sexta-feira, abril 29, 2005

"Não Podendo Sair..."



[339] - Andou por aí (faz lembrar o Santana Lopes, por aí…) um inquérito, tipo chain letter, sobre livros ao qual muitos bloggers responderam. Mesmo muitos que eu, numa primeira reacção, estaria longe de supor que respondessem. Mas o curioso é que a maior parte dos respondentes o fez a sério. Poucos foram os que brincaram com a coisa. Até eu, normalmente avesso a este tipo de manifestações de erudição expontânea, respondi, bem comportadinho e minimamente linear.

Há uma coisa, porém, que me «faz espécie», como diria uma empregada que tive, de Viseu, que me trazia fruta todas as semanas do lugar de venda da irmã na praça de Cascais, tinha uma filha na «Uneversidade» e que passava a vida a dizer que isto ou aquilo «lhe fazia espécie». E fez-me espécie aquela do «Não podendo sair do Fahrenreit 451, que livro quererias ser?». Ora, que eu nestas coisas de cultura sou muito cuidadoso, trato sempre de saber se Chopin tocava piano ou violino antes de lançar tiradas para o éter, li, pensei, tentei descodificar e confesso que fiquei algo tartamudeante (este tartumedeante, vai bem com o tema, estamos a falar de livros e eu li um livro em que a mocinha tartamudeava qualquer coisa sempre que o namorado lhe perguntava se queria ir aos figos ou ir com ele para o campo apanhar papoilas no dia da espiga). Tartamudeado q.b. achei que seria avisado não fazer muitas perguntas e, com o decorrer do inquérito alguém trataria de explicitar com mérito e ciência o verdadeiro significado daquele «Não podendo sair…».

Debalde. Nem sem balde. Fiquei-me na mais santa ignorância e remetido a uma opressiva escuridão quanto ao verdadeiro alcance da coisa. Fiquei sem saber se a ideia era saber que livro gostaríamos de ser se estivéssemos trancados dentro do Fahrenheit, fisicamente, assim tipo cenário de Kafka a acordar e verificar que se tinha transformado num monstruoso insecto, se estaríamos autorizados a querer ou gostar de ser outro livro, mas dando de barato que esse outro seria sempre uma segunda escolha ou se, pura e simplesmente (este pura e simplesmente é vulgar, eu sei, mas eu sou vulgar…) a pergunta foi feita de forma descuidada e sem qualquer outro objectivo que não fosse fazê-la a gente suposta e suficientemente erudita que tratasse o Fahrenheit por tu.

Ainda hoje me encontro roído por esta tremenda dúvida e duvido (estou a escrever de forma bastante duvidosa) que alguém alguma vez ma tire. Primeiro, porque não sei quem começou com o inquérito, segundo porque tenho a certeza que ninguém me esclarecerá, mesmo através de um simples e piedoso comentário a este post idiota. E não. Não há aqui qualquer mensagem subliminar. Não percebi, period. Com tantas coisas que jamais perceberei em tempo útil (leia-se, vida) esta será outra delas.

Se eu tivesse de morrer queimado como livro… acho que não me faria muita diferença o título. Mesmo sabendo que outra civilização e sociedade viriam. E as minhas cinzas não seriam de grande préstimo…

quinta-feira, abril 28, 2005

Fasten Your Seat Belts...



[338] - Pode ser um sentimento pateta, mas não consigo ficar indiferente a uma brisa de orgulho e vaidade por este extraordinário exemplo de ciência e de técnica.

Ao longo da minha vida profissional percorri muitos milhares de milhas em muitos aviões de muitas companhias. Sempre nutri uma especial admiração pelo Boeing 747, sobretudo a versão 747-400,aquele monstro que nos transporta na maior comodidade e segurança num tecto de 13.000 metros de altitude e à velocidade de 960 km/hora. Quando vi em directo a descolagem inaugural do A 380 e pensei que é 30% maior que o 747, que tem a envergadura equivalente à largura de um campo de futebol, a altura correspondente a um prédio de oito andares e que pode transportar até 800 pessoas, senti qualquer coisa parecida... com patriotismo. Isto numa altura em que andamos todos aos berros entre o sim e o não à Constituição Europeia.

Um brinquedo destes custa cerca de €250.000.000 e a Airbus tem 150 encomendas em carteira...

Lembro-me de, ocasionalmente, ver em alguns aeroportos da Europa uns aviões esquisitíssimos (salvo erro chamados de Goopies) com um formato de fuselagem apropriado ao transporte de partes das fuselagens dos próprios Airbus. Pergunto-me se será necessário fabricar novos Goopies para o transporte das partes destes novos monstros voadores.

É talvez o grande sortilégio da Europa. Ter empresas da dimensão da Airbus, ao mesmo tempo que nos perdemos em discussões académicas sobre se a CP compra ou não a Bombardier para fazer umas locomotivas. No fundo é um sinal inequívoco de liberdade e de grande capacidade. Acolhermos a intriga laboral e a politicazinha rasteira, defendermos políticas laborais na mais estrita observância dos direitos dos trabalhadores vis a vis com outros países em que esses direitos são letra morta para que possam competir nos mercados internacionais, lado a lado com grandes empreendimentos que demonstram a nossa extraordinária pujança. E trilharmos o caminho do sucesso, desenvolvimento e bem estar das populações. É a Europa, afinal...

quarta-feira, abril 27, 2005

Manifesto (??)



[337] - Não consigo descartar esta ideia de que quando o presidente do meu clube fala (ou quer falar, ele pelo menos, tenta...) fico com a mesma sensação de quando nos dá vontade de espirrar e o espirro não acontece. Franzimos o nariz, semicerramos os olhos, entreabrimos a boca, preparamo-nos para a “explosão”... é agora... agora.... ai.... hummm...mmm...mmm... e nada. O espirro não salta, o alívio não vem e temos de diluir a irritação até que o almejado espirro aconteça.

O problema com Dias da Cunha é que, falando de espirros não consumados (esta ocorreu-me a partir do relato de um julgamento qualquer, pelo menos o “não consumado”), o espirro acaba por vir. Há aquele incómodo recorrente uma, duas, três vezes mas a coisa compõe-se. O espirro acaba por saltar. Com estrépito, ribombante, chuva de perdigotos de saliva e muco, lacrimejação da córnea, ele salta. Poderoso, ruidoso, macho – virilão. Já com Dias da Cunha a coisa fia mais fino. Ele começa a falar, vai revolvendo uma voz roufenha, com acessos de mucos glote acima, glote abaixo, depressinha, devagar, pausa, mais “grrrrrsssssss” de saliva borbulhante pela faringe acima, laringe abaixo, olhos perdidos no espaço, com pequeníssimas mas visíveis contracções musculares num pescoço revestido por uma barbicha “cascalense” que vai muito bem com o “Porto de Santa Maria” mas que deve dar uma comichão dos diabos e arruinar o colarinho de, pelo menos, duas camisas por mês. Mas o homem fica-se por ali. Não dá duas seguidas (frases, entenda-se, que eu não sou de intrigas e o homem pode dar duas muitas coisas seguidas e ninguém tem nada com isso, que sei eu...).

No meio deste exercício gutural, tosca e tentativamente descrito, um ouvinte atento e interessado consegue identificar alguns vocábulos como “sistema”, “liga”, “o governo tem que”, “árbitros”, “futebol” e mais umas quantas combinações de vogais, consoantes e alguns ditongos. Tudo junto e somado acabei por perceber (enfim, porque o apresentador do telejornal explicou...) que Dias da Cunha almoçou com o presidente do Benfica e que agora até estavam mais unidos do que... quando... hamm.... grrrrr...hmmmm...o ...han... apresentação... ham... grrrrr....nhmmmm... conferência, acho que de imprensa. No fim, Rodrigues dos Santos explicou que Dias da Cunha e Filipe Vieira continuavam unidos na defesa do futebol e do manifesto, seja lá que manifesto for.

Portantos, fiquei esclarecido. É preciso que tênhamos paciência, para que póssamos ter um futebol transparente. E manter o grupo de trabalho unido, um bom balneário. Muita atitude, carácter e postura. E denunciar estas situações que eu não digo mas que todos vocês sabem a quais me refiro e não desminto nem confirmo.

terça-feira, abril 26, 2005

Camas e Enxergas





[336] - Correia de Campos e Vítor Melícias embrenharam-se numa disputa edificante. Parece que havia camas a ceder pela Misericórdia a acudir às necessidades dos hospitais, para acamar idosos. Parece que o protocolo previa o pagamento das camas, fossem ou não utilizadas. Parece que Correia de Campos diz que não é médico mas que sabe que dar uma cama a um idoso é como lhe dar uma enxerga. Parece que o padre Melícias disse que não era gestor mas que sabia que uma cama não era enxerga coisa nenhuma. Pareceu-me uma data de coisas e digo pareceu-me porque ouvi isto na TSF durante a exasperante meia hora que gastei para percorrer cerca de 500 metros em frente à entrada principal do Hospital de Santa Maria. Cheia. Blocked. Entupida. Flocked. Jammed. Parece que tudo isto por causa do sistema de acesso mais idiota e cretino (e potencialmente criminoso) que conheço e permite que se mude de direcção, inverta a marcha, tudo no meio de um mar de carros por cima dos passeios, praça de taxis, peões a atravessar por entre os carros e, com sorte e um dia destes, umas velhinhas a vender pevides e tremoços. Parece que Correia de Campos disse que não é médico... mas é ministro e se tem autoridade para intervir num caso de camas da Misericórdia (enriquecimento sem prestação de serviços, palavras dele...), de que é que ele está á espera para intervir junto da Câmara Municipal, GNR, Polícia Municipal, Governo, sei lá... alguém que “repare” naquela xoldrice do acesso ao hospital de Santa Maria. Parece que em Bombaim é assim, mas na Índia os ministros da saúde não se zangam com padres e todos sabemos que é um país atrasado. Quando é nos “enxergamos”?

Adenda: Um pouco mais á frente, há uma rua exactamente entre a Reitoria da Universidade Clássica e a Faculdade de Direito. Esta rua tem duas faixas e um sinal de “Paragem Proibida”. Atenção, eu disse paragem proibida, não disse estacionamento proibido. Há cerca de dois anos que ali passo com alguma regularidade. A rua em questão tem uma faixa permanentemente ocupada por uma fila de dezenas de carros estacionados. Ora as vias que nela convergem têm toda duas faixas que afunilam ali. Isto explica também a balbúrdia dos acessos ao Santa Maria. Será assim tão difícil reparar naquilo e actuar?

segunda-feira, abril 25, 2005

Há Gente Assim... Como a Vaca



[335] - Joaquim foi a uma feira de gado. Deambulou pelos exemplares expostos e viu uma magnífica vaca. Um animal zootecnicamente belo, farto úbere, pelo lustroso e córnea certinha.

- Então quanto é que o senhor está a pedir por esta vaca? Pergunta o Joaquim.

- 50 Euros, diz o feirante.

- 50 Euros? Mas... o que se passa? A vaca está doente? Tem algum defeito? Dá pouco leite?

- Olhe, se quer que lhe diga, com toda a franqueza, a vaca é excelente, dá 30 litros de leite por dia, está sã como um pêro, vacinada e é mansa. Mas tem uma defeito. É cínica como a p... que a pariu.

- Cínica ? Mas o que é que isso tem?

- Ó amigo, é o que lhe digo. A vaca é excelente, mas é cínica como a p... que a pariu. Só por isso a vendo.

Joaquim pensou, pensou, achou que uma vaca saudável, a dar 30 litros de leite por dia e mansa podia ser cínica ou lá o que fosse, que isso seria de somenos. E comprou a vaca.

- Mas olhe que a vaca é cínica como a p... que a pariu.

- Ó amigo, tudo bem. Eu levo a vaca. Pegue lá o dinheiro.

Joaquim chega à quinta, aloja a vaca na vacaria e no dia seguinte de manhã corre a ordenhar a vaca. Coloca um balde sob os tetos, começa a ordenha e a vaca desfaz-se em leite. Joaquim nem acreditava no que via. A vaca, mansa, deixando-se ordenhar placidamente e o balde a encher. Quando o balde estava quase cheio, a vaca olha para trás, alça uma pata traseira e... zás. Derruba o balde. O Joaquim, furibundo, traça de imediato um plano.

- Ai, afinal seres cínica é isso?

Na manhã seguinte, Joaquim chega à vacaria, abre as patas traseiras da bicha, e amarra-as solidamente ao varão. Com a vaca de pernas abertas, bem escarranchada, Joaquim começa a ordenha e o leite jorrou de novo em quantidade. Quando o balde estava bem cheio, a vaca, cínica como só ela, olha para trás, levanta uma pata dianteira e... zás. Derruba o balde. O Joaquim, quase apoplético, olha para o leite no chão, olha para a vaca e traça novo plano. Na manhã seguinte, abre bem as patas traseiras, amarra-as, abre as patas dianteiras, amarra-as e diz:

- Anda, vamos lá ver agora se derrubas a porra do balde.

E lá começa de novo a ordenha, a vaca completamente escarranchada, pernas da frente e de trás abertas, numa posição patética e o Joaquim a ordenhar. Quando o balde estava bem cheio, a vaca, cínica, olha para trás e com o rabo dá uma tremenda pancada no balde e... zás. Leite no chão. O Joaquim perde as estribeiras, grita, esbraceja, chama nomes à vaca, à mãe da vaca, insulta as outras vacas todas, roga pragas ao Papa, ao Pinto da Costa, à sogra, espuma pela boca, fumega pelas orelhas e retira-se congeminando novo plano.

No dia seguinte, manhã cedo, dirige-se resoluto à vacaria, olha para a vaca com olhos assassinos, amarra-lhe as patas, à frente e atrás, levanta-lhe bem o rabo e amarra-o pela ponta a uma argola de ferro na parede. Quando acabou a operação, olha para a vaca. Completamente escarranchada e de rabo levantado e amarrado à argola, uma posição absolutamente devassa e badalhoca, e o Joaquim baba-se de gozo, antecipando o prazer de, finalmente, ir conseguir ordenhar a vaca cínica sem que esta tivesse possibilidades de derrubar o leite. Mas eis que o Joaquim sente uma inesperada vontade de fazer um xixi. Olha para a vaca, naqueles propósitos, sorri e retira-se para o sanitário ali mesmo lado para fazer o seu xixi.

Terminado o xixi, sai o Joaquim reconfortado do sanitário, sorridente e a apertar a braguilha.

Eis que, de repente, entra a mulher do Joaquim na vacaria e depara com o cenário. A vaca, cínica, amarrada de patas abertas e rabo levantado e o Joaquim a apertar a braguilha.

Já lá vão dez anos... e o Joaquim ainda não conseguiu explicar à mulher o que é que estava a fazer à vaca...

Sinais de Progresso

[334] - O senhor José tem uma tasca simpática na Venda das Raparigas, onde vende os seus copos e acessórios, há mais de vinte anos. Por força de um acordo com produtores da zona, gabava-se de ter os melhores tremoços do lugar e, orgulhosamente, ostentava este cartaz, à porta do estabelecimento:



Mas o progresso, imparável, estendeu-se a este cantinho. E da Europa choveram fundos, ajudas, subsídios, créditos e Mitsubishis. A agricultura, concomitantemente, evoluiu. Novas culturas surgiram, dos quivis da Anadia, aos maracujás do Algarve, passando pelo algodão no Alentejo e tabaco na Beira Interior. Com tal desenvolvimento, o senhor José não foi de modas - astuto, acompanhou o desenvolvimento e o progresso. E hoje ostenta este cartaz:

Humor do Google



[333] - Estou a ouvir os discursos na Assembleia sobre o aniversário da Assembleia Constituinte e, talvez por reflexo, deu-me para pesquizar: - Google, imagem, enfastiado. Saiu-me a foto em cima, aliás único objecto encontrado...

Se não acreditam, experimentem.

Pensamento Sexual do Dia



[332] - «Eu acho que o sexo tem que ser entre pessoas que se amam, ou se gostam, ou se respeitem, ou então não se conhecem mas não têm nada mais para fazer entre as seis e as oito. Senão fica uma coisa mecânica, entende?»

(Luis Fernando Veríssimo in Actual - Expresso)

Valeu a Pena



[331] - A verdade é que há 31 anos o meu país tinha um terço de analfabetos, era cinzento, torcionário, pobre e bufo. Hoje desfruto de uma insubstituível liberdade de ideias e de movimentos e o meu país está inserido num quadro político e social moderno, livre e democrático, praticamente não há analfabetos, a mortalidade infantil desceu de 80/1000 para 5 e estou inserido num pequeno território de 90.000 km2 que conseguiu absorver 500.000 retornados (muito por força das condições que eles próprios criaram e pela sua extraordinária capacidade de trabalho) e acompanhar, mais solavanco menos solavanco, a dinâmica do desenvolvimento e de um regime moderno de democracia.

Só por isto valeu a pena

Há muita injustiça pelo meio e várias vezes estivemos à beira do abismo. Há, ainda e sobretudo, uma irresistível tendência de apropriação de méritos, muitas vezes cantando pessoas que mais do que terem contribuído para o nosso processo de democratização, o atrasaram, complicaram e objectivamente prejudicaram. Mas talvez até isso faça parte da génese da Nação. A descolonização foi, ainda, uma nódoa de difícil extirpação no processo. A justificação de que se fez a descolonização possível é falsa e falaciosa. Poderia e deveria ter sido feita de forma a garantir a independência dos povos das colónias e no respeito pelas centenas de milhares de portugueses que nelas residiam sem outro propósito que não fosse desenvolver as sua normal actividade de trabalho e de vida. Não foi. Não porque fosse impossível, mas porque o cenário circunstancial de políticas da época aconselhava a forma como foi feita.

Mas, à distância de 31 anos e tudo junto e somado, valeu a pena. E por isso acho que o 25 de Abril foi o dia mais importante da minha vida.

domingo, abril 24, 2005

Espectáculo Grande



Alonso e Schumacher, na corrida de hoje, a babarem de gozo os amantes de F1

[330] - Desde a morte de Senna que sempre tive dificuldade em acomodar a reconhecida supremacia de Schumacher. Pronto, confesso. Não gostava do homem e, mais, achava que, independentemente das suas inegáveis qualidades como piloto, ele tinha uma quota na “vaca” da Luz... tudo lhe corria bem nas corridas, incluindo o que corria mal a Barrichelo.

Hoje rendo-me à fantástica qualidade deste piloto. Fez uma corrida superior – deu uma lição de condução, de táctica, de sangue-frio e fez jogo limpo. O resultado foi uma das mais emotivas e espectaculares corridas dos últimos tempos, do maior espectáculo do mundo. Chapeau a Schumacher. E a Alonso também. É um miúdo ainda e vai, de certeza, ser campeão mundial um dia destes...

"...Las últimas vueltas fueron electrizantes. Con el Ferrari pegado a la cola del Renault sin darle tregua, Alonso supo aguantar. Fue el orgullo lo que le mantuvo adelante y no el coche, que era muy inferior al que rodaba detrás de él. Las esperanzas de Schumacher no murieron hasta que la bandera a cuadros cayó, bajo una lluvia de aplausos. Era la tercera victoria consecutiva y la cuarta de Alonso en la F1. Pero sin dudas, ha sido la más bella de todas. Schumacher tendrá que esperar un poco más para ganar este año, aunque su potencial se ha visto con claridad en Imola."

In Fernando Alonso web site

sábado, abril 23, 2005

Pensamento Do Dia



[329] - No dia em que eu ouvir um ministro, um subsecretário de estado ou correlativo dizer:

“Demos início ao Plano Nacional de Prevenção e Combate à Fraude e Evasão Contributivas e Prestacionais, no sentido de que a lei se cumpra...”

...acharei que vivo num país sério e que o meu governo não só se preocupa com o cumprimento da lei como assume mesmo um papel pedagógico através do qual os meus concidadãos poderão reforçar a sua consciência cívica.

Enquanto continuar a ouvir, como hoje, que:

“Demos início ao Plano Nacional de Prevenção e Combate à Fraude e Evasão Contributivas e Prestacionais, tendo em vista o interesse dos mais necessitados e desprotegidos...”

... continuo a pensar que o meu país é conduzido por gente que acha que tiradas politicamente correctas são a forma indicada de se atacar os problemas e que continua a contribuir decisivamente para a manutenção do status quo mas que eles, os dirigentes, zelosos e vigilantes, lá vão fazendo o que podem. Para ajudar os desfavorecidos, como é evidente.

sexta-feira, abril 22, 2005

Duzentos Metros e Normas de Procedimento



[328] - Acordei com uma notícia reconfortante:

- Para que «póssamos» (este ministro de agricultura é um lídimo sucessor de Jorge Coelho nos pontapés na gramática...) viver em segurança, o governo decreta que as plantações de culturas transgénicas terão de se situar pelo menos a duzentos metros das «culturas normais».

Esta notícia, na sua singeleza, encerra tanto de idiota como de propaganda pueril da bondade e vigilância do governo que temos. Porque:

1) Se os produtos transgénicos fossem tão sinistros como o teor da medida governamental e o tom do apresentador de serviço pretendem fazer crer, não se entende porque é que as culturas têm de estar arredadas das culturas normais. Deveriam ser proibidas, ponto final;

2) Se a distância dos duzentos metros pretende preservar os riscos de polinização expontânea (o que, na verdade, é um facto), apetece perguntar porquê duzentos metros e não dois quilómetros – ou mesmo vinte. Era bom que alguém explicasse os critérios que conduziram a este preciosismo dos duzentos metros.

Esta forma de pretender transmitir a ideia de que temos (agora sim) um governo actuante, consciencioso e vigilante, deitando mão de matérias queridas à esquerda e, frequentemente, carecidas de base científica é absolutamehte exasperante e crivada de vícios de que nunca mais nos libertamos e, mais grave, parecemos gostar. Ou não será verdade que se as culturas transgénicas fossem uma espécie de Frankestein em versão século XXI a medida simples e lógica seria pura e simplesmente proibi-las? Não é ridículo deixar a ideia de que são perigosas mas que o governo teve o cuidado de as manter afastadas duzentos metros das culturas normais (!...), na intransigente defesa dos seus cidadãos? Não é esta medida uma forma de nos fazer idiotas de papel passado a fazer lembrar os tempos de Guterres com a GNR a dar umas bastonadas no pessoal logo seguida de um par de enfermeiros a tratar das equimoses dos agredidos?

Falar de transgénicos exige gente séria, base científica e está muito para além deste carnaval que tem sido usá-la à discrição de organizações políticas que percebem tanto dela como eu de órgãos de igreja. Uma campanha criteriosa e séria trataria de saber primeiro do que se está realmente a passar com os produtos transgénicos, suas vantagens e perigos. E descarta sempre, esta forma idiota de lidar com ela. Sobretudo por parte do governo. Como isto não deve acontecer tão cedo, vamos sobrevivendo resguardados pelo desvelo dos nossos governantes que nos dizem para cultivarmos os tais transgénicos, mas que o devemos fazer a duzentos metros das culturas normais. Ridículo...

NOTA: Ainda no campo da agró-pecuária, fomos visitados por uma comissão europeia que, após um exame em vários pontos do país, afirmou peremptoriamente:

- Portugal não tem um sistema que permita afirmar que comemos peixe fresco e carne importados com segurança.

O Director Geral de Veterinária, entrevistado sobre esta evidência, afirmou "...que não era bem assim, sabe que há algumas deficiências e tal, mas que a conclusão da comissão deve ser um exagero, coisital, que estamos a tomar medidas, que estamos a finalizar um conjunto de normas de procedimento..."

Enfim, o costume. Estou muito mais tranquilo. Já como carne e peixe há um ror de anos mas, finalmente, estamos a elaborar um conjunto de normas de procedimento de segurança. Até lá, um bifito manhoso ou um peixito que já conheceu dias melhores não me devem fazer mal por aí além. Nada que um kompensan não resolva. Até porque as normas de procedimento estão quase prontas. Disse o director Geral de Veterinária.

quinta-feira, abril 21, 2005

Factos



[327] -
A leitura deste notável artigo faz-me pensar que nem tudo é mau no nosso país e que há pessoas que não andam distraídas.

Luciano Amaral, que também escreve aqui, num texto simples, objectivo e factual diz aquilo que quase todos sabemos, mesmo aqueles que se situam numa faixa etária que eventualmente lhes dê uma visão desfocada da génese do 25 de Abril, das suas raízes, percurso e da estabilização da democracia em Portugal.

Sabendo que um considerável número dos intervenientes no processo é de craveira intelectual acima da média, tenho a certeza que este artigo lhes calará bem fundo, sobretudo Mário Soares que, ao contrário da opinião de muita gente, não creio que esteja senil. É um homem de inteligência e argúcia invulgares. Por isso tenho uma grande dificuldade em perceber a razão pela qual ele mantém um registo sinuoso e um protagonismo na nossa sociedade totalmente desfazados da realidade que ele próprio viveu.

Obrigado L. Amaral pelo excelente artigo.

quarta-feira, abril 20, 2005

A Crueza das Estatísticas



[326] - Li hoje numa estatística que 23% dos acidentes de viação são provocados pelo álcool.

Logo, portanto, por conseguinte, por consequência, 77% dos acidentes de viação são causados por indivíduos que bebem água.

Perigosíssimos, estes gajos que bebem água...

Pastor Alemão

[325] - Não resisto a citar isto:

" Menos Ovelhas Tresmalhadas.O novo papa é um pastor alemão"

Com a devida vénia

E já agora, mais isto da Musca

"Habemus Papam!" - Jah Sabemus, porra!

Sabe sempre bem sorrir e fruir o bom humor.

A Lusa Cátedra




[324] - A eleição do Papa trouxe-me uma grande perplexidade. Não pela escolha em si, que eu nestas coisas de Igreja sei pouco e não ia começar a debitar opiniões sobre um homem de quem apenas comecei a ouvir no início do Conclave.

A verdadeira perplexidade foi a constatação de como tantos portugueses sabiam tanto sobre Ratzinger. Da sua passagem pela juventude hitleriana até à cor dos sapatos não há nada que tenha escapado a este recente up-date do conhecimento luso. E é ouvir a rádio, as televisões e ler os jornais para constatarmos a uníssona opinião de que este Papa não serve. A juntar à inevitável intervenção de Soares, Saramago, Louçã e correlativos, onde a sua absoluta intolerância (valor que, afinal, tanto apregoam) e a sua própria ortodoxia contribuem decisivamente para a opinião massificada que se tem registado. É triste. E nem é bonito, para contrariar o ditado.

Se me ativesse apenas a um posicionamento pragmático, eu diria que a escolha de um Papa tem a ver com a Igreja e com os seus líderes e ninguém tem nada com isso. Ela (a Igreja) saberá o que fazer dentro dos seus próprios ditames. Num posto de vista mais lato… pois eu também gostaria que a Igreja acomodasse uma visão universal de tolerância, modernidade, justiça e sabedoria que pudessem conduzir à flexibilização de algumas políticas que, consabidamente, não contribuem para o bem estar e desenvolvimento dos povos. Mas como não conheço Ratzinger para além da catadupa de informação que me tem caído no colo nos últimos dias, terei sempre de lhe dar o benefício da dúvida. Maior dúvida concederei á bondade da informação que recebo. Porque é sectária, desonesta, clubística (no mau sentido) e enviesada. A menos que toda a gente esperasse que o novo Papa no urbi et orbi dissesse que ia acabar com o preservativo amanhã, ordenar mulheres depois de amanhã e abrir uma clínica de aborto na Capela Sistina na semana que vem, já que me parecem ser estes os três pontos mais referidos como incontornáveis para a modernização da igreja. Não tenho ouvido muitos mais e, todavia, haveria tanto mais para referir…

terça-feira, abril 19, 2005

Habemus Papam



[323] - Daqui a pouco toda a gente sabe… mas, pelo menos, gabo-me de dar a notícia antes do Diário Digital e do Público. Ou não estivesse a janela do meu gabinete a 100 metros do Zimbório da Estrela e eu estar a ouvir os sinos a dobrarem há cinco minutos…

10 Promessas Literárias a Uma Terça Feira



[322] - No dia em que:

1) Vir um piquete de obras em Lisboa a arrancar uma calçada portuguesa para uma obra qualquer e refazê-la sem sobrarem pedras – leio as crónicas todas do Miguel de Sousa Tavares no jornal "A Bola";

2) For andar um bocadinho a pé ao Jardim da Estrela depois de almoçar e ele não estiver cheio de tábuas, taipais, montes de areia, dois… não sei como se chama aquilo, aqueles carrinhos pequeninos com uma pá carregadora à frente, isso…parados ao pé duma carga de tijolos e dois trabalhadores a olharem um para o outro e a discutir futebol – leio o livro do Barnabé;

3) Sair de um dos 134 restaurantes aqui da zona, depois de comer um peixe grelhado e não ficar a cheirar a alheira frita em óleo de cozinha – leio outro livro do José Saramago;

4) Passar na Buenos Aires e não vir (e ouvir) um eléctrico à espera mais de 15 minutos que um tipo qualquer "que foi só ali um bocadinho fazer uma entrega e já vem", para poder passar – leio a "Capital" ("a" porque "o" li faz tempo e caiu nalguma obsolescência);

5) Abrir o meu computador no trabalho e não tiver que chamar o informático e ele me disser "pois, o engenheiro mete para aqui uma série de coisas", mesmo sendo que a única coisa que meto é o meu dedo no "on-off" e esperar que ele abra – leio a obra completa de Santana Lopes (há um livro, que eu sei…);

6) Ligar para o 118 para pedir uma informação e não tiver que manter o mais idiota, patético e exasperante diálogo com uma gravação a pedir-me para eu dizer "sim ou não" durante o tempo suficiente para eu fumar dois cigarros e acabar tudo num ruido estranho e uma voz (humana) a perguntar o que é que eu quero – leio o programa de governo do Bloco de Esquerda (há um, que eu sei…);

7) Fizer o meu telefonema da uma da tarde para a minha santa mãezinha e ela não me perguntar se eu já deixei de fumar – leio a obra completa da Margarida Rebelo Pinto;

8) Entrar no gabinete de um colega que eu cá sei ( e sorte minha ele nem sonhar que eu tenho um blogue) para tratar de qualquer coisa e não tiver de o ouvir falar do Sporting (o meu clube, so to speak…) cada vez que o clube ganha, que a equipa é fabulosa, mas o Peseiro é uma merda – leio o "Largos Dias têm 100 Anos" do Pinto da Costa;

9) Conseguir estar sentado no meu gabinete dois minutos seguidos (eu disse seguidos) sem ouvir passos estugados de mulher apressada ( e ocupada, supõe-se...) ao longo do corredor (juro que é das coisas que mais me fazem pensar… porque é que nesta matéria de passos no corredor se trata sempre de passos de mulher? Nada contra, adoro passos de mulher, mas que deve haver qualquer explicação, lá isso deve) – leio "ainda outro" livro de José Saramago;

10) Olhar aqui para o blogue e achar que… "prontes", também não é preciso escrever todos os dias, fica para amanhã, escrevo qualquer coisa amanhã – telefono à Célia e peço-lhe para me ler as notas que ela compilou para dar ao professor patrão, no sentido de lhe melhorar a economia doméstica.

segunda-feira, abril 18, 2005

Uma "farripa" de Rilke



[321] - "I beg you...to have patience with everything unresolved in your heart and try to love the questions themselves as if they were locked rooms or books written in a very foreign language. Don't search for the answers, which could not be given to you now, because you would not be able to live them. And the point is to live everything. Live the questions now. Perhaps then, someday far in the future, you will gradually, without ever noticing it, live your way into the answer..."

Rainer Maria Rilke

Picoisar




[320] - Hoje aprendi mais uma coisa. Sempre fico menos incompetente nesta arte blogueira, apesar de os incompetentes darem cartas nesta coisa de estética e cores.

Aprendi, dizia eu, que a minha relação monogâmica terminou. Aqui e agora. Ensinaram-me a picoisar e eu, estouvado e volúvel, iniciei os primeiros passos na poligamia da imagem.

E para ilustrar esta «facadinha» no Google, nada melhor que esta excelente foto da estrada que liga a cidade do Lubango ao deserto de Moçâmedes, Serra da Leba abaixo, a caminho das cabras de leque e das welwitchia mirabilis.

sábado, abril 16, 2005

Quando o Sol se Põe na Terra...



Fotografia obtida nos "algures" de Manica – Moçambique e tirada da página pessoal de Victor Cabral.

[319] - Se é verdade que «há palavras que nos beijam» não é menos verdade que há cenários que nos aquecem – e não esquecem.

Perguntem àqueles que já tiveram o privilégio de ver um pôr de sol como este, lá onde o sol se esconde na terra e derrama cores que nem todos sabem que existem, misturadas com cheiros intrínsecos à magia africana, numa vastidão imensa que nos leva a pensar que se Deus existe e fez a Terra foi, de certeza, por aqui que começou.

Bom fim de semana para todos, num arremedo poético que espero dê até Segunda de manhã, altura em que voltamos ao «rubbing-shoulders» anónimo de milhares de anónimos de um anónimo rebanho que leva a semana a correr, ainda hoje estou para perceber porquê...

sexta-feira, abril 15, 2005

Help!



[318] - Pergunta inocente, mas muito genuína:

- Se por acaso eu um dia for constituído arguido num processo qualquer (acontece ao mais pintado...) e não tiver dinheiro para nomear advogado e me for designado este defensor, como é que eu faço? Posso recusar e pedir outro? Tenho de me sujeitar à crueldade do destino? Confesso tudo? Sério, como é que faço?

Nota: Aconselha-se a leitura de, pelo menos, 3 posts...

Tou p'ra Ver...



[317] - «Porque, olha, tu tiveste azar, filha, tiveste muito azar, tu não merecias isso, tu não merecias isso, tu és muito boa, mas tiveste azar, agora vamos tentar resolver o problema, filha, pronto…o sistema judicial está destruido, filha, eu já te disse, eu já te disse, ninguém percebe puto de nada, ó pá, tá tudo, tá tudo no caos, isto tá tudo no caos Fatinha…»

Estas pérolas foram captadas e registadas em escuta telefónica ao juiz Almeida Lopes e presidente (ex??) Fátima Felgueiras. Sempre estou para ver no que isto dá. Ou será que o juiz Almeida Lopes está cheio de razão e andamos todos distraídos?

quinta-feira, abril 14, 2005

Até Pode Fazer Mal...



[316] - Esta Judite de Sousa não deve costumar ir ao médico. Se costumasse teria lido numa daquelas revistas que «ninguém compra mas que toda a gente lê nos consultórios» e saberia que o orgasmo feminino pode durar até 50 segundos e o masculino é mais apressadinho mas que, mesmo com as pressas todas, ainda pode durar cerca de vinte segundos.

Ora a Judite atira-me com o José Sócrates pela casa dentro não mais que cinco segundos depois do Sporting ter enfiado 4-1 ao Newcastle e começa a falar da sobriedade do Governo, a perguntar se ele (Sócrates) sabia que o comparavam a Cavaco (não, nem por sombras, disse ele, com um ar de quem acabou de ver a sogra entrar em casa...) e o que é que ele achava de Freitas do Amaral.

Mas já não há respeito? Nem os vinte segundosinhos do homem para digerir aquela estrondosa vitória? Não vê aquela senhora que isto assim até pode fazer mal? Assim, não há condições...

(À)ida sem Volta



[315] - Senhores jornalistas (blogoesféricos ou blogorombos, blogocónicos ou sem blogos coisa nenhuma), críticos de música, sem ser de música, críticos, prontes, comentadores televisivos, escritores, cantores de ópera, rockers, hip-hoopers, fadistas, jazzistas (não há muitos mas sempre aparecem alguns aqui pela Blogos, o que vai muito bem com o template) vendedores de cassetes de música na Feira do Relógio, cronistas e todos enfim que se interessam pela música e zelam pelo nosso bem estar (já agora, pela utilização das finanças públicas…), esquerdalhos, liberais, conservadores, fascistas pós modernos, ex-combatentes do ultramar português que sabiam tocar viola nos sertões africanos, barnabés, defensores de causas (deles ou modificadas), onde estavam vocês… (ia a dizer no 25 de Abril, mas é outro filme) nos primórdios da ideia de se fazer uma Casa da Música na Invicta?


É que eu, modesto cidadão que gosta muito de música mas que está naturalmente por fora dos inextricáveis meandros da política e da competência nacional (leia-se… pois!) só vim a saber hoje pela rádio e pelos jornais que a Casa da Música que vai ser inaugurada hoje no Porto pelos Clã e pelo Lou Reed (o Rui Veloso não foi convidado e está pior que estragado) não tem fosso de orquestra e não vai dar para dar ópera ao pessoal.


Que eu não saiba – ou venha a saber só hoje, vá que não vá. Mas que toda a gente que lá em cima mencionei, sobretudo os jornalistas (os jornalistas, Senhor…) não soubesse não lembra ao careca. Ou, então, sabiam mas acharam que estava bem. Havia certamente questões bem mais candentes para atacar, como a sesta do Santana Lopes e outras afins do que andar a falar na Casa da Música, só porque não pode dar ópera. Até porque… ópera é ópera e música é música e, depois, que interessava isso?


Mas pronto. Ela lá está. Novinha, sem ópera, pronta a dar música ao pessoal. Até porque o Porto merece. Lá dizia hoje um ouvinte da Invicta ao Forum da TSF que «há muito se justificava uma Casa da Música no Porto, já que nos concertos do CCB em Lisboa 60 ou 70% (sessenta ou setenta, reparem neste rigor estatístico) dos espectadores eram do Porto». Que lhe fora dito por amigo que trabalhava na Fnac e que o sabia muito bem (quando comprarem algum bilhete na Fnac resguardem-se - combatamos este Big Brother indecente). Touché. Os mouros são uns incultos e aquela cena do CCB foi uma fantasia do Cavaco que os lisboetas não merecem. Quatro anos e €100.000.000 depois a Invicta não vai precisar de mandar espectadores a Lisboa. Excepto quando houver ópera, claro e quando o FCP vier jogar à segunda circular ou ao estádio de Oeiras. Falta agora tirar uns entulhos ali à volta na Rotunda da Boavista e tapar uns buracos. Daqui a um par de anos fazem umas obras e metem «lá» o fosso. Assim no género da minha rua onde todos os anos abrem uma vala qualquer porque se esqueceram de qualquer coisa…

E.T. Foi interessante rever hoje nas notícias da manhã da TV o Presidente Jorge Sampaio, na sua pose impoluta e equidistante, comentar, à altura, as trapalhadas das mudanças da administração da casa da Música e ouvi-lo dizer que, e cito, «gostaria muito de ver Pedro Burmester continuar ligado ao projecto, porque era um bom pianista e muito respeitado na cidade do Porto». Com arbitragens destas como é que se pode ganhar algum campeonato?

quarta-feira, abril 13, 2005

Cordura Espumante



[314] - Não fosse a Madalena um artigo em vias de extinção, pela sua lhaneza, elegância, sinceridade e «amor» por estas coisas e eu mais uma vez discordaria dela tout-court. Mas, no fundo, sou um coração de manteiga e um desafio como o que acabei de receber da própria teria o mesmo destino de milhares de milhões de mails que recebo no meu exausto computador – reciclagem. Mas tratando-se de quem se trata, mesmo retratado que está o meu posicionamento a manifestações demasiado confessionais, aqui estou a cumprir a nobre missão de aceder a um pedido de uma voz discordante mas amiga, prometendo desde já não brincar em serviço. Leia-se levar a coisa a sério (não achasse eu que a coisa deverá sempre ser levada muito a sério…) e responder com a toda a frontalidade, que nem o Baptista Bastos. Então aqui vai:

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?

24 Horas da Vida de Uma Mulher – porque foi um livro que me ensinou a perceber que a linguagem corporal (no caso a das mãos) tem uma importância muito grande na interacção das pessoas e porque Stephan Zweig ( que é dele que se trata) me ensinou como é que de um história sem história se pode fazer uma peça de literatura que se lê de um fôlego, sem perder a elegância e a fluidez da narrativa.

Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por um personagem de ficção?

Em miúdo…Cisco Kid… Professor Mortimer…Luis Euripo…
Homenzinho…Meg Ryan e Sandra Bullock – personagens ao alcance da minha ficção e longe, muito longe da minha realidade.
Nota: Personagem é um substantivo feminino... sorry

Qual foi o último livro que compraste?

Hummm… prometi não mentir. Pensava que tinha sido o da Vinci, mas lembrei-me que comprei há dias «Fenitrothion – contact and residual action on locust control» (eu seja ceguinho…).

Que livros estás a ler?

«Aquele» da Câncio sobre as sociedades suburbanas, que o Marcelo referiu na TV e de que não me ocorre agora o título. É um tema que sempre me fascinou, a forma subtudo em que os suburbanos subvivem e a forma subcívica e subcompetente como os nossos subpolíticos e subautarcas vão subgerindo uma situação de grande importância e impacto na formação dos nossos jovens..

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?

Admirável Mundo Novo
O Velho e o Mar
(sou um indefectível homem de mares e tive alguns episódios semelhantes ao do livro)
Chamber Music de J. Joyce
Any one de Shakespeare
Os Maias (Eça foi mais visionário que Júlio Verne e o retrato que ele faz de nós é passado, presente e, quem sabe, futuro).

Madalena – Não achas que 5 livros é um bocado redutor? Não se podia levar 55?

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?

Hummm…
Hummm…

À…

Hummm
Hummm

À Formiga (porque parece gostar destas coisas), à Pitucha (para ver se lhe passa o cinzento) e à Hipatia que tem cara de quem come um livro todos os dias ao pequeno almoço.

Não vá dar-se o caso de elas não me andarem a ler, avisá-las-ei.

Uff !…Mission accomplished…



terça-feira, abril 12, 2005

Lique-Lique



Liquelique land

[313] - O Lique-Lique era da Zambézia. Lançou-se à aventura de Maputo e apresentou-se em minha casa, devidamente recomendado pelo Judas, meu fiel marinheiro do Clube Naval até 96, data em que decidi trocar a papaia (África, terra bruta, que até à papaia lhe chamam de fruta) de Marracuene pelas nêsperas que eu julgava serem da região saloia mas que, depois, se me apresentaram com coloridos rótulos castelhanos.

Pois o Lique-Lique, mesmo não recomendado, teria de imediato sido admitido para meu serviço doméstico. O seu sorriso franco e fácil (esta do sorriso é uma expressão amena, o Lique-Lique dava gargalhadas que punham os cães a ladrar…) os seus olhos sinceros e a sua disponibilidade para tudo o que tivesse a ver com o meu bem estar eram predicados mais que suficientes para eu «inventar» fosse o que fosse para ele fazer.

Assente que trataria do jardim e lavagem dos carros (vou lavar carro da patrão e da senhóra cada vez cada dia), o Lique-Lique passou a fazer parte do meu quotidiano. Mais não fosse para me tratar do fígado, de cada vez que dizia qualquer coisa… e se ele tinha coisas para dizer! Ocorre-me uma vez que fui a casa dele dar uma injecção à mulher (à de Maputo, a outra estava na Zambézia a tomar conta dos filhos) e vi um desgraçado cão, magro, esfomeado, olhos cavos e cabeça baixa. Perguntei:

- Lique Lique, de quem é esse cão?
- É meu patrão ( a rapidez da oração liquidava a vírgula, o que para um rooker em coisas de África poderia parecer que ele me estaria a chamar cão).
- Mas está tão magro… o cão não come?
- Come, patrão, eu que não le dou…

Lá discuti com ele as razões pelas quais ele não alimentava o cão e saí dali com a promessa de um aumento de ordenado, desde que ele me levasse o cão lá a casa uma vez por mês para me certificar de que o cão estava a ser devidamente alimentado.

Haveria mil histórias do Lique-Lique, muitas delas só perceptíveis a quem conheça África e que teriam de ser contadas por alguém com o génio e sensibilidade de um Mia Couto para terem graça. Mas este Lique-Lique faz parte do meu álbum de recordações. Durante cerca de 10 anos lavou o carro do patrão e da senhóra cada dia cada vez, trazia a relva aparada ao pormenor e o jardim num brinco (descontando uma vez em que, durante a noite, abriu cerca de 10 buracos no relvado e, munido de uma mangueira, conseguiu dar caça a uma toupeira desgraçada que lhe arruinava o trabalho…), deu de comer aos cães (aos meus e espero que ao dele…) e não me lembro de o ver triste. Mesmo quando a mulher lhe fugiu com um tropa e achou que as mulheres cá em Maputo coração delas não pensa só pensa dinheiro e capulana não era como mulher da Zambézia que estava lá tratar dos filhos…

Pois o Lique Lique escreveu-me. E não resisto a transcrever. Quote:

"Meu lembrado e saudado grande patrão.
A minina deu-me este endereço e assim eu queria lembrar patrão que estou trabalhar cá em Maputo mas agora estou fazer serviço na fábrica da coca cola de servente. Meu grande patrão eu estou sempre pidir patrão tem saúde e sorte porque eu lembra patrão sempre ajuda Lique-Lique também já tenho saudades das mininas e da casa. Quando vens a Maputo? Favor não esquece visitar Lique-Lique podes perguntar na coca cola (segue número de telefone) eu queria muito ver patrão e tem muitas saudades"

unquote e vem mais meia dúzia de pormenores.

Às vezes vale mais uma carta destas que muitas coisas com que tropeçamos todos os dias e que pensamos que são boas!

segunda-feira, abril 11, 2005

Estruturar



[312] - A dificuldade da esquerda (???) em reconhecer matéria factual raia o absurdo.

Quando se fala de criminalidade, por exemplo, as voltas e os rodeios com que se aborda o problema, as pinças e os ademanes próprios de quem tem uma dificuldade visceral em chamar as coisas pelos nomes revelam mentalidades definitivamente imbuídas de conceitos e dogmas que nunca acrescentaram nada em termos de solução de problemas. Pelo contrário – agravam-nos, na justa medida em que para tudo se procura uma explicação de base, uma raiz, uma origem nos malefícios de sociedades liberais, vulgo de direita.

Neste preciso momento o «Prós e Contras» é um exemplo acabado do que digo. Maria José Morgado quase que diz que a insegurança e o aumento da criminalidade são uma invenção (palavras dela) da comunicação social.

Independentemente de medidas de fundo e estruturais necessárias ao saneamento de uma situação que cada vez parece mais fora de controle, convinha não esquecer que enquanto as medidas estruturais não aparecem há vítimas concretas. E essas não têm culpa nenhuma e, muito menos, deveriam servir de massa crítica a crânios iluminados e esperar que nos estruturemos.

Fantásticos 30º



[311] - Mariana Marques Vidal é a minha habitual companheira de regresso a casa. Dá-me música, conta umas anedotas daquelas que recebemos por mail, faz uns concursositos inofensivos daqueles em que aparecem pessoas do Porto (como aliás nos «forum da TSF», da «bancada central»... o manancial de comentadores a norte do Mondego é imenso), tem uma voz bem timbrada e, a avaliar pela foto, até é bonitinha.

Desta companhia diária, já sei que é casada, que nasceu no Porto e veio para Lisboa aos oito meses, que gosta de cozido à portuguesa, que gosta de viajar e outras minudências. Nada contra e confesso-me adepto da música da estação.

Agora uma coisa que me mexe com as tripas é esta simpática Mariana sugerir um verdadeiro inebriamento, adquirir um tom de voz voluptuoso a escorrer prazer por quantos microfones tem à frente quando anuncia que «amanhã vamos estar cheios de sol magnífico» com um ar de garota a quem se deu um chupa chupa ou de namoradinha que sabe que vai receber flores. Eu sei que quem nos quer ver felizes é dar-nos uma sopinha quentinha, uma bica escaldadinha e uns «fantásticos 30 graus» (palavras da Mariana...). Mas ouvi-la TODOS OS DIAS a falar no solinho magnífico numa altura em que atravessamos uma seca sem paralelo nos últimos 300 anos (li hoje...) tira-me do sério e faz-me pensar que vírus é este com que nascemos, em permanente lamechice com o sol e o calor...

Gentlemanship



[310] - Ser do Sporting é isto.

Elegante, de fino humor, com fair-play, a comer tostinhas de Beluga ou a trincar uns Jaquinzinhos.

E agora vamos lá ver se acertamos as contas da vacaria...

domingo, abril 10, 2005

Baunilhices de Domingo



[309]- Por nenhuma razão especial, experimente-se dizer baunilha pausada e repetidamente pelo menos aí umas dez vezes. E depois veja-se se não é a mais doce, sensual, suave e melodiosa palavra portuguesa.

nota: Vanilla também não vai mal. Mas só de me lembrar que os ingleses confundem vanilla com custarda e que, se lhes chamamos a atenção, encolhem os ombros e dizem well, it´s a vanilla drink... ou, mais grave, it's vanilla food stuff sort of thing..., mais me interrogo como é que aqueles tipos construiram o império britânico e ganharam a guerra das Falkland. Por outro lado...também percebo melhor porque é que a mulher portuguesa é baunilha e muitas das mulheres inglesas são vanilla sort of thing. No offense para algumas english baunilhas que conheço!

sábado, abril 09, 2005

Falta de ar...



Lago Niassa - Lado Moçambicano

[308] - Esta imagem acima é recorrente...

... sobretudo quando deambulo pelas ruas da Estrela e da Lapa entre as 10 e picos, onze e coisa, meio dia e tal à procura de um bocadinho de passeio para estacionar o carro. Entre carrinhas paradas no meio da via a descarregar grades de água de Luso, pão e pacotinhos de leite achocolatado, caixotes vazios à frente de várias portas, obras, gente a buzinar porque lhes barraram aquelas saídas de prédios com sinal de estacionamento proibido e um dístico “sujeito a reboque”, gente que parece correr sem destino e sem saber o que vai fazer, odores ácidos em que predomina o gasóleo, contentores de entulho (umas coisas enoooooooormes cheias de areia, cacos, telhas partidas, papelão que atafulham as ruas), andaimes e dezenas de restaurantes com uns tipos à porta a lançar baldes de água (suponho que para limpar a entrada dos mesmos...) até encontrar uma nesga de espaço onde estacionar o carro.

É quando a imagem acima me traz a sensação do espaço e do ar puro que me fazem falta. Lembro-me dela em miúdo, lembro-me dela já num passado bastante recente, sempre igual, ampla, pura, colorida e bonita.

Devia ser proibido viver em grandes cidades! Todavia, ainda hoje não consigo perceber como não poderia viver noutra cidade que não fosse Lisboa. Morando em Cascais, obviamente...

Bom fim de semana!

Sim



[307] - Charles e Camilla (ainda não percebi porque se continua a chamar-lhe, repetidamente, Parker-Bowlles) irão hoje casar com a pompa e a circunstância aconselhadas e moldadas às circunstâncias.

Dele se diz que é tímido, inseguro, medianamente inteligente, frágil. Como se o facto de ser filho da rainha da Inglaterra não fosse uma razão suficientemente forte.

Dela se diz que é feia e que mata raposas a cavalo, adúltera (!!!) e calculista.

Hoje casam os dois, após os respectivos cursos de vida que são conhecidos e as televisões desdobram-se em considerandos sobre a génese desta união. Poucos, porém, parecem lembrar-se que poderemos estar apenas e tão só em face de um simples caso de vida em que um homem e uma mulher se amaram durante quase uma vida e que, por razões provavelmente extrínsecas, não puderam ou não souberam assumi-lo.

Fazem-no agora e se, como penso poderá ser, esta união se deve a uma razão tão simples como gostarem muito um do outro, que sejam muito felizes. O amor e a cumplicidade são ainda uma razão muito forte para que nos prestemos a coisas tão simples como a partilha da vida e, mesmo, casar...

sexta-feira, abril 08, 2005

Sandra's coming again (salvo seja) ...



Sandra Bullock as Gracie Hart

[306] - Guilty. Admito. Confesso. A Nicole Kideman é mais bonita, mais cosy, mais frágil, os olhos são um convite ao mimo e a boca um convite à fotografia. Mas a Sandra Bullock é um moínho de pimenta, um hino ao pecado e eu preferia ter de me confessar muitas vezes que passar horas a fotografar a Nicole. Cada um é para o que nasce e o que seria do amarelo se toda a gente gostasse do azul. Por isso, foi com uma incontida vacilação que regressei à sala 5 do Cascais Villa para acabar de ver o Robert de Niro playing hide and seek com a filha, num filme de excelente fotografia e desempenho (quem sabe nunca esquece...), mas algo previsível. E vacilação porque só ao intervalo reparei que na sala 4 a Sandrinha fazia das suas, playing the ordinary woman in extraordinary situations no seu recente «Congeniality2». Armed and fabulous, she strikes again. O filme pode ser série B, pateta e bombo de festa dos críticos da paróquia. Mas um pecadinho de vez em quando traz sal á vida, baixa os níveis de colesterol e alegra o mais sisudo e qualquer padre complacente nos redime de pecar em pensamentos e palavras, já que em obras parece ser um pouco mais difícil. NY é longe e, provavelmente, os aviões andam cheios. Mas que esta Sandra é um delicioso pecado com pernas, é...

quinta-feira, abril 07, 2005

Habemos Líder



[305] - ... e quando se pensava que alguém no CDS/PP aderira ao cachimbo, afinal o fumo branco anunciava o novo - putativo - potencial - possivel - a caminho - quase certo - peraíumbocadinhoquejávou - líder do renovado partido popular.

A tal re-fundação da direita está a tornar-se num exercício patético.

quarta-feira, abril 06, 2005

Arco-Íris Desajeitado



[304] - Está-me a dar uma branca, quisera ter uma preta (e façam lá agora estudos europeus segundo os quais os portugueses são os mais racistas, logo a seguir aos gregos), em vez desta cinzenta vontade de nada fazer nem escrever. Na atmosfera rosa em que alegremente vegetamos, após a «débacle» laranja, preciso da faixa vermelha do fogo da vontade para que não me sobrevenha a amarela palidez do tédio. E se a quimera verde da esperança não morrer tão cedo, poderá o céu não perder a vertigem azul onde rodopiamos os nossos mais recônditos desejos de comer castanhas, na delícia parda de um outono que tarda em chegar.

terça-feira, abril 05, 2005

Pausa

[303] - Há momentos para rir, bujardar, pintar a manta e percorrer com alacridade a autoestrada de non sense saudável que gostamos de cultivar. Há outros em que nem por isso. E que apetece mais o recato de nós próprios, onde possamos conviver com coisas nobres e bonitas como a solidariedade, o amor, a amizade, cumplicidade e a elevação no desejo de que o mal de hoje passe depressa e se torne num ontem, esbatido na recordação dos dias difíceis. Um beijo grande.

domingo, abril 03, 2005

Golf... adas



[302] - Confesso. Não acho graça. Ainda que o golfe me pareça um desporto de apreciável moldura plástica, saudável (e especialmente indicado para anginas de peito, obesidade, cardiopatias de diversa itiologia, varizes, stress laboral, angústias de vária índole, deficiência alveolar de extensão e outras estimáveis condições que nos reprovariam para a prática de qualquer outro desporto que se preze, talvez com a excepção do monopólio e do xadrês) e socialmente recomendável para ricos velhos, novos ricos, dondocas, proprietárias de boutiques e lojas de antiguidades, executivas de publicidade, esposas amantíssimas e amantes de esposos com as doenças lá em cima listadas e, num assomo de recente democratizacão e abertura à plebe, até a delegados de propaganda médica e corretores de seguros, a verdade, dizia eu, é que o golfe, em si, é uma estucha (e isto para usar léxico geograficamente apropriado) do tamanho da Sé de Braga, de competição frouxa, que obriga a caminhadas idiotas e longas e onde a conversa gira à volta de holes, handicap, greens, pegs, lawns, turf, automóveis de marca e as respectivas mulheres dos pobres que, na altura, estejam dez minutos a olhar para uma bola e a balancear um taco até desferirem um golpe que arranca um punhado de relva e empurra a tal bola para algumas centenas dos metros que, depois, lá temos de percorrer a pé, falando do tempo, dos greens, dos carros, das mulheres que, e assim.

Já experimentei várias vezes... a pedido, por conveniência, por amizade indefectível a indefectíveis golfistas, por ócio ou por absoluta ausência de melhor opção. To no avail (sorry, mas este «to no avail» vai bem com o hole que queremos atingir mas que falhamos porque o god damned taco não era o indicado). Eu bem me esforço. Sou visceralmente sociável, conversador, não tenho nada contra holes, greens e, muito menos, esposas amantíssimas de outros esposos que não os delas. Mas aquela cena de ter de andar quilómetros a ouvir falar do mesmo até chegarmos ao buraco seguinte (lá dizia Jorge Amado, é impossível chegar aos buracos todos do mundo mas, pelo menos, devemos tentar...) e depois ficarmos horas a olhar adversários a estudar a distância, o ângulo. o declive, o vento, a humidade relativa, mesmo quando as bolas estão a vinte centímetros do buraco (honi soit!) é coisa que tira do sério o mais pintado e faz com que cada vez que eu vá ao golfe me sinta uma espécie de escuteiro a cumprir a boa acção do dia.

Eu já tinha tido uns ameaços... há alguns anos atrás, vivendo num país de extracção anglosaxónica, as tarde televisivas de Sábado eram quase exclusivamente preenchidas com golfe e (segurem-se) cricket. Um pouco mais tarde, adquirindo uma parabólica que me permitia ver o good old soccer da velha Europa, até o meu filho me aparecia empunhando o controle remoto a querer ver o cricket. Vá lá... «curou-se» e virou-se para os aviões.

Acontece que, hoje, por razões geográficas sou particularmente permeável a ser desafiado para ir ao golfe. Nem sou desajeitado de todo... mas ver uma colecção de social climbers jovens misturados com uma colecção varicosa, anginosa, obesa e hipertensa de senior citizens a discutir greens e holes à mistura com o torque dos Porches, a fertilidade dos Labrador comparada com os Setter e referências veladas (veladas, claro) ao último romance da com o, é coisa que não faz sapatilha para o meu pé. E me faz sentir a modos que «golf’dido» cada vez que o telefone toca para uma sessão destas. Sobretudo menos de doze horas depois de ver o Sporting dar um banho de bola ao Boavista, apesar das cenas edificantes extra-tapete verde (não acredito que disse isto...), com tudo quase ao estalo e a demonstrar-me que sou excelente em lip-reading. Sobretudo o Sá Pinto que tem um «lip talking» particularmente expressivo e familiarmente abrangente. Começa na coisa da mãe, passa nos coisos do pai e acaba na coisa da tia. Mas é a emoção!
Já agora... porque é que o Sporting joga desta forma e não vai à frente do campeonato?

sábado, abril 02, 2005

Bomba Inteligente



A Charlotte faz dois anos. Aqui fica uma saudação amiga de um indefectível leitor.

O Azar de Ter Sorte



[300] - Farto de tudo e de todos, magoado com a vida e sem esperança, resolveu matar-se.

Redigiu com cuidado e elegância uma carta destinada aos familiares mais queridos e chegados, pediu-lhes desculpa e enviou a carta pelo correio. Nessa mesma noite ingeriu uma dose elevada de barbitúricos e deitou-se para morrer.

Na manhã seguinte a família recebeu a carta, carpiu a perda, comunicou o infausto acontecimento à família restante e desmultiplicou-se em loas e cantatas à enorme nobreza de que o suicida dera provas ao longo da sua vida. Em cada conversa ou telefonema, o suicida foi lembrado pelo seu carácter, pela sua nobreza, pelos azares que tinha tido na vida e pela extraordinária capacidade que sempre demonstrara perante o infortúnio e a sua alma foi devidamente encomendada ao Redentor.

Nessa mesma tarde, um telefonema de um hospital dava conta da entrada de um indivíduo que, segundo os indícios e documentação, parecia estar ligado ao destinatário do telefonema. O familiar deslocou-se de imediato ao hospital, reconheceu o suicida e foi-lhe dito pelos médicos que tinha sido encontrado, por sorte, por uma amiga que tinha a chave de casa e inesperadamente o visitara e, de imediato, chamara o 112. Mesmo a tempo de lhe fazerem uma lavagem ao estômago e o salvarem.

De regresso a casa, o familiar tratou de informar o resto da família. Toda a gente achou que tinha sido um acto desesperado, que ele era um fraco e nunca mais lhe ligaram.

sexta-feira, abril 01, 2005

Eu Também Acho...



Este Papa tomou boas medidas e medidas más – teologicamente, claro.

M. Soares (Bom dia Portugal, RTP – 01/04/05), a propósito do agravamento de saúde do Papa

…teologicamente, claro, porque politicamente, para isso estão cá os especialistas. Digo eu e pensou ele!

Aquele frase lá em cima, em itálico, foi proferida com um ar de mestre-escola a quem um pai poderia ter perguntado sobre o desempenho da respectiva criancinha ou de um presidente de junta de frequesia a explicar aos conterrâneos porque é que mandou plantar um pilriteiro no adro da igreja.

E nunca mais põem o konpensan à venda nas áreas de serviço para eu não ter de ir para as bichas das farmácias…