm como hobby ser penetras de casamentos e, com isso, conquistar umas miúdas e comer do bom e do melhor (incluindo as miúdas, claro). Depois apaixonam-se e tal, a coisa complica-se, é tudo muito previsível mas tudo muito fresco e com um marcado sentido de humor e de inteligente diálogo.

No fim do filme, divertidíssimo, ocorreu-me quando é que conseguiremos fazer um filme assim... sem necessidade de uma mensagem transcendente, de conteúdos intelectuais e, claro, pedagógicos, e simbologias intrincadas e, preferencialmente, politicamente correctos. Um filme em que nós pagamos o bilhete, divertimo-nos, vimos embora e esquecemo-nos dele. Assim mesmo. Sheer entertainment, sem ser preciso passar mensagens elevadíssimas de candentes questões sociais e de duvidosa intelectualidade.

No dia em que o conseguirmos, se alguma vez conseguirmos, talvez se deixe de falar de vez em subsídios e toda agente vá ao cinema...

Nota: O filme é soft mas é de uma extrema sensibilidade, tem uma espantosa riqueza de diálogos (falar bem é indispensável para se ser bom actor) e quem disser que o filme não passa duma americanice idiota não faz a mínima ideia do que está a dizer!

domingo, setembro 25, 2005

Que raio de título darei a isto?...



[572]

O Espumadamente está a aproximar-se, perigosamente, de um regime de atenção a tracejado por parte deste vosso amigo.

Há várias razões para que isso se esteja a verificar, mas o facto permanece, indesmentível. Tenho tido intervalos mais longos entre posts, formas e conteúdos frequentemente longe daquilo que eu gosto e, sobretudo, fenece-me o entusiasmo que gerou quase seiscentos posts, quase 60.000 visitas (ou batidas - há pouco reparei que hoje chego lá, às 60.000) em pouco mais de um ano de vida, um punhado de comentários simpáticos (alguns deles encomiásticos) e um pequeno círculo de pessoas que nunca vi mais gordas (com um reduzido número de excepções que conheci ao vivo e a cores e que, por acaso, são excepções magras) mas com quem me habituei a dialogar através de comentários, que aprendo a apreciar e que transmitiram a sensação gostosa de ser apreciado, também. Muitas delas, até, que eu sei discordarem de mim em aspectos fundamentais do nosso quotidiano.

Mas há razões para esta quebra de entusiasmo. Ou de gosto. Ou não há... e estas coisas são mesmo e sempre assim. A eterna impermanência das coisas e das pessoas. A eterna procura da mudança que subjaz em todos nós ou a incontornável adequação ao ritmo da vida e da sua permanente inconstância podem ser as tais razões que referi há pouco. Talvez um pouco de cansaço, também.

Há sempre o recurso á transcrição de um poema, de uma foto bonita e cheia de significado para mantermos o blogue alimentado e esteticamente apresentável. Mas, com "all due respect", a coisa configura um pouquinho de batota, para um blogue do tipo deste, em que escrevo sem programa, sem disciplina, sem limitações temáticas. Sempre me agradou sentar-me ao computador e fazer um post pelo primeiro impulso. Assim ao jeito de quem vê uma mulher bonita! No impulso do momento sou capaz de, perante a tal mulher bonita, dizer qualquer coisa com graça e galanteria e seria SEMPRE incapaz de ir para casa estudar o que poderia dizer àquela mulher se a vir no DIA SEGUINTE. Com o blogue é a mesma coisa. O Espumadamente é a mulher bonita e eu, ou obedeço ao impulso e escrevo qualquer coisa eventualmente com graça, ou guardo para o dia seguinte e a coisa depois cheira a mofo. Sou assim, fui sempre assim e vou morrer assim.

Não faz muito o meu género estabelecer prosas adequadas ao recebimento de comentários de incentivo (embora toda a gente goste de mimos...) e isto para dizer que ando mesmo com falta de estaleca. Não estou a dizer que vou parar, não estou a dizer que vou fazer interregnos (isto pressupõe sempre um regresso cheio de ideias novas e entusiasmos renovados e não é, definitivamente, o caso). Estou apenas a dizer que me sinto vítima indefesa da abulia que, aqui e ali, nos ataca a todos.

Fico na esperança de que as coisas melhorem e que me sinta, naturalmente, capaz de me auto-estimular e poder debitar uns posts com um mínimo de interesse. Afinal... a masturbação, nas suas múltiplas vertentes, inventou-se para isso mesmo. Para nos auto-estimularmos quando o cenário envolvente nos não excita por aí além (esta última "tirada" é bem capaz de suscitar uma intervenção maliciosa de uma "gaija do Norte" que eu cá sei mas, se isso acontecer, é benvinda...).

Bom fim de semana para todos e pode ser que chova mais logo no Brasil e o Tiago Monteiro arranque mais um pontinho!

quinta-feira, setembro 22, 2005

Ah prontos, assim está bem...



Descaramento

[571]

"...Fátima Felgueiras foi detida no aeroporto de Lisboa, ainda antes da 7h00, quando tinha acabado de chegar do Brasil e se preparava para iniciar novo voo com destino ao Porto. A autarca sabia que seria detida quando entrasse em solo europeu, uma vez que as autoridades portuguesas tinham emitido um mandato de detenção internacional, logo que foi conhecida a sua fuga para o Brasil, país de onde é natural, o que impedia a sua extradição. Consciente do que a esperava, Fátima Felgueiras terá preparado meticulosamente o seu regresso, acertando estratégias de âmbito judicial mas também de natureza política. Desde sempre confrontada com o dilema do regresso - para poder defender-se em julgamento -, a autarca acabou por encarar seriamente essa possibilidade quando, em Maio último, um grupo de dissidentes do PS-Felgueiras lhe lançou o repto para encabeçar uma candidatura independente. Este movimento terá nascido do descontentamento de alguns sectores socialistas locais, que viam na preparação da candidatura oficial do PS as mesmas pessoas que rodearam a autarca nas actividades que deram origem às acusações de corrupção que desembocaram no processo do "saco azul". Entusiasmada, Fátima Felgueiras lançou-se em contactos com os seus correligionários socialistas, ameaçando mesmo contar alguns factos comprometedores durante o julgamento. Estas movimentações funcionaram como um alerta, fazendo estremecer a candidatura oficial do PS, mas também alguns responsáveis pelo partido a nível nacional. Ao que o PÚBLICO apurou, Fátima Felgueiras manteve, nos últimos meses, contactos com a cúpula do PS, que serviram para concertar as condições do regresso a Portugal, a par de algumas garantias recíprocas. Recorde-se que Fátima Felgueiras fez incluir Armando Vara e Narciso Miranda entre as testemunhas que apresentou para o julgamento (com início marcado para 11 de Outubro), sendo que o primeiro foi o coordenador nacional do partido para as eleições autárquicas de há quatro anos e Narciso Miranda o líder distrital do PS-Porto. Ontem, por entre reacções indignadas por parte de todos os partidos, Jorge Coelho evitou qualquer comentário hostil, limitando-se a dizer que as questões relacionadas com Fátima Felgueiras já não dizem respeito ao PS e que a justiça segue o seu caminho.Com a retaguarda política acautelada, os colaboradores mais próximos da edil cuidaram de preparar os aspectos jurídicos do regresso. Além de uma completa inversão no discurso de afronta à justiça por parte da ex-autarca, foram igualmente colhidos pareceres de figuras insuspeitas, como Jorge Miranda e Marcelo Rebelo de Sousa. Gomes Canotilho, que terá sido abordado por dirigentes máximos do PS, garante, no entanto, ter declinado a solicitação. Os pareceres contribuíram para dar a Fátima Felgueiras a confiança necessária para se entregar nas mãos da justiça, no pressuposto de que a sua inevitável detenção seria apenas temporária. De facto, as suas previsões confirmaram-se em pleno, uma vez que saiu em liberdade pouco mais de doze horas após ter chegado a Portugal..."

Entretanto, José Sócrates afirmou alto e bom som (quer dizer… ralhou alto e bom som) que o Governo não se mete nestas coisas da justiça. A justiça deve seguir o seu caminho e fazer o seu trabalho.
Sucks…

Tropicalização do produto

[570]

O Brasil pode ter lá os tais de mensalão, favela, trambique, mulher gorda no calçadão, sequestro, destinos marcados por búzios e santos à la carte para cada um dos seus cidadãos.

Agora... é inegável que mulher que pise o Rio adquire uma graça nova e um tique capazes de gerar conflitos intestinos graves entre a pretensa compostura sisuda de um europeu engomado e o gene abençoado que nos faz homens das cavernas em qualquer latitude (descontadas algumas incongruências minoritárias que não vêm agora ao caso). Senão, reparem na nova Fatinha Felgueiras: - Na roupa, na expressão, nas madeixas, na silhueta exacta ao milímetro, na expressão "eu sim e você?", na maquilhagem (aquele discreto tracinho no olho é de quem sabe da poda...), no conjunto, enfim, de uma mulher acabadinha de sair da revisão dos 40.000.

A mulher está um espanto, está linda, está desenvolta, vem com um sorriso de manga madura e uma tez de pôr de sol tropical. Ó prá ela aqui em baixo:



Ou então... é esta cena do equinócio que é hoje, sei lá! A única coisa que sei é que acordei com a voz dela na TV (realmente, a única coisa dissonante...), olhei, vi, olhei, vi outra vez, revi, tomei café e não pude deixar de registar aqui esta nota de macho latino que, convenhamos, nem ofende ninguém nem terá qualquer influência no desenrolar da justiça. Terá?
Ora vejam outra vez:




Fotos roubadas do Acidental.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Sublimações



[569]

De há uns tempos a esta parte comecei a ser visitado regularmente pela
Bárbara. Pouco depois, visitei o blogue dela, o Sublimações. Li-o mais ou menos em diagonal… mais tarde, cheirou a Moçambique e li-o com um pouco mais de atenção. Acabei por lê-lo quase todo. Decidi que tinha de o lincar para não me esquecer do endereço.

O tempo passou e quando me lembrava, não tinha o computador à mão e quando tinha o computador à mão… não me lembrava, o que faz um bocadinho o meu género.

A Bárbara tem uma forma fresca e fluida de escrever, por mim acho que escreve como deve falar e acho que ela deve falar como respira – com naturalidade, sem arrebiques, apesar da elegância decorrente da própria naturalidade. Além do mais, a forma como refere e analisa aspectos de Moçambique, que para mim são ainda muito próximos, porque conheço profundamente o país, é saudavelmente isenta de preconceitos, saudosismos e, sobretudo, do enviesamento próprio dos "sentidos únicos".

Posto isto, hoje calhou. O link lá está, á direita. Visitem-na, porque não é tempo perdido.

Então é assim...



[568]

Por mim é facílimo e claro.

Fátima Felgueiras chegou às sete, foi detida às sete e um quarto, está agora a ser ouvida no tribunal de Felgueiras, daqui a pouco é libertada (segundo acabei de ouvir de Jorge Miranda ela não pode estar detida, uma vez que a sua candidatura à Câmara foi aceite), faz a campanha, a TVI faz uns directos à maneira, na véspera das eleições ela "vai ali ao Brasil e já vem" e depois, se ganhar, volta em apoteose, Francisco Assis faz uma declaração de protesto e é acusado de divisionismo e Jorge Sampaio faz uma sessão de recolhimento e preocupação. Se perder, já lá está e diz que perdeu porque houve batota.

Mais fácil do que isto só acertar uma cruzinha no Euromilhões...

terça-feira, setembro 20, 2005

By the time...




[567]

By the time Germans decide, it'll be too late

If you want the state of Europe in a nutshell, skip the German election coverage and consider this news item from the south of France: a fellow in Marseilles is being charged with fraud because he lived with the dead body of his mother for five years in order to continue receiving her pension of 700 euros a month.

She was 94 when she croaked, so she'd presumably been enjoying the old government cheque for a good three decades or so, but her son figured he might as well keep the money rolling in until her second century and, with her corpse tucked away under a pile of rubbish in the living room, the female telephone voice he put on for the benefit of the social services office was apparently convincing enough. As the Reuters headline put it: "Frenchman lived with dead mother to keep pension."
That's the perfect summation of Europe: welfare addiction over demographic reality.
Think of Germany as that flat in Marseilles, and Mr Schröder's government as the stiff, and the country's many state benefits as that French bloke's dead mum's benefits. Germany is dying, demographically and economically. Pick any of the usual indicators of a healthy advanced industrial democracy: Unemployment? The highest for 70 years. House prices? Down. New car registration? Nearly 15 per cent lower than in 1999. General nuttiness? A third of Germans under 30 think the United States government was responsible for the terrorist attacks of September 11.

While the unemployment, real estate and car sales may be reversible, that last number suggests the German electorate isn't necessarily the group you'd want to pitch a rational argument to. In the run-up to the election campaign, there were endless references to "necessary reforms" and "painful change". And, in the end, the voters decided they weren't in the mood for change, especially the painful kind.
It was Angela Merkel's election to lose, and she certainly did. She did a swell job selling herself to foreign capitals as the radical reformer Germany needed. Alas, when it came to putting the same case to her own people, she balked. By the end of the campaign, she was promising little more than some slight tinkering, and even that proved too much for great swaths of eastern and central Germany.

Back in the summer, I was reprimanded by a couple of Euro-grandees for my gloomy assessment of the Continent. Just you wait, they chided me; Mrs Merkel was "Germany's Thatcher" and this chap Sarkozy was "France's Reagan" and in a year's time the entire political scene would be transformed. I couldn't see it myself. Mrs Thatcher and President Reagan were certainly powerful personalities, but 25 years ago they also had electorates who accepted that the status quo was exhausted and unsustainable. The Germans are nowhere near that point.

In fact, insofar as there's been any trend in recent regional and European elections, it's that voters were punishing Mr Schröder's party even for the very modest reforms to which he was committed: they're not at the Thatcher stage, they're more like those council workers who reacted to Jim Callaghan's call for a limit of five per cent pay increases by demanding 40 per cent. According to recent polls, 70 per cent of Germans want no further cuts in the welfare state and prefer increasing taxation on the very rich. In April, only 45 per cent of Germans agreed that competition is good for economic growth and employment.

In other words, things are going to have to get a lot worse before German voters will seriously consider radical change. And the question then is whether the Christian Democrats will be the radical change they consider: as Sunday's results in east Germany indicate, it's as likely if not more so to be ex-Commies or neo-Nazis or some other opportunist fringe party. The longer European countries postpone the "painful" reforms, the more painful they're going to be.

That being so, a serious "reform" party ought not to be propping up the status quo. The Christian Democrats have nothing to gain from joining the SPD in a grand coalition of all the no-talents. All that would happen is that blame for the ongoing sclerosis would no longer be borne by Mr Schröder alone but could be generously apportioned to Mrs Merkel, too.

Meanwhile, the Greens and the new Left party would become the principal opposition and the last thing Germany needs is to rearrange its political dynamic as a choice between the status quo and the far Left. So my advice to the Christian Democrats would be to sit this one out. You're only going to get one shot at fixing the country and a neither-of-the-above election where no one has a mandate for anything isn't it.

Which brings us back to that nonagenarian corpse in the Marseilles flat: what does it take to persuade the citizens of "enlightened" social democracies that sometimes you've got to give up the benefits cheque? Guardian and Independent types have had great sport with America over the last couple of weeks, gleefully citing the wreckage of New Orleans as a savage indictment of the "selfishness" of capitalism.
The argument they make is usually a moral one - that there's something better and more compassionate about us all sharing the burden as a community. But the election results in Germany and elsewhere suggest that, in fact, nothing makes a citizen more selfish than lavish welfare and that once he's enjoying the fruits thereof he couldn't give a hoot about the broader societal interest. "Social democracy" turns out to be explicitly anti-social.

Old obdurate Leftists can argue about which system is "better", but at a certain point it becomes irrelevant: by 2050, there will be more and wealthier Americans, and fewer and poorer Europeans. In the 14th century, it took the Black Death to wipe out a third of Europe's population. In the course of the 21st century, Germany's population will fall by over 50 per cent to some 38 million or lower - killed not by disease or war but by the Eutopia to which Mr Schröder and his electorate are wedded.

On Sunday, Germany's voters decided that, like that Frenchman, they can live with the stench of death as long as the government benefits keep coming.

By Mark Steyn,
aqui.

Por acaso, gostava de ouvir a opinião de alguns dos nossos especialistas sobre este artigo. Sem embargo da discussão sobre as autárquicas, claro...

A de ámôrr



[566]

Hoje falei ao telefone para o departamento de exportação de um grande empresa brasileira. Atendeu-me "uma tau de Daniela Cedrola", directora do departamento em causa. Depois de lhe explicar o que pretendia ela diz-me:

-Me manda um mail, vai, Daniela, com um éli apenas, ponto cedrola, eu soletro prá você… C de cámisola, E dji Eva, D dji de dêsêjo, R dji rátinho, O de Óscar mesmo, L dji linda e A dji ámôrre.

Eu sou mais Alfa, Bravo, Charles e assim, mas confesso que com uma interlocução destas me apeteceu telefonar para a Abreu e fazer uma reserva para o Rio (R dji rátinho, I dji inté e O dji Ó prámim a misturar cognac com serviço...).

Deus à Terça Feira



[565]

Hoje de manhã, acordei bem disposto, graças a Deus. Tomei café comi um "pão-de-deus" e liguei a televisão. Olhei para o canto da sala e uma das gatas massacrava, com requintes de malvadez, um louva-a-deus que gostaria eu de saber como lá foi parar. À saída de casa, abri a caixa de correio e, na ausência de cartas, tinha uma circular a avisar-me que Deus está em todos nós e para eu não faltar a um serviço religioso qualquer no Sábado, algures em Cascais, que Deus estaria lá. Na marginal vi um Fiat Punto com uma bandeira do Benfica no vidro de trás e um letreiro a dizer que Deus é grande (ignoro se terá alguma acoisa a ver com a derrota de ontem do Sporting na Madeira…). À entrada para o escritório, dei os bons dias à porteira (ela estranha sempre, na maioria dos casos ela é que dá os bons dias a quem entra…), perguntei-lhe "afinal quando é que ela ia de férias" e ela disse-me que ia na próxima semana se Deus quiser e Deus permita que continue o bom tempo. Ao almoço, descia despreocupadamente com um colega a João de Deus para ir almoçar e vejo um enorme Mercedes preto (matrícula TZ), vidros abertos, a subir lentamente a rua atrás do eléctrico (a João de Deus), vejo uma pessoa a acenar para mim… eu estava desprevenido, não estava á espera de ver ninguém a acenar-me num Mercedes preto TZ) e adivinhem quem era: Mário Soares, ele todo. Pensei que, realmente, Deus está em todo o lado. Até na João de Deus num Mercedes preto!

P.S. Garanto sob palavra de honra que tudo o que acabei de escrever se passou realmente. Juro por Deus…

Esquecimentos


[564]

Ainda ninguém se lembrou de dizer a Francisco Louçã:

- Você nunca foi militar. Não tem, portanto, moral para discutir as manifestações e este tipo de problemas relativos à instituição.

segunda-feira, setembro 19, 2005

Perplexidades



[563]

No intervalo do "Prós e Contras", o sentimento que me domina é, sem dúvida, a perplexidade.

Como é possível que passe em claro a premissa inquestionável de que o governo Guterres foi objectivamente responsável pelo momento que se vive no seio das Forças Armadas? Como é que é possível que Luís Amado diga agora que não pode negociar com as Associações sob pena de ferir as hierarquias das Chefias Militares, quando em 2001 o governo de Guterres foi avisado pelos chefes militares que as Associações e subsequente legislação iriam fatalmente conduzir à tal deriva sindical, com manifesta influência e aproveitamento partidários e Guterres insistiu e levou ao Parlamento a legislação que consagrava as atribuições das Associações? Mas estamos admirados de quê? E com quê?

O que verdadeiramente me sidera é esta ausência absoluta de identificação de responsabilidades de um governo que foi, indubitavelmente, o maior responsável pelo buraco em que estamos metidos e pela evidente desagregação e turbulência social em que vivemos. Guterres foi mau, foi incompetente, populista, irresponsável, quase que estivemos a apanhar com ele como candidato a Presidente da República e, mais grave, se calhar ganhava...

Evolução



[562]

Francisco Louça está ali ao lado à conversa com a Judite de Sousa e eu acho que estou claramente a sublimar os meus níveis de tolerância.

Houve tempo em que ouvir o Anacleto me obrigava a ir medir a tensão, tomar um calmante e uma caminhada de meia hora. Mais tarde, passei a conseguir controlar a situação com um par de kompensans. A coisa evoluiu para a gargalhada final. Hoje já sou capaz de ouvir a criatura sem me rir e com a complacência devida aos idiotas.

Palavra de honra que é verdade...

Blue Monday...



[561]

Na minha sessão de cafeína matinal (é... eu sei, este fim de semana não postei nada, mas houve tanto que ler e que fazer que não deu mesmo, além do mais estive num pré-coma televisivo porque vi três coisas esquisitas:- um esquadrão de gays institucionalizados na SIC, umas "xôdonas ladies" quaisquer também na SIC e o Zé Castelo Branco a cortar o cabelo, chorando copiosamente, para ir fazer uma recruta militar na TVI (??) e convenhamos que são violências a mais para quem teve necessidade de passar um fim se semana pacato e com um dose de tv superior ao habitual), mas ia eu a dizer... na minha sessão de café da manhã pré barba, duche e essas minudências, ouvi para aí umas trinta vezes no "Bom Dia Portugal" da RTP que a série "Desperate Housewives" (que passou na SIC) NÃO ganhou o Emmy para a melhor série televisiva. Depois de vincarem bem esta notícia lá diziam que a série vencedor foi a "Lost", que por acaso foi transmitida pela RTP. Ou seja, a verdadeira notícia não foi que a "Lost" ganhou, mas sim que a "Desperate Housewives" perdeu. É... nós somos assim e não há nada a fazer.

Em segundo lugar, na escala das expressões mais ouvidas, foi "o país mais rico do mundo", a propósito do desejo de alguns residentes em Nova Orleães quererem regressar a casa e as autoridades acharem que é ainda prematuro. Claro que o "país mais rico do mundo" não concordou e continua a massacrar as vítimas do Katrina.

Em terceiro lugar, quase ex-aequo com o "país mas rico do mundo" veio a expressão "a esquerda ganhou as eleições na Alemanha" e depois, já mais baixinho, que a CDU tinha tido o maior número de votos.

O facto de Angela provir de uma pequena cidade da antiga Alemanha do Leste, uma região cuja população, após quase 16 anos da queda do muro ainda não sente melhorias, mereceu também destaque. Esta de não haver melhorias na ex RDA após desasseis anos da queda do muro só pode vir de quem não faz a mais pequena ideia do que está a dizer ou do que era a Alemanha do Leste ou, muito mais grave, faz e, então, é absolutamente obsceno dizer-se o que um apresentador, em voz off e melíflua, repetiu, repetiu, repetiu e repetiu até à exaustão.

Pronto... começou a semana!

sexta-feira, setembro 16, 2005

Levanta-te e Ri



Rising Sun - Mozambique

[560]

Historinha, modestinha mas "hónestinha", ainda que de pé-quebrado, dedicada a uma
amiga:


A formigucha caminhava, lampeira e feliz, ao longo do trilho que já conhecia quando, de repente, um floco de neve lhe cai em cima de uma das patinhas e a imobiliza no caminho, ou assim ela pensou. A formigucha olhou à volta, não viu ninguém que a pudesse ajudar, olhou de novo para o floco de neve, enorme, maior do que ela e, vendo o sol brilhando, pediu-lhe:

- Ó sol… tu que és tão forte, que derretes a neve, desprende o meu pezinho!

O Sol olhou para a formigucha e disse:

- Mais forte do que eu, é o muro que me tapa…

E a formigucha:

- Ó muro, tu que és tão forte que tapas o sol, que derrete a neve, desprende o meu pezinho!

O muro olhou para o sol (que já tapara), para a formiga e disse:

- Mais forte do que eu é o rato que me roi!

E a formigucha:

- Ó rato… tu que és tão forte, que rois o muro, que tapa o sol que derrete a neve, desprende o meu pezinho!

O rato, olha para o muro, para o sol e diz:

- Mais forte do que eu é o gato que me come!

E a formigucha:

- Ó gato, tu que és tão forte que comes o rato, que roi o muro, que tapa o sol que derrete a neve, desprende o meu pezinho!

O gato eriçou o pelo, olhou para a formiga, para o rato, para o muro, para o sol e diz:

- Mais forte do que eu é o cão que me morde!

E a formigucha:

- Ó cão… tu que és tão forte, que mordes o gato, que come o rato que roi o muro… que tapa o sol que derrete a neve… desprende o meu pezinho!

O cão olhou, desinteressado e ausente, espreitou o gato, o rato, o muro, o sol e o floco de neve e disse:

- Mais forte do que eu é o touro que me marra!

E a formigucha, já muito cansada, triste, cheia de frio, começa a pensar ter chegado a sua hora. O céu tornara-se cinzento, muito cinzento e feio, o frio apertava mais e mais e a formiga achou que ia morrer. Já quase sem forças, virou-se para o touro e suplicou:

- Ó touro, tu que és tão forte… que marras no cão, que morde o gato que come o rato… que roi o muro que tapa o sol que derrete a neve… desprende o meu pezinho!

E o touro, altivo e possante, disse:

- Mais forte do que eu é o homem que me toureia, me espeta bandarilhas no pescoço, me sangra e humilha e, finalmente, me trespassa o pescoço e mata!

A formigucha, ouviu, sentia-se cada vez mais fraca, esvaída e entregue ao fado da sua desgraça, as lágrimas corriam-lhe já pela carita triste, o céu cada vez mais feio e cinzento, do sol já nem sinal, todos os animais com quem falara haviam desaparecido, nenhum deles quisera ou pudera ajudar. A formigucha, já sem forças, olhou para o pé preso no floco de neve, enorme e, de repente, uma luzinha lhe iluminou o espírito. E se ela própria, tantasse puxar a patita? O floco parecia grande, mas valia a pena tentar. E é assim que ela puxa a patinha e, surpresa!... o pé liberta-se com a maior facilidade e a formiga repara então que o floco era enorme mas a neve, muito leve, não oferecia dificuldade em ser removida. Era só tamanho, mesmo!

A formiga, já liberta e feliz, continuou o seu caminho e, mais à frente, até encontrou uma cigarra (a cantar, naturalmente…). A formiga estava tão feliz que até cantou com a cigarra, esquecendo-se dos seus deveres de formiga da lenda, suposta, como era, de armazenar alimentos no celeiro.

E, no céu, o sol brilhava de novo!

quarta-feira, setembro 14, 2005

Valha S. Jorge à Rua de S. Paulo



[559]

Eu sei que dizer que Lisboa está uma cidade feia, porca e, frequentemente, má, começa a ser um lugar tão comum como o José Sócrates ralhar com as pessoas na televisão.

Mas há alturas em que dificilmente podemos calar a vergonha, a tristeza de termos a capital que temos. Hoje, por razões logísticas, deixei o carro em casa e apanhei o comboio para o Cais do Sodré onde, obedecendo à pontinha de romantismo alfacinha que existe em mim, resolvi tomar um café e apanhar o eléctrico para o local de trabalho, considerando que o eléctrico pára à porta do escritório. E é assim que me meto pela rua de S. Paulo que é onde o eléctrico passa, a caminho dos Prazeres. E é aqui que a odisseia começa. Entre vários locais em obras, carrinhas estacionadas a carregar e a descarregar, contentores monstruosos com entulho das obras, betoneiras e umas pequenas escavadoras de lagartas lá descobri um "café-pastelaria". Entro e peço uma bica a um fulano gordo, suado e sebento. Barba de vários dias e um avental imundo. O homem serve-me o café, não parando de discutir o descalabro do Benfica de há dias, sem sequer olhar para mim. Café queimado, em chávena a escaldar com um pacote de açúcar atirado para cima do balcão. Vendo que mal conseguia tocar com os lábios na chávena, pedi ao homem gordo e sebento que me mudasse o café para uma chávena fria. Sem parar de discutir a expulsão de Ricardo Rocha e a reputação da mãezinha de Koeman, e depois de vários "ofaxavor" em tom de súplica o homem concedeu-me um ar de soslaio para me dizer "mais fria"? "Mas olhe que toda a gente gosta assim".

Emudecido e quase aterrado pela ideia de me dar três coisas e emigrar, balbuciei um quase inaudível "chávena fria, fáxavor" e lá consegui ser atendido na minha "esquisita" pretensão. Saí da pastelaria (??…), o passeio estava limitado por uma protecção metálica, gente a trabalhar em cima, carrinhas a estacionar em baixo, poeira, muita poeira, gente das obras a gritar e lá percorri os cerca de 200 metros até à paragem do eléctrico. Duzentos metros pejados de "cafés-pastelarias", restaurantes, "comidas" e lojas de artigos eléctricos e electrodomésticos e até um "cash converter" (eu vi, estava lá escrito…) onde se vende, compra e troca quase tudo. Os vidros, embaciados de pó colado à humidade da noite, mal deixam ver o interior de muitas lojas pejadas de milhares de artigos diferentes e de descrição impossível. Desde santinhos em loiça, até chapéus de chuva. Potes, telemóveis, tecidos, chás medicinais, bonecos a dizer "I love you", estojos de unhas, tudo amontoado, tudo muito horrível e alegadamente muito barato e comprovadamente de um pirosismo atrós. Curiosamente, muitas dessas lojas estavam cheias de gente…entretanto, os restaurantes sucediam-se quase porta sim, porta não, muitos deles sem porta, tudo aberto, ao pó das obras e com as mesas já postas, mesas metálicas cobertas de toalhas de papel branco e algumas já com o pão (o couvert…) em cima.

Neste tudo ao molho e fé em Deus, aparece o eléctrico, ronceiro, 25- Prazeres, onde entro, compro um bilhete (€1,20) e me sento. A coisa piorou. Ao longo de toda a rua de S. Paulo, dificilmente o eléctrico percorreu mais de 30 metros, sem que tivesse de parar e esperar que os condutores de carrinhas, motoretas de carga, camiões (sim… camiões) estacionados na faixa da linha os retirassem para dar passagem ao eléctrico. Tudo gente a trabalhar, claro, fiquei a sabê-lo porque às tantas os passageiros já discutiam com os condutores e era isso, "que estavam a trabalhar", que os condutores diziam. Pelo meio havia polícias… ordenando (???) o trãnsito… já que apanhámos várias camionetas a fazer manobra de marcha atrás para descarregar materiais de obras. E o pó. O omnipresente pó. Tudo cheio de pó. Os carros, os vidros dos restaurantes, as lojas e tudo, mas tudo, ao pó. O pão, os guarda-chuvas, as frutas expostas (os "alpersses" e as "ameichuas", pelo menos era o que se via anunciado em bocados de cartão rasgado, com o preço), as pessoas, tudo era pó, algazarra e obras. Obras, obras e obras.

Não faltava um casal de turistas no eléctrico, com um mapa da cidade e olhando estupefactos para o que viam. Comentavam sobretudo a algazarra e aquele aparente "entendimento", cumplicidade entre as pessoas, em que toda a gente refila, mas toda a gente sabe que é assim e toda a gente se assume como parte integrante da confusão.

A partir de Santos, a coisa melhora um pouquinho. As obras continuam, mas há um pouco mais de espaço. As carrinhas param à mesma mas, frequentemente, dá para o eléctrico passar. Buenos Aires acima lá cheguei ao meu local de trabalho, perguntando-me por que carga de água a Lapa é tida como a zona nobre de Lisboa. Casas velhas, trânsito a monte, "até logo D. Arminda", obras, obras. Tudo a monte, tudo cheio de pó, tudo feio, tudo bimbo, muito bimbo, tudo horrível.

Logo, regresso de taxi para o Cais do Sodré. Como experiência romântica, bastou. Claro que me arrisco a apanhar um orangotango com barba de três dias a vociferar contra o trânsito e contra "estes f. da p. dos políticos que andam a encher os bolsos e querem é tacho", que a vida está impossível. Mas "prontes", pelo menos, como taxi, o homem sempre se pode desviar das carrinhas estacionadas sem ter que se limitar aos carris…

terça-feira, setembro 13, 2005

Fica a Intenção



[558]

Nunca tive uma especial atracção pelo partido do taxi. Da bondade da sua génese resvalou-se sempre para a mediocridade dos seus mentores, pelo que o CDS/PP sempre me passou mais ou menos ao lado. A verdade é que, do meu ponto de vista, atingimos um estádio de diluição total das ideologias que alimentavam os programas dos governos e exaltavam os puristas das ideias dos grandes vultos da história. Se repararmos bem, de há muito que a história parou de produzir grandes vultos, seja porque os grandes vultos se dissiparam numa saudável valorização e alargamento das elites, seja porque as grandes causas políticas e ideológicas se acantonaram na utopia, por força do desenvolvimento da ciência e das tecnologias – hoje por hoje o mais eficaz instrumento para o bem estar dos povos, que dele precisam bem mais do que a já insuportável retórica dos puristas das ideias.

Isto para dizer que irei votar em Maria José Nogueira Pinto (Nunca cheguei a recensear-me em Cascais, depositando o meu voto regularmente na freguesia de Santa Maria dos Olivais). Estou farto das tiradas falaciosas de Carrilho, à la PS, recuso-me a ouvir sequer as ideias (????) de um fulano qualquer que faz mister de empatar e complicar a vida aos lisboetas, à la Bloco, simpatizo com a figura de Rubens de Carvalho mas recuso-me a ser governado por um comunista seja em que circunstância for e Carmona Rodrigues tem borbulhas e arregaça muito as mangas para o meu gosto.

Eu não conheço bem a Maria José. Mas tenho a percepção de que é uma mulher séria, competente e, aparentemente, desenvolveu um excelente trabalho na Misericórdia, parece-me decidida, culta, sabe falar, veste-se bem, tem presença e oralidade, enfim, não vislumbro uma verdadeira razão para não votar nela, ao contrário do que acontece com todos os outros candidatos. Sinto, até, que poderia ser uma estimável alavanca de mudança em Lisboa.

Provavelmente ela não ganhará. As pessoas foram ensinadas a partidarizar tudo o que tenha a ver com o papelinho nas urnas e acredito que esta fidelização ao clube seja ímpar, relativamente aos outros países europeus. Por isso, a coisa vai ser disputada entre a placidez e bonomia de Carmona e a figura circense de Carrilho. Mas… fico de bem com a consciência.

Zezinha a Presidente da Câmara Municipal da minha cidade, já.

Angústias

[557]



Esta tem vindo a ser o primeiro-ministro da minha empregada doméstica
Foto Via Tugir



Este é (e vou ter que o gramar mais três anos, no mínimo…) o meu primeiro ministro.



Aqui foi onde a minha empregada doméstica foi passar as férias de Agosto.
Puerto Banus, Marbella



Assim foi mais ou menos como eu passei o mês de Agosto a trabalhar.

Um dia destes emigro para a Ucrânia…

segunda-feira, setembro 12, 2005

Nineteen, Going on Twenty



[556]

Ela voltou. Cheia de mochila e cheia de pressa. Correu pela casa, beijou as gatas, fez cem telefonemas. No intervalo, foi à net, certificou-se de quanto eram as propinas este ano e, em simultâneo, falava no MSN com amigas e colegas. Perguntava pelo bebé da melhor amiga dela. Levantava-se para ir ao frigorífico, voltava atrás porque o PC fazia "plim", respondia e ia à cozinha. De caminho o telemóvel tocava e ela atendia. Falava da escavação, dos quinze dias que foram fixes e que esta semana ainda, voltava ao Norte. O fixo retinia e ela punha o móvel em "hold". Discretamente passei no quarto dela, espreitei e retirei-me, na dúvida se alguma empresa de mudanças tinha aterrado ali. É extraordinário o que cabe dentro de uma mochila…

De repente havia ruído em casa. Mais alegria e até as gatas estavam menos pachorrentas e menos idiotas. Havia ruido, havia mais cor, havia mais vida. Eis senão quando, com um tilintar de chaves de carro (o meu, para que conste), oiço um "até já Dad", vou tomar um café ao Salamandra com o people. Isto acompanhado do beijinho que mais gostamos de ter. E lá foi ela, a rir para o telemóvel e a falar, a falar, a falar…

Como é fixe ter 19 anos! Melhor, só uma filha de 19 anos...

É disto que o meu povo gosta



[555]

Nada como dar ao povo o que o povo gosta. Lá dizia o Jorge Perestrelo (que se finou a relatar um golo do Sporting) e Jorge lá saberia do que falava. Se o povo gosta, o povo tem, o povo exulta.

É claro que o povo gosta de futebol – melhor, gosta do seu clube, sem que daí venha grande mal ao mundo. Mas o povo gosta de mais. Gosta, preferencialmente, da maledicência. E gosta por que é invejoso. Intrinsecamente porque é mauzinho, pequenino e mentalmente pelintra. Quase tão mentalmente pelintra como aqueles que o percebem e se prestam a
jogos florais no sentido de explorar essa pelintrice. Sob a capa abrangente de uma intelectualidade (que o povo não percebe, mas gosta), dá-se ao povo o que o povo gosta. Fátima, fado e futebol estão ou ultrapassados ou descontextualizados, numa altura em que se exije um gosto mais refinado e quando o povo aprendeu a gostar de outras coisas.

Se um chamado
blog de referência avança com uma ideia peregrina como esta, o povo gosta. Sobretudo a elite, presumivelmente culta e sábia. Nem por isso, menos povo, porém. Daí que tentar estabelecer a relação familiar ou de amizade entre os quadros e gestores da coisa pública seja uma tentação, tanto mais que forrada por uma aura de moralismo. O problema é que a moral tem aspectos perversos que o povo não só não esconjura como, ainda por cima, usa sob o epíteto da causa justa.

Aquilo que o
Bloguítica se propõe fazer é do mais pidesco que se pode imaginar. Mas vai-nos bem com a gravata… só acho que está incompleto. A coisa poderia ser enriquecida (ó se podia) se se lhe juntar o elemento cueca. Promiscuidade de cargos sem cueca, não é promiscuidade não é nada. Acrescente-se, assim, este precioso elemento e verão como a coisa fica muito mais composta. Ou descomposta. De resto, estou para aqui a escrever há quinze minutos e ainda está tudo vestido, por isso termino sem promiscuidade que se veja ou matéria que se apalpe.

P.S. Aparentemente não estou
sozinho neste desacordo.

domingo, setembro 11, 2005

NineEleven



[554]

Aqui deixo um singelo registo a um povo e um país pelos quais nutro uma profunda admiração, na passagem de mais um aniversário do brutal ataque que mudou o mundo e me ajudou a percebê-lo melhor.



Foto retirada daqui, via A Vida dos meus dias

Arrotos e Puns



[553]

A não ser que me esteja a passar qualquer coisa ao lado, o anúncio televisivo do Sapo Adsl inclui uma sonora sessão de arrotos e fortíssimos "puns", ao ponto de no final da sessão, o sapo conseguir projectar o lençol a milhas.

Palavra de honra que nunca fiz da excessiva rigidez de princípios a base do meu trato com as pessoas ou da educação que passei aos meus filhos. Cá por casa sempre imperou a liberdade do discurso, nunca uma anedota mais atrevida se deixou de contar por conter "linguagem chocante para a sensibilidade dos ouvintes" e mais cedo os bebés de Paris via cegonha passaram à história que o pai natal. Agora...a flatulência incómoda e o arroto boçal nunca aqui assentaram arraiais, não porque houvesse instruções rigorosas sobre o assunto mas porque, naturalmente, toda a gente achou, desde pequenino, que essas eram necessidades orgânica para as quais se exigia algum recato e pudor.

Nunca passaria pela cabeça a qualquer elemento do meu agregado familiar exercer o seu livre direito ao nobre exercício do flato levantando a perna na sala e emitindo um sonoro "traque", ou refastelar-se à mesa do jantar e produzir um inenarrável arroto. Não porque fosse proibido, repito, mas porque nem sequer isso nos passaria pela cabeça.

Não consigo, assim, perceber, onde está a graça ou o impacto comercial de ver um sapo a arrotar ou a "largar-se" da forma como o comercial em causa mostra.

A menos que, como disse lá atrás, alguma coisa me esteja a passar ao lado...

2-1



[552]

O meu clube ganhou. Sem espinhas.

Ocorre-me apenas o seguinte:

- O Benfica parece ser uma equipa destroçada. Mesmo lendo por aí que a equipa reagiu bem à expulsão e até marcou um golo;

- O Sporting continua a parecer ter o melhor futebol do campeonato (Liga? Bet and não sei das quantas?) mas vê-se em palpos de aranha para meter golos e de cada vez que a bola se acerca da baliza (ontem com o Nelson), há aquela gélido arrepio na espinha;

- Do que vi ontem do jogo do Porto, receio que o título esteja entregue e que regressemos ao Campeonato da 2ª Circular...

O Direito à Dignidade



[551]

O FCP jogou bem, determinado, vigoroso e bateu justamente o Rio Ave, hoje por hoje uma das melhores equipas do campeonato.

Mas isso é secundário, perante a forma disciplinada como jogaram. Que diferença daquela arruaça permanente em que a equipa era fértil – as correrias, os encontrões, as agressões, as chico-espertices dos jogadores, intimidação dos árbitros, etc..
Afinal (e segundo ouvi a um dos comentadores de serviço à reportagem), bastou aparecer um treinador que PROIBIU que os jogadores reclamassem junto dos árbitros, mesmo quando o árbitro não tem razão.

Esta medida, para além de a equipa estar a ganhar e a jogar bem, está a contribuir para uma certa "regeneração" da equipa e, se viram o jogo e repararam bem, até a assistência se portou com mais civismo.


Afinal é fácil...

sexta-feira, setembro 09, 2005

Memorial da Lógica



[550]

É esta a lógica da ortodoxia comunista. José Saramago apoia Soares e apoia Jerónimo.

Interrogado pelo repórter (reverencial, atento, venerador e obrigado, quase em tom de missa...) sobre se isso não seria uma contradição, Saramago disse que não. Olhou com aquele ar de comiseração com que se olha os filhos das trevas e disse que não havia contradição nenhuma. Ne-nhu-ma, frisou. Aliás, o importante, disse Saramago, era derrotar a direita. Fresquinho no telejornal, há minutos.

Ora aqui está um bom exemplo aglutinador de consciências e de apoio a um presidente para todos os portugueses. Desde que se esmague a direita, bem entendido.

Não que este tipo de afirmações me surpreenda. Dificilmente me surpreendo já. Mas que há coisas que apetece arrumar numa jangada de pedra, há...

quinta-feira, setembro 08, 2005

Bum...



Foto via Faccioso

[550]

Estou sem palavras. Implodi...

A Melhor do Mês

quarta-feira, setembro 07, 2005

Zéfiro, Mitsubishi, Chuva e Reflexões



[548]

Ontem, aconteceu eu ter feito uma pequena nota sobre a chuva benfazeja da manhã. Por coincidência,
JPP escreveu também uma pequena nota sobre ela, curiosamente no mesmo sentido. A grande diferença, no fundo, foi que enquanto ele situou a coisa ao nível dos calores e humores de Zéfiro, eu entretive-me a fantasiar sobre os prazeres que até o meu carro terá sentido.

Não há dúvida que não é intelectual quem quer!...

Mas hoje está a chover outra vez e eu prometo reflexões mais elevadas e para além de um conjunto de peças mecânicas, a caminho de Lisboa. Já estive aqui a fazer uma lista a que pus o título de "reflexões sob encomenda para uma manhã de chuva" e seleccionei doze temas. Com sorte, sou capaz de me fixar num deles antes de chegar à Infante Santo. Há aqui um que me inspira... "o amolecimento do tegumento das sementes monocotiledóneas pela humidade e posterior germinação"; mas também, já me ocorreu qualquer coisa no género "porque é que as mulheres detestam a chuva e o frio".

Excepção feita a esta
rapariga que não se cansa de vituperar a seca e o calor e faz ela muito bem!

terça-feira, setembro 06, 2005

Stay, please...



[547]

Choveu. Uma chuva tímida, fraca, mas com alguma consistência.

Senti-me outro, mais activo, mais fresco e com estímulos ressuscitados. Percorri a Marginal com deleite e a recear que a chuva parasse antes mesmo de eu chegar a Lisboa. Não parou. Tombou sempre, generosa e salvífica até eu chegar ao escritório e parar o carro. Ia jurar que até ele, o carro, gostou!...

Nota: No fim do dia a Mariana Marques Vidal sossegou a nação. "Amanhã já não chove. Mesmo assim (com voz de beicinho...) não se esqueça do casaquinho porque vai refrescar", disse ela. Presumo que vêm aí uns árcticos 23 graus...

Voz em Fuga



[546]

A
Voz foge-lhe, foge-lhe, foge-lhe, mas ela acaba sempre por apanhá-la.

A
Hipatia faz um ano e aqui lhe deixo sinceros parabéns e um obrigado por um blog fresco e um dos meus favoritos.

Tchin Tchin

Desregionalização dos Bombeiros



[545]

Não há volta a dar! Qualque indivíduo minimamente estruturado levaria o trajecto da Marginal a caminho do trabalho, a ouvir uma boa peça musical – ligeira ou clássica, não interessa, mas música. Eu não. Por qualquer razão que me escapa e que terá a ver com algum gene masoquista disfarçado no meu código de ADN, acabo sempre a ouvir o Forum da TSF que é aquele programa onde todos sabem tudo, todos ralham, todos se entregam a uma genuina e catártica sessão de gritaria, mesmo que digam as maiores alarvidades. O que é, frequentemente, o caso.

Mas aquilo deve ter qualquer coisa… independentemente de doer, acaba por dar algum gozo. Para além de ser um excelente barómetro da nossa realidade. É assim uma espécie de "Prós e Contras" mas versão pimba, que o "Prós" sempre tem a Fatinha e assim.

Bom, mas o tema hoje era uma recente decisão do Governo, relativamente ao Comando dos Bombeiros. Não mais dispersão de poderes, não mais intrincados canais de gestão, coordenação e chefias, não mais reizinhos a pôr e a dispôr numa matéria tão sensível como a coordenação dos diferentes corpos de bombeiros por esse país fora. Uma chefia central, forte e eficaz - remédio encontrado pelo nosso diligente ministro da Administração Interna. Por mim, até acho uma medida acertada, mas não é isso que vem ao caso. O que verdadeiramente vem ao caso é que muita da argumentação que ouvi a favor desta "desregionalização" do poder foi feita por aqueles que a usam, na inversa, a favor da regionalização do nosso país. Nenhuma figura, individual ou colectiva, contrária à regionalização (a tal já referendada e que tem de ser referendada outra vez até, eventualmente, ser aprovada) faria trabalho tão bem feito, argumentaria tão brilhantemente contra ela (a regionalização)como aqueles que agora, a propósito dos bombeiros, a execram.

Este país é extraordinário…

segunda-feira, setembro 05, 2005

Fado de Segunda



[544]

Este fim de semana foi de alguns enfados. Aliás, isso mesmo deixei transparecer pelo par de notas que aqui deixei.

Ora hoje é Segunda, acabam-se os enfados, voltam os fados. O primeiro fado é o da marginal, embora me pareça que a A5 já está acabada. Meia hora de marcha lenta que nem à vontade é, como na tropa, ao menos, era...depois, o fado deste sol de canícula e gretante continuará também a fazer estragos (a Mariana Marques Vidal deve estar felicíssima por os anunciados chuviscos que ela anunciou para ontem não se terem materializado e pudemos continuar a fruir este solzinho que nos dá o calorzinho que nos aquece o corpinho...).

Segue-se o fado do trabalho, da leitura preliminar de um par de jornais do dia cheios de jornalistas zangados com os americanos apostados em matar pretos no Louisiana e Alabama. O fado continuará pelo dia fora e, a não arranjar umas variações, estarei condenado a um fado já visto e diariamente cantado pelas mesmas vozes e tocado pelas mesmas guitarras (sem samarras, não há fado em que guitarras não rime mais tarde ou mais cedo com samarras) e com vestes sem idade, para rimar com saudade.

O fado é sempre fado, mesmo para quem, como eu, se sente enfadado com o fado. Coisa para que me não sinto fadado. E antes que me sinta perdido e, consequentemente... lixado (queriam, né?), fico por aqui, cumprindo o fado de escrever alguma coisa neste malfadado blog.

Boa semana de trabalho para todos
.

domingo, setembro 04, 2005

Enfados de Domingo 2



[543]

Anacleto decidiu-se, enfim, a candidatar-se à Presidência. Reflectiu, reflectiu e voilá. Não foi bem como Soares que "decidiu, magnânimo, aceitar", mas andou por lá perto.

Temos assim reunido um ramalhete capaz de fazer emigrar o mais pintado: - Soares, Jerónimo e Louçã. Ditosa Pátria...

Pergunto-me se Cavaco Silva, em face de tal companhia, não pensará se não vale mais a pena retirar-se da cena (onde afinal ainda não entrou) e deixar "o pessoal" entregue à bicharada. No fim, ganha o Soares e é muito bem feito!

Enfados de Domingo 1



[542]

Ambiente ao rubro. Gente apinhada. Sócrates com a expressão grave dos grandes momentos de glória:

- Por que este governo... este governo... decidiu... sim, de-ci-diu (braço direito semi-erguido, expressão mistura de crispado com triunfante)... decidiu que para PARA O ANO (para o ano com uma dose extra de decibéis) a colocação de professores será por três... ou por quatro anos (explosão estrepitosa de palmas dos basbaques do costume...)... e três ou quatro anos, para acabarmos de vez COM ESTA INS-TA-BI-LI-DA-DE dos professores a mudar de local de trabalho (mais palmas, uma avalanche de palmas...).

E foi assim, de narinas frementes, olhar decidido e a adrenalina a jorrar-lhe dos poros que um primeiro ministro de um país europeu anunciou uma medida administrativa de vulgar gestão corrente como se acabasse de retomar Olivença aos espanhóis, enquando a plateia rebentava em palmas tão vibrantes quanto comovidas.

"Isto" está a ficar insuportável
...

sábado, setembro 03, 2005

Irrespirável...



[541]

Isto ultimamente está a ficar irrespirável. Foram os incêndios, é o Mário Soares, é o Valentim Loureiro aos berros e agora esta inacreditável forma de noticiar o efeito devastador do "Katrina".

Num país em que 15 minutos de chuva chegam para provocar inundações risíveis em Lisboa (apenas porque nos esquecemos de limpar sarjetas...) e onde há poucos dias víamos populares em correrias a apagar incêndios com mangueiras de jardim e jarros de água, noticiar uma tragédia da magnitude do Katrina e dos efeitos catastróficos que provocou em Nova Orleães da forma como o fazemos chega a ser anedótico. Imoral, é com certeza.

Este país está, realmente, a ficar irrespirável...

NOTA: Interrogo-me sobe o que aconteceria se o nosso território alguma vez vier a ser fustigado por uma calamidade do género do Katrina... Lá teríamos de apelar aos grandes desígnios nacionais, claro!

sexta-feira, setembro 02, 2005

Quebrar a rotina



Plano B - Pezinhos, para o caso de não encontrar mão de vaca

[540]

A rotina amarfanha e corrói. A rotina mata. Toda a gente deveria conceder-se uma fantasia, aqui e ali, para combater a rotina. Porque ela é culpada de stresses que nos afligem o corpo e esboroam a alma, Arruina carreiras, faz naufragar casamentos felizes, estupidifica e sublima o fastio de vontades. É importante a quebra de rotinas, aqui e ali. Mais aqui do que ali, porque com as rotinas dos outros podemos nós bem.

Há quebra-mares, há quebra-gelos, há quebra-uma-data-de-coisas, pelo que entendo que as quebra-rotinas serão um estimável desiderato para o nosso equilíbrio neuro-vegetativo. Antes que, neuroticamente, vegetemos. Por isso, hoje saio de casa animado do voluntarismo próprio da rebeldia e parto com o nobre propósito de quebrar uma rotina qualquer.

É isso. Nem que corra Lisboa de Campo de Ourique a Santos hoje vou almoçar mão de vaca com feijão branco. Estou cansado de peixe grelhado com vegetais...
Bom almoço para todos!

quinta-feira, setembro 01, 2005

Falando de pessoas...



[539]

A política não justifica tudo. Há momentos em que a transposição de determinados limites da decência deveria constituir matéria de dolo.

Mário Soares deveria obrigar-se algum recato quando fala de "políticas de pessoas" e de falar delas como génese da política humanista que preconiza para o seu mandato – sobretudo porque foi contra as pessoas, umas centenas de milhares de portugueses e alguns milhões de africanos, que ele desenvolveu, como principal mentor, um processo negligente, obsceno e indigno de "descolonização exemplar". Não se trata da descolonização em si, justa e desejada pela maioria dessas pessoas, mas pela forma sectária, cega, parcial, irresponsável e indigna como foi feita.

Cullinan, Grobblersdal, Cuito, porto de Moçâmedes, aeroportos de Luanda e de Mavalane, Catambor, Vila Alice, Prenda, Montepuez, Malhangalene e outros são vocábulos com um significado que exigem um conhecimento de África muito para além de um exílio em S. Tomé e meia dúzia de incursões do filho João à Jamba.

Não é verdade que a descolonização tenha sido a "descolonização possível". É mentira, é mentira, é mentira. Mil vezes mentira. Os portugueses e os africanos deveriam ter merecido mais respeito e dignidade por parte de Mário Soares se tivesse, aí sim, aplicado as "políticas de pessoas" que ontem fez evoluir num salão do Altis.

Sinto uma tristeza imensa pelo meu país que entronizou um homem a quem chama pai da democracia. A democracia portuguesa tem pais mais dignos desse nome, porventura desconhecidos.

Sobre a importância deste homem na nossa história recente, recomendo vivamente a leitura estes artigos de
Pacheco Pereira aqui e da Joana aqui. Entre vários que abundam aí pela Blogos.