quarta-feira, agosto 11, 2004

Os "não-negócios"

Os negócios assentam numa linha simples de actuação e estratégia. Compra, venda, lucro, investimento e provisão. Se neste percurso há lucro, o negócio prospera e mantem-se. Se dá prejuízo, fecha. Mas nem tudo é assim. Portugal dispõe de um elevado número de "não negócios", ou seja dum enxame de empresas e organizações de actividades que não dão lucro, nem precisam de o dar. Qualquer cidadão atento se apercebe que existem hoje actividades que ninguem percebe como subsistem e se desenvolvem. Mesmo apoiadas nos mais detalhados relatórios de contas. Desde consultas por telefone pagas ao minuto até à miríade de servidores telefónicos e internet, é fácil peceber que muitos destes negócios são "não-negócios" pela cristalina razão de que não dão lucro, Mas então, como é possível esta situação? Elementar meu caro... cidadão. A manutenção de cliques mais ou menos entrosadas no tecido político e empresarial gera promiscuidades várias, frequentemente a roçar o ilícito e quase sempre prenunciando acções dolosas, porque delapidadoras do erário público. Para o estabelecimento de um não negócio basta um par de arietes expeditos, um escol de professores doutores (doutores não chega) a encabeçarem os órgãos sociais e voílá. O "não-negócio" está lançado, registado e em velocidade de cruzeiro. Uma campanha de divulgação aqui, uma cunha ali, um interesse acolá e não há governo, partido ou instituição pública que resista. Nestes "não-negócios" é frequente haver práticas de "comércio entre si", isto é, eu compro-te a ti, tu vendes a ele e ele aluga-me a mim (um bocadinho ao jeito de actores e apresentadores de televisão quando se juntam num talk-show e se lambem uns aos outros). Pelo meio há sempre o recurso a fundos comunitários, pareceres jurídicos, uma ou outra quezília partidária (lembram-se da netsaúde ou net médico?...)mas os "não-negócios" continuam, não geram negócio nenhum, e absorvem um número considerável de quadros, gestores, políticos e os tais professores doutores, inevitavelmente chairmen das instituições. No fundo, é um bocadinho à semelhança do que se passa com as Fundações, muitas delas recebendo financiamento do Estado, que é como quem diz, nosso. Neste caso não há esse descaramento, mas há a mais completa promiscuidade de interesses, regalias e usufruto de bens sociais e patrimoniais que acobertam um grupo de gente que se entretém a negociar sem lucro. Mas também, lucro para quê?