quarta-feira, junho 08, 2005

O Mercado do Fogo



[412] - Não há muitos anos atrás, talvez um par de décadas, um incêndio florestal era um acontecimento possível e devidamente noticiado nos jornais e na televisão. Os bombeiros lá seguiam para o local e, com maior ou menor dificuldade, extinguiam o fogo. Uma vez por outra a coisa era mais séria…mas não passava disso mesmo. Não deixava de ser episódica e razoavelmente controlada.

Hoje há um mercado do fogo. O controle dos incêndios florestais configura uma massa crítica relativa a um verdadeiro mercado cuja quota, em termos europeus, não nos envergonha. Concursos internacionais para aeronaves, as mais diversas, em regime de compra, aluguer ou leasing, admissão de pilotos especializados, compra de um universo imenso de material e equipamento, viaturas ligeiras e pesadas, combustíveis e a criação de muitas centenas ou mesmo milhares de postos de trabalho. Há comissões, cambão, impostos pagos ao estado (IVA e outros) e, ainda, um importante tráfico de influências. Desde a adjudicação de concursos até à eleição e/ou nomeação de cargos. Há, também, a cobertura exaustiva dos acontecimentos pela comunicação social, com todo o retorno em publicidade que isso gera. E é evidente que o «rescaldo» dos acontecimentos proporciona ainda consideráveis mais-valias no sector imobiliário e madeiras de refugo.

Não creio que isto seja muito difícil de entender. Difícil é aceitar como é possível manter este estado de coisas e, de uma vez por todas, não resguardar o nosso património florestal e humano (há gente que morre…). Começa a ser obsceno ouvir todos os anos a mesma retórica sobre o mesmo problema. A culpa não é deste governo, nem do anterior nem do anterior ao anterior. A culpa é esta nossa criminosa letargia e subserviência (e proveito) a grandes interesses instalados. Aliadas à nossa proverbial tendência para a balbúrdia e má gestão. E, claro, à profliferação de chefes e tiranetes pimpões e incompetentes. Enquanto, academicamente, os nossos políticos se entretêm a discutir e a «zangarem-se muito» uns com os outros.

Enquanto isso o meu país, um dos mais bonitos da Europa, arde…

8 Comments:

At 12:13 da tarde, Blogger Pitucha disse...

Brilhante Espumante (até rima).
Por entre interesses e desleixo vai ardendo um país. Garanto-te que, visto de fora, é igualmente triste...
Beijos

 
At 12:24 da tarde, Blogger lilla mig disse...

Pois é, o ridículo do blá blá político perante o inferno dantesco...

 
At 1:02 da tarde, Blogger Passada disse...

imagens fenomenais, fotografias lindíssimas. alguém tem interesse que arda. quando cheguei a lisboa não era assim grave, tão grave. Hoje talvez Portugal o mais pequeno dos países, tirando excepções é o que mais arde, pode?

 
At 3:59 da tarde, Blogger António Chaves Ferrão disse...

Espumante

Enquanto os políticos se zangam uns com os outros, mais chamuscados vamos ficando, e menos interessados em saber o que dizem. Dá-lhes com força. Um abraço.

 
At 11:05 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Pitucha
Obrigado Pitucha,
E eu que julgava que estava uma estucha!
(até rima...) :))))
A sério, um beijinho pelas tuas palavras simpáticas
Bom fds por aí (aqui esturricamos com 39º C Grrrrrr...

 
At 11:06 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

lilla mig
É no que somos bons, Lilla. No blá blá blá. Mas o que passa é uma verdadeira tragédia e eu tenho vergonha. Vergonha, mesmo...

 
At 11:07 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

mmicr
Poder não devia poder, mas pode. É extraordinário mas para quem se lembra ou conhece as velhas e conhecidas queimadas africanas, custa a admitir como é que cá se arde mais...
beijinho

 
At 11:08 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

António Ferrão
às vezes,a bile salta... Não há pachorra para estes biltres.
Um abraço

 

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