sexta-feira, junho 17, 2005

Até que enfim...



[429] - Até que enfim. Custou. Finalmente alguém disse o que tinha de ser dito. E aqui vai, sem mais delongas:

«Parece que Álvaro Cunhal foi uma figura "importante, "central", "ímpar" do século XX português. Muito bem. Estaline não foi uma figura "importante", "central", "ímpar" do século XX? Parece que Álvaro Cunhal foi "determinado" e "coerente". Hitler não foi? Parece que Álvaro Cunhal era "desinteressado", "dedicado" e "espartano". Salazar não era? Parece que Álvaro Cunhal era "inteligente". Hitler e Salazar não eram? Parece que Álvaro Cunhal sofreu a prisão e o exílio. Lenine e Estaline não sofreram? As virtudes pessoais de Álvaro Cunhal não estão em causa, como não estão as de Hitler, de Estaline, de Lenine ou de Salazar. O que está em causa é o uso que ele fez dessas virtudes, nomeadamente o de promover e defender a vida inteira um regime abjecto e assassino. Álvaro Cunhal nunca por um instante estremeceu com os 20 milhões de mortos, que apuradamente custou o comunismo soviético, nem com a escravidão e o genocídio dos povos do império, nem sequer com a miséria indesculpável e visível do "sol da terra". Para ele, o "ideal", a religião leninista e estalinista, justificava tudo.

Dizem também que o "grande resistente" Álvaro Cunhal contribuiu decisivamente para o "25 de Abril" e a democracia portuguesa. Pese embora à tradição romântica da oposição, a resistência comunista, como a outra, em nada contribuiu para o fim da ditadura. A ditadura morreu em parte por si própria e em parte por efeito directo da guerra de África. Em França, a descolonização trouxe De Gaulle; aqui, desgraçadamente, o MFA. Só depois, como é clássico, Álvaro Cunhal aproveitou o vácuo do poder para a "sua" revolução. Com isso, ia provocando uma guerra civil e arrasou a economia (o que ainda hoje nos custa caro). Por causa do PREC, o país perdeu, pelo menos, 15 anos. Nenhum democrata lhe tem de agradecer coisa nenhuma.

Toda a gente sabe, ou devia saber, isto. O extraordinário é que as televisões tratassem a morte de Cunhal como a de um benemérito da pátria. E o impensável é que o sr. Presidente da República, o sr. presidente da Assembleia da República, o sr. primeiro-ministro e dezenas de "notáveis" resolvessem homenagear Cunhal, em nome do Estado democrático, que ele sempre odiou e sempre se esforçou por destruir e perverter. A originalidade indígena, desta vez, passou os limites da decência. Obviamente, Portugal não se respeita.»

Vasco Pulido Valente in Público

5 Comments:

At 11:07 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Esse Vasco P. V., vai ter um funeral muito diferente do do Alvaro Cunhal :)

 
At 12:10 da manhã, Blogger António Chaves Ferrão disse...

espumante

Repara:
13 Novembro de 1945: Charles De Gaule é eleito Presidente do Governo Provisório francês.

10 Março 1945: A França reconhece o Vietname como um estado livre.

19 Setembro 1958: Proclamado no Cairo um governo provisório da Argélia

14 Junho 1960: o General De Gaulle renova a propsta de cessar-fogo ao Governo Provisório argelino.

12 Julho 1960: A França aceita a independência a partir de Agosto das repúblicas de Daomé, Níger, Alto Volta, Costa do Marfim, Chade, Africa Central e Congo.

Afirmações como esta:
"Em França, a descolonização trouxe o General De Gaulle".
Não convencem sequer um estudante distraído.

A falsificação da História não fica bem como argumento a alguém que se apresenta como intelectual.

Um abraço

 
At 10:55 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Anónimo
Eu também acho. Inteiramente de acordo com a sua anónima opinião.

 
At 11:12 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

António Ferrão

Receio não ter entendido bem o teu comentário. Se, como julgo, qustionas o facto de VPV ter usado a expressão "a descolonização trouxe De Gaule..." no sentido cronológico, ou seja de que a descolonização se processou a posteriori da investidura de De Gaule, não vejo a razão do teu desacordo. Creio que VPV terá usado a expressão "trouxe De Gaule" no sentido de que o processo de descolonização terá contribuído para colocar o velho General no seu lugar histórico. Afinal, o mesmo sentido que VPV usa quando disse que "a descolonização trouxe Cunhal". Mas nâo estou certo que esteja a interpretar bem a tua lógica.
A haver algum lapso interpretativo, não consigo, mesmo assim, descortinar qualquer mitigãncia da tua parte relativamente a factos que VPV conta e que não têm qualwuer carga ideológica. São simplesmente factuais. Não há como lhes dar a volta.
Um grande abraço e é giro discordar de ti :)

Só uma nota:
Aqwuela tua "tirada" de que a França reconheceu o Vietname como um estado livre em 1945 não me parece fazer justiça ao que verdadeiramente aconteceu. A frança fez borrada de todo o tamanho na Indochina, retirou-se com a cauda entre as pernas não porque achasse ser a melhor solução mas porque não tinha alternativa e deixou o "presente" para os americanos se entreteram mais tarde com a guerra fria e ficarem com o odioso da questão. Aliás... tipicamente francês e foi sempre assim.. A gesta heróica da resistência francesa na II guerra mundial não chegou ara diluír o "situacionismo" de uma grande parte dos franceses relativamente aos nazis. Tal como a Holanda, aliás. Tal como ainda hoje mantêm uma paternalista e chauvinista política proteccionista aos agricultores franceses, que "complica" imenso o acordo sobre o orçamento da Europa e a PAC e é especialista em passar a mensagem de que a culpa é de Thatcher que "inventou" aquela treta do cheque de reembolso. Esses franceses sempre foram gelatina, para usar uma expressão do nosso Manuel Maria...
Um abraço

 
At 8:16 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Incompetente

Em vários, Incompetente, em vários...
Um abraço

 

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